Pesquisar este blog

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PPGMLS e Museu Pedagógico da UESB convidam


Como atividade do Convênio de Cooperação Acadêmica entre o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e o Programa de Pós-Graduação em Didáctica de las Ciencias Experimentales, da Universidad Nacional del Litoral – UNL, que foi estabelecido com a aprovação, no edital CAPES – CAFP - BA 2009, do projeto intitulado Programa Binacional dos Centros Associados para o Fortalecimento das Pós- Graduação Brasil/Argentina: Multidisciplinaridade da Educação, coordenado pela Profa. Dra. Lívia Diana Rocha Magalhães (Uesb) e Prof. Dr. Héctor Odetti (UNL), acontecerá, no campus de Vitória da Conquista, nos dias 04 e 05 de setembro de 2012, no auditório 2 do subsolo do módulo de medicina, das 08:30 às 12:00h e das 14:00 às 18:00h, o III Seminário Binacional Brasil-Argentina.
O tema do III Seminário será Fundamentos Psicológicos da Aprendizagem e será tratado pela Profa. Dra. Verónica Rebaudino, da UNL, em missão de trabalho do convênio.
Além dos docentes e discentes da linha de pesquisa Memória, Cultura e Educação do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, todos os docentes e discentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia estão convidados a participar como ouvintes do evento.
As inscrições poderão ser feitas na Secretaria do PPGMLS, no dia 03 de setembro.
Terá direito a certificado quem participar de pelo menos 3 turnos que corresponde a 75% do evento.

Situação da greve dos docentes das universidades federais - Agosto

Clique na imagem para ampliá-la.

Camillo de Jesus Lima - 100 anos


O maior poeta do Sudoeste baiano, Camillo de Jesus Lima, comemoraria no próximo dia 08 de setembro 100 anos de idade e é em face disso que toda a região pauta-se na expectativa de um reconhecimento definitivo e do resgate histórico daquele que tanto contribuiu e tem contribuído, com a sua obra e histórias de lutas e movimentos em prol da cultura.
Camillo de Jesus Lima nasceu em Caetité, aos 08 de setembro de 1912 e mudou-se para o município de Vitória da Conquista em 1939. Nesta cidade abraça causas sociais e inicia movimentos literários. Comunista convicto e assumido foi preso durante a Ditadura Militar de 64, e veio a falecer em Itapetinga, no dia 28 de fevereiro de 1975, de forma nunca totalmente explicada. Dentre as suas principais obras, publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Poemas ("O Combate", 1942 - vencedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.); Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia) e outros ainda inéditos.
O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, nos dias 04, 05 e 06 de Setembro, realizará justas homenagens a esse grande artista.
No dia 04, coquetel de abertura com projeção de vídeos e exposição de poemas pintados de Júlio Veredas. No dia 05, acontecerá a apresentação “Agora é a sua vez” do ballet Lorena Albuquerque. E para encerrar, no dia 06, o show “Destina de cigarra” de Gutemba. Toda a programação começará as 20h.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Aloizio Mercadante: um caso de “sucesso”


Professor Arandi Ginane Bezerra Jr., D. Sc.*
Li a interessante tese de doutorado do ministro Aloizio Mercadante Oliva. Este trabalho acadêmico cujo título é “As bases do novo desenvolvimentismo: análise do governo Lula” está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp1. Inicialmente, o motivo que me levou à leitura foi uma curiosidade. Explico, sou físico de formação, também escrevi uma tese de doutorado e, assim como o ministro Mercadante, sou professor e funcionário público. As 537 páginas da tese do Dr. Mercadante chamaram minha atenção e fiquei curioso por saber do que se tratava. Ao final da leitura, acadêmico que sou, consultei o currículo Lattes do ministro 2. Queria saber quantos artigos ele havia publicado, porquanto uma tese tão robusta – imaginei – deveria conduzir a artigos interessantes. Confesso que fiquei decepcionado, porque o Dr. Mercadante não publicou nenhum artigo referente à tese. De fato, em seu currículo Lattes não consta a publicação de artigos em periódicos. Desconfiei.
A desconfiança se deve a meu apego a um princípio: teses de doutorado devem ser trabalhos inéditos e relevantes, logo (se são inéditos e relevantes), deveria ser possível publicá-las em revistas nas quais há o processo de revisão pelos pares. Mas, deixemos, por enquanto, para lá as tecnicalidades e comentemos as fotografias. Ao me deparar com a fotografia que o ministro colocou em seu currículo2, surpreendi-me com o contraste entre sua expressão “hoje” e aquela que havia se fixado em minha memória, referente ao “ontem”. Refiro-me a uma foto publicada na revista Veja3, em julho de 1984. Seguem, abaixo, as fotos:
Mercadante “ontem” 3 Mercadante “hoje” 2
Minha curiosidade se transformou em cisma: o sorriso de “hoje” está em total descompasso com a expressão grave de “ontem”. Por quê? Sei que, muitas vezes, precisamos dar tempo ao tempo para que o raciocínio coordene as ideias, as impressões e as sensações, por isso, decidi continuar a leitura da tese. Ao longo das horas, fui me deparando com ideias interessantes, expressas pelo doutor Mercadante em trechos que reproduzo aqui (incluindo a referência ao número da página):
“Evidentemente, a educação de qualidade exige, acima de tudo, professores bem pagos, formados e motivados, recursos pedagógicos adequados, instalações apropriadas...” (p.48).
“...a educação continua a ser um dos principais gargalos do desenvolvimento nacional” (p.255).
“Apesar dos avanços observados nas últimas décadas, a educação continua a ser reconhecidamente um dos mais graves problemas do país, um sério gargalo para o desenvolvimento sustentado e para a elevação dos padrões de vida e cidadania da população brasileira” (p.265).
“Apesar da reação contrária de alguns governadores, especialmente os da oposição, os salários na educação continuam baixos, sobretudo na educação básica, embora todos concordem que não haverá melhoria da educação com profissionais desvalorizados, mal pagos e mal preparados para o exercício do magistério” (p.271).
“O pressuposto é o de que os países que quiserem se destacar no longo prazo no cenário mundial terão de desenvolver sociedades com educação de qualidade e economias que tenham capacidade para gerar inovação científica e tecnológica. A simples eficiência na produção de commodities não assegurará, por si mesma, um lugar de destaque na globalização e na ordem mundial. Pelo menos não no longo prazo” (p.488).
“É claro que educação de qualidade pressupõe fundamentalmente professores qualificados e valorizados, escolas bem equipadas, envolvimento dos pais e das comunidades no ensino, etc” (p 492).
“Temos, é claro, ilhas de excelência, particularmente no ensino superior, mas a regra geral é a educação ainda precária e de qualidade inferior” (p.492).
Ao concluir a leitura da tese de doutorado, fui reler o texto que Mercadante, então professor da PUC-SP e vice-presidente da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior, publicou na revista Veja, em 1984. Trata-se do artigo “A greve, o feijão e o sonho”3, do qual reproduzo as seguintes passagens, também muito interessantes:
“Abalado por inúmeros movimentos grevistas, o sistema educacional público brasileiro atravessa atualmente um momento crítico que raras vezes em sua história se manifestou de forma tão aguda... Antes de mais nada, a comunidade universitária engajou-se nesse processo de luta para reivindicar seu feijão e defender seu sonho”.
“Não tivemos outra alternativa a não ser desencadear uma greve. E, a se manterem as atuais posições do governo – a ministra da Educação encerrou as negociações, traindo compromissos anteriores assumidos com a ANDES – a greve atual continua e outras greves inevitavelmente ocorrerão”.
Li e reli as passagens. Voltei a prestar atenção nas fotos. O “processo interno”, mistura de pensamento com intuição, prosseguiu. Se as fotos são sobremaneira diferentes – o contraste entre sisudez preocupada em uma e sorriso esperto na outra – os discursos, por sua vez, são achegados: a tese do doutor Mercadante parece coerente com o artigo do professor e sindicalista Mercadante. Fico a pensar no tempo e nas transformações – não exatamente a partir dos referenciais da Física, ciência da minha formação, mas, talvez, da Filosofia. Na fotografia, há algo de morte; meu olhar, contudo, busca uma transcendência. Assim, que seguirei nesta bricolagem, pensamento solto e não linear.
Eis que fui ao Google e digitei as palavras que me vieram à cabeça em fluxo contínuo: Mercadante tese doutorado ministro sonho... Quase 500 mil páginas se ofereceram a mim. Sábado à tarde, enveredei-me a ler um pouco mais. Descobri muitas coisas.
Por exemplo, descobri que, quando candidato ao governo de São Paulo, em 2006, Mercadante declarou: “Eu construí a minha vida na educação... fiz meu mestrado e doutorado na Unicamp...”4. Opa! Alguma “dobra temporal” aqui. A tese de doutorado, ele defendeu em 17 de dezembro de 2012. Logo, em 2006, não era doutor e o então candidato Mercadante faltou com a verdade. Por quê? Minha curiosidade continua viva.
Salto para uma notícia da Folha de São Paulo (FSP), de 20105:
“O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato derrotado ao governo de São Paulo, foi convidado na tarde desta sexta-feira (3) pela presidente eleita, Dilma Rousseff, e vai assumir o Ministério de Ciência e Tecnologia no futuro governo... Assim, Mercadante é o primeiro dos candidatos do partido que não tiveram êxito nas urnas a ser ‘socorrido’ por Dilma. Em 2003, Lula assumiu seu primeiro mandato tendo no primeiro escalão vários derrotados nas urnas, como o baiano Jaques Wagner e o gaúcho Tarso Genro” (FSP, 03/12/2010).
O candidato Mercadante foi “socorrido” pela presidenta Dilma no mesmo mês em que defendeu sua tese de doutorado. No mês seguinte, o doutor Mercadante
assumiu o ministério da Ciência e Tecnologia, com um discurso também interessante6:
“O mundo da ciência e da tecnologia é estratégico para que possamos crescer com qualidade, gerando maior valor agregado aos nossos produtos e serviços, e em consequência, a competitividade global da economia, e acentuando o atual processo de inclusão social”.
Em trecho da matéria que consta no sítio da FINEP6, encontra-se outra informação que considero relevante para este processo de elaboração em que me encontro imerso:
“Recentemente, voltou à academia para defender sua tese de doutorado na Unicamp. ‘Costumava dizer que ‘estava’ senador, mas que era, na realidade, economista e professor. Agora, ‘estarei’ ministro, sendo com muita honra e acima de tudo, um educador e um economista”.
Os trechos “estarei ministro” e “sendo com muita honra e acima de tudo, um educador e um economista” reverberam em minha cabeça. Na sequência, entendi que o primeiro se referia, provavelmente, ao fato de que haveria uma troca de ministério (“estava” em um ministério, depois em outro “estaria”). Ora, em 24 de janeiro de 2012, Mercadante mudava de pasta, continuava ministro. O agora ministro da educação manteve seu discurso firme, talvez porque se considere “acima de tudo, economista e professor”7:
“Essa é a minha verdadeira identidade. Todos os cargos que ocupei, tudo o que fiz, fiz com base nessa profunda e definitiva identidade”.7
A identidade profunda, aprendemos com a psicologia, é algo que está sempre em outro lugar, definitivamente. Mas como encontrá-la? Como é que alguém, afinal, estabelece uma identidade? Nossa identidade se mistura com o mundo, o mundo se mistura com nossa identidade. Queria entender e parece que estou me complicando... O ministro, por sua vez, parece que se encontrou e que encontrou seu lugar. Talvez, por isso, o sorriso. Volto a me ater às fotos e percebo que naquelas das cerimônias de posse (de ambos os ministérios) há o mesmo sorriso que me havia chamado a atenção na foto do currículo Lattes. Será que encontrei o fio da meada?
Ora, pois, no discurso da nova posse8, o ministro me deu mais uma pista:
“Lá em casa respiramos educação e, no trabalho, já respiramos muito pó de giz.
Essa longa trajetória na pesquisa e no magistério me preparou para todos os desafios que enfrentei na minha vida pública.”
Seria, talvez, alguma alergia a pó de giz mais uma razão para o ar preocupado na foto de 1984? Ou será que a “longa trajetória na pesquisa” teria cansado o professor? A propósito, neste ponto, devo insistir que, de acordo com os critérios produtivistas de avaliação apregoados pelo ministro Mercadante, o professor Mercadante está em maus lençóis, isto porque nunca publicou um artigo, um artiguinho sequer em revista “indexada”. Seria por isso também a preocupação estampada na fotografia?
Mas deixemos este “papo Qualis” para lá e examinemos outra frase presente no desfecho do discurso de posse do ministro da Educação8:
“Não podemos esperar. O Brasil já se tornou a sexta economia mundial, tirando o lugar que pertencia ao Reino Unido. Porém, não melhoraremos de posição e não consolidaremos nosso desenvolvimento se não ousarmos, se não inovarmos, se não pensarmos grande, se não pensarmos o futuro a partir da educação.”
Neste ponto da minha reflexão, sou tentado a escrever que, tanto a tese de doutorado quanto os discursos de posse do ministro doutor Mercadante, constituem fonte fantástica de frases excelentes a serem usadas em discursos e em textos referentes à importância da educação, da pesquisa e da valorização do trabalho docente. Sinceramente, recomendo a leitura. Quem fizer copy-paste dos textos elaborados pelo ministro (por favor, não se esqueça de dar o devido crédito) vai ficar bem na fotografia, com perdão pelo trocadilho.
Mas pergunto: o que dá autoridade a um discurso? Onde a alma do discurso? Acredito que discurso não tem nem uma, nem outra. Alma é gente que tem. E alma é passível de qualificação. A propósito de alma e de discursos, é preciso registrar duas declarações mais recentes do ministro Mercadante. A primeira delas, emitida logo na sequência da deflagração da greve nacional dos professores federais, iniciada em 17 de maio, e a segunda, 90 dias após o início da greve:
“Não vejo porque uma greve neste momento, neste cenário em que o governo demonstra todo interesse em cumprir o acordo e há tempo
para negociar” (ministro Mercadante, declaração à imprensa9 em 23/05/2012).
"Não conheço nenhuma proposta melhor para os professores, tanto do setor público quanto do privado" (declaração à imprensa10 em 15/08/2012, sobre a proposta apresentada, em 13/08, pelo governo aos professores).
A curiosidade que me moveu no início, o contraste e o descompasso que percebi ao dirigir o olhar para as fotografias, ganham, assim, outra dimensão, porque esbarram no insulto. Insulto porque aquele Mercadante que escreveu o que escreveu e que disse o que disse, agora, diz – e faz! – outra coisa. Minhas memórias remetem à semelhança com quem pediu para esquecerem o que escreveu, senão, vejamos:
“Por isso, à frente do Ministério da Educação continuarei a luta da minha juventude pela dignidade dos professores. Esse é um compromisso de vida que assumo, agora, como compromisso público!” (Aloizio Mercadante, discurso de posse no MEC8).
“Compromisso de vida” é expressão impactante. Mas impacto maior foi aquele causado pelo simulacro de acordo, assinado em 3 de agosto, entre o governo federal e uma entidade que representa tão somente 3% da categoria dos professores. De fato, a maioria dos professores recusou a proposta apresentada pelo governo e este, arbitrariamente, encerrou as negociações. Isto faz eco com o texto de jornal escrito em 1984 pelo professor Mercadante, denunciando que “a ministra da Educação encerrou as negociações, traindo compromissos anteriores assumidos com a ANDES”. Neste sentido, salta aos olhos o excelente futurólogo que era Mercadante: “a greve atual continua e outras greves inevitavelmente ocorrerão”. Onde a “luta da juventude”, onde a “dignidade”? Ele disse, mesmo, “compromisso de vida”?
Talvez, o professor Mercadante, desanimado de ser professor, tenha percebido o quanto a vida de político seria melhor. E, talvez, o sorriso brote quando o ministro abre seu contracheque. Por exemplo, no mês de julho, segundo dados do Portal da Transparência11, seu salário líquido totalizou R$ 32.195,27. Motivo para sorrir.
Talvez, o sorriso também seja porque o ministro Mercadante esteja feliz por contribuir para o “Fomento à Pesquisa e ao Desenvolvimento de Conhecimentos Científicos”; informações do Portal da Transparência12 revelam que o ministro recebeu, em 2011, R$ 14.109,00 da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); em 2012, sua atuação na área continua13, pelo que percebeu o total de R$ 5.479,48.
Além disso, segundo o mesmo portal14, o ministro também recebeu, entre fevereiro e abril de 2011, R$ 9.000,00 “para pagamento de indenização moradia”. Talvez, a vida de ministro seja um pouco melhor que a de professor. Seria por isso o sorriso?
Aqui das minhas bandas, sinceramente, não ando satisfeito com a remuneração que recebo (de professor federal em regime de dedicação exclusiva). Também não tem sido fácil conseguir verbas para exercer meu trabalho. Por exemplo, receber diárias (para a passagem e para o feijão), quando saio em viagens nacionais e internacionais, a fim de participar de congressos, é dureza. Para mim e para outros milhares de professores. Em outra nota, ainda segundo dados do Portal da Transparência15, para o ministro Mercadante, em 2011, houve a liberação de R$31.297,54 em diárias. É sabido que ministros viajam muito.
Estou quase escrevendo outra tese – e dizem que texto longo ninguém lê. Pois, declaro que li os do ministro (as 537 páginas da tese, o artigo de jornal e os discursos de posse). Aos que acompanharam este meu tecido, é hora de apresentar alguma espécie de desfecho, ou conclusão. É jogo duro a vida de acadêmico, mesmo quando tentamos nos libertar, certas categorias nos tomam de assalto. É assim com a estrutura dos textos. Por isso a demanda por concluir. Permitam-me, antes, afirmar que, mesmo em greve, mesmo sentindo na carne o desprezo e o desrespeito que o governo, vergonhosamente, insiste em propagar, ainda assim, o humor continua. O bom humor. Penso, elaboro, fico preocupado e sinto raiva, às vezes, franzo a testa. Mas o sorriso sempre vem ter aqui nesta face. Não é uma questão de “achismo”: sou, sim, diferente daquele professor que, quando chegou a hora de ser mais, perdeu-se.
Aí vai mais.
Li, reli, pensei, matutei, e fiquei com pena do professor Mercadante – aquele preocupado da foto de 1984. Acho que aquele professor, por conta da opressão e da injustiça, sofria. Aquele professor, que ainda não era doutor, também por isso, provavelmente, ficava preocupado. Aquele professor sonhava – e, sem medo – declarava o sonho, primo-irmão da esperança. Aquele professor, sem ter vergonha, escrevia “feijão”. Então, fiquei com pena daquele professor que, tornando-se político, parece que se desfez, ou fez-se duplo, e escreveu uma tese de letra morta. Escreveu muitas linhas bonitas, mas mortas.
Quanto ao ministro doutor, emito aqui minha opinião: sua tese, pensando bem, é pouco mais que uma propaganda de um governo (será que vai além disso?). As
passagens que destaquei e copiei são interessantes, mas, eis que fico em dúvida: será que ultrapassam o senso comum? Ah, e o ministro! Parece ser mais um “político” a corroborar a impressão que – de novo – o senso comum atribui ao termo. E, agora, parece que entendo as fotos. O ministro do futuro, “político de sucesso”, ri-se do “professor sem sucesso”: sem sucesso acadêmico e sem sucesso político. É o ministro que o homem se tornou que ressoa na própria alma. Sorri quem está contente. Sorri quem se encontrou. Acho que entendi. Pessoalmente, acho que não desejo sucesso ao ministro Mercadante. Ou melhor, acho que desejo outro tipo de sucesso. O fato é que sinto saudades do professor Mercadante, que mal conheci. O professor não teve sucesso (naquela foto, parece até que ele já sabia disso). Ouvi dizer que o ministro Mercadante, o da pose, vai ter que comer muito feijão para que os brasileiros voltem a acreditar quando ele falar de sonho.
Hoje, prefiro um ar preocupado, porque ressoa com o tempo em que vivo: enquanto o ministro sorri na outra fotografia, o(s) professor(es) carrega(m) o peso de uma greve. A partir de agora, acho que vou contrair uma mania: tirar mais fotos e olhar para elas a-ten-ta-men-te. A chateza desta coisa toda é que desconfiarei de mim quando estiver sorrindo.
Curitiba, 19 de agosto de 2012.

*Departamento Acadêmico de Física
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Em greve desde 17/05/2012.
Referências:
11http://www.portaldatransparencia.gov.br/servidores/Servidor-DetalhaRemuneracao.asp?Op=1&IdServidor=1699199&Ano=2012&Mes=6
Fonte: FocAia

Movimento estudantil chileno mostra pleno vigor: 200 mil marcham sobre Santiago


Entre 150 mil y 200 mil personas asistieron solo en Santiago a la jornada por la defensa de la educación pública, organizada por el Colegio de Profesores, organizaciones de estudiantes universitarios y secundarios y gremios de trabajadores. La gran marcha se extendía desde la Estación Central por la Alameda hacia el oriente, abarcando ambas calzadas, continuando por Avenida España hacia la calle Blanco Encalada, donde se levantó un escenario.
Recordemos que hace una semana atrás el presidente Piñera se mofaba de los estudiantes, afirmando que los movilizados representaban solo el 0,1 por ciento del total. La gran respuesta a la convocatoria, tras ya más de un año de movilizaciones, desmiente la idea y la estrategia del gobierno de apostar por el desgaste del movimiento. La marcha de hoy ha sido la más masiva del año y se compara también con las más concurridas del 2011.
En tanto, el presidente de la FEUC, Noam Titelman, dijo esta mañana que "es hora de que terminemos con las amenazas y empecemos con las respuestas, señor Beyer". Más tarde, Gabriel Boric escribía en Twitter: "Espero q cdo termine el día, estemos hablando del fortalecimiento a la ed pública, la desmunicipalización y el fin definitivo al lucro".
Eloísa González, la presidente de la ACES, de los secundarios, advirtió que si la clase política no responde a las demandas, los estudiantes van a funar las elecciones municipales.
También habló en el escenario la nueva presidenta de la CUT, la dirigente comunista Bárbara Figueroa: "Somos 200 mil en la calle, aquí esta la fuerza de las mayorías", declará.  "Aquí estará de ahora en adelante la Central Unitaria de Trabajadores, marchando junto a la ciudadanía, así crece Chile", dijo Figueroa.
La vicepresidenta de la FECh, Camila Vallejo, afirmó que esta marcha demuestra que "hoy día hay una mayoría del pueblo que está luchando por un objetivo en común, que es recuperar nuestro derecho a la educación publica, gratuita y de calidad para todos los chilenos".
También "sabemos que los estudiantes solos no vamos a lograr los cambios, por eso, qué bueno que esté aquí la Central Unitaria de Trabajadores", añadió Vallejo, que valoró también la presencia de alumnos de universidades privadas, centros de formación técnica, colegio de profesores y parvularias.
"La tarea es mucho mayor, tenemos muchos desafíos pendientes, hemos recuperado la transversalidad, la unidad, pero la tarea es larga, no hay que caer en la división por sectores", advirtió la dirigente estudiantil.
"Esta lucha es larga, es ética y queda mucho por construir. El Gobierno tendrá que responder a esta masividad; (Piñera) dijo que éramos el 0,2 por ciento, esto es un tapaboca. Éstas son las demandas de un pueblo entero", finalizó Camila Vallejo.
José Ancalao, presidente de la Federación Mapuche de Estudiantes, advirtió: "Ésta es la generación que va a cambiar el país, que tiemblen en La Moneda".
Fonte: El Clarín 

Fundamentos psicológicos da aprendizagem

Para ampliar a imagem, clique sobre ela.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mapa da Greve dos docentes das Universidades Federais - Agosto

Trabalho da professora Gisele Costa, para o CLG da Greve UFG e demais interessados em acompanhar a força da Greve Nacional.

domingo, 26 de agosto de 2012

A greve dos cem dias


Falta de acordo com MEC leva professores à maior paralisação desde 2001
Leonardo Cazes
Assembleia dos professores da UFRJ decide manter a greve em 17/08/2012
RIO - Os professores das universidades federais enfrentam a maior greve em 11 anos, deflagrada há 98 dias. Das 59 instituições, 53 estão paradas. Desde 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, uma paralisação dos docentes não atinge tantas universidades por tanto tempo. Separados por mais de uma década, os dois movimentos só têm a longevidade em comum. No passado, os principais motores do movimento eram o arrocho salarial e falta de investimento nas universidades. Agora, a luta é por um novo plano de carreira e por melhores condições de ensino, principalmente nas novas unidades criadas a partir de 2007, dentro do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
As vagas oferecidas mais que dobraram, e o número de municípios atendidos por universidades ou institutos federais pulou de 114, em 2003, para 237, em 2011. A oferta cresceu, e os problemas acompanharam. Espalham-se pelo país instalações provisórias em contêineres, e faltam laboratórios e material para aulas. Ao mesmo tempo, os professores são uma das poucas carreiras do serviço público que não foram reestruturadas durante o governo Lula.
— As condições de trabalho com o Reuni, em 2007, pioraram muito, porque a contratação de professores não ocorreu no mesmo ritmo da expansão. Houve uma precarização do trabalho docente, há locais onde os professores dividem a mesma sala de aula, não têm laboratórios para desenvolver pesquisas. Sobre esse ponto, o Ministério da Educação (MEC) nem marcou uma mesa de negociação. O governo quer acabar com a greve vencendo pelo cansaço — critica Marinalva Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (Andes).
O governo é duro na negociação e fechou um acordo com o ProIfes (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior), que representa apenas oito associações de docentes. Pelo texto, os professores receberiam reajustes que variam entre 25% e 40%, parcelados até 2015. Contudo, o aumento tem como salário-base os vencimentos de 2010, e a proposta não considera a inflação.
Para o Andes, haverá perdas salariais, já que o Índice de Custo de Vida (ICV) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) prevê uma elevação de 35,5% no período. Além disso, o aumento mais robusto seria dado aos professores titulares, que são minoria. Já o presidente do ProIfes, Eduardo Rolim de Oliveira, defende o acerto com o governo e alega que foi “a melhor proposta recebida” entre todas as categorias. Para ele, o contexto atual é muito diferente do de 11 anos atrás.
— Antes vivíamos um período de arrocho salarial fortíssimo. De julho de 2010 para cá, temos o melhor salário que já tivemos, está bem menos defasado — diz.
Na quinta-feira, o Andes deu sua última cartada ao fazer uma contraproposta que pede apenas a reestruturação da carreira. Qualquer mudança desse tipo deve ser encaminhada até a próxima sexta-feira para valer a partir de 2013, e o governo não parece disposto a voltar às conversas.
Com a mesa de negociação encerrada pelo MEC e a oposição entre os dois sindicatos, houve uma radicalização do movimento. Mesmo em universidades controladas pelo ProIfes, há casos em que os professores decidiram continuar a paralisação. Assembleias lotadas e votações acirradas colocaram em rota de colisão diferentes visões sobre a luta dos docentes e o próprio modelo de carreira dos professores.
Na UFRJ, estudantes e professores favoráveis à greve chegaram a fechar a entrada do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Centro, para impedir que as aulas do curso de História fossem retomadas. O professor e historiador Francisco Carlos Teixeira classificou a atitude de “desrespeito”. Para ele, as propostas defendidas pelo sindicato não o representam, assim como diversos outros professores.
— O discurso sindical é de isonomia na carreira, iguala mérito e tempo de serviço. Mas aqui não é o lugar da isonomia. A universidade é um espaço garantido para o mérito e a produtividade. Precisa-se muito de inovação e tecnologia, e um lugar onde as pessoas progridem por tempo de serviço é um desestímulo total.
O professor da Faculdade de Educação da UFRJ, Marcio Costa, também contrário à greve, vai além. Ele diz que é necessário repensar o financiamento e a estabilidade no emprego.
— Sou contra esse modelo de estabilidade no emprego que nós temos, contra um plano de carreira nacional. Isso é um freio para a universidade. Há uma fantasia de se achar que todas as universidades federais no Brasil podem ser de ponta, mas em nenhum lugar do mundo é assim. O orçamento também não devia ser todo de recursos públicos. Quem pode deveria pagar — defende Costa.
Na proposta de carreira do MEC, estão previstas avaliações dos docentes para que haja progressão, e não apenas o tempo de serviço como deseja o Andes. As regras serão definidas por um grupo de trabalho que ainda será nomeado. Para Marinalva, o plano do sindicato torna a carreira mais atrativa para jovens doutores.
— Hoje, dois professores com a mesma função têm uma valorização diferente. Por isso queremos que a passagem entre os níveis tenha o mesmo percentual e a gratificação por titulação seja incorporada ao salário. Hoje, a carreira não atrai os mais jovens. É preciso que, quando ele entrar, saiba onde pode chegar — afirma a presidente do Andes.
Fonte: O Globo, de 25 de agosto de 2012.

Educação - para quê?

Clique na imagem para ampliá-la.

Da educação mercadoria à certificação vazia

Ilustração: Daneil Kondo

A Universidade brasileira tornou-se menos elitista. Mas sua popularização reforça um modelo de ensino baseado em instituições privadas, onde pesquisa e reflexão não são benvindas

Por Andrea Harada Souza*

O ensino superior, público e privado, no Brasil passou por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças – travestidas de democratização, por favorecerem o acesso – visaram atender a uma proposta de privatização e barateamento da educação.
O Ministério da Educação (MEC) alardeia números, sobretudo para organismos internacionais – que obrigam o país a se enquadrar em padrões estipulados por eles na competição do mercado de consumo, trabalho e pesquisa –, que demonstram o crescimento do acesso ao ensino superior, ainda que distantes daqueles objetivados pelo Plano Nacional de Educação (PNE) (o acesso é de apenas 13,8% dos jovens, entre 18 e 24 anos). Porém, esse suposto processo de inclusão tem facilitado, para além do aceitável, um crescimento vertiginoso das instituições de ensino superior (IES) privadas, com desdobramentos que passam pela precarização do trabalho docente e pela formação duvidosa que essas empresas têm oferecido aos alunos por ela formados.
A predominância de objetivos economicistas em detrimento dos pedagógicos nas IES privadas permitiu um fenômeno relativamente novo no Brasil: a formação de conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas. A autorização para funcionamento dessa espécie de oligopólio do setor educacional tem intensificado a visão mercantil da educação superior no Brasil. Os exemplos mais representativos desse modelo de organização empresarial na educação ficam por conta dos grupos educacionais Kroton-Pitágoras, Estácio de Sá, SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e Anhanguera Educacional. Esta última, com a recente aquisição da Uniban, passou a ser o maior grupo educacional do país, atendendo aproximadamente 400 mil alunos em campi espalhados por diversos estados brasileiros. Além disso, manteve sua projeção de crescimento de atingir 1 milhão de estudantes em cinco anos, segundo matéria do Valor Econômico de 17 de novembro de 2011.
A alteração no padrão de financiamento das IES privadas promoveu uma mudança significativa no modelo de gestão: o papel que antes era predominantemente exercido por mantenedoras, de caráter familiar ou religioso, hoje passou a ser de responsabilidade de bancos ou fundos de investimentos que contratam executivos como seus representantes, padronizam procedimentos de relações de trabalho nos departamentos de recursos humanos e prestam contas ao fundo de ações. Decorre daí um perfil de gestão alinhavado com a lógica empresarial, sob responsabilidade de executivos, e muito distante dos objetivos educacionais que sempre foram sustentados por professores e pesquisadores.

Abandono do Estado
Tomado pela óptica do lucro, o setor educacional privado tem se valido, oportunamente, do abandono do Estado na oferta de vagas públicas para a formação superior. Dessa forma, as IES privadas, cuja existência deveria ter um caráter complementar, acabaram predominando e se consolidando em grupos que formulam e ditam as regras de seu interesse para a (des)regulamentação do setor, regras essas beneficiadas pelas chamadas políticas de parcerias público-privadas, as quais são alicerçadas sobre o princípio da transferência de dinheiro público para a iniciativa privada com a finalidade de que esta última cumpra o papel que o Estado se nega a exercer. No caso do ensino superior, essas transferências se dão predominantemente por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), além dos programas de benefícios de isenção fiscal oferecidos pelo BNDES. Nesse ponto, o discurso falacioso do Estado e o do setor privado convergem: trata-se de iniciativas e proposições que manifestam concretamente a preocupação com a formação do brasileiro e com o desenvolvimento do país!
De modo geral, a consolidação da mercantilização da educação e a formação de oligopólios educacionais têm ocorrido com base na incorporação de princípios e fundamentos do setor empresarial, ou seja, na otimização dos recursos. Como afirma Marilena Chauí (2001), “a Universidade está estruturada segundo o modelo organizacional da grande empresa, isto é, tem o rendimento como fim, a burocracia como meio e as leis do mercado como condição”. Essa fórmula – clássica do neoliberalismo – consiste na diminuição das despesas para o consequente aumento dos lucros. Assim, com vistas a assegurar um perfil rentável − à empresa, é claro −, torna-se necessária a precarização das relações de trabalho: redução de salários, perda de direitos, ameaças e cobranças pelo desempenho da instituição nas avaliações externas promovidas pelo MEC são alguns traços da rotina de professores das IES privadas.
Ao mesmo tempo, concorre para intensificar os contornos dramáticos desse quadro a expansão da modalidade EaD (educação a distância), que em 2010 fechou o ano com 973 mil alunos matriculados, o que corresponde a 30% de todos os universitários em instituições privadas. Nesse caso, a educação mediada pela tecnologia, que deveria servir para aproximar os extremos sociais, acaba por aprofundá-los. Contudo, para os empresários, o aliciamento desse recurso é tomado como mais uma vantagem mercadológica capitalista, sobretudo por potencializar sua capacidade de lucro.
Na outra ponta, os salários praticados nas IES privadas são – via de regra – aviltantes, o que obriga muitos profissionais a lecionar em várias instituições, seja para compor a renda, seja para se prevenir das demissões, muitas vezes arbitrárias. Nesse contexto, os professores se veem impedidos de desempenhar tarefas diretamente ligadas à sua função (e ao ensino superior, ou seja, ensino, pesquisa e extensão), absorvidos que estão por uma jornada de trabalho extenuante. No entanto, paralelamente a isso, ocorre um processo silencioso de captura da subjetividade dos docentes com objetivo de estabelecer uma competição interna, cuja face mais alarmante é a perda da autonomia. Como toda competição tem exigências, impõe-se que esses profissionais – para terem condição de competir – sejam aguerridos, “pró-ativos”, competentes e indiferentes às questões coletivas, o que os leva a um distanciamento de seus sindicatos e associações e permite, muitas vezes, que sejam – deliberadamente – vistos como mão de obra manipulável pelos patrões.

Precarização e intimidação
Se de um lado temos a perda da autonomia dos professores como uma ameaça à própria noção de função docente, de outro notamos que, por parte dos empresários da educação, a oferta de uma formação aligeirada tem exigido profissionais cada vez menos críticos e progressivamente mais alienados da prática educativa. Não é raro o relato de professores do ensino superior que têm seus conteúdos – planos e ementas de cursos –, bem como suas avaliações, elaborados por um terceiro que nunca sequer esteve em uma sala de aula. Essa tentativa, por parte dos patrões, de padronizar a prática pedagógica para garantir um rendimento mínimo nas avaliações externas evidencia de maneira cabal seu propósito de controle absoluto sobre a mercadoria que vendem.
Dessa forma, a reação e a resistência a essa prática de mercantilização da educação impõem grandes desafios. No estado de São Paulo, que acompanhamos mais de perto, tem sido cada vez mais difícil o enfrentamento com os patrões do ensino superior nas campanhas salariais organizadas por nossa federação, a Fepesp (Federação dos Profissionais de Educação do Estado de São Paulo), pois há um evidente conflito nas pautas apresentadas para negociação. Do lado de lá, a ofensiva é para subtrair direitos historicamente conquistados e que, vistos com a luneta do capital, representam entraves normativos à expansão dos lucros. Em razão disso, questões como plano de carreira, regulamentação da EaD e aumento real são deliberadamente ignoradas pelos patrões, que, por sua vez, promovem lobbiesjunto ao Poder Legislativo, a fim de que as regras do setor continuem a beneficiá-los.
Entretanto, a predominância de valores empresariais na organização das IES e a falta de regulamentação efetiva por parte do MEC têm imposto uma permanente ameaça, ainda que velada, que é o desemprego. Assim, os professores insatisfeitos com salários e condições de trabalho incorporam a responsabilidade incutida pelo patrão, de que o mercado funciona assim: os insatisfeitos que se mudem. A aceitação dessa ideia leva a um comportamento defensivo, porque nos faz crer que nada pode ser feito e, por isso mesmo, qualquer iniciativa coletiva deve ser vista como prejuízo ao próprio trabalhador.
Há também que se ressaltar a necessidade urgente de que o debate sobre a educação seja tomado como fundamento para um crescimento qualitativo e efetivo do Brasil, sobretudo para a população que ainda anseia conhecer na prática a longo prazo esse crescimento. Para validarmos o princípio democrático do direito à educação, sem, contudo, ignorar que o mercado do ensino privado não arrefecerá a curto prazo, precisamos assegurar o investimento de 10% do PIB na educação pública – que estimamos universal e de qualidade –, a fim de que ela seja o referencial para o setor privado, e não o contrário.
Enquanto não houver uma mudança radical nesse quadro, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.
A forte presença do controle corporativo em um setor essencial como a educação provoca sérias fissuras na malha social, na medida em que os desdobramentos da transferência tácita da responsabilidade do Estado para a iniciativa privada têm autorizado o funcionamento de fábricas de diplomas com certificação vazia, para uma população que, embriagada pela democratização do acesso, ainda não se sabe enganada.
*Professora de literatura, presidente do Sinpro Guarulhos e membro da coordenação estadual da CSP-Conlutas

Referência bibliográfica
CHAUÍ, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Ed. Unesp, 2001.INEP. “Sinopse da educação superior no Brasil”, 2009. Disponível em: www.inep.gov.br.

Contra o produtivismo, um protesto solitário

Imagem:  diplomatizzando.blogspot.com 

Ana Fani Alessandri Carlos
24/08/2012

Compreender as condições nas quais se reproduz a sociedade brasileira, iluminar os conflitos e a condição profundamente desigual desse processo, requer dos pesquisadores a disposição de "habitar o tempo lento" imposto pela atividade do conhecimento. Esta compreensão –  como prova a história do conhecimento – não é individual, pois pressupõe o debate de ideias entre pares, fundado no respeito à diferença e nas possibilidades postas pela diferença de vertentes e posições teórico- metodológicas que, antes de se conflitarem, se enriquecem. Esse processo exige tempo e condições de trabalho, exige também compromissos, e exige, ainda, disposição para o debate. O trabalho individual de reflexão/análise se coloca como pressuposto da elaboração do conhecimento, condição do debate.
Nesse sentido, se não há uma verdade absoluta que se eleva no horizonte, tampouco existe somente um único caminho possível para pensar/interpretar o mundo. Por outro lado, penso que nosso papel na universidade é o de ensinar formando cidadãos, criando condições, dando-lhes ferramentas para construir essa interpretação. Mas, sem uma  pesquisa que se debruce sobre a realidade, sem uma reflexão profunda e sem fundamento, exigidos pelo árduo trabalho de "gabinete", o que vamos ensinar-lhes?
Não sendo o único centro de produção do conhecimento, a universidade é, no entanto, o lugar precípuo desta possibilidade, que, para se realizar, precisa criar as condições necessárias dessa atividade. Trata-se de abrir espaços onde, sem preconceitos, possa desabrochar a diferença dos modos de pensar o mundo. A condição de independência e do exercício da liberdade de pensar se apoia na realização desta virtualidade. Mas o tempo da reflexão, cada vez mais consumido em papéis (hoje virtuais), relatórios e pareceres, de todos os tipos, definha sem percebermos. Em todos os lugares, a conversa aponta a "falta de tempo".
Não importa se nosso trabalho analisa o mundo, desvenda suas contradições mais profundas; se com a produção de um saber construímos os caminhos de um país independente. A universidade espera resultados quantitativos, muitos artigos publicados – ninguém se pergunta ou questiona seus conteúdos, se guardam alguma possibilidade fecunda de conceber este mundo e nossa realidade desigual e dependente - muitas participações/organizações de congressos, seminários, workshops - não importa se com eles aprende-se algo, se depois de exporem seus trabalhos as pessoas se dão ao, trabalho de permanecerem para o debate. E ainda poucos se preocupam com os debates, posto que o centro das preocupações é o certificado de uma "presença ilusória". Mas há mais. Solicitação de pareceres de todos os tipos, salas apinhadas, reitores autoritários, falta de ambiente acadêmico.
Diante deste cenário e da necessidade sempre ampliada do preenchimento do Lattes, o que fazer? Há muitas estratégias. Posso correr de um colóquio a um workshop apresentando trabalhos "quase iguais, etc. “Estou tão cheia de trabalho burocrático que ainda bem que meus alunos escrevem artigos e colocam meu nome; senão não teria nada no currículo". Foi o que ouvi, quase literalmente, de uma colega em uma de minhas viagens.
Outro dia, ao abrir a internet para ver o último lançamento de uma revista, constatei que uma porcentagem considerável dos artigos estava assinada tanto pelo seu autor verdadeiro quanto pelo seu orientador. Façamos uma conta, rápida: 10 orientandos escrevendo 2 artigos por ano somam 20 artigos no "currículo Lattes" de seu orientador. Parece tentador!
"Se os outros programas de pós-graduação fazem isso para aumentar a nota junto à CAPES, também faço...", ouvi de outro colega, coordenador de um programa de pós-graduação! Por uma nota melhor – em substituição ao reconhecimento e importância da produção acadêmica realizada – cada programa de pós-graduação torna-se não um parceiro de debate, mas, antes, um competidor. Mas até que ponto a CAPES (que somos nós) privilegia e cobra esse comportamento destrutivo dos professores? Onde e quando foi decidido pela comunidade geográfica que o mestrado deve ser concluído em 18 meses? Que se deve publicar cada vez mais (não importa com que conteúdo), que orientadores devem assinar, como coautores, pesquisas orientadas, quando se sabe que existe até mesmo lei de direto autoral indicando que orientador não é coautor (lei cuja existência de maneira alguma substitui a ética)?
Será que a comunidade acadêmica está contente com essa situação? Quando foi que perdemos nosso discernimento e consciência sobre nosso papel de educadores, de formadores, de pensadores?
Um manifesto do GEU – Grupo de Estudos Urbanos –, que apontava com mais profundidade e amplitude essa situação durante o Simpósio de Geografia Urbana realizado em Brasília em setembro de 2009 caiu no vazio. Ainda outro dia recebi um e-mail de "corajosos professores da Paraíba" que se desligaram de seus programas de pós em protesto contra este estado de coisas. Decisão solitária, sem prováveis seguidores. Isso não soa como um alerta?
Nossa associação estaria preocupada com a situação dos programas de pós-graduação em Geografia e com as condições em que se realiza o ensino e a pesquisa, no Brasil? Ou a avaliação é de que "tudo vai bem"? Não seria o caso da ANPEGE abrir, em seu calendário, um lugar de debate para revermos essas práticas produtivistas e anti-éticas? Faz-se necessário que cada programa de pós-graduação veja no outro um parceiro de debate, um cúmplice na produção do conhecimento sobre a realidade brasileira.
Estou absolutamente convicta do papel da Geografia na compreensão do mundo moderno, onde o espaço vem assumindo um protagonismo inédito na compreensão da realidade de hoje. Mas isto exige trabalho de pesquisa, reflexão, ambiente de debate.
Meu protesto solitário: retiro-me da comissão científica de todas as revistas brasileiras das quais participo e que aceitam artigos em coautoria orientador/orientando sobre pesquisas orientadas, como procedimento correto e justificável.
Fonte: Geometropole

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pós-graduação, autonomia universitária e greve


Antonio Carlos Maximo*
Há algum tempo ouvi uma intrigante e provocante frase do ex-ministro Tarso Genro: "a universidade é autônoma, mas o Estado é soberano" - disse ele.
Muitas reflexões podem ser derivadas dessa afirmação, mas aqui me restrinjo às Universidades Federais e aos seus programas de pós-graduação controlados de fora, com mãos de ferro, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
A CAPES, a rigor, é apenas uma instância estatal dentro do Ministério da Educação, assim como, as universidades. Porém, exerce função-meio enquanto as Instituições Federais de Ensino exercem função-fim. Assim sendo, ela deveria ser apenas um órgão auxiliar para as atividades de pós-graduação nas universidades. Ao invés disso, ocorre uma verdadeira inversão de papéis. A instância estatal que cumpre a função finalística vive de joelhos diante daquela que deveria ser apenas subsidiária.
Se o Estado é soberano como a autonomia da universidade pode ser plena? É essa a lógica com a qual pensa os gestores estatais. É verdade que não se trata de uma equação simples no marco do pensamento liberal que fundamenta o nosso modelo de Estado. E não sabendo ou não querendo solucionar tal dilema, o Estado brasileiro e seus organismos centrais acabam assumindo a concepção de que são soberanos em relação à ponta do sistema onde se materializam as políticas públicas.
No caso da pós-graduação, as universidades não têm qualquer poder de direção sobre os seus programas, ao contrário, eles são absolutamente controlados de fora na mesma lógica com a qual o governo regula e avalia o sistema privado.
É simples de entender: um determinado grupo de doutores, de uma determinada área, formula uma proposta de mestrado ou doutorado. As instâncias universitárias dão apenas a chancela burocrática, fazem apenas a tramitação de papéis, porque as regras para a própria elaboração do projeto já são dadas pela CAPES. Ou seja, o projeto já não pode ser original, tem que encaixar no figurino determinado. Encaminha-se o projeto e ela aprova ou não. Se aprovar, durante três anos, o novo programa tem um nota mínima para funcionar e é avaliado, ano a ano, por critérios também da CAPES. Se o corpo docente e discente atendem à todas as normas e regras, o programa é mantido com a mesma nota ou com nota superior. Caso contrário, ele é descredenciado pela própria CAPES. Em resumo, ela autoriza, controla a gestão, avalia, atribui nota, corrige, define os critérios e, ser for o caso, descredencia. As universidades têm autonomia apenas para definir o espaço onde o curso deve funcionar e ceder os professores. Ou seja, em relação à pós-graduação não há que se falar em autonomia universitária.
E os professores desses cursos? Muitos, talvez nutridos por uma ponta de vaidade humana, sentem-se superiores por trabalharem nesse nível de ensino. Reclamam amiúde de muito trabalho, revelam certa fadiga cotidiana, porém, tratam o assunto como se fosse uma espécie de missão, como se os serviços públicos de pós-graduação fossem mais relevantes para a sociedade e mais necessários que a própria graduação. Diminuem sua jornada na graduação em nome cumprir as exigências da CAPES, cabendo ao professor que não se curva às suas imposições, um horrendo castigo: o descredenciamento e o trabalho na graduação que, para muitos, é um verdadeiro purgatório. O temor do descredenciamento aterroriza os docentes que sequer percebem que são governados de fora - ou não se importam com isso.
No caso de movimentos reivindicatórios, sequer percebem que o direito de greve é garantido por lei maior que as meras recomendações da CAPES e preferem a ela se curvar. Na verdade, indiretamente, fazem o discurso da servidão voluntária, o que evidencia o quão distante estamos da tão sonhada e propalada autonomia crítica (CONTRERAS), mesmo em instâncias que deveriam ser a vanguarda da sociedade, como as universidades públicas.
(*) Prof. da UFMT, com doutorado e pós-doutorado em educação.
Fonte: Adufmat

Andes entrega documento exigindo a reabertura das negociações

Clique na imagem para ampliá-la.

DOCUMENTO ENTREGUE A MINISTRA MIRIAM BELCHIOR e Texto do documento entregue à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. PELA REABERTURA DAS NEGOCIAÇÕES! A GREVE CONTINUA! A GREVE É AGORA! A LUTA É AGORA!

Em contraproposta, professores federais abrem mão de aumento e pedem reestruturação da carreira


Mariana Branco
Da Agência Brasil, em Brasília

A presidente do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Marinalva de Oliveira, esteve nesta quinta-feira (23) no Ministério do Planejamento para protocolar uma contraproposta dos professores à pasta, apesar de o governo ter encerrado as negociações com a categoria no dia 3 de agosto, quando assinou acordo com o Proifes (Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior). O Proifes representa a minoria dos docentes. As entidades de classe da maioria, o Andes-SN e o Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), rejeitaram a proposta governamental de reajuste de 20% a 45%.

PROFESSORES EM GREVE

Sindicato pede a Dilma reabertura imediata das negociações com professores federais em greve
De acordo com Marinalva de Oliveira, na contraproposta, os docentes abrem mão de aumento e dão preferência à reestruturação da carreira. O documento pede que, a cada degrau de progressão, os professores tenham ajuste de 4% - anteriormente, o percentual desejado era 5%. Segundo a presidenta do Andes-SN, a categoria também decidiu acatar o piso de início de carreira proposto pelo governo, de R$ 2 mil. "Antes, pleiteávamos R$ 2,5 mil, salário inicial considerado ideal pelo Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos]".
Marinalva teve que entregar uma cópia da contraproposta ao setor de protocolo da Secretaria de Relações do Trabalho, já que nenhum representante do Ministério do Planejamento foi designado para recebê-la. Segundo a presidenta do Andes-SN, o mesmo ocorreu no Ministério da Educação. "Não conseguimos ser recebidos pelo ministro [Aloízio Mercadante]", disse.
Segundo a assessoria de comunicação do Planejamento, a negociação com os professores terminou e não será retomada. O secretário de Relações do Trabalho da pasta, Sérgio Mendonça, está reunido com categorias em greve e passará o dia envolvido com negociações. Ele recebeu a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) – cujos representantes não deram entrevista após o encontro – e agora está reunido com o comando nacional de greve da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Fonte: Uol Educação, 23/08/201214h07.