Pesquisar este blog

sábado, 31 de agosto de 2013

Dente e lágrima




Posso bater a tua porta?
Mas não quero, quando abrir,
Fale-me dos deuses.
Deus Cristo
E demais...

Deus imagem e semelhança
Deus, Deus, deu
Aos homens esse espelho.
Narciso.

Fale-me da vida sem essas vestes
Quero o nu
Quando abrir a tua porta.
Quero a minha porta nua
Na tua porta nua.

Que somos?
Formiga tem deus?
Ela trabalha
Ela trabalha

Pássaro tem deus?
Ele voa e canta
Ele voa e canta

Peixe tem deus?
Ele nada e bebe ar
Ele nada e bebe ar

Urubu tem deus?
Acho que não.
Eles não precisam justificar
Esse breve existência

Palavra não é deus no papel
Papel não é deus na palavra

Existir
É apenas andar quando tem pés
Voar quando tem asas
Nadar quando barbatanas.

No mundo imundo dos homens
Todos se acham
Esse Deus
E cada qual com o oposto ao lado.
Um sustentando o outro,
Poder paralelo

Vou ali formigar com as formigas
Vou ali...
Elas apenas vivem e morrem
Elas apenas trabalham carregando folhas
Elas apenas trabalham abrindo buracos
Para se resguardarem do mal tempo dos deuses.

Vou ali olhar um olhar puro
Vou ao menos, olhar um olhar puro
Que está no meu sonho
De ter um olhar puro.

Vou formigar com as formigas...
Vou aprender com os ciscos

Se doerem,
Chorarei para me resguardar do mal tempo
Riscarei uma palavra

Nesse olhar chorado
Chorarei para me resguardar do mal tempo dos deuses...

Amor
Olhar ao teu olhar
Dente e lágrima

JeanClaudio
23/08/2013

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA: Fortes deslocamentos do capital



EDIÇÃO Nº 1160 – Ano 28; 3ª semana de Agosto 2013.
José Martins
Mais uma vez os economistas do sistema demoraram bastante para descobrir que as leis internas da economia do imperialismo pouco se importam com as bobagens que eles inventam para esconder o caráter desigual e combinado do desenvolvimento entre as economias dominantes, que eles chamam de “desenvolvidas”, e as dominadas, chamadas de “emergentes”.
Veja, por exemplo, essa beleza de descoberta que o The Wall Street Journal, o maior jornal de economia do mundo, acaba de divulgar: “A força da economia mundial está se deslocando para o mundo desenvolvido, afastando-se das economias emergentes que deram impulso ao crescimento desde a crise financeira. Pela primeira vez desde meados de 2007, as economias avançadas, incluindo o Japão, os Estados Unidos e a Europa, estão contribuindo coletivamente mais para o crescimento da economia global — que movimenta US$ 74 trilhões — do que países emergentes como a China, a Índia e o Brasil, segundo dados compilados pela firma de investimentos Bridgewater Associates.
A reviravolta pode redistribuir os fluxos de capital mundiais e derrubar as previsões que grandes empresas acalentaram baseadas numa visão otimista dos mercados emergentes”.[1]
As grandes empresas globais tinham razão em acalentar uma visão otimista dos “mercados emergentes”, pois nos últimos anos elas ganharam oceanos de lucro na China, na Índia, no Brasil. Mas agora não estão mais ganhando o que ganhavam antes. A fonte secou. Ou melhor, o lucro está jorrando mais caudalosamente nas metrópoles imperialistas e economias médias da Europa. Por isso começam a fugir e retornar em grande número para os Estados Unidos, Europa e Japão. No Sul, casa da mãe Joana, fica o prejuízo e as contas do porre a pagar.
ATUALIZANDO OS CÁLCULOS – Quem não tinha razão sobre o que se passava nos últimos anos na economia do imperialismo eram seus economistas e, claro, sua prostituída mídia global. Quase sem exceção, eles afirmavam com a verdade absoluta dos imbecis que as “novas potências do Sul” logo alcançariam (algumas até ultrapassariam, diziam os mais entusiasmados) as “velhas potências do The Wall Street Journal – Países Emergentes Perdem a Liderança na Economia Global.
Entretanto, bastou o avanço do atual ciclo econômico, iniciado em meados de 2009, para que esse lero-lero dos tontos fosse se apagando. A dinâmica material esclarece mais que mil palavras. É hora de atualizar os cálculos. Neste mês de Agosto, o que se confirma é o seguinte: de um lado, uma forte recuperação cíclica do capital nas metrópoles imperialistas – EUA, Alemanha e Japão. De outro lado, travamento na produção e fortes pressões financeiras nas principais economias dominadas – China, Brasil, Índia, Rússia. Isso acontece, como observamos em boletins passados, porque nas economias dominantes se recuperou a taxa média de lucro anterior à crise parcial 2008/2009. Isso ainda não ocorreu nas economias dominadas. E não deve ocorrer, ao menos neste período de expansão global. Fundamentalmente, as economias dominadas não decolam porque sua produção nacional de capital não oferece a taxa média de lucro exigida pelas empresas globais. Apaga-se o fogo da acumulação de capital e, consequentemente, do crescimento econômico.
O descompasso subterrâneo entre a valorização do capital nas economias dominantes e nas dominadas se manifesta de inúmeras maneiras. Primeiramente, como um forte refluxo de capitais da periferia em direção ao centro do sistema: “O papel da Ásia como máquina de crescimento mundial está se esgotando com o enfraquecimento das economias da região e com os investidores remetendo bilhões de dólares para o exterior. A rupia indiana caiu para seu nível mais baixo hoje, a Tailândia está em recessão e as ações na Indonésia desabaram cerca de 20% desde seu último pico de alta. Os empréstimos podres da China estão aumentando e as perspectivas dos economistas para a Malásia antecipam seu segundo trimestre seguido de crescimento abaixo de 5%. As nuvens que se formam na Ásia com o aperto na liquidez monetária e desaceleração do crescimento chinês, que limita a demanda por commodities e outras mercadorias, estão fornecendo o combustível para a liquidação nos mercados de ações das economias emergentes, revertendo o fluxo de dinheiro para a região em favor das nascentes recuperações nos Estados Unidos e Europa. Mercados emergentes do Brasil à Indonésia aumentaram seus custos nos empréstimos em 2013 para socorrer suas moedas frente às perspectivas de redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos que limita a demanda por ativos nas economias em desenvolvimento”[2]
Essa desigualdade entre um forte processo de valorização do capital no centro, combinado com um processo anêmico na periferia, aparece também de forma transparente e precisa na variação dos preços das ações (títulos de propriedade do capital) nas principais bolsas de valores do mundo. A seguir. 2 Bloomberg News – “Capital Flows Back to U.S. as Markets Slump Across Asia” [Fluxo de Capitais Voltam para EUA com Queda nos Mercados da Ásia], 20/Agosto/2013.

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação
Popular, S. Paulo.
EDIÇÃO Nº 1160 – Ano 28; 3ª semana de Agosto 2013.

[1] The Wall Street Journal – Países Emergentes Perdem a Liderança na Economia Global – 12/Agosto/2013.http://online.wsj.com/article/SB10001424127887323585604579007353697090402. html.
[2] 2 Bloomberg News – “Capital Flows Back to U.S. as Markets Slump Across Asia” [Fluxo de Capitais Voltam para EUA com Queda nos Mercados da Ásia], 20/Agosto/2013. http://www.bloomberg.com/ news /2013-08-19/clouds-gather-over-asian-economies-as-capital-flows-back-to-u-s-.html.

IFBA divulga o edital do processo seletivo simplificado

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) divulga o edital do processo seletivo simplificado para contratação de professor temporário. São 70 vagas destinadas aos campi Barreiras, Brumado, Eunápolis, Feira de Santana, Ilhéus, Irecê, Jacobina, Jequié, Porto Seguro, Salvador, Santo Amaro, Seabra, Simões Filho, Valença e Vitória da Conquista.
As inscrições devem ser realizadas no período de 28 de agosto a 12 de setembro exclusivamente no site. O pagamento da taxa de inscrição, no valor de R$ 50,00, deve ser efetuado até o dia 13 de setembro.
É possível solicitar isenção desta taxa, no período de 28 a 31 de agosto, caso o candidato esteja inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) ou seja membro de família de baixa renda, de acordo com instruções e normas estabelecidas no edital.
O processo seletivo será realizado em uma única etapa constituída de prova de desempenho didático (eliminatória e classificatória) e avaliação de títulos (classificatória).
Edital nº 11/2013

Na falta de uma boa e velha senzala...



Wilson Gomes*

Sim, Micheline Borges, as médicas cubanas, de fato, parecem-se com as suas empregadas domésticas. Eu também me pareço com a sua faxineira e a sua cozinheira. E, se me permite a comparação, Barack Obama também é cara dos garçons dos restaurantes que você deve frequentar, dos vendedores de coco na praia, da maioria dos presidiários brasileiros, dos desempregados e subempregados do país.
Feita esta constatação certeira, seria legal se você se perguntasse por que é uma ilha de loiridão e alvura cercada de tantos pretos pobres por todos os lados. Será determinação do destino que estabelece que as pessoas não brancas tenham que se tornar empregadas domésticas de michelines? Será prescrição do Oráculo de Apolo que pessoas com cara de micheline sejam jornalistas casadas com engenheiros?
Pergunte-se, além disso, qual é a magia que fizeram em Cuba para que tantos que bem poderiam ser suas empregadas domésticas sejam hoje médicas que embarcaram para este país, de saúde pública de terceira, a fim de ajudar pessoas de todas as cores que não são ajudadas pelas alvas michelines que moram ao lado.
Não, Micheline, eu não diria “coitada da nossa população” de pessoas com cara de empregadas domésticas porque serão atendidas por médicos com a mesma cara delas. Eu tenho pena é do coitado deste país, açoitado pela mentalidade-micheline, que resolve que o lugar de pessoas com cara de empregadas doméstica é na cozinha das suas casas, fazendo a limpeza ou picando cenoura para o jantar. Na falta de uma boa e velha senzala...
*Professor da UFBA