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domingo, 31 de agosto de 2014

Brasil é líder mundial em agressão a professores



R., 45 , há dois anos teve que sair do Ciep Estaudal Raul Seixas, em Costa Barros, depois de ser agredido por aluno e parentes do estudante. Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

Em pesquisa que ouviu 100 mil docentes em 34 países, 12,5% dos brasileiros contam que são agredidos ou intimidados uma vez por semana dentro da escola.

 FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - No dia 12 deste mês, o professor de Biologia Carlos Cristian Gomes, de uma escola estadual de Sergipe, levou cinco tiros de um aluno de 17 anos, que teria ficado revoltado com uma nota baixa. Gomes está internado em estado grave e respira por aparelhos. Esta semana, professores do Ciep Pablo Neruda, no bairro Laranjal, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, ameaçaram parar suas atividades em protesto por causa das constantes agressões verbais desferidas por alunos.

Os dois casos recentes de violência contra docentes ilustram pesquisa feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que revela que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil se disseram vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. A enquete foi feita em todo o mundo e abordou mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (alunos de 11 a 16 anos). O resultado põe o Brasil no topo do ranking de violência em escolas.

“Infelizmente, isso é pura realidade. No Estado do Rio, os professores são vítimas diariamente de vários tipos de agressões físicas e verbais. Tanto que estamos preparando um levantamento sobre o assunto”, diz a professora Beatriz Lugão, diretora do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ).

De acordo com ela, o clima de violência nas escolas públicas é desencadeado por diversos motivos.

“Sobretudo pela quantidade insuficiente de professores, falta de inspetores, espaços físicos sucateados e insegurança no entorno. No meio disso tudo, como um para-raio, está o professor”, diz ela.

Os índices referentes ao Brasil são os mais altos entre os 34 países pesquisados, onde a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, Malásia e Romênia, o índice é zero.

Além de ataques, professores convivem com ameaças de morte. É o caso de R., 45 anos, que há dois anos teve que sair do Ciep Estadual Raul Seixas, em Costa Barros, depois de retirar um aluno que fazia bagunça na sala de aula e apanhou dele, da mãe e do irmão do estudante. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna).


No país, só 12,6% consideram que são valorizados


Para Dirk Van Damme, chefe da divisão de inovação e medição de progressos em educação da OCDE, pela escola estar mais aberta à sociedade, os alunos levam para a aula seus problemas cotidianos. “Essa é uma das possíveis razões pelo quadro revelado pela pesquisa”, argumenta Van Damme.

De acordo com ele, o Estudo Internacional sobre Professores, Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), também expôs que somente um em cada dez professores (12,6%) no Brasil acredita que a profissão é valorizada pela sociedade. Nesse quesito, a média global alcançou 31%.

Pela enquete, o Brasil está entre os dez últimos da lista em relação ao assunto. No último lugar aparece a Eslováquia, com 3,9%, seguida de França e Suécia, onde só 4,9% dos professores acham que têm o devido valor perante a sociedade.

A surpresa ficou por conta da Malásia, onde 83,8% dos professores acham que a profissão é valorizada. Cingapura, com 67,6%, e a Coreia do Sul, com 66,5%, também tiveram boas avaliações nesse item. A pesquisa indicou ainda que, apesar dos problemas, a maioria dos professores no mundo se diz satisfeita com a função.

Fonte: O Dia

sábado, 30 de agosto de 2014

INTELECTO PASSIVO

 CARLOS MAIA
APRENDEU A FALAR
PARA SE DISTINGUIR
DOS GRUNHIDOS HUMANOS
TAPADOS PELA SURDEZ
NÃO ESCUTA VOZES
QUE BRADAM AO NASCER
NA ALVORADA DA MELANCOLIA
DESGASTA O APRENDIZADO
BARROCO E NEOCLÁSSICO
APRENDEU AS LETRAS
NO JOGO DE CAÇA-PALAVRAS
COLHENDO AS MENOS COMUNS
ELITIZOU O IDIOMA
BESTIALIZOU A LÍNGUA
TORNANDO-SE INCOMUNICÁVEL
CONTEÚDOS BRILHANTES
APRENDE-SE À FORÇA
EXPRESSÕES DA MEDIOCRIDADE
CONSTRÓI-SE NOVO PENSANTE
DISCURSOS SIMPLES
BELEZA ESTÉTICA
NO FIM PEDANDESCO
DO INTELECTUALOIDE
ESTEREOTIPADO
COMBATER A MESMICE
COMBATER A CHATICE
COMBATER A PRAGA
24.06.2014

O que representa, para os trabalhadores, o enriquecimento sob o capitalismo


Ato em defesa da USP


UESB: Governo corta mais recursos e afunda instituição em crise financeira

Foto: Reprodução
Está previsto um corte de quase R$ 2 milhões no orçamento governamental destinado à Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB), para o ano de 2015. A medida agravará a crise orçamentária que a instituição enfrenta. Os docentes reivindicam uma mudança de postura do governo do Estado. A administração da Universidade já enfrenta grandes dificuldades em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, com as reduções realizadas anteriormente e que atingiram um total de R$ 4,7 milhões. A crise se reflete na infraestrutura precária, atraso no pagamento de fornecedores, negação de direitos e precarização das condições de trabalho e estudo. A UESB enfrenta um déficit de quase 200 professores em seu quadro docente.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Assessor de economia de Marina defende que aluno da Unicamp pague mensalidade

Entrada Unicamp
O principal assessor econômico da candidata Marina Silva (PSB), Eduardo Giannetti da Fonseca, defende que alunos da Unicamp e de outras universidades públicas brasileiras paguem mensalidades. A bandeira, muito presente durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), nos anos 90, ganha nova roupagem.

Uma nota nota do Jornal GGN afirma que Eduardo Gianetti, durante  palestra em Campinas, no evento “A economia Brasileira: Desafios ao seu crescimento” defendeu o ensino pago nas universidade públicas, pelo menos para os estudantes que podem pagar e, segundo ele, os que fizeram nível médio em escola particular, podem pagar ensino universitário. Gianetti já havia defendido essa posição em outros eventos.

Em artigo recente, Wladimir Saflate diz que uma família que ganha 10 mil reais por mês teria que escolher, dentre os filhos, um deles para ingressar na universidade, como ocorre no Chile.

Há dois anos, o físico Leandro Tessler, em evento na Unicamp, há havia desmontado o mito do ensino pago nos Estados Unidos.  “O ensino superior nos Estados Unidos, tanto público quanto privado, é pago. Mas a chamada propina dos alunos não cobre os custos e, em alguns casos, nem chega perto disso. Apesar de não haver um sistema de educação nacional, o governo federal é a maior fonte de recursos das instituições”, disse no evento. Ainda segundo notícia da própria universidade,  as escolas de ensino superior dos EUA receberam, em 2009, 153 bilhões de dólares do governo federal e 78 bilhões dos estados, na forma de auxílio estudantil, financiamento de pesquisa e benefícios fiscais. “É uma cifra astronômica, considerando que a Unicamp, por exemplo, recebe um bilhão de dólares em um ano normal”, completou.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Manifesto dos Professores (as) da UEMG

QUEREM APAGAR NOSSA HISTÓRIA

agosto 8, 2014

Querem apagar nossa história. A história de milhares de pedagogos/as, designers, artistas, músicos, engenheiros/as, professores/as, entre outros/as profissionais que atuam em nossa sociedade, formados/as em mais de 34 cursos de graduação, tanto na capital quanto no interior.  A Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) vem transformando várias gerações de mineiros, nos seus 25 anos de prestação de serviços de excelência à comunidade através de ensino, pesquisa e extensão. A competência e o engajamento do seu quadro de professores/as – que ingressaram de forma legítima, por meio de vários processos seletivos propostos pela instituição – se expressam nos ótimos resultados que os/as alunos/as obtêm nas avaliações nacionais, assim como em concursos públicos.

Hoje a UEMG se encontra ameaçada, uma vez que os/as professores/as que escreveram essa história veem seus direitos trabalhistas negados e o risco do desemprego em virtude da fragilidade de uma lei mal planejada pelo governo do Estado de Minas Gerais e de uma total ausência de política pública para o ensino superior no Estado.

Por isso, nós, professores/as da Universidade do Estado de Minas Gerais, manifestamos aqui nossa indignação diante da atual situação colocada para a UEMG: de precarização do ensino superior e de demissão em massa de seus/suas professores/as. Assim, paralisamos nossas atividades para cobrar dos poderes legislativo e executivo os direitos dos trabalhadores da Educação.

A Universidade parou! Exigimos respeito! Queremos assegurados nossos direitos: de escolha de um regime de previdência; de recebimento imediato de nossas férias prêmio; de criação de uma medida administrativa que legitime e reconheça o trabalho dos/as professores/as da UEMG que construíram a história dessa Universidade em seus 25 anos.

Diga sim à UEMG! Diga não ao roubo dos direitos trabalhistas dos/as professores/as!

Fonte: Sinduemg

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Debates sobre a teoria de Marx e o socialismo

Marxismo21 informa em sua página a programação de eventos que debatem a teoria de Marx e o socialismo. Por meio dos links, abaixo informados, podem-se conhecer as atividades e fazer a inscrição:

 


 

GT Marxismo e Ciências Sociais, 38a. reunião da ANPOCS, 28 a 30/10/2014

 

 “Lenin 90 anos depois: Política, Filosofia e Revolução”, Unesp, campus Marília, 25 a 27 novembro 2014

 
Editores

Carta de Fortaleza: Por uma Universidade Popular

Encontro Nacional de Movimentos em Luta
por uma Universidade popular
Publicado em agosto 25, 2014 

Durante os dias 14 e 17 de Agosto de 2014, aproximadamente 700 pessoas oriundas de um conjunto de movimentos, organizações, entidades e instituições acadêmicas de quase todo o país reuniram-se para refletir, debater e lutar por outro modelo de universidade e educação. Rejeitamos o quadro crescente atual de mercantilização e privatização da educação, repudiamos o predomínio da lógica do grande capital na produção de ciência e tecnologia nas universidades, desejamos superar a atual estruturação da educação e da universidade brasileira como reprodutoras das desigualdades sociais, da exploração de classe e das opressões étnico-raciais, gênero, identidade de gênero e diversidade sexual.

A privatização da educação faz parte da mesma política das classes dominantes de militarização das periferias e criminalização do povo trabalhador, da opção dos governos de direcionar mais de 40 % do orçamento nacional para o grande capital monopolista e financeiro (dívida pública) em detrimento de mais investimentos em áreas sociais básicas. Além disso, também faz parte da mesma lógica de controle da população através dos monopólios privados de mídia e da informação, em suma, estes são o modelo e a visão de educação alinhados aos interesses da grande burguesia monopolista.

A educação é cada vez mais tratada como um negócio. O maior monopólio de educação do mundo, Kroton e Anhanguera, foi formado no Brasil. O poder econômico e político também se associam na área educacional. Para constatarmos isso, basta analisarmos a linha diretiva de benefícios para a expansão privada do ensino em programas de governos como o ProUni, Fies, Ciência sem Fronteiras, Pronatec e creches conveniadas. O poder desta articulação se materializou com a aprovação dos 10% do PIB para educação. Embora aparentemente esta medida possa ter contemplado uma importante pauta dos movimentos combativos no que se refere à ampliação do investimento público na educação, esta demanda é readequada aos interesses dos empresários ao aprovar o aumento do investimento público também para a expansão do setor privado. Neste sentido, acreditamos ser importante a articulação nacional em defesa dos 10% do PIB para educação publica já, não para daqui a 10 anos, como propõe o governo, e, sobretudo, a partir das demandas e sob o controle da classe trabalhadora.
 
Nas Universidades Públicas predomina a lógica privada no ensino, pesquisa e extensão, através de fundações de apoio, cursos pagos e a total adequação dos currículos de ensino e pesquisa às necessidades de mercado. Hoje, aproximadamente 75% das vagas disponíveis para o ensino superior são ofertadas por instituições particulares, quadro que se intensificou nos últimos 10 anos de governos do PT. Mesmo assim, menos de 14% da juventude brasileira consegue ter acesso à universidade. Escolas são fechadas no campo, ainda convivemos com altos índices de analfabetismo, e também na educação básica predomina a lógica do capital de compreender, organizar e lucrar com a educação.

O Encontro de Movimentos em luta por uma Universidade Popular identifica claramente que este modelo de universidade e educação não atende às necessidades do povo trabalhador. O atual modelo não nos serve, muito menos nos representa! A Universidade é um aparelho privado de hegemonia, isto é, local de reprodução do saber, da formação profissional e da ideologia dominante, é um instrumento da burguesia para reproduzir as relações de exploração e opressão que garantem a sua dominação.

Com o acirramento das lutas populares e o desgaste no pacto social que vigora no país, o debate sobre os rumos da educação cresce entre a juventude e a sociedade como um todo. No último ciclo houve o crescimento de organizações que formulam e propagam a visão dxs empresárixs sobre a educação e universidade. É hora de ousarmos ao propor a construção de um programa/movimento que represente uma alternativa real de educação vinculada ao poder dxs trabalhadorxs, onde xs trabalhadorxs através de seus locais de estudo, trabalho e moradia possam se articular não somente para frear a logica da exploração e opressão capitalista, mas também construir espaços onde possam decidir coletivamente os rumos de suas próprias vidas, na perspectiva de criar uma contra ofensiva anticapitalista das classes exploradas, o que chamamos de poder popular.

Ousar, Criar, Lutar Universidade Popular! Construir a Educação do poder popular!

Qual o papel dxs lutadorxs por uma Universidade Popular e por outro modelo de educação? Não temos ilusões de que mudaremos o âmbito universitário e educativo sem modificar os fundamentos que geram desigualdades, exploração e opressão contra nosso povo. Porém, esta é uma luta indispensável para o conjunto das mudanças radicais na sociedade brasileira.

Afirmamos, parodiando Brecht, que onde a burguesia fale, xs trabalhadorxs falarão, onde xs exploradorxs afirmem seus interesses, xs exploradxs gritarão seus direitos, onde xs dominadorxs tentarem mascarar sua dominação sob o véu ideológico da universalidade, xs dominadxs mostrarão as marcas e cicatrizes de sua exploração.

Defendemos de forma intransigente o caráter público e estatal da educação contra suas deformações mercantilizantes e privatistas em curso. Na universidade, não defendemos a convivência formal entre ensino, pesquisa e extensão, mas sua efetiva integração. Recusamos a formação profissional rebaixada convivendo com as ilhas de excelência. Defendemos a socialização do saber como condição de execução das diferentes frentes de ação profissional, assim como o fim do vestibular, o acesso universal que garanta as condições de permanência.

Queremos romper com os muros universitários não para levar conhecimento aos “menos favorecidos”, mas para constituir uma unidade real com a classe trabalhadora e suas reais demandas como o sangue vivo das necessidades que devem correr nas veias, a construção do conhecimento que garanta a reprodução da vida e não a boa saúde da acumulação capitalista.

Não podemos menosprezar nenhuma forma de luta dentro e fora da ordem. Diversas resistências e lutas já estão em curso, as quais vão desde a produção de conhecimento a serviço das grandes necessidades do povo trabalhador e seus movimentos, passando pelas lutas de democratização na produção e acesso à cultura até a luta dxs estudantes de universidades privadas contra os aumentos rotineiros nas mensalidades. Sem sectarismos e autoproclamação, valorizamos todas estas lutas em curso. Acreditamos que a luta pela construção de uma educação vinculada ao poder dxs trabalhadorxs ajuda na rearticulação destas experiências e resistências para uma contra ofensiva.

Por tudo isso, a educação que queremos construir é mais que pública, é popular. Por isso, por sua intencionalidade e sua direção, a luta por uma Universidade Popular e por outro modelo de educação é uma luta para expor os limites da ordem burguesa e apresentar a necessidade de uma transformação profunda nas bases da sociedade.

Diante disso, o ENMUP aprova o indicativo da construção de uma Frente Nacional de Luta por uma Educação alinhada ao poder popular! A base desta frente será, justamente, a concepção central de construção deste vitorioso encontro: a construção pela base dentro e fora da ordem. Isto é, fortaleceremos os diversos MUP´s (Movimento por uma Universidade Popular) locais por todo o país, grupos de pesquisas contra hegemônicos, coletivos das periferias e culturais, alianças com sindicatos combativos e movimentos populares, associações de moradores e de pais e mães de estudantes, além da articulação com professorxs de todos os níveis e funcionárixs da educação. Qualquer grupo que se indigne com a atual configuração dos rumos educacionais e com as mazelas do capitalismo pode e deve fortalecer esta luta.

Encaminhamentos do Encontro Nacional dos Movimentos em Luta por uma Universidade Popular
Ato ENMUP
Deliberações da Plenária Final:

Lançamento da campanha “Produção de ciência e tecnologia para quem?”

Outubro como mês nacional da extensão popular

20 de Dezembro de 2014 – Reunião Nacional de Articulação dos Movimentos em luta por uma Universidade e Educação Popular.

Local: Goiânia.

Maio de 2015: Mês de luta por uma Universidade e Educação do Poder Popular.

Será formada uma articulação nacional entre os movimentos e entidades que lutam por uma educação popular, com o intuito de operar essas campanhas, socializar os debates e experiência sobre educação popular e garantir a próxima reunião em Goiânia. Tal articulação será formada por: MUP Rio, MUP Niterói, MUP Pernambuco, APG UFSM, MUP Ceará, MUP Goiás, DCE da UFRPE e CA de História da UFPE.

Para conhecer os Encaminhamentos dos GD’s e mais informações, clicar ENMUP2014

domingo, 24 de agosto de 2014

Globo e Fifa envolvidas em gigantesca fraude fiscal, segundo processo da Receita

17/7/2014
Por Redação - do Rio de Janeiro

Manifestantes projetaram palavras como “Sonega”, “Mente” e “Manipula” sob o logotipo da Rede Globo, em São Paulo


O jornalista Miguel do Rosário revela, em primeira mão no site O Cafezinho, detalhes do processo em que o maior conglomerado de mídia do país é investigado por sonegação de impostos, evasão de divisas e formação de quadrilha. Os autos desapareceram da Receita Federal há cerca de um ano mas, agora, uma cópia ipsis literis reapareceu e vazou para a internet.

A transação, que pressupõe a existência de uma quadrilha internacional, simula negócios para permitir que a operação verdadeira – a compra dos direitos de transmissão para o Brasil dos jogos da Copa de 2002, realizada no Japão e Coreia do Sul – significasse uma gigantesca evasão de impostos. Os valores, reajustados, ultrapassam a casa de R$ 1 bilhão, sem contar as transações ainda obscuras que podem estar envolvidas na cessão da autorização de exclusividade da Fifa para o televisionamento do Mundial. A transmissão da Copa do Mundo de 2014 também foi exclusiva deste grupo de mídia, que conta com recursos públicos do governo federal.

Leia, a seguir, o resumo dos fatos que o jornalista Fernando Brito publicou nesta quinta-feira, no site Tijolaço, com base nas provas contidas no processo que agora reaparece, “embora duvide que o Ministério Público vá tomar qualquer atitude”, desconfia Brito.

“A Fifa entregou a International Sports Media and Marketing, um braço da conhecida ISL, que foi indiciada na Justiça suíça por fraudes e falsificação de documentos.

“A ISMM vendeu, em 29 de junho de 1998, à TV Globo e a Globo Overseas, empresa da Globo na Holanda, os direitos de transmissão daquela Copa em oito parcelas, a última a vencer em 2002.

“Quem pagou foi a Globo Overseas, repito, sediada na Holanda, mas controlada integralmente pela Globinter, uma empresa de fachada, que funcionava numa caixa postal nas Antilhas Holandesas, paraíso fiscal no Caribe.

“A Globinter, por sua vez, é controlada pela Globo Radio, empresa das Ilhas Cayman, adivinhe, um paraíso fiscal.

“Pagou com dinheiro supostamente tomado de uma tal Power Company, com sede no Uruguai. Que é, por sua vez, propriedade da holding Globopar (controladora) da TV Globo.

“Não se perca, calma.

“Aí a Globinter, das Antilhas Holandesas, cria uma nova empresa, em outro paraíso fiscal, as Ilhas Virgens Britânicas, a Empire Investment Group, integralizando o capital com os direitos de transmissão da Copa.

“Como a Globinter é dona da Globo Overseas, pôde passar os direitos à Empire.

“A Globinter, então, “vende” a Empire à TV Globo ao Brasil e, com isso, vão os direitos televisivos.

“A Empire some do mapa.

“E a Globo forma uma nova empresa no Brasil, a GEE Ltda, que tem como capital estes mesmos direitos.

“Vende, então, 30% destes direitos, na forma de participação societária na GEE, para a Globosat, que controla seus canais de tv a cabo.

“E a GEE também morre e seu espólio, a transmissão da Copa, finalmente fica, oficialmente, nas mãos da TV Globo e da Globosat (cabo).

“Para que todo este transeté no molho do piqueretê de faz-desfaz-compra-vende de empresas?

“Para remeter, à guisa de empréstimos, adiantamentos e compras de cotas de capital nestas empresas de fachada os recursos com os quais se compraram estes direitos de transmissão da Copa.

“Ou seja, para produzir uma fraude fiscal de R$ 615 milhões, na época, ou R$ 1,2 bilhão, hoje.

“Mas, como o Brasil é um país iluminado, um belo dia uma escriturária da Receita Federal, sem mais nem porquê, volta de suas férias na repartição e rouba o processo contra a Globo.

“Por nada, por nada, só porque lhe deu na telha.

“E o nosso Ministério Público, nossa mídia e nosso Judiciário se satisfazem com essa explicação.

“Só os blogueiros sujos, estes recalcados, não se conformam com essa conversa.

Conheça os documentos:
 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Revista Brasileira de Sociologia estende chamada de artigos

A Editoria da Revista Brasileira de Sociologiapublicação semestral da Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS, comunica que ampliou o prazo para recebimento de artigos (temática livre) para o próximo numero da revista, relativo a jul-dez de 2014, número a ser lançado em janeiro de 2015.

Os interessados deverão enviar os seus contributos para este e-mail: revbrasilsociologia@gmail.com até 30 de outubro, observando as normas de publicação abaixo transcritas.

 
Revista Brasileira de Sociologia

REGRAS DE SUBMISSAO 

A Revista Brasileira de Sociologia – RBS publica artigos preferencialmente na área de Sociologia. Aberta à interdisciplinaridade, também recebe textos provenientes das demais Ciências Sociais. Os artigos devem ser originais e refletir os debates teórico-metodológicos bem como a produção acadêmica e científica da área acerca da realidade brasileira e mundial contemporâneas.

i. Os artigos submetidos devem ser inéditos e devem assim permanecer durante a avaliação.  Devem ser enviados para o e-mail revbrasilsociologia@gmail.com

Os artigos não devem ultrapassar 50 mil caracteres com espaço, incluindo a bibliografia.  O artigo deve ter resumo de 900 caracteres com espaço e 3 (três) palavras-chaves. Deve acompanhar, em arquivo separado, Nome completo do(s) autores(s), titulação, vinculo institucional, endereço.


ii. Propostas de Dossiês devem ser enviadas com a apresentação da temática, sua relevância e abrangência para o campo dos estudos sociológicos. A proposta deve vir acompanhada dos dados dos proponentes: nome completo do(s) autores(s), titulação, vinculo institucional, endereço.


iii. Artigos aprovados para publicação devem ser enviados resumo, titulo do artigo, e palavras-chaves em português, inglês e Francês. Caso tenham figuras (imagens e/ou gráficos), estas devem ser enviadas separadamente, numeradas na sequência em que aparecem e com indicação clara ao longo do texto dos locais em que deve ser incluídas. As figuras devem preferencialmente ser em formato TIFF (sem compressão) e resolução de 300dpi no tamanho final pretendido para a impressão. Largura máxima: 12 cm; altura máxima: 16 cm (ou 1417x1890 pixels).

 
iv. As remissões bibliográficas no corpo do texto ou referencias após citações a autores, devem seguir a forma (Autor, data) ou (Autor, data, página), como nos exemplos: (MILLS, 1960) ou (BENJAMIM, 1987,p. 205). Se houver mais de um título do mesmo autor no mesmo ano, eles são diferenciados por uma letra após a data: SIMMEL, 1965a), (SIMMEL, 1965b) etc.

v. Referências bibliográficas:

Livros:

TOURAINE, A. (1981), The voice and the eye: An analysis of social movements.

Cambridge: Cambridge University Press.
 

Artigos:

FELD, S.L. (2002), “On the emergence of social norms”. Contemporary Sociology,

v. 31, n. 6, pp. 638-640.
 

Coletâneas:

INGRAM, H.; SCHNEIDER, A. L.; DELEON, P. (2007), “Social construction and policy design”. In: SABATIER, P. A. (org.). Theories of the policy process. Cambridge, MA: Westview Press.
 

Teses Acadêmicas:

FORTUNA, Carlos. (1988), Threading Through: Cotton Production, Colonial Mozambique and Semiperipheral Portugal in the World-Economy. Tese de Doutorado. State University of New York – Binghamton.


Revista Brasileira de Sociologia 

Sociedade Brasileira de Sociologia - SBS
www.sbsociologia.com.br/revista/index.php/RBS/

terça-feira, 19 de agosto de 2014

IBGE demite 200 trabalhadores em Greve

"Para quem acredita na livre manifestação do BRasil democrático" (Fórum Un. Permanente da Uesb)

 
Autonomia técnica, reforço no orçamento condizente com plano de trabalho, valorização salarial e patamar do ciclo de gestão, são algumas das reivindicações dos servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em greve desde 26 de maio. Os grevistas lutam ainda pela valorização do servidor temporário, os quais ocupam quase a metade do quadro técnico do órgão. Aderiram à greve 17 estados mais o Distrito Federal.

Devido à paralisação dos servidores, pesquisas importantes como a Pesquisa Mensal de Emprego foram divulgadas incompletas e fora do prazo previsto na Região Sul e no Estado da Bahia. Também as pesquisas anuais se encontram atrasadas em praticamente todo o território nacional. A direção do IBGE ajuíza liminar que exige 70% do pessoal trabalhando e, em caso de descumprimento, multa ao sindicato de R$ 100 mil ao dia. Apesar de afirmar na mídia que a greve contava com a participação de apenas 15% da classe de servidores, a direção do órgão retornou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para anexar documento em que afirma que os grevistas não cumpriram a liminar, pedindo, então, a aplicação de uma multa de R$ 200 mil.

A pesar de toda a dificuldade enfrentada pelo sindicato em assegurar uma negociação, já que a ministra do Planejamento Mirian Belchior afirmava não negociar com servidores do IBGE, dando toda autonomia para a presidente do órgão, Wasmália Bivar, foi sinalizado um possível aumento salarial para a classe mais precarizada, os agentes de pesquisa e mapeamento (APMs), a partir de 2015.

Desvio de função, assédio moral, falta de garantias e auxílios, além da falta de protetor solar são alguns dos motivos que fizeram com que os APMs aderissem em massa à greve. Sendo estes servidores a maior força de trabalho do IBGE, o movimento paredista se tornou enérgico. No entanto, como forma de intimidar e enfraquecer o movimento, a direção do órgão decidiu demitir grande parte dos APMs que paralisaram suas atividades, somando cerca de 200 demissões em nível nacional, ferindo, assim, o direito de greve garantido por lei. A presidente do IBGE afirmou que o motivo das demissões se baseava na falta de pontualidade e de produtividade dos servidores, porém, todos os servidores estão assegurados com o ponto na greve e, uma vez com as atividades paralisadas, não é possível produzir.

Diante desta situação, a direção se nega a negociar a recontratação dos demitidos e dispara que resolvam a questão no Judiciário. Como forma de pressionar a direção, servidores de diversos estados entregaram às suas respectivas unidades uma carta de renúncia dos cargos de chefia, a fim de reverter as demissões dos trabalhadores temporários.

As negociações seguem e espera-se alguma posição sobre a readmissão dos APMs, o que se tornou prioridade para o movimento. Estão programados atos regionais, um no Rio de Janeiro e outro em Pernambuco. Todos os envolvidos no movimento paredista, afirmam não retornarem ao trabalho enquanto ainda houver temporários demitidos e sem perspectiva de reversão desta decisão.

Heloiza Romero, trabalhadora contratada demitida do IBGE

Fonte: A Verdade

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Os meus sonhos não cabem nessas urnas

Pedro Fassoni Arruda
 
O que eu penso sobre o novo quadro eleitoral?
Agora com Marina Silva em segundo lugar, a probabilidade de Aécio Neves ficar fora do segundo turno e Dilma ser derrotada depois?
Discutir eleição é importante, sem dúvida. Mas política não se resume a isso. A política também está nas ruas, nas fábricas, nas escolas e nos sindicatos. E o poder de fato está nas mãos dos banqueiros, dos barões da mídia, dos dirigentes das associações patronais e demais "financiadores" de campanha.
Ora, o que existe de novidade nessa eleição? Praticamente nada. Eu só enxergo campanhas bilionárias, muito marketing eleitoral, costura de alianças espúrias, propostas demagógicas, acordos feitos "pelo alto" sem qualquer tipo de consulta às bases dos próprios partidos.
Acho que as pessoas estão preocupadas demais em discutir qual o percentual de votos para os candidatos nas pesquisas, e permanecem prisioneiras dessa falsa polarização que existe nos discursos.
Pois eu digo o seguinte, sem medo de errar: nenhum dos três principais candidatos à presidência aprendeu com as mobilizações populares que tomaram o país, a partir de junho do ano passado. Nenhum!
Por acaso, algum deles defendeu a desmilitarização da polícia? As reformas agrária e urbana (que tenham o condão de mudar efetivamente a relação de poder entre trabalhadores e capitalistas)? Onde foi parar o tal Plano Nacional de Mobilidade Urbana, apresentada pela presidente Dilma no final do ano passado? E o agronegócio, que continua sendo tratado como o grande responsável pelo superávit comercial, enquanto submete trabalhadores à condição análoga à de escravos? Cadê o passe livre e o fim das catracas? 
É a Marina sendo bancada pelo Banco Itaú, a Dilma pelas empreiteiras, o Aécio por todas as facções da burguesia.
Precisamos retomar a leitura dos grandes intérpretes do Brasil. Ler mais Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Raymundo Faoro, Antonio Candido e tantos outros. O debate tá muito pobre, e continuará raso se for pautado pelos filhos do Roberto Marinho, Silvio Santos e membros dos clãs Frias e Mesquita.
Os meus sonhos não cabem nessas urnas.

Brasil: Cientista renuncia a título para não estar ao lado de coronel da ditadura militar

O cientista Bernardo Boris Vargaftig renuncia ao título de "Doutor Honoris Causa" da Unicamp, pois se recusa estar ao lado de um coronel que contribuiu com o regime militar.

 

Leia mais:
Pesquisador renuncia a título da UNICAMP

Leia a carta de renúncia:

Ao Professor Doutor José Tadeu Jorge

DD. Reitor da Universidade Estadual de Campinas

Cidade Universitária “Zeferino Vaz”


São Paulo, 11 de agosto de 2014
 

Senhor Reitor,

Tomei conhecimento da recusa do Conselho Universitário da Unicamp em anular o título de Doutor Honoris Causa que havia sido concedido ao Coronel Jarbas Passarinho em 1973, durante a ditadura militar, em condições que podemos imaginar. Em 1991, fui honrado por igual distinção pela Unicamp e guardei até o presente momento com gratidão esta lembrança (e o diploma assinado pelo Professor Carlos Vogt, Reitor de então). A recente recusa em anular a honraria outorgada ao ex-Ministro da Educação do governo do General Emilio Garrastazu Médici confirma a evolução retrógrada da política brasileira em curso, que as universidades públicas seguem, não só em relação ao exercício do direito de greve e à liberdade de manifestar, como também na manutenção de sua estrutura antidemocrática e nos processos (como estão em curso na USP), além de outras aberrações. A proposta de unidades de ensino dessa Universidade que visavam fazer justiça – já que outras medidas de justiça não ocorreram ainda – foi rejeitada por apenas um voto: 50 a 49 votos, mais 10 abstenções e 10 contrários. Certamente, uma nova discussão nesta mesma reunião - pela importância do tema - teria permitido reverter tal decisão.

Recuso-me a continuar a acompanhar o Coronel repressivo, ex-Ministro da Educação e responsável por tantos desmandos e arbitrariedades. Por essa razão, respeitosamente, comunico-lhe minha decisão de devolver o título de Doutor Honoris Causa que muito me honrou, mas a partir de agora passa a ser o contrário. Se não o fiz anteriormente, foi porque simplesmente ignorava que tal homenagem havia sido concedida a essa personagem da ditadura militar.

Com meus cumprimentos,
 

Bernardo Boris Vargaftig

Professor titular (aposentado) USP / colaborador sênior

Fonte: ANPUH

Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular

Escrito por José Benedito Pires Trindade

Sexta, 14 de Março de 2014

O Volume 1: Primeiros Tempos do livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular, do jornalista Otto Filgueiras, estará nas livrarias em setembro.

Com um total de 86 capítulos, divididos em dois volumes, o livro narra a saga dos 18 anos de atuação da Ação Popular, mas não é um livro-reportagem e muito menos de memórias. Otto não é personagem. Além de ser cabotinagem, ele diz que sua breve militância não teve qualquer importância.

O livro é baseado principalmente na história documental da Ação Popular e também, quando comprovado pelo autor, no relato oral de antigos dirigentes, militantes, simpatizantes e familiares dos personagens.

Ele comprovou documentalmente que, ao longo de sua trajetória, a Ação Popular aglutinou mais de 25 mil militantes, simpatizantes e pelo menos um milhar deles deslocados para trabalhar em fábricas e no campo. A organização foi uma das espinhas-dorsais da resistência ao regime militar.

A pesquisa e entrevistas para o livro foram iniciadas há 28 anos, em 1986, mas ele só conseguiu concretizá-las a partir de 2001, quando começou a trabalhar em tempo integral no projeto, viajou uns 100 mil quilômetros pelo Brasil, principalmente de ônibus, entrevistou mais de 200 ex-dirigentes, ex-militantes e ex-simpatizantes da AP, familiares de militantes, advogados e ativistas de outras organizações, resultando em mais de 700 horas de fitas gravadas e todas transcritas.

Embora as entrevistas sejam importantes no resgate da história oral, e particularmente para captar a emoção dos personagens envolvidos com a AP, o jornalista teve o cuidado de checar o que disseram mais de duas centenas de entrevistados sobre vários episódios, e só usa as informações apuradas nos relatos orais quando a pessoa de fato participou dos acontecimentos que narra, mas sempre os subordinando ao contexto da história do pensamento teórico, ideológico, político e prático da organização. E, mesmo assim, depois de confirmados os relatos orais por outras entrevistas e, principalmente, pela história documental, que inclui centenas de documentos da organização e jornais das várias fases da AP.

Ao longo dos anos, Otto recolheu material documental dos arquivos dos antigos DOPS de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e de outros estados; pesquisou o arquivo de Jair Ferreira de Sá (principal dirigente da AP), depositado no Arquivo Público do Rio de Janei, e recebeu da família dele o arquivo pessoal; examinou o arquivo de Jean Marc, militante da AP e presidente da UNE; estudou 49 processos da ditadura contra militantes da AP e outro tanto disponíveis no acervo Brasil Nunca Mais, depositado no Instituto Edgard Leuenroth, na Universidade de Campinas (UNICAMP). Percorreu ainda o arquivo do ex-dirigente da AP Duarte Brasil Lago Pacheco Pereira, também depositado na UNICAMP, onde resgatou e transcreveu a sua entrevista filmada de sete horas para Armando Boito, professor daquela universidade. E escarafunchou papéis do Arquivo Nacional,  no Rio de Janeiro.

Afinal,  como diz um conto samurai, “o pincel da escrita é um braço que se alonga da sepultura”.

De origem cristã, principalmente com influência de pensadores católicos humanistas Emmanuel Mounier, Teilhard de Chardin, Jacques Maritain, do padre Louis-Joseph Lebret e do padre brasileiro Henrique Lima Vaz, mas também influenciada por pensadores teóricos progressistas da igreja presbiteriana, a exemplo do pastor estadunidense Richard Shaull, a AP começou a ser articulada pela esquerda católica a partir de 1961, em Minas Gerais, quando surgiu o jornal Ação Popular.

Inicialmente, a Ação Popular era considerada apenas um movimento, mas com o tempo seus articuladores realizaram duas reuniões nacionais em 1962, primeiro em Belo Horizonte e depois em São Paulo, quando elaboraram os textos Estatuto Ideológico e Esboço do Estatuto Ideológico. Mas o seu congresso de fundação só aconteceu no carnaval de 1963, em Salvador (BA), na Escola de Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), quando foi aprovado o seu “Documento Base”. Assim, a AP passou a ter um referencial teórico e se constituiu nacionalmente como organização política, embora sem registro legal jurídico.

O livro esmiúça toda a história da Ação Popular, os tantos embates internos que a leva da Igreja ao marxismo-leninismo. Entre as mais de 200 entrevistas que realizou, Otto conseguiu depoimentos de personagens históricos, a exemplo do Padre Henrique Lima Vaz, na época filósofo e principal teórico da esquerda católica, cujas ideias são decisivas para a fundação da organização e para a redação do Documento Base aprovado no primeiro congresso da AP, em 1963.

Com base na documentação encontrada nos arquivos, foi possível esclarecer também os assassinatos dos militantes e dirigentes da AP Jorge Leal Gonçalves, Raimundo Eduardo da Silva, Luiz Hirata, Paulo Stuart Wright, José Carlos da Mata Machado, Gildo Lacerda, Humberto Câmara, Honestino Guimarães, Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz. O caso de Paulo Stuart Wright é um dos mais importantes: Paulo foi um dos principais dirigentes da AP,  também tinha origem cristã, a exemplo de vários outros dirigentes, no caso dele presbiteriana, e incorporou no seu pensamento as ideias do marxismo.

Otto narra no livro detalhadamente toda a articulação da repressão, comandada pelo Centro de Informações do Exército, CIE, que levou à prisão mais de 40 pessoas da AP, em agosto, setembro e outubro de 1973, e particularmente à prisão de Paulo Wright, entre os dias 4 e 5 de setembro daquele ano e, posteriormente, o seu assassinato e o assassinato de seis outros militantes da organização. Depois de assassinado no DOI-CODI de São Paulo, Paulo Stuart Wright foi enterrado pela polícia no Cemitério de Perus com o nome de Pedro Tim, mas seu corpo nunca foi encontrado e até hoje ele é dado como “desaparecido”.

O autor recolheu material inédito que ilustra o livro, inclusive fotos de militantes da AP, presos, alguns assassinados, e importantes documentos da repressão policial, entre eles os do Centro Nacional de Informação da Marinha (CENIMAR), do Centro de Informação do Exército (CIE), do Centro de Informação da Aeronáutica (CISA), do DOI-CODI de São Paulo e dos antigos DOPS, que esclarecem como ocorreu o cerco que os órgãos de repressão da ditadura fizeram sobre a AP durante a sua trajetória e sobre várias prisões e assassinatos de militantes da organização.

Para isso, o jornalista mergulhou nas centenas de milhares de páginas de depoimentos de presos políticos, de processos e de relatórios dos órgãos da polícia política do regime militar. Uma leitura que revela a grandeza e a miséria do comportamento dos militantes massacrados pela tortura. O relato disso tudo é, talvez, a mais perturbadora viagem às prisões do governo militar.

Otto não faz concessões, não cede, não capitula, não transige com a verdade ou com os princípios. Dos quantos livros sobre esse riquíssimo período da história, o livro de Otto talvez seja o mais autêntico testemunho da generosidade, da entrega e da bravura de uma geração de brasileiros. Sem espaços para o arrependimento, as lamúrias, a auto-complacência ou demonstrações de heroísmo.  E, notadamente, sem a fatuidade e a ligeireza que impedem uma reconstituição da verdade dos fatos, como, desgraçadamente, é o caso de várias obras sobre os anos 60, 70 e 80.

Mais ainda: ao historiar a trajetória da Ação Popular, Otto faz a crônica da própria esquerda brasileira, seus caminhos e descaminhos, as idas e vindas em um país e em um mundo convulsionados. E, ao iluminar o passado, Otto clareia o presente e mostra que a história de luta de AP não se conclui com sua extinção. Ela está nas ruas do Brasil e do mundo.

O livro conta ainda em detalhes as viagens de várias delegações de militantes e dirigentes da AP à República Popular da China, nas décadas de 1960 e 1970, para participar de cursos na Academia Militar de Nankin. Otto conseguiu, com um dos integrantes das delegações, Euler Ivo Vieira, em 2001, uma foto de militantes e dirigentes da AP com o primeiro-ministro chinês Chou En Lai.

Como base nos documentos encontrados na pesquisa, e também em livros autobiográficos já publicados, ele recuperou a trajetória de pessoas já mortas e que desempenharam papel importante na história da AP, a exemplo do sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho.

O volume 1 aborda o período de 1930 a setembro de 1968. E o volume 2 vai até 1986. O primeiro volume tem 561 páginas e o volume 2 um outro tanto. O prefácio é do historiador Mário Maestri.

José Benedito Pires Trindade é jornalista.