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Por Por Jérôme CARTILLIER, Ivan
Couronne
AFP
10/12/2014
Sede da CIA em Langley,
Virginia
O presidente do Afeganistão,
Ashraf Ghani, fala sobre o relatório de torturas cometidas pela CIA, em 10 de
dezembro de 2014Ver foto
O presidente do Afeganistão,
Ashraf Ghani, fala sobre o relatório de torturas cometidas …
Após o 11 de setembro, a CIA
submeteu dezenas de detentos vinculados à Al-Qaeda a torturas brutais e
ineficazes, revelou na terça-feira um relatório elaborado pelo Senado dos
Estados Unidos, que causou uma onda de críticas no mundo todo e que pode
resultar em processos judiciais.
Entre as revelações feitas,
está a que o governo republicano de George W. Bush estava a par dos
procedimentos ilegais implementados pela chamada "guerra ao terror".
Os senadores democratas da
Comissão de Inteligência publicaram o extenso relatório de uma investigação
detalhada sobre o programa secreto da CIA para capturar e interrogar, fora do
âmbito legal, suspeitos de estar vinculados à Al-Qaeda.
A CIA impugnou imediatamente as
conclusões do relatório, redigido entre 2009 e 2012. Uma versão reduzida do
mesmo, de 525 páginas e com 2.725 notas, foi a divulgada na terça-feira.
A comissão acusa a agência de
inteligência de ter submetido 39 detidos a técnicas de interrogatório
especialmente duras, aprovadas pelo governo da época, e que muitos equiparam a
torturas.
O relatório descreve como os
detidos permaneciam amarrados durante dias na escuridão, eram submetidos a
banhos gelados, privados de sono durante uma semana, espancados e ameaçados
psicologicamente. Um detento foi ameaçado com uma furadeira. Ao menos cinco
sofreram o que o relatório descreve com o eufemismo de "reidratações
retais".
Khaled Cheikh Mohammed, suposto
cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001, foi submetido tantas vezes ao
chamado submarino (imersão forçada até o limite do afogamento) que esteve
prestes a morrer durante os interrogatórios.
Em reação ao relatório do Senado,
o advogado do agora detido na base de Guantánamo estimou que seu cliente não
deveria ser condenado à morte durante seu processo perante um tribunal militar
especial.
O então presidente George W.
Bush foi informado em abril de 2006, ou seja, após quatro anos dos incidentes,
que os detidos eram torturados em prisões secretas da CIA, revelou o documento.
O ex-presidente republicano
expressou seu desconforto quando descobriu "a imagem de um detido algemado
no teto, com uma fralda e obrigado a fazer suas necessidades ali", é
possível ler na página 40.
"Nenhuma nação é
perfeita", declarou Barack Obama, que no passado utilizou o termo tortura
para se referir aos interrogatórios reforçados. "Mas uma das forças dos
Estados Unidos é nossa vontade de enfrentar abertamente nosso passado,
enfrentar nossas imperfeições e mudar para melhorarmos".
- Demandas e condenações -
A reabertura deste capítulo
negro da "guerra contra o terrorismo" provocou uma onda de
condenações no mundo e nos Estados Unidos.
O relator da ONU sobre direitos
humanos, Ben Emmerson, pediu que sejam apresentadas demandas judiciais contra
os responsáveis.
"Dos níveis mais altos da
administração Bush foi orquestrada uma política que permitiu (que fossem
cometidos) crimes sistemáticos e violações flagrantes dos direitos
humanos" em escala internacional, declarou.
"Os responsáveis por esta
conspiração criminosa devem ser levados à justiça", afirmou.
No entanto, o departamento de
Justiça americano indicou que o caso seguirá arquivado por falta de provas
suficientes.
A organização britânica de
defesa dos direitos humanos Cage também exigiu demandas judiciais. Afirmou que
"há (no relatório) provas evidentes que justificam as ações
judiciais".
O ex-presidente polonês
Aleksander Kwasniewski, cujo país abrigou prisões secretas da CIA, declarou que
os interrogatórios violentos por parte da CIA em território polonês cessaram
após as pressões de Varsóvia em 2003, e que "a princípio a Polônia
ignorava que ocorriam torturas".
Nos Estados Unidos o
diretor-geral da poderosa União de Defesa das Liberdades Civis (ACLU), Anthony
Romero, condenou os "crimes atrozes". "É um relatório
escandaloso e é impossível lê-lo sem se indignar pelo fato de nosso governo ter
realizado estes crimes atrozes", afirmou.
A União Europeia (UE) elogiou a
publicação do relatório.
"O relatório é uma etapa
positiva para expor publicamente e de maneira crítica o programa de detenção e
interrogatórios da CIA", afirmou Catherine Ray, porta-voz da chefe da
diplomacia europeia.
Já a Alemanha declarou que as
torturas realizadas pela CIA são uma grave violação dos valores liberais e
democráticos e que não podem se repetir.
"O que era considerado bom
e foi feito pela luta contra o terrorismo islamita é inaceitável e um grave
erro", declarou ao jornal Bild o ministro alemão das Relações Exteriores,
Frank-Walter Steinmeier.
O novo presidente afegão Ashraf
Ghani também condenou a prática de torturas.
"Todos os princípios
básicos dos direitos humanos e das leis americanas foram violados pelo pessoal
da CIA", afirmou Ghani.
No Congresso, os republicanos
lamentaram a publicação do documento, temendo que a transparência provoque
represálias contra os Estados Unidos. As bases militares americanas de todo o
mundo estão em estado de alerta máximo, disse um funcionário de alto escalão na
terça-feira.
No entanto, há vozes
discordantes entre os republicanos. O senador John McCain, que foi prisioneiro
de guerra e torturado no Vietnã, saudou a difusão do relatório. "A verdade
às vezes é difícil de digerir", disse. "Às vezes é utilizada por
nossos inimigos para nos prejudicar. Mas os americanos têm o direito de
conhecê-la".
Cento e dezenove pessoas foram
capturadas e mantidas em prisões secretas da CIA em diferentes países - nunca
identificados - muito provavelmente Tailândia, Afeganistão, Romênia, Polônia e
Lituânia, entre outros.
Barack Obama aboliu
oficialmente o programa secreto de interrogatórios da CIA ao chegar ao poder,
em 2009
Fonte: Br.notícias
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