Lya Luft*
Publicado em: 22/12/2010
EDUCAÇÃO URGENTE! "A
educação nos faz enxergar com outros olhos o que acontece à nossa volta e nos
ajuda a sair da resignação mortal para o desejo de que as coisas melhorem"
Sobre educação a gente deve ler
Gustavo Ioschpe (a quem conheci menininho), e refletir até o fim dos tempos.
Envergonhar-se e chorar, ou ter uma derradeira esperança. Eu, em geral
otimista, até considerada ingênua, nesse assunto contínuo cética. Basta ver o
lugar que ocupamos nas melhores avaliações internacionais, atrás de países nos
quais eu nem cogitaria, tratando-se de educação. Estamos abaixo da esmagadora
(literalmente) maioria. Não seria preciso a opinião de bons institutos
internacionais ou nacionais, está debaixo do nosso nariz, e cheira muito mal:
nossa educação está abaixo de qualquer crítica. E pode piorar, pois temos um
ensino cada vez mais relaxado, uma autoridade mais inexistente; agora se pensa
em não reprovar mais ninguém nos primeiros anos, isto é, vamos lhes mentir que
estão aprendendo, como disse uma autoridade em ensino.
Escolas caindo aos pedaços,
professores pessimamente pagos, e mal preparados (cadê tempo para ler, estudar,
progredir, se todos precisam de algum bico para defender o pão de cada dia?).
Sem bibliotecas (ou com elas abandonadas) nem computadores - alguns foram
doados, mas não há quem os instale ou os saiba manejar. E o povo não sabe que o
melhor modo de subir na escala social é pela educação, que é informação, e
formação, é força, é poder. Vai ajudar a tomar decisões mais acertadas, fazer
melhores escolhas, conseguir emprego ou subir de cargo, ser mais gente, cuidar
melhor de si e dos filhos, alimentar-se melhor, viver melhor. Gostar mais de si
mesmo, valorizar-se e ser valorizado. E assim construir um país mais humano,
mais digno, mais justo.
Não vejo muitos governos,
líderes de verdade querendo um povo educação, isto é, informado. Pois quem se
informa, quem sabe das coisas, questiona a situação da sua comunidade, seu estado,
seu país. Questiona sua própria condição. Não vai mais querer morar em cima de
velhos lixões mal disfarçados, ver seus filhos comendo restos, brincando com
água de esgoto, morrendo por falta de cuidados essenciais.
Quem se educa, isto é, pode ler
e entender melhor as coisas, não vai mais aguentar calado - distraído com
alguns dinheirinhos a mais, estimulado até a comprar o que não poderia, pois
não vai conseguir pagar a próxima prestação - que seus velhos não tenham
assistência, que a aposentadoria, quando existe, seja de fome, que as crianças
morram em corredores de hospital, ou precisem ser levadas horas a fio até o
posto de saúde mais próximo - que pode estar fechado por falta de médico ou até
de remédios. Nós não somos assim. Não aceitamos morrer de sujeira, doença,
fome, falta de assistência, de informação, de dignidade. Quem se informa e sabe
das coisas não vai mais achar que a corrupção nos altos escalões é assim mesmo,
a política é assim, não tem jeito, "a casa já caiu, temos de nos conformar",
como disse um resignado homem numa entrevista.
Um povo educado é como um filho
positivamente rebelde que não aceita injustiças, gritos, brutalidade ou
humilhações em casa. Um povo educado reclama. Um povo educado elege diferente.
Um povo informado - que teve escola, lê jornal, conhece livros, assina sabendo
o que está naquele papel, interpreta o que vê na televisão ou escuta no rádio -
ambiciona para seus filhos algo mais do que viver na rua e morrer na esquina. A
educação nos faz enxergar com outros olhos o que acontece no país e no exterior
- sim, pois a gente sabe o que se passa em outros lugares - e sair da
resignação mortal para o desejo ativo de que as coisas melhorem. E começa a
colaborar para que elas mudem. E vai reclamar de quem mentiu, prometeu e não
cumpriu, foi corrupto, ficou impune, pensou em mais poder, e não na sua gente.
Assim, devagar, usando de firmeza e inteligência, sem violência, sem agressão,
quem se educou vai começar a mudar seu país. E por isso não me importo de
repetir, repetir e repetir: a gente pode ser mais feliz. A gente pode ser mais
gente. A gente precisa, com urgência, de verdade, que a educação seja
prioridade de todos para todos, nesta nossa terra.
*Escritora e colunista.
Voltar de uma greve de 115 dias e encontrar na escola muitos "colegas-avestruz" é frustrante para quem ainda acredita que o único caminho é a resistência...
ResponderExcluirAcostumados a ter sempre menos, a ser sempre menos e a estarem invisíveis nossos jovens não sabem que podem mais, que merecem ser mais. Quem lhes mostrará isso??? Os educadores em todas as suas formas e lugares estão dispostos a essa busca??? Quem quer jovens rebeldes, insubordinados, desobedientes e que fujam das normas impostas pelos poderosos??? A passividade parece ser tão mais tranquila...