Cristiane Capuchinho
O Reuni (Programa de Apoio ao Plano de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), criado em 2007, promoveu
a expansão do acesso ao ensino superior sem garantir a qualidade e a
permanência dos alunos. Essa é a visão de professores ouvidos pelo UOL. Para o
secretário da educação superior do MEC, Paulo Speller, os problemas são
pontuais e não mudam a avaliação positiva da expansão.
Confira os números da expansão
das federais
- Para atingir meta, federais precisam criar 58,9 mil matrículas por ano
- Para sindicato, expansão criou universidades de ponta e "escolões"
Entre 2007 e 2011, as federais
aumentaram em 63,7% o número de vagas oferecidas. As vagas passaram de 159.448
a 261.090 postos, segundo o Censo da Educação Superior.
No mesmo período, o crescimento
no número de professores foi de 25,2%, chegando a 70.710 docentes, segundo
estudo feito pela Andifes (associação de reitores das federais), MEC e UNE
(União Nacional dos Estudantes): "Análise sobre a Expansão das Universidades
Federais 2003 a 2012" (veja em .pdf)..
"A lógica dessa política
é: primeiro aumenta-se o número de vagas, depois se buscam 'soluções
criativas', enquanto se aguarda a conclusão das intermináveis obras (muitas com
denúncias de superfaturamento), assim como, a burocrática e racionada nomeação
de servidores, técnicos e docentes", afirma Denise Bessa Leda, professora
da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), que desenvolve desde 2009 uma
pesquisa conjunta sobre o trabalho docente na expansão da educação superior.
"O que se tem visto no
Brasil afora, através das denúncias feitas, pelos estudos críticos de diversos
pesquisadores e pelos alunos, são: turmas funcionando em locais improvisados;
disciplinas sem professores; experiências curriculares "inovadoras"
sem o necessário preparo da instituição e dos docentes para lidar com essas
inovações; diversos campi funcionando sem as indispensáveis estruturas de apoio
acadêmico como, por exemplo: bibliotecas, laboratórios, restaurantes
universitários e residências estudantis", continua.
Para o secretário da educação
superior do MEC, Paulo Speller, os problemas são pontuais e não mudam a
avaliação positiva da expansão.
"Houve e há situações
pontuais, em um programa da envergadura e da amplitude do Reuni, de obras que
tenham sido abandonadas por uma empresa, que por morosidade da empresa, que por
questões técnicas tenham atrasado. Mas isso felizmente aconteceu em um número
muito pequeno [de universidades] e não chegou a colocar em xeque o programa
como um todo. Os números no que diz respeito a vagas, a cursos e a matrículas
são muito expressivos", avalia.
Segundo o MEC, 75% das 3.812
obras licitadas no processo de expansão das universidades federais já estão
concluídas. Há ainda 742 (19,5%) obras em execução e 189 (4,95%) paralisadas. Além destas, 309 estão em
licitação.
Interiorização
No processo de interiorização
do Reuni, a implementação do programa teve mais problemas em novos campi,
sobretudo no interior do país. Em muitos deles eram necessárias a construção de
prédios e laboratórios, além da contratação de professores e de técnicos.
Alguns desses problemas foram
vistos pela reportagem do UOL. Em Santarém, mais de mil alunos da Ufopa
(Universidade Federal do Oeste do Pará), uma das universidades novas, têm aulas dentro de salas alugadas em um hotel. .
Em março, os estudantes da
UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) ocuparam a reitoria para
pedir providências. Com laboratórios alagados e sem material, cursos como o de
química estavam sendo ministrados sem aulas práticas.
As dificuldades não se limitam
a questões infraestruturais. Fora dos centros e sem estrutura pronta, as
universidades encontram mais dificuldade para atrair e reter professores.
"Boa parte das cidades tem
pouca infraestrutura para suprir necessidades dos professores e de suas
famílias, que quase sempre ficam nas capitais, exigindo do docente frequentes
deslocamentos da cidade onde está instalado. Algumas vezes esse professor
permanece no interior apenas até surgir uma possibilidade de remoção para a
capital ou ser aprovado em outro concurso", explica Denise.
Sem professores suficientes, a
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) chegou a fechar o ingresso para o curso de medicina em Macaé no primeiro semestre deste ano --reaberto agora para
o segundo semestre..
Na Unipampa (Universidade
Federal do Pampa), alunos do campus Uruguaiana tinham 36 disciplinas sem professores em fevereiro.
Carreira docente
Para o Andes-SN (Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), o Reuni aprofundou
um processo de precarização do trabalho do professor. "O professor passou
a ministrar mais tempo de aula e deixou de dar atenção à pesquisa e à extensão",
avalia Marinalva Silva Oliveira, presidente do Andes-SN.
Sua posição é corroborada pela
pesquisadora Kátia Lima. "Estamos com salas de aula cheias; sem
professores em número suficiente, sobrecarregados com atividades
administrativas, na graduação, na pesquisa e na pós-graduação, quando
conseguimos realizar pesquisa e nos credenciarmos em programas de
pós-graduação. Este é o quadro atual nas universidades federais, especialmente
nos pólos do interior", pontua a coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Educação Superior da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Segundo o secretário Paulo
Speller, as vagas já estão autorizadas para a contratação, que é feita por cada
instituição. "O problema que nós estamos identificando é que há uma certa
morosidade na realização dos concursos. As vagas já estão disponibilizadas
tanto para técnicos como para docentes. Temos hoje cerca de 10 mil vagas no
estoque", explica.
De acordo com ele, o processo
de contratação que é realizado pelas universidades deveria levar de quatro a
seis meses, mas a demora na instituição é maior do que o esperado.
Só em 2012, foram autorizadas a
contratação de 7.853 professores. Em 2013, mais 3.893 vagas foram publicadas
pelo MEC. No entanto, as instituições tiveram algumas dificuldades para abrir
novos concursos no período.
Após uma greve de quase quatro meses que parou a administração das instituições, o MEC mudou em dezembro as
regras para a carreira docente, o que exigia uma readequação dos editais. A
lei, no entanto, tinha um erro que permitia a contratação de professores apenas com graduação o que atravancou, mais uma vez, os editais. O problema só foi consertado por medida provisória em maio de 2013.
O secretário, no entanto,
considera os problemas como eventos únicos e não um problema do programa.
"Os recursos existem e, bem geridos os recursos, a estrutura tanto de
pessoal como física responde com qualidade ao número de estudantes que as
universidades estão recebendo."
Para atender às instituições
com deficiência, o secretário afirma que o MEC está acompanhando e "busca
responder com todo apoio necessário quando há
problemas eventuais".
Fonte: Uol
Educação
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