Marcelo Torreão Sá*
Tânia Regina Braga Torreão Sá**
Quando me diziam que essa greve das UEBA´s é “patronal”, querendo insinuar que o Estado Totalitário Mercantil governado, paradoxalmente, por um membro do Partido dos Trabalhadores a planejou e a quis, eu duvidava. E agia assim não porque desacreditava que esse seria capaz de provocá-la, visando seqüestrar os nossos salários para reinvesti-los e pagar as contas do “caixa dois” da campanha para a eleição do Governador Jacques Wagner. Achava a tese por demais conspiratória, e admito mesmo, “pelega”, porque expunha o tom desagradável e niilista que atinge não somente a esse movimento paredista, mas a boa parte de outros movimentos sociais, sob esse olhar provocativo e revelador, corroído por dentro pelo conchavo, pela trama que se organiza nos sótãos do poder.
Decorridos, no entanto, mais que 60 dias de greve docente e estudantil, ouvindo as narrativas indignadas dos meus colegas membros do Comando, que expuseram a postura indiferente e estratégias de postergação às quais o Governo da Bahia tem se valido PARA NÃO SOLUCIONAR o impasse criado pelo famigerado Decreto, não duvidamos tanto assim da possibilidade de que essa greve realmente esteja sendo usada também em benefício dos interesses expúrios do Governo do Estado.
Essa é em nossa opinião, a análise da crise que não se deseja ver exposta, porque ela escancara não somente a dificuldade que todos temos em ressituarmo-nos dentro de um projeto político realmente comprometido com o que é importante para os destinos da educação, mas porque esse juízo das ocorrências que envolvem a greve das UEBA´s, a greve da saúde do Estado da Bahia, a greve dos professores do município de Vitória da Conquista, a greve dos bombeiros do Rio de Janeiro, forçam o sentimento de reflexão, e quiçá de mudança de postura, de nossas lideranças que se vêem pelo sentimento de orfandade – a quem o projeto irrealizado de uma esquerda democrática os relegou – obrigadas a repensar na tessitura de alianças e de apoios pactuados, tendo em vista que AS SUAS BASES NÃO ACREDITAM MAIS NA INDIFERENCIAÇÃO ENTRE A “DIREITA CONSERVADORA” E A “ESQUERDA DEMOCRÁTICA”. A constatação dura a ser feita, destarte é que estamos à deriva. Ainda em busca de algum projeto, certamente novo, com que possamos nos identificar, por que o que está aí DEIXOU A MUITO TEMPO DE NOS SERVIR.
Sobre a greve nas UEBA´s e as negociações feitas com o Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores, chegamos a um ponto em que ele, pouco habituado a derrotas, apenas encena a sua força, pois viu-se obrigado, por determinação judicial, a pagar os nossos salários “seqüestrados”. Francamente, não creio que esse mesmo Estado, que desrespeita a própria Constituição cumpra amanhã, dia 13/06, a determinação do Supremo Tribunal Federal, mas, ainda assim, o reconhecimento da justeza de nossa causa, sem sombra de dúvidas, pode ser considerado como a nossa maior vitória até o momento. Sobre tal decisão, alias, enxergo-a com reservas porque, não sejamos ingênuos, Juízos e Ministros, ainda que orientados pela lei, não deixam de insistir em seus julgamentos, impressões políticas de todas as naturezas.
E ainda que esteja cética com respeito à disposição do Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores em cumprir o que determina a lei, NÃO CREIO QUE ESSA GREVE DURE MUITO MAIS TEMPO, visto que a simples equação feita por esse Estado já aponta os prejuízos econômicos provocados pela retenção ilegal dos salários docentes, pela greve das UEBA´s como um todo.
Em Jequié, por exemplo, os comerciantes filiados ao CDL já se mostram dispostos a prestar solidariedade ao movimento paredista, tendo em vista os prejuízos causados pelo desaparecimento da clientela de classe média, representada pelos docentes e estudantes que, a essa altura e com remunerações em dias, já deveriam estar lotando os estabelecimentos comerciais da cidade à procura dos produtos do São João.
Nas proximidades do próprio campus da UESB/Jequié também os abalos a economia são visíveis no pequeno comércio de bares, restaurantes, fotocopiadoras, mercadinhos, armarinhos, etc. A greve obrigou os pequenos comerciantes de tal modo a fazer concessões ao capital que os que não fecharam as portas – devido à incapacidade de remunerar aos funcionários – simplesmente foram obrigados a recorrer a estratégias, tais como, cerrá-las em horários em que antes permaneciam abertas (almoço, principalmente) ou reabrir a velha caderneta do fiado. Até quando, não de sabe. E assim acontece em Jequié como acontece em todo município baiano aonde esteja instalada uma unidade das universidades estaduais, que dão uma contribuição superlativa para a dinamização dessas áreas.
Para nós, portanto, não se trata de medir a capacidade negocial dos representantes legitimados por nós, bases do movimento paredista, mas acima de tudo, trata-se de perceber o quanto essas lideranças estariam dispostas a redefinirem as suas possibilidades de pensar outra opção política, senão, aquela que nos enganou por tanto tempo. Achamos, inclusive, que insinuações feitas em postagem de alguns blogs e sites de Associações Docentes já evidenciam que triste opção será feita, pois, precipitando-se ao desfecho final dos eventos dessa greve, já anunciaram o possível fim do movimento paredista, pela simples sinalização de as negociações com o Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores estarem abertas. E após uma enxurrada de protestos vindos de todos os lados, a emenda parece pior que o soneto. Alegaram ser essa postagem sido compilada de uma mídia externa ao movimento, como se ela se publicasse sozinha.
E a persistência nessa visão, que é de afronta a todos nós, permanece, vez que, numa outra postagem, dessa vez falando sobre a possibilidade de cobrança de mensalidades em Universidades públicas, louvam-se as iniciativas tomadas por deputados federais do mesmo Partido dos Trabalhadores, do Governador Jacques Wagner, que nem sequer reconhece a existência de nossa luta, fazendo-se representar na mesa de negociação, por asseclas totalmente desprovidos do poderes decisórios.
Fato é que o fim da greve, pactuada na mesa de negociação se aproxima, e AINDA QUE ISSO ACONTEÇA DAQUI A 1 SEMANA, 2 DIAS, 15 DIAS, O FINAL DA GREVE NÃO DEVE SER TOMADO COMO O FIM DA LUTA. Para nós ela apenas recomeça, só que em outro campo de batalha: nossas salas de aulas. Por isso mesmo devem servir como palco privilegiado dessa tentativa de desconstruir a ideia que, na política, existem os bons e os maus.
*Docente do Departamento de Geografia da UESB/VC e do Departamento de Educação da UNEB/Campus XI.
** Docente do Departamento de Ciências Humanas e Letras da UESB/Jequié.
Sempre tem uns que não conseguem enxergar que já acabou essa greve e quer continuar com ela!Se vocês querem modificar esse estado totalitário é melhor esclarecer a cabeça das pessoas,da maioria que é pobre e desinformada,pois se não vocês iam ter que mudar as coisas sozinhos.Entendam que essa greve não foi para fazer revolução...aquilo com que todos que estudam qualquer curso de humanas sonham.....essa greve foi para fazer o estado se ver humilhado e obrigado a melhorar as condições da universidade pública,isso não significa fazer dela um exemplo no brasil!Ainda falta muito para a revolução que vocês tanto sonham.....ou vocês vão continuar insistindo em ficar de greve para sempre até entrarem no guiness book como a maior greve que tinha ganho importantes batalhas da pauta reivindicada,mas que preferiram ficar em greve para sempre para servir de exemplo de resistencia ao estado totalitário?Nem Jesus fez o que fez para servir de exemplo!E não,eu não sou cristão.....
ResponderExcluirCaro(a), acho que você confunde a greve com estado de mobilização. A greve, que você quer ver terminada, nós também queremos. A mobilização e o alerta jamais. Assim, quando ela A GREVE terminar, o projeto o futuro possível é tirar dela um exemplo para que não sejamos enrolados novamente.
ResponderExcluirA suspensão da greve foi deliberada pela categoria, porque se esgotou as finalidades que determinaram a sua deflagração, com a celebração dos Termos de Acordo e de Compromisso, devidamente avalizadas pelas Assembléias da categoria realizadas em Jequié e Itapetinga nos dias 07 e 14/06/2011, sem que houvesse recurso de reapreciação da decisão por quem quer que seja. Vencida a matéria principal,nem a pauta interna, nem o descumprimento das decisões judiciais pelo Governo Jaques Wagner, em relação ao pagamento do salário de maio de 2011, conseguiram convencer a categoria a manter a greve por tempo indeterminado, apenas na UESB, considerando a necessidade de se manter a unidade do Movimento Docente, conquistado no Fórum das Associações Docentes, para os próximos embates que virão.
ResponderExcluirPor outro lado, a tese pela celebração dos acordos venceu por um placar de 36 a 31 votos, se registrando a ausência e retorno antecipado de muitos defensores da tese de rejeição. Compreendendo as especificidades das rotinas cotidianas dos professores militantes, mas não posso admitir que elas determinem a condução do Movimento Docente, pois ele é dinâmico e naõ pode parar para esperar os ajustes nas agenda de alguns professores que perderam o foco e o momento de travar o bom combate.
Por último, mesmo não superando a dicotomia que perpassa o movimento docente na UESB, avalio que os resultados obtidos foram resultantes da efetiva correlação de forças que se estabeleceu no plano interno, entre tendências que se aglutinam no Movimento Docente da UESB, e no plano externo, entre a categoria e o Governo Jaques Wagner, portanto, mesmo não tendo sido contempladas as perspectivas e expectativas originárias de incorporação da totalidade da CET sem clausula de mordaça e a revogação total ou derrogação parcial do Decreto 12583/2011, combinadas com o atendimento imediato da pauta interna, avançamos para acumular forças para os próximos embates que virão, não só em 2013, mas no próximo ano, quando haveremos de reivindicar o percentual de reposição salarial que recomponha as efetivas perdas inflacionárias, juntamente com as categorias vinculadas às áreas de saúde e segurança pública.
Destaco ainda que conseguimos arrancar nessa oportunidade a implementação imediata dos processos de progressão, promoção e mudança de regime de trabalho de 385 professores da UESB, que se encontravam represados há mais de uma ano, alguns com mais de 2 anos, sem previsão para a sua implantação em folha. Por outro lado, se as decisões judiciais favoráveis tivessemn sido implementadas antes da deliberação das Assembléias das 4 Associações Docentes, havidas na primeira semana de junho de 2011, talvez ainda estivéssemos em greve até alcançarmos a vitória pretendida, mas com a categoria vulnerável e esgotada, não conseguimos convencer a maioria presente nas Assembléias dos dias 07 e 14/06/2011 a continuar na greve e não celebrar os acordos....são os aprendizados de uma das maiores greves do Movimento Docente nos últimos 10 anos, apesar dos pesares!