Padrões de avaliação de “produtividade” da CAPES vem causando sérios estragos à saúde (física e mental) dos professores, além de promover cenas de desrespeito ao trabalho de pessoas que, durante boa parte de suas vidas contribuíram para o bom desempenho da educação.
Acuados
pelos critérios puramente quantitativista fundados no espírito neoliberal, os
Programas de pós-graduação tornam-se reféns da pernóstica política e acabam por
reproduzir práticas nocivas ao fazer acadêmico e resultados desastrosos. Este foi
o caso dos programas de pós-graduação stricto senso da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUCSP), instituição confessional e que tem história no Brasil não
só no campo da pós que anteciparam o próximo processo
de avaliação da CAPES. O caso específico se refere PEPGCS (Programa de Pós-graduação
em Ciências Sociais da PUCSP). O Manifesto a seguir explica o mais novo episódio. A carta da vítima de que se trata este episódio completa as informações e mostra uma indignação que não é só dela, mas de todos os professores do país.
Segundo
professor da PUCSP, que não temos autorização para identificar, “Se alguém escreve mais um
livro de O Capital ou A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, isto pouco ou nada vale. Se escreve três artigos por ano
e publica em revistas Qualis A, com várias das quais tem relações não
exatamente científica, fica numa boa e ajuda o Programa de que
participa a ficar bem classificado. A competição é feroz dentro dos programas e
entre eles, pois implica verbas, bolsas, direito de ter ou não ter
doutorado etc.”.
Mais informações, clique Jornal Semanal da APROPUC e AFAPUC
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MANIFESTO Á COORDENAÇÃO DO PEPG EM CIÊNCIAS
SOCIAIS
Nós, ex-alunos do PEPG em Ciências Sociais da
PUC-SP e da Graduação do Curso de Ciências Sociais, VIMOS EXPRESSAR NOSSO REPÚDIO E INDIGNAÇÃO ao descredenciamento do MESTRE
E Professor Doutor Miguel Wady Chaia, Do corpo docente deste programa.
CONCLAMAMOS A
TODOS DA COMUNIDADE PUQUIANA E ACADÊMICA para que assinem este MANIFESTO,
exigindo a ratificação de critérios injustos e arbitrários que menosprezam o
patrimônio de valoroso capital humano representado pelo Professor Dr. Miguel
Chaia.
Não aceitamos e protestamos pela revogação da ação
arbitrária do Comitê, que descredenciou e julgou o Prof. Dr. Miguel Wady Chaia
como “pouco produtivo”.
A Universidade que conhecemos e estudamos se
distinguia das demais pela presença de professores ativos e produtivos, que
dedicaram suas trajetórias à construção do corpo e da alma da PUC-SP.
Graças aos esforços pessoais desses professores, o
PEPG em Ciências Sociais se destaca na construção de um projeto democrático de
ensino, por uma universidade plural, aberta e dedicada à construção de saberes
multidisciplinares, acolhedora de variadas matizes e ideologias. Este ideal torna
a PUC/SP bastião de resistência ao pensamento único de dissensos destruidores
da diversidade científica e que esvaziam o campo das ideias da vasta área
denominada humanidades.
A permanência do Professor Dr. Miguel Chaia no
Programa é fundamental para a continuidade da formação generacional de
estudantes capacitados com saberes científicos, críticos e engajados, por sua relevante
importância na atuação das áreas das ciências política, da cultura, da sociologia
e Ciências Sociais como um todo.
A rica e dedicada experiência acadêmica do
Professor Miguel Chaia é respeitada e reconhecida incontestavelmente nos meios
científicos e acadêmicos das universidades do Brasil e exterior. Não somente
como professor e formador de alunos, como por seus livros e relevantes artigos,
nas atividades do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da
PUC/SP), no desempenho criterioso de encargos burocráticos, destacando-se
recentemente na direção e administração da EDUC, elevando o prestígio desta instituição
com a publicação de livros e coletâneas de inegável qualidade acadêmica, muitos
dos quais premiados em todo o país.
Excelência não ocorre sem dedicação. A qualidade
das aulas ministradas pelo referido mestre, as pesquisas por ele produzidas, suas
orientações (mestrado, doutorado e pós-doutorado), os inúmeros artigos e livros
constante de seu lattes, as participações em Bienais e Congressos, são atividades
que garantiram a consagração e o prestígio do Programa de Estudos Pós-Graduados
em Ciências Sociais por todo o país, atraindo alunos e ajudando a pontuar e bem
avaliar o Programa na CAPES.
Estes critérios deveriam ser justificativas válidas
para os digníssimos membros da 'Comissão de Avaliação de Produtividade' manterem
o credenciamento do Professor Miguel Chaia no PEPGCS. Não aceitamos este
bizarro mercantilismo avaliativo, que nivela por baixo o que há de melhor na
PUC-SP, esquecendo-se da lição de que só pode haver think tankers com investimento no capital humano das instituições.
Como diria Luther King: "O
que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos,
dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos
bons". Nossa revolta nos impede de nos
juntarmos ao “silêncio conivente dos bons”, de sentença injusta porque instrumentalizada
por uma genealogia do Terror, em que se bifurca a própria destruição da PUC/SP
que conhecemos e corrompe o caráter do que foi o PEPG em Ciências Sociais. E,
no limite, destrói a excelência e renome de professores que a consagrou.
Em nome dos ex-alunos desta instituição, que
tiveram o privilégio de conhecer ou ter tido como Mestre o Professor Miguel
Chaia, manifestamos nossa solidariedade, exigindo uma retratação.
Quando desta postagem, o Manifesto contava mais de uma centena de assinantes solidários com o professor Muguel Chaia.
Quando desta postagem, o Manifesto contava mais de uma centena de assinantes solidários com o professor Muguel Chaia.
Carta do professor Miguel Chaia, vítima
nesse processo
São Paulo, 27 de outubro de
2014.
À Coordenação do PEPG em Ciências Sociais (PUCSP)
O soco acadêmico me pegou de jeito, bem no fígado: rebaixamento a
professor colaborador, eufemismo para descredenciamento. Experimentei o
constrangimento de perder as credenciais num bom momento da carreira, sentir-se
um convidado em sua própria casa.
Considero injusta a sentença lançada sobre as minhas atividades
acadêmicas, emitida pela comissão de avaliação e pela coordenação do programa.
Discordo do resultado e do processo que levou a esta sentença, mesmo que ele
tenha se dado no interior de uma tendência atual nas universidades.
Além do mais acho omissa, burocrática e insensível a coordenação do
programa, tão apegada ao exercício do pequeno poder que nem suspeita que dois
mais dois são cinco. É preciso ter sabedoria e boa vontade para defender sim,
simultaneamente, os interesses da instituição e de seus pares.
Acho injusta a sentença, pois no período da avaliação, produzi um dos
melhores textos da minha trajetória – longo, denso e criativo – fruto de mais
um ano de pesquisa meticulosa sobre arte e micropolítica. Ele foi publicado
pela Editora Cosac Naify, que tem Prêmio Nobel em seu catálogo.
Acho injusta a condenação, porque no período em questão organizei um
substancioso livro sobre cinema e política, do qual produzi um capítulo.
Selecionei os textos, li, reli, tive dúvidas e após um bom tempo já está no
prelo pela Editorial Azougue (RJ).
Acho injusta a sentença, pois nesta época toda, fui diretor da EDUC,
fantástica editora universitária da PUC-SP. Nesta fábrica magnífica de
pontuações para a CAPES, incentivei a publicação de dezenas de livros e
revistas. Professores da casa e de outras universidades receberam, pela EDUC,
inúmeras pontuações.
Acho injusta a condenação, pois no período em questão participei da
diretoria da Bienal Internacional de São Paulo e de seu comitê curatorial que
elegeu em suas edições o tema “Arte e Política”, sem remuneração, levando o
nome da PUC-SP e do NEAMP para além dos muros da universidade.
Acho injusta a sentença porque participo como um dos pesquisadores
principais do Projeto Temático/FAPESP “Lideranças Políticas no Brasil:
características e questão institucional”.
Acho injusta a condenação, pois há três anos estou aperfeiçoando um
longuíssimo texto sobre o Poder Político em William Shakespeare, a partir do
seu aprendizado com Maquiavel. Só agora é que ele está quase pronto para ser
encaminhado para eventual publicação. Para mim o processo intelectual é lento,
gostosamente penoso, que exige reflexão demorada e uma íntima contemplação.
Critico a coordenação por não defender seus pares, por não dificultar
a aplicação da pena, por deixar que professores sérios e históricos recebessem
penas imerecidas.
A coordenação foi ineficiente ao aplicar a penalidade quando já
estavam planejadas as atividades acadêmicas para o primeiro semestre de 2015.
A coordenação foi deselegante na forma como conduziu a comunicação da
sentença aos professores.
Conclusão: por isso tudo inicio um processo para me desligar do PEPG
em Ciências Sociais. Não tenho mais a mínima vontade de atuar junto ao programa.
Ficarei apenas o tempo necessário para orientar os excelentes mestrandos,
doutorandos e um pós-doutorando sob a minha responsabilidade.
Sou produtivo e escrevo muito, para o meu aprendizado e formação
intelectual, para os meus interlocutores e, principalmente, para o meu prazer.
Não gosto de ser medido por números rasos. Mesmo que eu já tenha construído um
significativo espaço para contribuir com o desenvolvimento do programa, desde o
início dos anos 90, agora não quero mais trabalhar nele. Simples assim, com
certa leveza: bye, bye pós-graduação.
Miguel Chaia
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