Reginaldo de Souza Silva*
No domingo passado acompanhei de perto a dor enorme de dois grandes amigos se despedindo pela última vez de seu filho de apenas 19 anos. Não creio, do muito sofrimento que vi na minha vida, já ter presenciado fato mais triste do que o de um pai e uma mãe sepultar seu jovem e saudável filho.
Junto à tristeza, a raiva e o desespero de não conseguir acreditar que seja natural gerações mais velhas enterrarem as gerações mais novas. Isso não faz parte do ciclo da vida e, portanto, a morte precoce é ameaçadora à própria manutenção da perpetuação da vida de qualquer espécie.
E que dizer, então da espécie humana na qual as gerações mais novas são as responsáveis não só pela reprodução e pela força de trabalho, mas também, por sua ousadia e criatividade, por serem destemidas, são as maiores responsáveis pelas possibilidades de mudanças na sociedade. Ao morrer, assim, tão precocemente, não é apenas uma vida que se vai, mas trata-se de uma geração inteira que perde a possibilidade de influenciar a humanidade. O que dizer, então, quando falamos de milhares de vidas de uma geração sendo ceifadas abruptamente?
Segundo Waiselfisz, “[...] anualmente, morrem quase 400.000 jovens de menos de 25 anos de idade vítimas de acidentes de trânsito, e vários milhões sofrem ferimentos graves ou tornam-se incapacitados” em todo mundo. A intensidade do problema, portanto, tornou-se grave e preocupante.
O Brasil é o quinto país com mais vítimas no trânsito, atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia. Os números revelam que o país vive uma verdadeira “guerra” com lesões e mortes no trânsito de nossas ruas e rodovias. Em nosso País, o trânsito mata, por ano, cerca de 37 mil pessoas e provoca a internação de outras 180 mil, com um impacto de cerca de 34 bilhões de reais. Pesquisadores do Ipea, indicam que cerca de 60% do prejuízo econômico decorrente de um acidente viário vêm de perda de produção: a pessoa que morre ou fica incapacitada e deixa de produzir. Os outros custos dos acidentes vêm de atendimento hospitalar, danos ao veículo, entre outros.
Como tratar o assunto com atenção e recursos necessários uma vez que nesta guerra só há perdedores?
O país é signatário da resolução da ONU – Pacto pela Redução, que estabelece entre 2011 e 2020 a "Década de Ação para Segurança Viária no mundo", comprometendo-se a planejar suas ações e as executar de forma coordenada estabelecendo metas de redução em 50% das mortes em acidentes em dez anos. Para tanto, o CESVI BRASIL, a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), a AND (Associação Nacional dos Detrans) e a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) estão contribuindo através do movimento “Chega de Acidentes!”. Mas ainda é preciso que sejamos mais ousados e que adotemos um plano nacional unificado de segurança viária, com metas sérias para redução de acidentes.
“Chega de acidentes!”, quero alertar a todos agora que iniciamos mais um período de carnaval. Essa é uma época complicada na qual encontraremos pessoas alcoolizadas, cansadas, drogadas etc.. Nunca, portanto, é demais dirigir com atenção.
E a você, jovem que, por sua ousadia, ainda pensa que é imortal, nada de consumir álcool ou drogas se for dirigir. Não deixe de usar o cinto de segurança e evite conduzir cansado. Respeite a sinalização de trânsito e aproveite a festa com a garantia de que essa não será a sua última, de que seus país não viverão a dor insuportável de enterrar você e de que, principalmente, será capaz de manter-se vivo para ter a oportunidade de marcar e contribuir com a sua geração.
Aos queridos irmãos e amigos Jackson e Jorgeane, do interior de nossa querida Bahia, que o Senhor nosso Deus os conforte e lhes dê a força necessária para superar este momento de dor pela perda de “Pêu”. Ele viverá para sempre em nossos corações. Adeus, filho! Você perde um filho e o Brasil um futuro profissional da física.
* *Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenador do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente – NECA/UESB.
E-mail: necauesb@yahoo.com.br
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