Reginaldo de Souza Silva*
Viajar pelo Brasil não tem sido coisa fácil, o turista brasileiro antes da viagem precisa fazer uma pesquisa para saber se há vagas com qualidade e tarifas não exorbitantes, confiabilidade e segurança. Classificada como a décima cidade mais cara para se hospedar no mundo, o Rio de Janeiro, assim como, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, vivem um ‘apagão de hotéis’, agravado quando recebem grandes eventos corporativos, culturais ou esportivos.
A realidade brasileira dos hotéis é catastrófica, receber a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, Rio+20 etc., o quadro tende a piorar, já que a demanda cresce em ritmo mais acentuado que a capacidade da rede hoteleira de ofertar novos quartos. As vagas se esgotam, a qualidade, o preço justo e os serviços estão todos comprometidos.
O descompasso entre oferta insuficiente e demanda explosiva, há décadas anunciado, reforçado pelos efeitos da estabilização, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 64%, os negócios se multiplicaram e as viagens a trabalho e lazer também. A expansão da economia aponta uma sensível melhoria na distribuição de renda – aproximadamente 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza e ascenderam à classe média entre 2003 e 2009, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), ou seja, quase 100 milhões de pessoas. As estimativas levam a crer que mais 50 milhões de pessoas poderão ascender à classe C nos próximos dez anos.
O setor hoteleiro não consegue acompanhar a rapidez do aumento do número de turistas e executivos em busca de hospedagem. Conforme estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) a taxa de ocupação média em São Paulo está em 70% e no Rio de Janeiro beira os 85%, quando a recomendação é que o setor opere com média de até 80%, para evitar saturamento do serviço com 100% de capacidade nas ocasiões em que abriga grandes eventos.
Os esforços para expansão e qualificação esbarram em dificuldades como: escassez de terrenos em bairros com infraestrutura mínima adequada; preços exorbitantes no setor imobiliário; a burocracia para obter dezenas de autorizações, licenças ambientais e alvarás de funcionamento; mão de obra qualificada e dificuldade para atrair investidores. Estudo da A Ernst & Young Terço, “A World of Possibilities: Brazil Hotel Investment Opportunities”, apontam que na Copa do Mundo, faltarão cerca de 62 400 quartos de hotel no Brasil.
O crescimento da economia brasileira e a mobilidade econômica de parte de sua população, permitem revelar o desastre da qualidade dos hotéis no Brasil, que outrora juntamente com as pousadas eram classificados por estrelas, de acordo com o nível de conforto e a qualidade dos serviços e outros benefícios oferecidos aos hóspedes.
Existe a possibilidade de instituição do Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClas), a partir do padrão mundial de referência para serviços turísticos, (uma escala de uma a cinco estrelas) será usada para indicar a qualidade dos diversos tipos de empreendimentos hoteleiros. Os critérios de avaliação serão aplicados em sete tipos diferentes de hospedagem: hotel, resort, hotel fazenda, cama e café (bed and breakfast), hotel histórico, pousada e flat/apart hotel.
Atualmente a maioria dos hospedes brasileiros está refém das publicidades e propagandas enganosas em sites oficiais de hotéis, resorts, grandes redes e também, veiculados por agencias de turismo com promoções espetaculares etc. As fotos nem sempre condizem com a qualidade divulgada.
Precisamos evitar as surpresas desagradáveis em hotéis com mais de “cinco” estrelas, aqueles que apresentam uma constelação de falta de qualidade, serviços, honestidade, preços etc. A cultura colonialista brasileira, subserviente ao capital e a estrangeiros deveria lutar inicialmente para beneficiar, em especial, os turistas brasileiros é claro, como conseqüência os estrangeiros, já acostumados com os critérios de classificação dos hotéis por estrelas.
A expectativa é que 600 mil estrangeiros visitem o Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, um total de 5,16 milhões foi registrado em todo o ano de 2010, que somados aos desembarques domésticos que em 2009 eram 56 milhões, devendo expandir, para 73 milhões no ano da Copa.
Precisamos reverter o desastre da falta de qualidade representado pelo descaso, no caso da Bahia, em hotéis localizados em Ilhéus, Salvador, Costa do Sauípe e outras cidades. Faltam profissionais qualificados, valorizados e em número suficientes, instalações adequadas, confortáveis novas e/ou reformadas; espaço e alimentação adequada e bem acondicionada, evitando a falta de alimentos, produtos vencidos, estragados, excesso de produtos cheios de óleo queimado em chapas e grelhas. O que deveria contar não é somente a quantidade, mas essencialmente a qualidade (em vários hotéis os espaços não comportam o número de hospedes para as refeições, faltam alimentos, pratos, limpeza etc.); piscinas e áreas de lazer limpas e, garantia de segurança e qualidade (há um aumento de furtos nos hotéis, quartos e dependências) e a culpa e o prejuízo na maioria das vezes recaem sobre o cliente.
Para além da propaganda oficial a “Bahia de todos os santos” não está preparada para receber com qualidade, eficiência e preços justos as pessoas em viagem de negócios nem tampouco os turistas, quem quiser conferir basta hospedar-se na grande maioria de seus estabelecimentos, salvas por honrosas exceções.
*Reginaldo de Souza Silva, Doutor em Educação Brasileira, professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Email: reginaldoprof@yahoo.com.br
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