Publicado em 14/07/2014
Eric John Ernest Hobsbawm foi
um historiador britânico nascido em um família judaica na cidade de Alexandria,
no Egito, em 1917. Cresceu na Áustria e na Alemanha. Quando Hitler se torna
chanceler da Alemanha, em 1933, Hobsbawm vai morar em Londes. Durante a guerra,
foi alocado em uma unidade de engenharia do Exército Britânico, cavando
trincheiras e construindo casamatas no litoral inglês.
Hobsbawm é considerado um dos
mais importantes e influentes historiadores contemporâneos, tendo escrito,
entre vários outros estudos, a trilogia de enorme importância para a
historiografia, que analisa desde a Revolução Francesa em 1789 até o início da
Primeira Guerra, em 1914: Era das Revoluções (1789-1848), A Era do Capital
(1848-1875) e A Era dos Impérios (1875-1914). Posteriormente complementou essa
obra em Era dos Extremos, que vai da Revolução Russa (1917) até o colapso da
União Soviética (1991).
No texto a seguir, Hobsbawm faz
uma breve análise das ações do Estado de Israel, especialmente da Operação
Chumbo Fundido em 2008, conhecida como Massacre de Gaza, quando o Exército de
Israel lançou a mais intensa operação militar contra um território palestino
desde a Guerra dos Seis Dias em 1967. É a visão de um judeu a respeito do
massacre terrorista perpetrado por um Estado ilegítimo em seu nome. Um
genocídio que retoma a ofensiva.
Resposta para a guerra em Gaza
Eric Hobsbawm
Já fazem três semanas que a
barbárie está exposta à opinião pública universal, que assistiu, julgou e, com
poucas exceções, rejeitou o uso do terror militar de Israel contra um milhão e
meio de habitantes cercados, desde 2006, na Faixa de Gaza. Nunca as
justificativas pela invasão foram mais patentemente refutadas pela combinação
de câmeras e números; ou a novilíngua dos “alvos militares” pelas imagens de
crianças cheias de sangue e escolas queimando. Treze mortos em um lado, 1.360
no outro: não é difícil calcular qual lado é a vítima. Não há muito mais a
dizer sobre a operação terrorista de Israel em Gaza
Exceto para aqueles de nós que
são judeus. Em uma longa e insegura história como um povo em diáspora, nossa
reação natural aos eventos públicos incluem inevitavelmente a pergunta: “isso é
bom ou ruim para os judeus?”. Neste caso, a resposta é inequivocamente: “Ruim
para os judeus”.
Isto é patentemente ruim para
os cinco milhões e meio de judeus que vivem em Israel e nos territórios
ocupados de 1967, cuja segurança é comprometida pelas ações militares que os
governantes israelenses tomam em Gaza e no Líbano; ações que demonstram sua
inabilidade em atingir seus objetivos declarados e que perpetuam e intensificam
o isolamento de Israel em um Oriente Médio hostil. Desde o genocídio ou a
expulsão em massa dos palestinos do que resta da sua terra nativa não há mais
nada da ordem do dia do que a destruição do Estado de Israel, apenas
coexistência negociada em termos igualitários entre os dois grupos pode prover
um futuro estável. Cada nova aventura militar, como as em Gaza e no Líbano, vai
tornar tal solução mais difícil e vai fortalecer a mão da direita de Israel e
dos colonos da Cisjordânia que nem querem isso, em primeiro lugar.
Como no Líbano em 2006, Gaza
escureceu as perspectivas para o futuro de Israel. Também escureceu as
perspectivas para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora. Sem rodeios:
criticar Israel não implica anti-semitismo, mas as ações do governo de Israel
trazem vergonha ao povo judeu e, mas do que qualquer outra coisa, originam o
anti-semitismo atual. Desde 1945 os judeus, dentro e fora de Israel, foram
enormemente beneficiados pela consciência pesada de um mundo ocidental que
recusou imigrantes judeus nos anos 1930 antes de, ou cometer genocídio ou não
se opor a ele. Quanto dessa consciência pesada, que virtualmente eliminou o
anti-semitismo do ocidente por sessenta anos e produziu uma era dourada para
essa diáspora, ainda resta hoje?
Israel em ação em Gaza não é o
povo que foi vítima da história, tampouco o “bravo pequeno Israel” da mitologia
de 1948-67, um Davi derrotando os vários Golias que o cercavam. Israel está perdendo a boa vontade tão
rapidamente quando os EUA sob o governo de George W. Bush e por razões
similares: a cegueira nacionalista e a megalomania do poder militar. O que é
bom para Israel e o que é bom para os judeus como um povo estão evidentemente
ligados, mas, até que haja uma resposta justa para a questão palestina, as duas
coisas não são e não podem ser idênticas. E é essencial para os judeus dizerem
isso com clareza.
Hobsbawm, Eric. Responses to the War in Gaza. London
Review of Books. Vol. 31 nº 2. 29 Jan 2009.
Tradução: Maurício Sauerbronn
de Moura
Fonte: Livre
Pensamento
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