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terça-feira, 29 de julho de 2014

A gratuidade das Universidades e a luta pela educação pública

Em nosso entender, o desafio presente não vem da imperiosidade de mercantilizar o ensino oficial e da prática de uma tortuosa justiça às avessas. Impõe-se atentar para os problemas da educação popular e abrir todas as escolas, inclusive as universidades, ao povo. Antes que isso possa acontecer, porém, é preciso que esse mesmo povo adquira condição humana, inerente à civilização moderna. Não é abolindo, solapando e arrasando os serviços públicos nacionalizados que se poderá iniciar esse processo. (Florestan Fernandes, 1975)

 

Fabiana de Cássia Rodrigues

Cássio Garcia Ribeiro

Henrique T. Novaes

28/07/2014

Esta epígrafe foi extraída do livro de Florestan Fernandes “Universidade Pública: Reforma ou Revolução?”. Neste texto, as atenções de Florestan voltam-se ao âmago da questão: sem profundas mudanças na distribuição da renda e do poder, torna-se impossível discutir a democratização da educação e acelerar o desenvolvimento da pesquisa científica na universidade. Trata-se de um texto muito atual, pois em diversas manifestações na mídia novamente tem se aventado o pagamento de mensalidades nas Universidades como solução para seus problemas financeiros. Tal proposta se apoia no argumento de que ela traria justiça social, uma vez que as Universidades Públicas atenderiam majoritariamente as classes mais privilegiadas da sociedade, logo, seria correto  fazer com que estes estudantes suportassem os custos de sua formação.

O modelo universitário estadunidense, no qual até mesmo as universidades do Estado cobram mensalidades, é utilizado pelos defensores da cobrança de mensalidade para respaldar seu argumento em favor desse modelo aqui no Brasil. Todavia, acreditamos que seja inadequada a transposição desse modelo, haja vista as diferentes particularidades históricas. Assim, é preciso que se considere a realidade brasileira marcada pelo capitalismo dependente e subdesenvolvido, em que o Estado teria papel fundamental para incentivar a produção científica e o ensino, de forma a atender as reais necessidades da população brasileira em seu conjunto. Ademais, não é correto afirmar que o “modelo americano” esteja isento de graves problemas. As universidades estadunidenses estão entre as mais caras do mundo, Harvard custa em média US$ 36 mil ao ano, o que a torna acessível apenas para os mais ricos. O setor universitário americano repousa na obrigação do endividamento, já que o setor financeiro é que concede as linhas de financiamento para os estudantes. Diante da crise econômica atual, há inadimplência em pelo menos metade dos casos, especialmente entre os de menor renda, que em número significativo não conseguem concluir seus cursos. Ainda há grande dificuldade de alterar este sistema, pois, se colocam como obstáculo os interesses do setor bancário, principal beneficiário do crescimento exponencial dos empréstimos para os estudantes.

Diante disso, acreditamos que a cobrança de mensalidade representa uma medida inócua do ponto de vista da correção das desigualdades sociais existentes na sociedade brasileira. Algo efetivo neste sentido seria, por exemplo, tributar pesadamente as grandes fortunas, o consumo suntuário, estas, sim, medidas que promoveriam real retirada de privilégios em nossa sociedade. Por que não elevar a tributação dos mais ricos e transferi-la para a educação, em todos os seus níveis, desde a educação infantil até a Universidade?

Para que haja igualdade de oportunidades educacionais o foco da luta deve ser a ampla democratização do acesso à educação pública de qualidade. Por isso trata-se de repensar a política educacional de modo a conceber uma escola pública que forme estudantes capazes de estarem nas universidades públicas, em paralelo com uma intensa ampliação das Universidades Públicas, com maior infraestrutura, contratação de professores e funcionários, além de investimento em pesquisa para a resolução dos grandes problemas nacionais.

A cobrança de mensalidade não é a solução para corrigir as desigualdades educacionais no país, pelo contrário, ela poderia mesmo acirrá-las. São necessários mais recursos para a educação como um todo. No caso das Universidades Públicas paulistas é preciso uma criteriosa revisão na quota-parte do ICMS destinado a elas, buscando evidenciar as distorções que vem sendo denunciadas pelos sindicatos dos professores destas Universidades. Que prossiga o debate.

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