Por outro lado, esta Copa será
também a mais cara: o último balanço oficial do Governo Federal é de que foram
gastos R$ 25,8 bilhões para realizar o torneio. Porém, ao contrário do que
havia sido assegurado ao povo brasileiro quando o país foi escolhido para ser a
sede do mundial, em 2007, 83,6% do total dinheiro saiu dos cofres públicos
(União, estados e municípios). Se essa quantia fosse investida em moradias, por
exemplo, seria possível construir mais de 500 mil casas ou apartamentos pelo
programa Minha Casa, Minha Vida, ou ainda 430 hospitais de última geração.
Corrupção
“padrão Fifa”
Fundada em 1904, em Paris,
pelas associações de futebol da França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Espanha,
Suécia e Suíça, a Fifa tinha como objetivo original desenvolver o futebol,
organizar competições internacionais e estabelecer as regras para a prática do
esporte mais popular do mundo.
Passados 110 anos, a Federação
Internacional de Futebol Associado é hoje conhecida por ser uma das entidades
mais corruptas do mundo e por ter transformado o futebol num grande negócio,
que movimenta bilhões de dólares anualmente de maneira, no mínimo, suspeita.
De fato, no ano passado, a Fifa
obteve o maior faturamento de sua história, arrecadando US$ 1,386 bilhão (R$
3,2 bilhões) e lucrando US$ 720 milhões (R$ 1,63 bilhão), 20% a mais que em
2012.
Nessa conta, evidentemente, não
estão inclusos os ganhos advindos das negociatas envolvendo a entidade e seus
cartolas. E não são poucas.
Recentemente, o presidente da
Confederação Centro e Norte-Americana de Futebol (Concacaf), Jack Warner,
acusou dois membros do Comitê Executivo da Fifa de terem recebido US$ 20
milhões para votar no Catar como sede da Copa 2022. O próprio Warner recebeu
US$ 1,2 milhão de uma empresa de Mohamed Bin Hammam, coordenador da campanha do
Catar para sediar o mundial, pouco depois de o país ter sido escolhido.
Denúncia semelhante foi feita
pelo jornalista escocês Andrew Jennings, em seu livro Jogo Sujo, o Mundo
Secreto da Fifa (2006). Segundo ele, durante o processo de escolha do país que
sediaria a Copa de 2006, “a candidata Alemanha tinha tradição no futebol, mas não
contava com votos importantes de países da África. Até que um magnata da TV
alemã, Leo Kirch, entrou no jogo. Ele tem várias estações de TV esportiva e
ganharia uma fortuna com contratos de direito de transmissão da Copa em seu
país. Ele então vendeu contratos com Tailândia, Trindad e Tobago e alguns
países africanos para transmissão de jogos do Bayern de Munique contra a
seleção de Malta. O dinheiro foi para as federações que, assim, votaram na
Alemanha”.
Sobre a escolha do Brasil como
sede da Copa 2014, o jornalista afirma que uma empresa de Ricardo Teixeira
(ex-presidente da CBF) vai ter participação no lucro obtido pela Copa.
Teixeira, aliás, é figurinha carimbada em casos de corrupção envolvendo o
futebol. Em 2011, David Triesman, ex-presidente da Associação de Futebol da
Inglaterra, acusou quatro membros do Comitê Executivo da Fifa, incluindo o
então presidente da CBF, de ter conduta imprópria durante a campanha dos países
para sediar a Copa de 2018, vencida pela Rússia.
Em abril do ano passado, o Ministério
Público da Suíça divulgou um relatório no qual João Havelange, presidente da
Fifa de 1974 a 1998, e Ricardo Teixeira são acusados de receber propina da
agência de marketing esportivo ISL, contratada pela Fifa para vender os
direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006.
Segundo o documento, Teixeira
recebeu da ISL 12,7 milhões de francos suíços entre 1992 e 1997, e Havelange
1,5 milhão, em 1997. Os promotores afirmam que a Fifa sabia do esquema: “A
conclusão de que a Fifa tinha conhecimento dos pagamentos de subornos a pessoas
dentro dos seus órgãos não é questionada”, disse o relatório. “Com a constante
alimentação financeira que ocorreu ao longo de vários anos, os serviços não só
de João Havelange, mas também de Ricardo Teixeira, foram comprados”, concluíram
os promotores.
Havelange renunciou ao cargo de
presidente de honra da Fifa em abril do ano passado, após as denúncias, e
Ricardo Teixeira deixou o comando da CBF em 2012, sendo substituído por outro
ladrão, José Maria Marin. O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol
ainda responde processo por ter participado de 27 negociatas envolvendo lavagem
de dinheiro, tráfico de divisas e fraude fiscal, além de ter usado recursos da
CBF para financiar campanhas eleitorais de políticos aliados.
A corrupção no futebol é algo
tão generalizado que os próprios cartolas já não se constrangem em admitir sua
existência, como prova a declaração de Joana Havelange, filha de Teixeira e
neta de João Havelange, que afirmou numa rede social: “Não vou torcer contra,
até porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi. Se fosse para protestar,
que tivesse sido feito antes”. Joana é diretora do Comitê Organizador Local da
Copa 2014 e responsável pelas áreas de marketing, eventos, compras, recursos
humanos, responsabilidade social, protocolo e planejamento do mundial.
“A
máfia é amadora comparada à Fifa”
Em seu livro, Andrew
Jennings relata outros casos de eleições compradas, manipulação de resultados
de jogos e negociatas para a escolha de países-sede da Copa do Mundo: “São
negócios que fariam corar a máfia italiana”.
“A Fifa está roubando a paixão
das pessoas. O futebol é uma paixão, e a paixão cega. Esses crápulas que
dirigem a Fifa enriquecem às custas do dinheiro da paixão. Todo o sistema das
grandes confederações do esporte está contaminado. A corrupção está lá”,
denuncia Jennings. E continua: “Blatter (presidente da Fifa) vende a imagem de
ser um amante do futebol, um homem que dorme e acorda pensando em como melhorar
e desenvolver o esporte. Mas ele é um parasita. Um sanguessuga grudado na
jugular do futebol. Um homem de negócio que usa o esporte para se autopromover
e ganhar dinheiro. O melhor que ele poderia fazer pelo futebol é deixá-lo, ir
embora”.
Jennings explica como os atuais
cartolas da Fifa mantêm a entidade sob seu controle: “A Fifa dá, no mínimo, US$
250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa esse dinheiro é
irrelevante. Mas pense no Congo, Mauritânia, Tailândia. Esse dinheiro nunca é
auditado. Blatter diz que é eleito de maneira democrática. Não há nada que
mereça ser chamado de democracia na Fifa. Em uma democracia existe
discordância, oposição. Na Fifa, não. O que vemos na Fifa são os pequenos ratos
agradecendo ao rato-chefe pelo estilo de vida de magnatas que levam”. E
conclui: “Por mais de 30 anos, eu investiguei máfias, corrupção policial,
corrupção política e crime organizado. Eles são amadores comparados com o que
se faz na Fifa”.
Não bastasse, para proteger os
lucros das empresas que patrocinam essa roubalheira, a Fifa exigiu que o
Governo brasileiro reprima qualquer tentativa de comercializar produtos que não
tenham sua autorização oficial. Resultado: milhares de trabalhadores informais,
que pensavam em faturar alguns trocados durante o mundial, estão proibidos de
trabalhar durante a Copa em seu próprio país.
Com todo esse dinheiro sujo, a
Fifa compra o silêncio e a cumplicidade de governos, tribunais, imprensa
burguesa, dirigentes de clubes e até de ex-jogadores. Só não compra a consciência dos trabalhadores
e da juventude que vão às ruas e organizam greves por aumento dos salários e
pela melhoria das condições de vida do povo.
Heron Barroso e Redação.
Fonte: A
Verdade, 14 Jun 2014.
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