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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Mudar para manter como está

Hipótese pessimista sobre eleições brasileiras: talvez os três principais candidatos estejam interessados, no fundo, em administrar “melhor” os interesses dos poderosos


Por Daniel Bin*
Publicado em 27 de maio de 2014

Imagem: M.C. Escher

É nos andares de cima da hierarquia social que delineiam-se os movimentos fundamentais, logo decisivos, na maioria das disputas eleitorais em democracias liberais. No caso brasileiro, exemplo significativo foi a Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, que sinalizava a manutenção dos principais fundamentos econômicos lançados em 1994 com o Plano Real. Também este, apesar do discurso acerca do controle da inflação ter como preocupação os mais pobres, visava aos mesmos andares de cima. Se por um lado inflação reduz o poder de compra de salários, por outro, reduz preços de ativos financeiros.

Sem surpresa, a campanha presidencial já em curso gira em torno de lógica similar. Essa hipótese conduz a uma segunda, que sugere distinguir de forma pouco convencional as três principais forças políticas nesta disputa: de um lado, quem já deu mostras concretas para merecer a confiança do capital financeiro; de outro, quem tenta se colocar como alternativa por meio da retórica que busca o mesmo tipo de confiança. Neste, estaria Campos e naquele estariam Aécio e Dilma.

Uma abordagem mais convencional oporia Dilma a Aécio, o que poderia ser corroborado pelas quedas de intenções de voto nela acompanhadas de subidas do Ibovespa. Não obstante, aproximar Dilma de Aécio faz sentido a partir de uma análise do superávit primário, que apesar de ser apenas um, não é indicador qualquer. Síntese de opções políticas substantivas, a sua evolução ao longo dos catorze anos do atual modelo macroeconômico demonstra a “responsabilidade”—perante os credores do estado, diga-se—tanto dos governos liderados pelo PSDB como dos liderados pelo PT. Estes, durante 2003-13, entregaram uma média de superávits de 2.14% do PIB ante a média de 1,93% entregue por aqueles durante 1999-2002.

É certo que diferenças existem, e elas sugerem que nos andares de cima a tendência é de opção majoritária por Aécio. É nesse ponto que a terceira força política nestas eleições se coloca, disputando espaço onde Aécio transita com desenvoltura. Na medida em que pesquisas de intenção de voto começam a indicar aumento das chances de segundo turno, com a ocupação da primeira vaga por ora cristalizada, ensaiam-se já os movimentos da disputa pela segunda vaga.

Campos diz estar à esquerda de Aécio, mas, ainda que este tenha falado em medidas impopulares, foi aquele quem falou em meta de inflação de 3% ante os atuais 4,5%. Enquanto o discurso de Aécio gravita no plano abstrato—ainda que previsível—, a sinalização de Campos é concreta. Para ele, chegou o momento de mirar potenciais apoiadores de Aécio, talvez acenando com políticas simpáticas ao setor financeiro, o qual, aliás, não mais teme o PT tanto quanto outrora.

Estas são apenas algumas evidências em que as principais forças eleitorais ensaiam diferenças e sinalizam mudanças com vistas a manter as principais políticas mais ou menos como estão. Já disse em outra oportunidade que “o máximo que se passou a esperar das principais forças políticas com chances eleitorais era a concorrência pelo posto de quem melhor administraria os interesses do capital.” E quem poderia eventualmente provocar alguma discussão sobre alternativas políticas substantivas possivelmente não será chamado a fazê-lo, por exemplo, nos debates televisionados.
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* Daniel Bin é professor da Universidade de Brasília e pesquisador visitante na Universidade Yale, EUA.

Fonte:  Outras Palavras

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