Li o artigo do deputado
Emiliano José, publicado neste jornal, em 16/06, sobre a presença das
universidades federais na Bahia, como promotoras de um conjunto de ações jamais
vistas entre nós. Tal ação, partindo da Ufba e agora das novas universidades,
para ele, será um marco no desenvolvimento da educação, passando a ideia de que
tudo isso ocorria pela primeira vez.
Compreendo que, pelo teor do
texto, e pela louvação ao governo da república, o autor está se referindo ao
ensino federal. No entanto, gostaria de fazer um registro histórico: o ensino
superior estadual é responsável, apesar do pífio investimento do governo do
estado da Bahia, por uma longa jornada de integração regional e desenvolvimento
local, atendendo com seus cursos e projetos especiais a todas as regiões
administrativas da Bahia. Embora seja evidente que temos feito isso com grandes
dificuldades em virtude da histórica falta de prioridade dos governos.
As universidades estaduais da
Bahia encontram-se em todas as regiões em que o deputado insiste em não ver ou
calar-se sobre suas ações. A quem interessa o silêncio sobre as políticas
públicas desenvolvidas por elas, através do enorme esforço de sua comunidade?
Por que silenciar diante da saga social, pedagógica e científica desenvolvida
pelas universidades estaduais? Que, com tão parco orçamento, tem aprofundado e
desenvolvido o conhecimento para colocá-lo a serviço da população da Bahia?
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Vale lembrar, também, que o
texto silencia sobre o papel das estaduais no gigantesco processo de formação
de professores para a rede básica. Além disso, talvez, para alguns, não seja
importante o desenvolvimento de tecnologias e estratégias de alfabetização que
há dezenas de anos as estaduais desenvolvem para erradicar o analfabetismo e o
seu papel na pesquisa agroalimentar, socioeconômica, pedagógica e na área das
ciências humanas.
Todavia, um detalhe faz-se
importante para refletir sobre o texto: numa parte da região onde se instalou a
Univasf, já existem dois campi da Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
Juazeiro e Senhor do Bonfim. Quando da instalação da UFRB no recôncavo, já
existia o campus da Uneb em Santo Antônio de Jesus com amplo atendimento por
demanda de ensino superior. A Uefs, em Feira de Santana, com sua presença
longeva, irradia conhecimento e pesquisa para grande extensão da Bahia.
Na área da Universidade do Sul
da Bahia, já existe a Uesc que tem respondido às questões da lavoura do cacau e
os campi da Uneb, em Teixeira de Freitas e Eunápolis. No oeste baiano é
tradicional a presença da Uneb (Barreiras) na região que deverá ter a Ufob. No
sudoeste da Bahia, onde se levanta a proposta de implantar uma federal, existe
a Uesb com uma forte presença de pesquisa na área da zootecnia e outras áreas
do conhecimento.
E agora a campanha pela
Universidade Federal do Nordeste da Bahia, numa região onde a Uneb tem
trabalhado de forma perene com a sua histórica presença nas cidades de
Alagoinhas, Serrinha, Conceição do Coité, Euclides da Cunha e Paulo Afonso,
região que contou, assim como outras, com a presença do inovador programa
especial, Rede Uneb-2000.
Certamente a memória e história
da saga de Canudos e de Antonio Conselheiro, não será descoberta agora, ela é
produto de uma vasta pesquisa histórica que a Uneb e seu parque de Canudos
desenvolvem há muito tempo, resgatando o papel seminal daquele processo
histórico brasileiro. É justa a preocupação com o ensino superior federal na
Bahia, melhor ainda se ela viesse acompanhada de condições de funcionamento.
No entanto, entrar no mérito
dessa questão silenciando sobre o papel das estaduais, ou colocando as federais
em detrimento delas, é no mínimo retirar do livro da história o papel da
comunidade acadêmica que construiu essa jornada de luta social. É, ainda, uma
política danosa do ponto de vista do planejamento público integrado. A não ser
que a política do governo estadual, aliado do deputado, seja de substituir o
papel histórico das estaduais e isso, talvez, esteja sendo confirmado no
silêncio dos inocentes.
Fonte: A
Tarde
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