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sábado, 6 de outubro de 2012

POR QUE VOTAR NESTAS ELEIÇÕES? (Quarta parte)


O Estado pode controlar o capital?
LABUTA
05 de Outubro de 2012
(Leia também as partes anteriores deste artigo

Cá estamos mais uma vez para conversar um pouco mais sobre a nossa democracia. E tem gente que acha que política não se discute. Bem, antes de seguir em frente vamos recapitular a ideia central de cada texto. Primeiro vimos que é uma grande “injustiça” culpar a corrupção (coitada) por todos os problemas políticos brasileiros. Bem, tudo indica que o problema é muito mais sério que isso. Tudo depende da maneira como nossa sociedade está organizada. Neste sentido, o nome desta sociedade (capitalismo) já dá uma boa dica de quais interesses predominam na cena política. Este foi o ponto central da segunda parte deste artigo: a existência de diferentes interesses na atividade política, e que, inclusive, alguns desses interesses são antagônicos (um vai contra o outro). Nem sempre é possível agradar gregos e troianos.
A terceira parte teve como objetivo chamar atenção para a função social do Estado, ou seja, que papel ele cumpre em nossa sociedade. Bem, tudo leva a crer que o Estado não existe para solucionar as desigualdades sociais, mas, ao contrário, serve para reproduzi-las. O Estado não serve para controlar o capital, ele é o próprio centro de comando político do capital, independente da forma que tome. Isso não depende da simples vontade dos parlamentares, não se trata apenas de querer fazer uma política diferente. Os “outros interesses” por traz do Estado são os interesses do próprio capital, é isso que está em jogo para os políticos. São as necessidades do capital que prevalecem na política atual. Mesmo quando os políticos agem contra os interesses do capital, logo são forçados a abandonar suas funções.
Tudo bem, agora chega de abstração e vejamos alguns exemplos. Basta observar o caso do Chile no governo de Salvador Allende, que tentou realizar uma drástica reforma agrária e a nacionalização das indústrias. Isso provocou uma reação violenta das classes dominantes chilenas. Estas, com o apoio dos Estados Unidos, arquitetaram o golpe militar de uma das ditaduras mais violentas da América Latina, a ditadura Pinochet. Este golpe, inclusive, também fez aniversário no dia 11 de setembro, episódio convenientemente pouco lembrado.
Basta fazer uma pequena pesquisa para confirmar este caso (pode ser no Google mesmo). Quando o Estado chileno tentou tomar o controle do capital, logo encontrou a violenta resistência das personificações do capital (sobretudo as classes da burguesia industrial e latifundiária). A forma de governo ditatorial do Pinochet, por sua vez, apenas mudou a maneira de se fazer política da sociedade chilena, sem alterar sua estrutura econômica, além de preparar o terreno para as mais intensas reformas neoliberais do continente.
Quer dizer que se o Estado chileno tivesse concluído a nacionalização das indústrias e a reforma agrária, ele teria mesmo controlado o capital? Bem, tudo indica que não é bem por aí. Podemos observar, por exemplo, os resultados da revolução russa de 1917. A princípio surgiram inúmeros conselhos operários (soviets) assumindo a direção de diversas fábricas por toda Rússia. Entretanto, aos poucos o Estado, sob a direção do partido bolchevique, tomou novamente o comando político da sociedade, além de se transformar no grande gestor da economia.
Ainda sim, a revolução não se generalizou nas relações sociais de produção, ou seja, a maneira como os indivíduos produzem as riquezas da sociedade continuou inalterada. Segundo os estudos do húngaro István Mészáros, o capital não foi destruído na antiga União Soviética. Os trabalhadores continuaram sendo explorados, pois permaneceram sem a posse do excedente produtivo. Entretanto, este excedente, ao invés de ser apropriado diretamente por capitalistas particulares, era apropriado pelo Estado bolchevique. Desta forma, o que existiu na União Soviética não foi o comunismo, no sentido de uma sociedade sem classes sociais, mas uma sociedade onde a propriedade dos meios de produção foi transferida para o Estado.
Podemos ver que as desigualdades sociais não serão eliminadas com uma simples mudança da direção política do Estado. Não quer dizer que estas mudanças na política não reflitam na estrutura econômica da sociedade. Caso contrário, tais mudanças não fariam o menor sentido. Entretanto, elas não passam de “ajustes” que buscam contornar as barreiras que impedem a acumulação do capital. Neste sentido, ajustes na direção política do Estado podem até proporcionar uma maior eficiência da sociedade capitalista, impulsionando um crescimento econômico do país. Mas não podemos esquecer que este crescimento se reflete de maneiras diferentes na vida de cada um, mais particularmente, atinge cada classe social de uma forma específica e extremamente desigual.
Quando observamos o crescimento da economia brasileira, por exemplo, este crescimento se acumula nas mãos de poucas famílias. Quando o governo faz sua propaganda política, é muito conveniente ignorar que nem todo mundo se beneficia do vangloriado crescimento econômico. Quem acumula a maior parte da produção de riquezas do país é o capital. O governo do partido dos trabalhadores é, na verdade, o governo do capital. Não importa qual seja o regime político. Seja ele extremamente autoritário como os fascistas (a Alemanha de Hitler, por exemplo), seja ele uma ditadura militar como os anos de chumbo no Brasil, ou até mesmo um regime brando como a nossa atual democracia representativa, o Estado moderno é sempre o Estado do capital. Além do mais, por mais vantajosas que sejam as liberdades democráticas para os trabalhadores, elas são mais vantajosas ainda para o capital. Como isso é possível? Bem, estas serão as cenas do próximo (e último) capitulo.

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