Primeira parte
É possível acreditar na política?
Finalmente está chegando o fim
do processo eleitoral, o êxtase da nossa tão aclamada democracia. Em pouco
tempo não haverá mais cavaletes e banners por toda parte, santinhos espalhados
pelas ruas, propaganda eleitoral gratuita e nem aqueles jingles martelando
nossas cabeças (o que nos faz ouvi-los até na hora de dormir). Este imenso
ritual moderno logo se completará, e após semanas de louvor, finalmente
culminaremos na comunhão das urnas. Uma vez chegado o fim, retornaremos ao
cotidiano de nossas vidas, tudo voltará ao “normal” até que se passem dois anos
para enfim sermos, mais uma vez, convocados a este imenso culto democrático.
É verdade, somos todos
inseridos neste processo eleitoral de forma tão sutil, que temos a impressão de
que tudo é muito natural. É comum reproduzirmos as exigências da nossa
sociedade sem questionar o real sentido das coisas, afinal, muitas delas
acontecem desde nossa infância. Até que certo dia paramos e pesamos: “porque as
coisas são assim?”. Na maior parte das vezes não encontramos uma resposta
imediata, até porque não são questões simples de responder. Precisamos,
inclusive, ter certo “desconfiômetro” para respostas fáceis demais, elas podem
ser muito superficiais, ou até cheias de interesses ocultos. Afinal, tem muita
gente buscando respostas para os seus próprios problemas, inevitavelmente
aparece alguém querendo nos dar as respostas. Este é o retrato das propagandas
eleitorais: respostas simples para problemas difíceis.
Infelizmente, nem todos os
problemas podem ser tão facilmente resolvidos como propõem os candidatos.
Gostemos disso ou não, as coisas são assim. Uma forma de perceber isso é
refletir sobre o que realmente mudou desde que certo candidato foi eleito.
Certamente muita água passou por debaixo da ponte, e até pode ser que a vida de
alguém melhorou de uns anos pra cá, mas será que isso vale para a grande
maioria das pessoas? Será que todas as classes sociais se beneficiam igualmente
do tão idolatrado crescimento econômico brasileiro? Estas mudanças são “grande
coisa” para a maior parte dos trabalhadores? E agora? A vida está fácil para
você? O tempo esta cada vez mais corrido, a ponto de desejar que o dia tivesse
mais que 24 horas? Pois é, por que isso tem que ser assim? É possível mudar?
Como vê, não são perguntas fáceis,
e dá logo um nó na cabeça só de pensar. No fim das contas, todo mundo tem um
pouco a reclamar sobre a política. Pensando bem, é comum ouvirmos falar da
política como algo “podre” e “desprezível”, pois o parlamento mais parece um
ninho de víboras brigando por interesses mesquinhos. Consequentemente, a
corrupção aparece como o grande problema da política brasileira. Mas será que a
corrupção é o problema, ou apenas o efeito de um problema maior?
Bem, recentemente circulou nas
redes sociais o trecho da entrevista de um dos deputados mais bem votados do
país (1,3 milhões de votos), o palhaço Tiririca: "Eu não sei se pretendo
continuar [na política], por ser muito difícil lá dentro [da Câmara dos
Deputados] [...] Eu pensei que chegando à condição que eu cheguei, ia lá e ia
aprovar projetos que iam beneficiar a população e essas coisas todas, mas não é
assim. Há outros interesses".
Se o Tiririca está sendo
sincero ou não, nem vem ao caso. Mas o que será que ele quis dizer com “há
outros interesses”? Suas palavras podem ressoar fundo em nossas consciências. O
palhaço, enfim, percebeu que os problemas sociais não são uma piada? Ou
descobriu que o picadeiro político, na verdade, oculta o verdadeiro sentido da
cena política do Estado? O que aparece como uma grande tragédia da corrupção
esconde a verdadeira face da política? Não será possível uma política para o
“bem comum”? É possível existir uma política ética?
Este pequeno texto não tem a
menor intenção de apresentar respostas prontas para tantas perguntas. Tentar
fazer isso em tão poucas linhas seria, no mínimo, ingênuo. É necessário que
você reflita sobre cada um destes problemas antes de comprar as repostas
mastigadas que são vendidas por aí nas propagandas eleitorais. Não se deixe
enganar! Desconfie das coisas, investigue-as. Você é capaz de raciocinar sobre
isso.
Para terminar, deixaremos mais
uma pergunta no ar: se os políticos não estão no congresso defendendo nossos
interesses, como parece dizer Tiririca, quais são os interesses que eles
defendem? Dedicaremos a segunda parte deste artigo a discutir melhor esta
questão.
02 de Outubro de 2012
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