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sábado, 6 de outubro de 2012

POR QUE VOTAR NESTAS ELEIÇÕES? (Última parte)


A pseudo democracia na política e a ditadura na economia
LABUTA
06 de Outubro de 2012
(Leia também as partes anteriores deste artigo

Finalmente chegamos à quinta e última parte deste artigo sobre a nossa “adorável”democracia representativa. No final da quarta parte insinuamos que, se as nossas liberdades constitucionais são vantajosas para a grande maioria da população, elas são ainda mais vantajosa para o capital. Da pra imaginar como isso é possível?
Vamos lá. Primeiramente é preciso relembrar algumas ideias apresentadas na segunda parte deste artigo. Vimos que os indivíduos que fazem parte da sociedade possuem interesses distintos, sobretudo no que diz respeito as lutas econômicas como, por exemplo, as lutas por melhores salários. Muito bem, por que isso acontece?
Cada indivíduo que vive na sociedade cumpre uma função diferente dentro dela, por isso faz parte de uma classe social específica. Alguns destes indivíduos são responsáveis pela transformação da natureza nos bens necessários para nossa sobrevivência enquanto seres vivos. Transformam, por exemplo, algodão em tecido, e este, por sua vez, numa roupa. Sem esta atividade não seria possível a vida em sociedade. Entretanto, nas sociedades de classes, o fruto deste trabalho não fica nas mãos dos produtores, mas é apropriado por uma classe de proprietários. Neste sentido, as duas grandes classes antagônicas do capitalismo são a burguesia e os operários (industriais ou rurais). As demais classes também ficam com uma parcela da riqueza produzida pelos operários, por mais que também sejam exploradas.
O trabalhador não é totalmente livre ao ponto de escolher não trabalhar, pois isso significa a ruina de sua vida material. Graças a uma série de processos históricos, que não será possível discutir aqui, os trabalhadores foram separados da terra, de maneira que não possuem outra forma de sobrevivência a não ser vender sua força de trabalho em troca de um salário. Neste sentido, o trabalhador é constrangido a procurar por um patrão que o explore. Afinal, pior do que ser explorado é não ter ninguém para lhe explorar.
A liberdade que o trabalhador possui no capitalismo é meramente formal. Todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas não são iguais do ponto de vista material. Enquanto uns vivem bem, outros vivem mal. Como o direito iguala todos os indivíduos do ponto de vista político, cria-se a impressão de que todas as pessoas são igualmente livres nos outros aspectos de sua vida. Neste sentido, a democracia cria uma falsa impressão de que toda a população é responsável pela direção política do país, uma vez que elegem seus representantes legais para participar da gestão do Estado.
Por mais que agente viva sob um regime político chamado de “democracia representativa”, esta democracia não se estende, por exemplo, para o ambiente de trabalho. Enquanto acreditamos viver em uma verdadeira democracia política, no dia-a-dia de nossos trabalhos vivemos uma verdadeira ditadura. Não possuímos o menor poder de decisão dentro das empresas em que trabalhamos. Os proprietários e seus gestores simplesmente decidem tudo de cima pra baixo. Decidem o que produzir, quando produzir, por que produzir e de que forma produzir. Os trabalhadores simplesmente cumprem estas ordens.
Esta realidade já está tão enraizada em nossa sociedade que até parece natural que as coisas sejam desse jeito. “É assim e ponto final”. Na sociedade capitalista, falar no fim da propriedade privada é um sacrilégio muito maior que todos os pecados cristãos juntos. É simplesmente inaceitável. Para o dono da empresa, é inconcebível pensar em dividir o controle da produção entre os seus trabalhadores. Mas será mesmo que as coisas tem que ser assim? Bem, certamente elas nem sempre foram desta forma. Foram necessários muitos séculos para que os capitalistas conseguissem conquistar este poder.
Seguindo este raciocínio, o verdadeiro poder da sociedade não está na escolha de seus representantes legais no Estado, mas no controle das riquezas socialmente produzidas. Quando a democracia cria esta aparência de liberdade, está apenas reproduzindo uma realidade alienada, que não revela sua verdadeira natureza. A intensificação das alienações apenas facilita o controle da vida social pelo capital, uma vez que oculta dos indivíduos a verdadeira origem das desigualdades sociais e a maneira de resolvê-las.
Votar em um candidato diferente nestas eleições não mudará em nada a raiz dos nossos problemas. Não é desse poder de decisão que nós precisamos. Vamos pensar um pouco a respeito. Claro que não se trata de problemas fáceis de resolver, e cada um precisa se convencer da coisa certa a fazer. Precisamos perceber que enquanto realizamos a democracia nas urnas, vivemos sob uma verdadeira ditadura no trabalho. Não decidimos nada em nossos empregos.
Chegando ao fim das reflexões que fizemos sobre a nossa democracia, como pensar numa resposta para a pergunta colocada no título deste artigo? Por que votar nestas eleições?
Sinceramente, você também compartilha de um sentimento de desesperança quando percebe que o simples ato de votar não faz muito sentido? A falta de perspectiva na política lhe causa uma sensação de que tudo está perdido? Mas será mesmo que as coisas precisam ser assim? O que realmente nos impede de mudar? Pense no que poderia ser feito se nós levássemos a democracia para nossos trabalhos, sobretudo para as atividades que produzem a riqueza material da sociedade? Todos poderiam se satisfazer, uma vez que a sociedade já produz em abundância (as crises de superprodução estão aí para comprovar isso). Poderíamos votar no que produzir, em quanto tempo produzir, como produzir e, o mais importante, o que fazer com esta produção. Fala a verdade, este voto sim valeria a pena.

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