Terceira parte
04 de Outubro de 2012
Os problemas sociais do Brasil
são culpa da incompetência dos políticos?
A corrupção, certamente, é uma
das características mais marcantes da política. Provavelmente temos a impressão
de que este é um problema especialmente dos políticos brasileiros, mas
infelizmente não é bem assim. Apenas temos essa impressão porque vivemos aqui.
Lógico que se nos limitarmos ao que podemos perceber em nosso cotidiano,
chegaremos a conclusões parecidas a essa. Mas não nos enganemos, o Brasil não é
um país “pobre” porque temos muitos bandidos no Estado. Esta não é a causa do
problema, mas apenas um de seus efeitos.
Será mesmo que o Estado poderia
estar comprometido com as necessidades de toda a população? Só não funciona
mesmo por culpa dos políticos corruptos? Fala sério, será que é tão simples
assim? Bem, pra começar, basta observarmos o cotidiano nas ruas das cidades
para perceber que o programa “fome zero” não passou de uma grande propaganda
política, sem nenhuma validade do ponto de vista real. Imagine se todas as
nossas necessidades vitais (saúde, moradia, alimentação) fossem completamente garantidas
pelas instituições públicas. Certamente seria bem mais fácil para o trabalhador
recusar um emprego que não valesse a pena. Os patrões precisariam oferecer
salários cada vez mais altos para atrair os trabalhadores para suas empresas.
Isso certamente iria afetar bastante seus lucros.
Neste sentido, a miséria e o
desemprego são muito úteis para o capital, uma vez que cumprem a função de
rebaixar os salários dos trabalhadores empregados ao mínimo possível. Não seria
interessante, do ponto de vista do capital, que o Estado garantisse a
sobrevivência de todos os trabalhadores, pois é justamente a necessidade de
sobrevivência que constrange estes trabalhadores a vender sua força de
trabalho. Mas o Estado não pode deixar que se torne visível este seu comprometimento
as necessidades do capital, pois isso seria um grande perigo para a conservação
da sociedade capitalista. Esta contradição é velada quando tudo parece ser
apenas um problema da corrupção do Estado, e não que o Estado seja o próprio
problema. A corrupção, neste sentido, é apenas a aparência deste problema, não
a sua essência.
Na segunda parte deste artigo
concluímos com a ideia de que a incapacidade do Estado em solucionar as
desigualdades sociais não é culpa da “má vontade” dos políticos. Quando o
governo reprime as greves dos trabalhadores, ele não o faz simplesmente porque
essa é uma vontade íntima dos políticos, que satisfazem seus sentimentos
masoquistas vendo os grevistas apanharem. Não é bem assim. Não quer dizer que
não seja uma escolha. Claro que é. Mas é preciso analisar as condições em que
estas escolhas são feitas.
Os políticos tomam suas
decisões porque este é o seu papel dentro do Estado. É exatamente para isso que
serve esta instituição política, para impor as necessidades particulares de uma
classe social sobre as demais. Diga aí, quando o Estado se comportou de maneira
diferente?
Quando os políticos tomam
medidas que prejudicam os trabalhadores, estão justamente cumprindo sua função
dentro da máquina estatal. Eles se percebem constrangidos a realizar este
papel, incorporando profundamente estas exigências como se fossem fruto de sua
própria vontade. Aqueles que não incorporam estas vontades não conseguem apoio
político ($$$) para assumir um mandato, ou até mesmo se frustram e abandonam a
política, como parece ser o caso do palhaço Tiririca. Ou seja, a vontade
pessoal de um politico especifico não vai ser atendida se não estiver de acordo
com tais interesses citados acima.
Esta situação é perfeitamente
possível. Imaginem, por exemplo, que um trabalhador, quando decide procurar por
emprego, não faz isso simplesmente porque esta é a sua vontade. Ele o faz
porque é constrangido a fazer. Porque se não fizer, não encontrará outro meio
de sobreviver. O trabalhador busca por alguém que explore sua força de
trabalho, uma situação que só vemos de maneira generalizada no capitalismo. Ao
contrário do escravo, que era forçado a trabalhar, o assalariado caminha com
suas próprias pernas para o local onde será explorado. Incrível!
Do outro lado, um empresário
não pode tomar decisões que prejudiquem a sua condição social, ou ele correrá
sérios riscos de perder seu negócio, uma vez que está concorrendo com outros
empresários pelo mercado consumidor. Ou ele explora seus trabalhadores o máximo
possível, ou corre riscos de entrar em falência. O patrão não é a
personificação do mal, isso não existe. Ele apenas está realizando sua função
enquanto classe que explora a força de trabalho alheia. Ele é, na verdade, a
personificação do capital. Ele só é um burguês até o momento em que põe em
movimento as forças sociais que reproduzem a acumulação do capital.
Pode parecer confuso, mas esta
é a maneira como se comportam os indivíduos no capitalismo. Realizam suas
funções mesmo que não tomem consciência disso, mesmo que ajam de maneira
alienada, ou seja, sem reconhecer a essência de suas ações, mas percebendo
somente a aparência que elas tomam. Essas foram as observações de Marx,
Mészáros e outros pensadores que investigaram profundamente o sistema do capital.
É claro que não será possível expor todos os detalhes desta relação em “dois
dedos de proza”. A intensão aqui é somente chamar a atenção para a complexidade
deste problema. Isso mesmo. Se trata de algo muito mais complicado do que
imaginamos, é necessário muita paciência para encontrar as respostas certas.
De maneira geral, a atividade
política dos indivíduos se baseia muito na classe social que eles representam.
Em nossa sociedade os interesses que prevalecem são os interesses do capital.
Até aí nenhuma grande surpresa, certo? Mas a grande questão é que o Estado não
é capaz de contrariar estes interesses. Mesmo que ele mude sua forma (mudando a
maneira de se fazer política) sempre garante a acumulação do capital. Quando
isso não acontece, as classes dominantes reagem de forma violenta. Na próxima
parte desse artigo traremos dois exemplos históricos para melhor entender estas
questões: o caso chileno e o caso russo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário