Revista
britânica aponta absurda concentração de audiência no Brasil e insinua: Dilma
poderia adotar uma “Lei de Meios” semelhante à da Argentina
Por Inês Castilho
Publicado em 18 de junho de 2014
Uma amiga poetisa do Rio de
Janeiro expressou há alguns dias, em visita a São Paulo, quão espantoso é para
ela, há anos sem tevê, ver todo mundo: o pobre, o rico e o remediado,
analfabeto ou letrado, sentar-se diariamente diante do televisor para assistir
ao jornal e/ou novela (e esticar o assunto em conversa com amigos). Não menos
que 91 milhões de almas, 45% dos brasileiros, sintoniza na Globo todo dia, todo
santo dia. Assustador, observou.
Até The Economist sabe, como
mostra em reportagem (edição de 07.06), mas nós fingimos não perceber o poder
que o Brasil confere às Organizações Globo. E olhe que a revista inglesa,
conservadora, nem entrou nos detalhes sórdidos da sonegação fiscal do Grupo,
nem na parte do leão de publicidade oficial que recebe do governo. Falou, isso
sim, que muita gente no país começa a inquietar-se com tanto poder concentrado
nas mãos de tão poucos. (A consciência vem em ondas, parece.)
“É o tipo de audiência que, nos
Estados Unidos, pode ser alcançada apenas uma vez por ano, e somente pela rede
que venceu a competição pelos direitos de transmissão do campeonato de futebol
americano Super Bowl”, diz a revista em “Globo
Domination”. Sua principal concorrente, a Record, não tem mais que 13% da
audiência. Já a principal rede dos Estados Unidos, a CBS, alcança não mais que
12% nos picos, e as concorrentes, uma média de 8%. Isso parece mais democracia.
A concentração de poder, claro,
vem junto com a concentração de dinheiro. A família Marinho é a mais bilionária
entre os 65 bilionários brasileiros, aponta ranking da Forbes de 2014. Roberto
Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, os três irmãos,
juntos, têm fortuna estimada em US$ 28,9 bilhões. “É a maior companhia de mídia
da América Latina, com receitas que alcançaram 14,6 bilhões de reais ($6.3
bilhões) em 2013, valor que cresceu impressionantemente na última década”.
E então, finalmente, chega ao
ponto. Lembrando que na Argentina o poder do Grupo Clarín está sendo reduzido
para no máximo 35% de audiência, como determinou a recente Lei de Meios, e o
México tenta reduzir o peso da Televisa, a revista põe o dedo na ferida: “Mas o
governo brasileiro é mais dócil com os donos da mídia.”
A matéria lembra ainda que há
hoje no Brasil número maior de celulares que de habitantes, e a média de tempo
dos brasileiros on line nas redes sociais, em abril, era de 12,5 horas
semanais. E prevê: pela primeira vez um concorrente ameaça as Organizações, em
publicidade e audiência. “Cada vez mais, a disputa pelo mercado publicitário
será entre dois Gs: Globo e Google.”
The Economist já desenhou.
Resta agora à presidente Dilma Roussef e seu secretário de comunicação, Thomas
Traumann, encarar a realidade gritante. Especialmente depois das vaias
transmitidas com fervor à vastíssima audiência da família Marinho e repercutida
com sangue os olhos pela mídia corporativa, justo aqueles que, num jogo
perverso, são sempre reverenciados pela publicidade governamental.
Fonte: Outras
Palavras
seria liberdade demais para uma emissora? medo do governo com esse '4º poder'? de que o governo afinal tem medo de colocar a mão nessa ferida?
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