Estudantes e pesquisadores da USP realizaram hoje um ato em frente à Reitoria pedindo seis meses de diálogo na comunidade acadêmica antes que o novo regimento da Pós-Graduação seja aprovado. As alterações no Regimento prometem apressar a produção acadêmica - sendo que a USP já é a universidade que mais produz doutores no mundo. André Cristi e Caio Sarack
São Paulo - Enquanto o Conselho Universitário (CO) da USP se reunia para discutir o novo regimento de Pós-Graduação da instituição, estudantes e
pesquisadores promoveram ato contestando algumas das mudanças propostas pela Pró-Reitoria. Segundo eles, as alterações no regimento só intensificam a pressão produtivista na universidade.
Entre as mudanças, há a supressão do artigo que determinava a gratuidade da Pós-Graduação pública e a redução do tempo para a qualificação do projeto de pesquisa. O regimento de 2009 previa quatro anos para o pesquisador concluir seu mestrado, sendo que a qualificação poderia ser feita em pouco menos de dois anos e meio. O novo regimento prevê apenas 18 meses para a qualificação do mestrado.
Segundo Fábio Luiz Franco, mestrando em Filosofia, "essa redução torna o tempo para a qualificação de um mestrado muito escasso, já que durante esse tempo, além da qualificação, precisa se concluir três matérias. O tempo até o exame de qualificação ficou exiguo e, além disso, o regimento exclui a possibilidade de requalificação." Sobre a supressão do artigo referente à gratuidade da pós-graduação, Franco comentou: "Se essa supressão foi feita por uma questão de estilo, por economia jurídica - já que o artigo que proíbe a cobrança está na Constituição Federal - outros artigos deveriam ter sido retirados e não foram".
A internacionalização da USP é o grande objetivo das alterações propostas pela Reitoria, segundo declarações públicas da Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Através da adaptação de seu regimento à Declaração de Bolonha (documento de 1999 que visava tornar semelhante o Ensino Superior de toda a Europa, facilitando a circulação de estudantes). Os pós-graduandos reunidos em assembleia publicaram uma carta aberta dizendo que a internacionalização se dará sob risco de transformar a pós-graduação da instituição numa anomalia dentro do sistema nacional de pós-graduação, ameaçando ainda mais a possibilidade de concessão de bolsas.
“O projeto de pós-graduação tem consequências muito mais amplas do que a Reitoria admite”, afirmou Franco. “Internacionalizar a universidade e exigir a escrita acadêmica em inglês interdita, por exemplo, a possibilidade de produção e vocabulário científicos em português.” A qualidade de projetos acadêmicos na USP já é medida por indicadores quantitativos, tais como a quantidade de bancas que contaram com examinadores estrangeiros e o número de docentes que fizeram ao menos uma viagem ao exterior.
A única modificação que parece unânime na comunidade uspiana é a concessão da licença maternidade, reivindicada desde 2008. Sobre os vários dissensos ligados ao regimento, os pesquisadores que convocaram o ato de hoje entendem que a elaboração de uma proposta de alteração regimental como essa não pode ser realizada sem a criação de espaços de debate e consulta que possam garantir a ampla participação de estudantes e professores, em vários níveis, desde grupos de trabalho abertos até as Comissões de Pós-Graduação de cada unidade.
Fonte: Carta Maior
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