Na virada dos anos 60 pra 70 nascia nos EUA o mais expressivo movimento cultural da atualidade, o Hip-Hop. Massacrado pela classe dominante branca o povo preto se organizava em resistência às privações por ela impostas. E as artes do Hip-Hop surgem como alternativa de produção e consumo cultural dos guetos para os guetos, além de servirem como um canal de propagação das angustias e anseios dessa gente. Era uma época de muita efervescência política e de rebeldia. Era impossível o Hip-Hop nascer nesse ambiente e não ser “contaminado” por ele. O mundo vivia a Guerra Fria. Os EUA diziam combater a “falta de liberdade” do bloco “socialista”, enquanto oprimia a parcela preta e de origem latina, da sua população. E não parava por aí. A partir de 1964 esse país financiou golpes militares pela América do Sul, e o Brasil foi o pioneiro dessa avalanche violenta e autoritária.
O Hip-Hop chegou ao Brasil quando essa ditadura de 20 anos dava os seus últimos suspiros. Hoje vivemos uma ditadura disfarçada, que precisou adquirir novas formas para se manter por mais tempo sem despertar a inquietação da classe trabalhadora. Antigos recursos como a censura oficial hoje não existem mais. Se ainda houvesse, nossos eventos seriam proibidos, artistas da sena REP com projeção nacional como Racionais MC’s, GOG e Facção Central, só pra citar alguns, não teriam lançado nenhum de seus álbuns e poderiam estar até presos. Aliás, a prisão foi o destino de muita gente que de alguma forma expressou oposição ao regime militar, fosse artista, estudante, professor/a, operário/a e até mesmo militares. E lá sofriam as mais terríveis torturas, a ponto de muit@s não resistirem e morrerem. Durante esses 20 anos, foram centenas de pessoas assassinadas, milhares foram presas e torturadas, outras tantas perderam seus empregos, sem contar as que foram obrigadas a viver em um país estranho.
De todos os países da América do Sul que viveram suas ditaduras militares, o Brasil foi o único que ainda nem começou a acertar as contas com os assassinos e torturadores do regime. Essa atmosfera de impunidade contribui bastante para que, trinta anos após o fim da ditadura, ainda se torture nas prisões do país, e também pra que tenhamos a policia mais letal do mundo. E, além disso, deixa também esses criminosos a vontade pra fazerem festa de aniversário do golpe como se todo esse terror fosse motivo de comemoração.
Primeiro de abril é o dia em que o golpe militar faz aniversário. Fazendo jus ao dia da mentira, nossos milicos resolveram chamar o golpe de REVOLUÇÃO. Comprometid@s que somos com a preservação da história e da memória de quem deu a vida lutando contra a tirania burguesa/militar orquestrada pelo imperialismo estadunidense, viemos manifestar repúdio a qualquer referência elogiosa que se faça a essas duas décadas de extrema repressão. Também nos manifestamos a favor da abertura dos arquivos onde se encontram documentos relativos a esse período recente da nossa história, assim como a identificação e punição – com o mesmo rigor aplicado aos criminosos civis pobres – de todo agente do estado, de qualquer patente, que cometeu crimes em seu nome.
Coletivo de Hip-Hop LUTARMADA e GBCR
Muito obrigada por postar nosso trabalho!
ResponderExcluirVocês estão de parabéns pelo espaço político aqui criado, fazendo um bom uso da mídia pela midia alternativa.
Um abraço a tod@s
Sandra Ryra
LUTARMADA
Valeu por suas palavras de incentivo, Sandra. Continuamos nas sendas por vias de dispersão das barreiras que nos impedem de ver a nossa realidade através de prismas alternativos.
ResponderExcluirContinuem enviando material do trabalho de vocês e teremos satisfação em publicar.
Saudações,
Rubens