Quanto vale
um professor? A resposta a essa pergunta vai depender de outra: A QUEM ela é
feita? Se a um japonês, a resposta será que o professor, que a educação, que a
escola, são de um valor incalculável, já que foi através do investimento maciço
na formação intelectual de seu povo, depois de 1945 que, seu país, destroçado
pela II Guerra Mundial, atingido por duas bombas atômicas, duas décadas depois
já era uma potência econômica, sendo hoje a 2ª maior economia do globo. Se
feita a um sul-coreano, a resposta será a mesma, quase se seguindo a mesma
história se direcionada aos moradores da Suíça, da França, do Canadá, da
Bélgica, Holanda ou de qualquer país hoje dito civilizado. Mas e se a pergunta
for feita a alguém no Brasil? Sim, e para nós, brasileiros, quanto vale a
educação, quanto vale um professor, uma escola, um diploma?
A resposta?
Depende de quando e a quem ela seja feita. Se a um político, por exemplo, a
resposta irá variar de acordo o tempo. Se antes ou depois de sua eleição...
Pois antes de eleito, a educação (e suas duas irmãs gêmeas a saúde e a
segurança pública) são, para o candidato a um cargo eletivo, “a mola mestra que
move o mundo, nada havendo ou de fato vindo a ser senão por ela, com ela,
através dela. Ela, a educação, é a sua diretriz de vida, por ela matando, por
ela morrendo, já que a educação é sua pátria e ele seu combatente mais fiel”.
Mas assim como a lua cheia faz do homem de mau coração, um animalesco
lobisomem, a besta fera que no mau político hiberna ou habita, é libertada aos
primeiros raios de luz da “vida nova”, a de parlamentar, uma vez vitorioso nas
urnas. As promessas são esquecidas, tudo pode ou há de se aguardar um pouco
mais, muito mais, quando o assunto é a educação, a escola, os alunos, os
professores, seus salários, seus planos de carreira, suas vidas, o povo.
500 anos
depois de Cabral, a mando do Rei d. Manoel, o venturoso, ter aqui chegado, as
estratégias de dominação social pouco mudaram. Na verdade, basicamente mudaram
de mãos. Antes eram os lusitanos que nos exploravam, agora somos explorados por
irmãos de pátria. É certo que não se vendem mais negros nos mercados de
escravos, que os indígenas não são mais caçados como feras, em suas matas, é
certo e indubitável que o trabalho imposto cedeu lugar ao salário digno (Ops,
eu disse digno? Desculpem, ato falho). Mas se o chicote real foi aposentado,
hoje ele assume outras feições, o que ao dono da casa grande é muito cômodo. As
senzalas podem até não existirem mais, mas os senhores se multiplicaram e
também seu capatazes, ambos continuando igualmente cínicos e cruéis. Hoje a
casa grande... é o Estado.
Dizer que a
educação liberta, que a educação edifica, constrói, que ela faz do homem
imperfeito um ser melhor, um liberto libertador, é um discurso que já usei.
Usei, não uso mais. Hoje falo da educação, da escola, com muito cuidado, zelo,
ponderação. Hoje penso que a dita educação de qualidade que defendemos como
edificadora, como construtora de seres humanos fieis à ideia de plena
LIBERDADE, de JUSTIÇA SOCIAL, em si, não garante a quem à receba, a titulação
meritória de “homem bom” ou “do bem”. Proponho um exercício simples: Examinem a
formação dos nossos algozes, os ocupantes dos cargos públicos, do legislativo,
chegando ao executivo, passando pelo judiciário. No último caso, o diploma
jurídico é um pré requisito básico, não o sendo nos outros dois. Mesmo assim, o
titulo de Doutor não filtrou de muitos a corrupção inata, não lhe retificou o
desvio de caráter. Não raro, vemos e ouvimos, contrariados, a réus de toga, a
juízes envolvidos com o crime. Nos outros dois casos, das Câmaras municipais
aos cargos de alto escalão, está se tornando cada vez mais rara a presença de
um não diplomado, embora muitos assim ainda existam. Tem se tornado mesmo muito
comum nos cargos públicos eletivos, a presença dos mais diversos diplomados:
são médicos, engenheiros, advogados, professores... Sobre esses últimos, aqui
me detenho. Se temos tantos educadores em nossos cargos políticos, por que a
educação em nosso país ainda vai tão mal? Por que a luta por condições
positivas de trabalho, de uma educação de melhor qualidade, de um salário (verdadeiramente)
digno, tem, desde sempre, de ser exatamente isso: uma luta, uma batalha sem
fim? Falar aos nossos governantes da necessidade de uma educação de qualidade?
Da importância do saber, do bom aprendizado, da escola como um portal para um
mundo melhor, da educação como um direito do cidadão, um DEVER do Estado?
Mas... para que tanto verbo, tanto latim? De tudo isso ELES já sabem. E nos
mostraram saber de tudo isso, nas suas campanhas eleitorais. Sabiam, sabem, mas
uma vez eleitos, comodamente de tudo isso se “esquecem”. A industria da seca
não é a única fonte de votos. A ignorância também elege, também mantém no
poder. Isso já é algo tão claro, TÃO CLARO E CERTO, que nem merece mais tantas
linhas a respeito.
Mas insisto:
quanto vale um professor e seu diploma? Ao mal aluno, nada vale. Pois para ele,
o professor é o entrave às suas eternas manhãs ou tardes de ócio destrutivo ou
de horas e horas e horas... de futebol. Ao senhor de engenho, dono do capital,
que precisa de mão obra barata para colher sua safra ou para simplesmente
vender os seus produtos? Pouco vale, pois a este o trabalhador precisa ter
apenas mãos para plantar, colher e boca para vender ou cobrar. Diploma? Diploma
para quê? Ao traficante, o diploma e o professor são sua ruína, da mesma maneira
que à cafetina, ao gigolô, ao cafetão. A escola, o professor, um diploma, são
entraves na vida de qualquer mal caráter social e estes são muitos, muitos
mesmo, uma verdadeira legião.
Um diploma,
na verdade, não é um passe livre para uma sociedade mais justa. Um diploma, de
fato, é um arma. Nas mãos de um ser humano de bom coração, o conhecimento é a
luz que edifica e liberta; nas mãos de um perverso, de um imoral, do
conhecimento cresce a trave, nasce a treva. E é justamente de posse de tantos
maus conhecimentos, de tanto mal saber,
que os nossos governantes se valem dos diplomas que tem (ou não tem) para
continuar a (des) encaminhar a massa aos campos de trabalho quase forçado,
disfarçada escravidão, com o nosso constitucional e legitimado salário mínimo,
ou aos novos currais, campos para criação de bois em confinamento, de onde seu
sangue é retirado, usado como “óleo para por na máquina do Estado”, a cada nova
eleição, como diriam os titãs, em sua obra “desordem”.
Quanto vale
um professor, quanto vale o meu diploma? Ao que parece vale muito pouco, pois o
Estado não o valoriza; grande parte da população, explorada, não compreende essa situação, não vê o educador
extenuado, a escola mal estruturada, a educação doente, lobotomizados que
foram, graças a tantas propagandas do governo, entre uma novela e outra, entre
um e outro jogo de futebol... No lugar do professor grevista, muitos só veem um
pernóstico de fala difícil, um usurário preguiçoso, que quer ganhar mais
trabalhando menos; ao invés da escola vazia, esvaziada, vê apenas uma creche
fechada, para onde não podem mandar os seus filhos ao longo do dia.
Na verdade,
tem-se a impressão de que travamos hoje a eterna mesma guerra, contra os mesmo
inimigos, com os mesmos poucos soldados, com o costumeiro número de traidores e
traições. Sem falar dos inúmeros professores parasitas (sim, também temos os
nossos demônios internos), que se vendem
ao sistema, aos senhores do engenho, se tornando seus capatazes, nossos carrascos,
por trinta moedas ou um pouco mais, ou simplesmente assistindo a greve do
conforto de seus sofás, deixando aos pés dos outros, o peso da marcha, e os
tiros, vindos de todos os lados, no campo de batalha, bem como o chicote na
face, nas costas, já tão marcadas. Finda a batalha (pois a guerra em si, parece
nunca ter fim), se os grevistas forem derrotados, sobre eles os parasitas hão
de, como sempre, jogar a culpa da incompetência; se o resultado for a vitória,
eles, os sanguessuga, os vampiros, os vermes, pleitearão também os louros da
fama, o manto dos vencedores, a medalha dos combativos heróis.
Os outros não
sei, mas EU sei o valor de se possuir um diploma, ou de vários, como é o meu
caso. Mas confesso que ao ver que tantos, tanto os desvalorizam, às vezes sinto
mesmo vontade de lançar os meus ao inferno, às suas chamas. Aliás, o fiz. A
foto acima é minha. Estes são alguns dos meus diplomas.
Josafá Santos
Josafasantos71@yahoo.com.br
Historiador, Esp. Em Educação
Vit. Da Conquista - BA 24.04.2012
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