Nesta quarta-feira, a greve da
USP de professores, funcionários e estudantes chega ao seu 72º dia, mas para a
reitoria da universidade e para o governo do estado, parece que tudo está
normal.
A última segunda-feira, 4 de
agosto, deveria ser o dia de retorno às aulas na universidade, mas – exceto
para algumas unidades tradicionalmente conservadoras – foi o dia de
refortalecer a luta por transparência, democracia, cotas e contra a crise
financeira e política da USP.
Já para o governador Geraldo
Alckmin, e o reitor, Marco Antonio Zago, foi dia de fingir que a Cidade
Universitária funciona normalmente. Na mensagem enviada por e-mail à comunidade
o reitor sequer cita a crise atual que levou a esta que já é uma das mais
longas greves da história da universidade.
Pelo contrário, dá as
boas-vindas ao segundo semestre afirmando que está tomando medidas para manter
a USP como a maior da América Latina. Não economiza na cara-de-pau ao afirmar
que “temos que comemorar, pois começamos o segundo semestre sob a égide de uma
ótima notícia: a volta da EACH ao campus da USP Leste”, sem dizer que o campus
continua contaminado com terras do Templo de Salomão. Ressalta com grande
destaque que a USP “tem proporcionado, a mais de 6500 alunos, acesso a
diferentes modalidades de bolsas, que permitem sua manutenção na universidade e
consolidam as políticas de assistência estudantil”, sem dizer que a USP conta
com cerca de 80 mil estudantes, sendo que nenhum dos calouros de Medicina é
negro e que até hoje o prédio da antiga reitoria não foi devolvido à moradia
estudantil.
Outro e-mail traz vídeo gravado
com o vice-reitor, que até cita a crise, mas coloca que a superação depende de
toda comunidade. Da parte da comunidade ele indica aceitar os cortes, se
contentar com o reajuste de 0%. Afirma claramente: “…O que devemos realizar, e
já estamos realizando, é não ampliar a nossa folha de pagamento e reduzir as
despesas de custeio…”. Por parte do governo e da reitoria ele afirma: “O
governo respondeu que cumpre de forma efetiva o repasse estipulado pela
Assembleia Legislativa. O que podemos (reitoria) afirmar…” em resposta aos
questionamentos justos sobre o repasse do ICMS que sustenta a USP. Não é demais
lembrar que o governador Alckmin é acusado de não repassar as verbas públicas
para a Santa Casa, que chegou a fechar o Pronto-Socorro.
Os trabalhadores, professores e
estudantes por outro lado não tem medo de defender a greve e dizer o que é
preciso fazer para resolvê-la. Todos os dias, em todas as assembleias e nas
atividades que foram organizadas para o reinício das “aulas” a mensagem é uma
só: Alckmin, aumente o repasse de verbas para a USP. Zago, negocie um reajuste
salarial de verdade! Ou a USP ficará parada.
A adesão à greve só cresce. São
piquetes feitos nas unidades, trancaços no P1 (portão principal da Cidade
Universitária que dá acesso ao Campus e é utilizado pela população que circula
pela Marginal e por rodovias da região), salas de aula fechadas e professores
dando aulas sobre democracia e crise nos auditórios e até mesmo as Congregações
das unidades reforçando o coro contra a falta de reajuste salarial. A
Congregação da FFLCH enviou por e-mail uma carta aberta em que o Diretor da
unidade e 11 chefes de departamento dos cursos de História, Geografia, Ciências
Sociais, Filosofia e Letras, cobram da reitoria que deixe de citar apenas a
falta de verbas e passe a apresentar planos e propostas de saída para a crise,
além do detalhamento dos gastos da universidade.
A reitoria afirma que só
voltará a falar sobre o assunto na próxima reunião de negociação, marcada para
setembro e ameaça cortar o salário dos grevistas. Até lá a USP continuará em
greve. E os três setores da comunidade, esse sim, unidos na luta por uma USP
que honre seu passado de 80 anos, alcançando um futuro de democracia, remuneração
justa, cotas sociais e raciais, gratuidade e excelência no ensino.
Lucas Marcelino, estudante do
curso de Letras da USP e diretor da União Nacional dos Estudantes – UNE.
Fonte: A
Verdade
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