A Revista Binacional Brasil-Argentina: diálogo entre as Ciências (RBBA), publicação eletrônica semestral de caráter binacional vinculada aos Programas de Pós-Graduação Memória, Linguagem e Sociedade (PPGMLS/UESB) e Didáctica de las Ciências Experimentales (PPGDCE/UNL), rememora os 50 anos da ditadura civil-militar brasileira (1964-2014). Em se tratando de publicação binacional, a evocação da ditadura cívico-militar argentina (1976) soou quase que naturalmente, não por questão de periodicidade, mas por compor o mesmo cenário histórico latino-americano. Assim, este número foi pensado como um “dueto” envolvendo os dois processos.
Nessa (des) comemoração
(antítese de desmemoria), como processo emblemático de uma região na qual o
autoritarismo é uma marca registrada desde os processos da Conquista, passando
pela Colonização e adentrando-se à República, este número da RBBA tem por
horizonte o pressuposto de que recordar e silenciar não é apenas exercício
fortuito e casual, mas construído socialmente. Para lembrar a socióloga
argentina Elizabeth Jelin, a pugna pela memória trata-se de uma luta por nomear
e por interpretar o passado. E, nesse sentido, a relação entre as memórias e a
história – e memórias não tão distantes como a dos dois fenômenos
político-sociais que representaram as ditaduras brasileira e argentina – é
duração, como o afirmou Jacques Le Goff: passado a um só tempo pensado também
como presente.
No dialético sentido dos
artigos aqui publicados, as ditaduras não se deram por um estalo fortuito das
instituições militares que, num surto repressivo, resolveram implementar
atrozes regimes, produzindo profundos traumas sociais. Elas foram uma variante
da violência de classe, imposta pelo Estado em favor da manutenção da dominação
burguesa, manifestada em diversas dimensões. Não por acaso se deram em
sequência por sobre quase todos os países da região. Seus diversos mecanismos
respondiam à pedagogia do medo como forma de docilizar os corpos sociais
(através da coerção física, psicológica, econômica...) que se contrapunham
àquelas condições de vida. Assim, não podemos esquecer as diferenças entre as
duas ditaduras sobre as quais os autores aqui se debruçaram. Enquanto a
ditadura no Brasil (1964-85) fez uso pedagógico e regular da prisão e da
tortura ao longo de sua existência, a ditadura argentina (1976-83) fez uso mais
intenso da violência física com o objetivo de produzir uma paralisia social
imediata. Nesse sentido, pensamos que a produção de memórias, constituídas e
reproduzidas sistematicamente, diz respeito à perpetuação de aspectos-chave da
constituição e da reprodução dos marcos da sociedade atual que devem ser
revisitados por todos os que alimentam um senso crítico a respeito.
Apresentamos aqui o sumário deste novo número, como um convite à sua leitura por completo.
Sumário
Apresentação
Dictadura terrorista del capital financiero en Argentina (1976-1983).
(Ditadura terrorista do capital financeiro na Argentina (1976-1983))
Irma Antognazzi
Ideologia, memória, esquecimento e as ressignificações dos lugares. (Ideología, memoria, olvido y las
re-significaciones de los lugares)
Alexandrina Luz Conceição
Rastro de perseguição no DEOPS: trajetória, enquadramento na LSN e
resistência de um historiador. (Rastro de persecución en DEOPS: trayectoria, clasificación en LSN y la
resistencia de un historiador)
Lucileide Costa
Cardoso
Construcción de una cartografía represiva y
clausura de agendas en disputa en el Instituto Nacional de Tecnología
Agropecuaria (INTA) Argentino (1973-1983). (Construção
de um mapeamento repressivo e fechamento de agendas em disputa no Instituto
Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) argentino (1973-1983)
Cecilia
Gárgan
La política universitaria de la “Revolución
Argentina”. La Universidad Nacional del Litoral durante el Onganiato. (A política universitária da “Revolução Argentina”. A Universidad
Nacional del Litoral durante o Onganiato)
Natalia Vega
La universidad argentina durante la última
dictadura: actitudes y trayectorias de los rectores civiles (1976-1983). (A
universidade argentina durante a última ditadura: atitudes e
trajetórias dos reitores civis (1976-1983))
Laura Graciela Rodríguez
O anticomunismo do General Ferdinando de Carvalho no contexto da
abertura política (1977-1978): uma (re) leitura de “Os Sete Matizes do
Vermelho”. (El anticomunismo del
general Ferdinando de Carvalho en el contexto de apertura política (1977-1978):
una (re) lectura de "Los Siete Tonos de Rojo)
Sandra Regina Barbosa da Silva Souza
La Universidad Nacional de Rosario durante la
última dictadura militar argentina (1976-1983). Un acercamiento a los
conflictos al interior de la Gestión Interventora. (A Universidade Nacional de Rosario durante a ultima ditadura militar
argentina (1976-1983). Uma aproximação aos conflitos no interior da gestão
interventora)
Laura Luciani
Disciplinamiento, control social y “acción
sicológica”en la dictadura argentina. Una mirada a
escala local: Rosario, 1976-1981. (Disciplinamento, controle social e “ação
psicológica” na ditadura argentina. Um olhar em escala local: Rosário, 1976-1981)
Gabriela
Águila
Escritores y dictadura en Argentina: la
Revista El Ornitorrinco y el problema de la resistencia cultural (1977-1983). (Escritores e ditadura na Argentina: a Revista El Ornitorrinco e o
problema da resistência cultural (1977-1983))
Federico Iglesias
O processo de reorganização nacional argentina durante a ditadura de
1976. (El proceso de
reestructuración nacional argentina durante la dictadura de 1976)
Daniela Moura Rocha de Souza
Resenha: Luta armada em Salvador: uma história de resistência ao regime
militar no Brasil. (Lucha
armada en Salvador: una historia de resistencia al régimen militar en Brasil)
Manoel Reinaldo Silva Rego
Normas para Publicação (Directrices para Publicación)
Revista
Binacional Brasil-Argentina
Comissão
Editorial: José Rubens Mascarenhas de
Almeida (UESB), Lívia Diana Rocha Magalhães (UESB) e Luciano Alonso (UNL).
Diagramação
dos Textos: Adriana Santos Sousa (NTE/UESB)
Capa: Arte:
Edmilson Santana; Montagem: João Henrique da Silva Pinto (UESB)
Para acessar, clicar RBBA, ano 3, num 1
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