Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva
(reginaldoprof@yahoo.com.br)
Já faz algum tempo que venho observando o
que nós, brasileiros, estamos “consumindo” através das mídias de massa
(principalmente TV e rádio). E, para ser sincero, tenho sentido certo incômodo
com a maneira com que alguns valores, considerados até a pouco tempo como
necessários para manutenção da coletividade, têm sido desconstruídos por essas
mídias.
O que me leva a trazer esse sentimento de
incômodo a público não é o fato de achar que os valores são imutáveis ou de
pensar que no passado as coisas eram melhores. Pelo contrário, eu acredito
piamente na dinâmica da história humana e não sofro de qualquer mal do
saudosismo. O que me move neste momento é exatamente a preocupação em ver
conquistas da humanidade importantes porque permitiram a liberdade, a
emancipação de grupos até então discriminados, serem tratadas com banalidade e
até ridicularizadas.
Qual foi a minha surpresa quando por
ocasião do início de uma dessas novas novelas, li o seguinte comentário do
telespectador: “um sucesso, estou ansioso para o segundo capítulo, pois, no
primeiro, quase aconteceu um estupro!”. Na minha surpresa, fiquei me
perguntando o que seria uma mulher para aquele jovem. O que ele poderia
considerar como “um sucesso” ver (talvez ao lado de sua mãe ou namorada) uma
mulher ser subjulgada e violentada simplesmente pelo fato de ser uma mulher.
Isto é divertimento?
Será que chegamos ao fim do poço?
Músicas, novelas, seriados, reportagens,
shows, programas diários e semanais naturalizando a violência contra a mulher,
cheios de conteúdos homofóbicos e racistas invadem o nosso cotidiano. A falsa
igualdade de gênero e de etnia eivada de discriminações e preconceitos. Querem
exemplos? Na última novela de sucesso, quantas mulheres efetivamente
trabalhavam e eram senhoras de suas vidas não se subjulgando aos desejos
masculinos? E a empregada negra, verdadeira guardiã de sua patroa vilã, que
dava a entender que assumia esse papel não por ter uma índole ruim, mas por
total incapacidade intelectual? E o que dizer da ideia propagada do consumo pelos
homossexuais nos programas de TV: a de que é possível aceitá-los desde que se
mantenham em seus lugares e gastem bastante dinheiro? E esses são apenas alguns
exemplos.
Há muito se afirma que o brasileiro não
tem “cultura”, que ele “não se manifesta como deveria frente aos escândalos de
corrupção, a falta de gestão publica, as programações de baixo nível na TV, nos
jornais, rádios e nos Shows”. Onde estará a raiz do problema? Estará na baixa
qualidade do sistema de ensino no país? Estará nas influencias e tendências das
mídias que se utilizam da alienação para obter resultados a seu favor, ou seja,
audiência para seus programas e consumidores para seus anunciantes, alem de
votos para seus partidários? Ou será tudo isso apenas “sinais do tempo”, do
tempo que ainda não veio, mas que está se constituindo? Resta, porém,
perguntar: este é o tempo que você quer ver se constituir?
Você pode fazer a diferença! Lixo Cultural: infelizmente ainda não
chegamos ao fim do poço!
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