sexta-feira, 9 de novembro de
2012
Em matéria de serviço público
de saúde Vitória da Conquista é apontada com referência pelo governo do PT que
há 16 anos governa a cidade. Mas será que saúde em nossa cidade é tão boa
assim? Para por a prova as afirmações do governo não utilizarei dados estatísticos,
mas tomarei como base o que presenciei nesta semana.
No dia 04/11 eu recebi uma
ligação da minha noiva dizendo que o meu sogro não estava se sentindo bem. Ele
estava com a pressão arterial muito elevada e tinha perdido parte dos
movimentos do rosto e do lado esquerdo do seu corpo. Pela descrição dela,
provavelmente o meu sogro estava tendo um AVC.
A família da minha noiva mora
em Poções. É frequente as reclamações da população poçoense no que diz respeito
ao único hospital da cidade que atende pelo SUS. Por esse motivo, a família
dela queria que o meu sogro viesse imediatamente para Conquista, mas devido à
necessidade da urgência no atendimento eu recomendei que eles procurassem
primeiro o hospital de Poções.
Hospital São Lucas (Poções-BA)
Meu sogro deu entrada na
emergência do Hospital São Lucas em Poções na tarde do mesmo dia. Segundo minha
noiva o diagnóstico dado pelo médico de plantão foi de hipertensão arterial e
paralisia facial. Esses são sintomas de AVC. Os especialistas recomendam que o
paciente com suspeita de AVC seja encaminhado com urgência para a tomografia
para que assim sejam diagnosticados os danos sofridos no cérebro, e, a partir
daí, dar início ao tratamento. A urgência do diagnóstico no início do
tratamento é fundamental para evitar as sequelas causadas pelo AVC. Mas não foi isso que aconteceu com meu sogro.
O médico de plantão no Hospital São Lucas não o encaminhou para uma tomografia.
Ele apenas deu uma medicação para controlar a hipertensão e deu alta para o
paciente!
Após receber alta do Hospital
São Lucas sem ser encaminhado para exames mais precisos e sem nenhuma receita
médica indicando medicamentos para o controle da hipertensão, o meu sogro veio
para Vitória da Conquista.
Hospital São Vicente (Vitória da Conquista - BA)
Ao chegar a Conquista, levamos
o meu sogro ao Hospital São Vicente. Este hospital é um dos mais renomados da
cidade, mas que passa em frente mal pode imaginar o apartheid que impera em seu
interior. Ao entrarmos no hospital, na parte da frente (que é destinada aos
pacientes com plano de saúde e/ou dinheiro para pagar pelo atendimento) vemos
uma bela fachada, vários laboratórios, portas de vidro temperado e
estacionamento privado. Mas isso é na parte da frente, pois nos fundos (próximo
ao necrotério) temos a porta de acesso ao atendimento do SUS. Lá as coisas são
diferentes, toda a beleza que vemos no exterior é substituída por grades
enferrujadas, chão sujo e vários pacientes gemendo de dor, deitados em um banco
de madeira e esperando por atendimento. Dirigimos-nos ao balcão e pedimos
informações e nos disseram que havia nenhum médico de plantão naquele momento.
Procuramos outro hospital.
O segundo hospital que
procuramos foi o Hospital UNIMEC. A situação lá não estava muito diferente da
dos fundos do Hospital São Vicente. Havia várias pessoas esperando por
atendimento. A diferença é que lá tinham um médico de plantão, mas apesar disso
o hospital não possuía os equipamentos necessários para dar atendimento os meu
sogro. O que nos fez procurar o terceiro hospital.
Emergência do HGVC
Seguimos para o Hospital Geral
de Vitória da Conquista (HGVC), também conhecido como Hospital de Base. Este
hospital não é só responsável por atender aos pacientes de Vitória da
Conquista, mas pela demanda de várias cidades de região. Chegamos lá no início
da noite. Assim como nos outros hospitais, nos deparamos com vários pacientes
aguardando para serem atendidos. A recepção estava muito maltratada. Os
banheiros estavam imundos, os assentos estavam rasgados e as portas danificadas.
Como a demanda desse hospital é
bem maior dos que a dos outros, os pacientes devem passar por uma triagem para
ser avaliada a prioridade no atendimento. Meu sogro passou pela triagem e em
seguida ele foi encaminhado para o atendimento com o médico plantonista.
Pacientes internados nos corredores do Hospital Geral de Vitória da Conquista
Como só é permitido um
acompanhante por paciente, eu tive que aguardar do lado de fora, mas passado
alguns minutos eu adentrei na parte da emergência onde os pacientes recebiam
atendimento. Estava um caos! Os corredores estavam abarrotados de macas com
pacientes gemendo e agonizando. Detalhe é que esses pacientes nas macas estavam
internados! Isso mesmo, os pacientes internados ficam nos corredores para
receberem tratamento! De certa forma isso não foi uma surpresa muito grande,
pois há aproximadamente um ano atrás eu fui visitar o meu tio avô que estava
internado no mesmo hospital e me deparei com a mesma cena. Mas o que eu não
sabia era que esses pacientes estavam internados.
Se os pacientes internados
ficam em macas nos corredores, onde ficam os que estão recebendo tratamento no
pronto-socorro? Ficam todos sentados lado a lado no mesmo assento de madeira! O
soro é fica pendurando num clipe de papel que é preso a parede com um pedaço de
esparadrapo! Quando um novo paciente chega o restante tem que se apertar no
banco. Foi nesse banco que o meu sogro foi atendido.
Meu sogro ficou sentado alguns
minutos esperando o soro acabar. Só que ele ficou muito mais tempo com o soro
vazio esperando o médico reaparecer para ver qual o procedimento que deveria
ser tomado após a medicação. Enquanto ele esperava aconteceu o inesperado,
faltou energia no hospital! Como é possível faltar energia num hospital
responsável por atender toda região sudoeste do estado? E sempre imaginei que
hospitais possuíam geradores de energia para essas adversidades.
O que era ruim ficou pior. Como
dar atendimento àquela quantidade de pacientes sem energia elétrica no
hospital? Passaram-se aproximadamente 2 horas e energia não retornou. Nem a
energia, nem o médico, muito menos alguém para dar uma explicação ou um
posicionamento sobre a fala de energia.
Durante esse tempo no escuro,
eu procurei algumas enfermeiras para que a pressão arterial do meu sogro fosse
aferida novamente. A resposta que eu tive foi que era impossível aferir a
pressão dele no escuro.
Apesar da escuridão, havia
várias pessoas circulando por entre as macas nos corredores segurando lanternas
e celulares para iluminar o caminho. Eu disse a enfermeira que eu possuía uma
lanterna no meu celular e que eu iluminaria o mostrador do tensiômetro. Em tom
de extrema arrogância – tom que eu iria ouvir de muitos durante o tempo passado
naquele hospital – ela me disse que não faria isso, pois o hospital possuía
apenas um tensiômetro que estava numa sala que não possuía luz. Perguntei como
era possível um hospital daquele tamanho e responsável por atender a toda
região sudoeste só possuir apenas um tensiômetro. Em seguida perguntei o motivo
de tanta arrogância. Recebi uma resposta mais arrogante do que a anterior.
Segundo ela, eu a havia tratado ela
ignorância (só porque eu achei absurdo um hospital daquele tamanho só ter um
tensiômetro). Um segurança do hospital interveio (em favor dela, é claro) e com
uma brutalidade absurda me disse que eu estava causando tumulto no hospital.
Tudo que eu queria era que o meu sogro recebesse um atendimento decente.
Após esse incidente o médico
reapareceu e deu alta para o meu sogro, com a desculpa de que sem energia
elétrica não era possível fazer nada por ele. Além disso, o médico nos disse
que deveríamos procurar atendimento num hospital particular. Após vários
protestos voltamos para casa.
Fonte: Blog
Bílis do Jack
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