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terça-feira, 1 de maio de 2012

A Presidente Dilma e o 1º de Maio: a miséria de um discurso


Foto: Wilson Dias/ABr, para a Jovem Pan
José Rubens Mascarenhas de Almeida

Assisti ao pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff, ontem (30/12/2012), cuja razão formal foi o 1º de Maio (Dia do Trabalhador). Prostrei-me de frente à televisão sem esperanças de ouvir nada de novo, confesso, já que o referencial político do atual governo nada tem a ver com a nomenclatura dos partidos (sou tentado a rotular de agremiações) que hegemonizam.
Mas, tratava-se do 1º de Maio, dia da maior referência da classe trabalhadora por tudo o que representa, política e historicamente, e cedi à tentação.
Ouço cada palavra e minha indignação cresce. Mas, isso não acontece porque tenha me surpreendido. Não. Desde o começo dessa reflexão adiantei que não esperava nada de novo, no entanto não esperava um discurso tão irremediavelmente miserável: o governo representante do “Partido dos Trabalhadores” fazer um discurso no dia do Trabalhador, cujo conteúdo nada tem daquilo que propõe. Até mesmo as raízes históricas do PT foram desrespeitadas. Vejamos:
a) O discurso insosso, inodoro e com gosto de chuchu que ouço não é o de um partido que se entenda por "dos trabalhadores", aliás, não é de nenhum partido ou de é de todas as agremiações que acompanham o fisiológico governo neoliberal (por mais que digam que este tenha expirado) da presidente Dilma Rousseff.
b) O escopo lógico para um discurso do dia do trabalhador deveria ser o de enaltecimento dos feitos da classe trabalhadora, de sua história de lutas, de sua trajetória para não se submeter  à exploração do capital e da luta contra os mecanismos de dominação da sua classe antagônica: a burguesia. Seria a lógica para qualquer discurso que realmente entendesse a luta dos trabalhadores e que falasse desse locus. Mas não. O Executivo brasileiro faz um discurso, em rede nacional de radio e televisão, no Dia do Trabalhador para falar de um monte de coisa que nada tem a respeito da classe que vive do trabalho. Pelo contrário, o conteúdo da sua fala é tipicamente tecnocrático – como tem sido os governos do sindicalpetismo.
c) O discurso da chefe do Executivo brasileiro falou da ótica gerencial de qualquer empresa, um discurso tecnocrático – daqueles que se dão ao luxo de ver em tudo problemas técnicos e mais nada) –, subsumindo a política pela burocracia, contendo garfes também irremediáveis, a exemplo de “cuidar do desenvolvimento das pessoas significa lutar por uma saúde melhor pros brasileiros pobres de classe media”; “Enxergá-lo também, como consumidor, com condição de comprar todos os bens e serviços que sua família precisa pra viver de maneira cômoda e feliz”. Para a Presidente viver feliz é viver consumindo, acriticamente. Para ela o mundo ideal – e real - é o dividido entre produtores e consumidores: “É bom também que você consumidor faça prevalecer seus direitos” e “Quando atingirmos esse patamar, nossos produtores vão poder produzir e vender melhor e nossos consumidores vão poder comprar e pagar com mais tranquilidade”. Por fim, a fala presidencial dá a conotação que tem de uma economia sólida e defende a fração burguesa no poder (a financeira): “Nos últimos anos, o nosso sistema bancário é um dos mais sólidos do mundo, está entre os que mais lucraram. Isso tem lhes dado força e estabilidade. O que é bom para economia” [1]. Faltou-lhe o discernimento e compromisso ideológico com suas raízes para asseverar "economia burguesa).
No discurso presidencial do Dia Internacional do Trabalhador, a memória e a história das lutas operárias foram as grandes ausentes, quer seja em escala nacional, quer na mundial. Sequer a origem da comemoração foi lembrada, quando o discurso formal se justificava por este motivo. Mas, NADA! No discurso para o 1º de Maio da chefe do Executivo Nacional do Brasil, o Dia do Trabalhador foi transformado no Dia do Consumidor! LAMENTÁVEL!
d) Por outro lado, pasmem, o conteúdo do discurso presidencial da representante maior do “partido dos trabalhadores” no 1º de Maio versou sobre o mundo ideal da burguesia, sobre a fantasia da conciliação de classes e encenou um “ferrenho combate” aos juros altos no Brasil. Enfim, um discurso alienado, previsível e miserável, irremediavelmente miserável. TRISTE!

[1] O discurso da presidente, na íntegra, está publicado na JOVEM PAN.

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