Imagem: odiario.com |
Fátima Moraes Garcia*
Porque escrevemos? Para quem
escrevemos? Para que os outros leiam. Para
tentarmos explicar coisas para nós mesmos. Escrevemos para manifestar opinião, sentimento,
idéias e concepções. Pelo menos parece
que nesta forma de comunicação temos um pouco de liberdade, ainda que forjada
pelo que nos reprime, sublima e tenta nos calar.
No meu caso, a vontade, o
desejo de comunicar com o outro sobre o que esta em meu pensamento, em meu
coração em meu espírito me faz ir muito, mas muito longe e ao mesmo tempo aqui,
exatamente aqui nesta realidade, na pratica social que me identifica como
trabalhadora da educação.
Não importa se agora estou
triste ou feliz, com salário ou sem salário, a minha vontade que ainda me
pertence de expressar palavras é mais forte.
Não são quaisquer palavras, são
aquelas que neste momento histórico de minha existência, as percebo, as reconheço
como significante não só para mim, mas para todos que ao lutar e lutar
encontram ainda na luta o meio, a circunstancia, a estratégia de conquistar
condições dignas de vida. Sobre essas coisas que fazem parte de nossas vidas e preciso,
então, dividir com mais alguém...
De que lugar do planeta terra
escrevo tais palavras? Da Bahia-Brasil, lugar de forte expressão cultural, de muitas lutas que se travaram e se travam entre
pobres e ricos, entre trabalhadores e elites desde os tempos da colônia. Mas como a historia não é factual
presenciamos um processo que afirma um determinado projeto histórico de
sociedade. Em que a atual política implantada na Bahia por este partido de
“esquerda” – PT – representada pela nefasta atuação de um governador traidor se
encontra absolutamente subordinada as leis neoliberais do projeto histórico capitalista.
Não é por acaso que também na
Bahia a classe trabalhadora sofre com as políticas em curso... Oh! Vão dizer!
Nada haver falar de política sob essa ótica. Bom, se fossemos ver as coisas
sob o ponto de vista só dos partidos políticos, certamente falar em política
soaria um tanto estranho!
Mas não dá para ser uma coisa
ou outra. Somos seres constituídos de tudo que faz parte das relações de existência,
de vida. Portanto, não posso falar de em lugar em particular, sem falar, do
social, do econômico, do político, do cultural, as partes estão engendradas no
todo. Estamos envolvidos, embebidos de tudo que o outro faz, pensa e diz, somos
a própria construção social, porém sob a falsa idéia da liberdade e do
progresso.
Não sou alguém lá no alto
apenas contemplando a paisagem, estou aqui, entre outros seres humanos, entre a
natureza, entre coisas, estou com o pé fincado no chão, estou na escola, na
universidade. E assim vou me construindo como sujeito, como ser que pensa, que chora, que se alegra, que precisa pagar as contas, que trabalha...
e que enxerga os rostos que tentam se esconder
por traz da fumaça que verte de seus indignos pensamentos. Não aceito a
imposição, a subordinação, a enrolarão e negligência de grupos (que
definitivamente não são coletivos) que se articulam com outros grupos [em que a
sigla do partido é o que menos importa, em que ideologias podem ser
facilmente compradas e ou vendidas] para tentar assegurar poderes, muito mais por vaidades do que por ideais, por
projetos e objetivos em comum.
Seria possível vivermos sem o
trabalho? Porque e para que trabalhamos? Para quem trabalhamos? Pelo senso
comum essa pergunta pode ser respondida com vários argumentos, como: trabalho
para viver, trabalho para me alimentar, trabalho para ter onde morar, trabalho
para sustentar minha família, trabalho para pagar a escola dos filhos, para ter
um carro, uma casa, mais conforto... Ótimo! É tudo isso mesmo e muito mais.
Quando trabalho, meu objetivo é para que mesmo? Para comprar, comprar, comprar,
consumir, consumir e consumir, será que é por isso que somos mercadorias? Nós trocamos o que fazemos - o trabalho – por salários, nos vendemos nossa
força de trabalho, então esta é um relação entre produtos, o próprio trabalho é
um produto, é uma mercadoria. Inegável essa conclusão.
Ainda que seja inegável que
somos mercadorias, é necessário esclarecer que se trata de uma cultura criada
pelo capitalismo.
A classe trabalhadora não
suporta mais ser mercadoria, não suporta mais ser cotada na “bolsa de valores” como
produto descartável, de fácil substituição.
Existe
ética onde as relações se dão entre coisas?
A empregabilidade tornou-se coisa natural,
quem não consegue emprego é por que não se esforçou o suficiente para
garanti-lo, não estudou, não se dedicou... e como existe um numero extremamente
maior de trabalhadores para um numero bem menor de empregos, somos comprados
com baixíssimos salários. E o valor do
trabalho passa a ser problema do indivíduo
– vejam bem não é da sociedade – assim é
a lógica que dilacera os trabalhadores da educação, e quando lutam por
sua valoração e gritam que não são mercadorias são punidos com o corte de seus
parcos salários. Mas se vivemos numa sociedade onde a relação é de compra e
venda, então sem o salário fatalmente
morreremos. Se isso ocorrer quem se importa!? Podemos ser facilmente substituídos.
Governador você estudou,
ingressou na escola (publica ou privada?) teve professores, certamente teve
formação universitária, talvez tenha também feito cursos de pós-graduação, e em nenhum momento reconheces o quanto a
educação que teve lhe deu oportunidades,
empregos e cargos políticos? Não seria
sua alfabetização, o aprender a fazer contas, redigir textos e organizar o
pensamento, originários da relação com a escola, com os professores, com o
conhecimento?
Governador como o senhor
adquiriu conhecimento? Só não precisa
responder o que vem fazendo com esse conhecimento isso já sabemos.
Governador gostaria de ter o poder
de também cortar seu salário por muitos meses, quem sabe até por muitos anos se
fosse necessário para que, talvez, viesse a encontrar a dignidade, a ética, a coerência, o bom senso que deve
ter um representante político.
Os professores querem lhe
ensinar uma lição muito importante para sua vida, talvez essa você nunca mais vái
esquecer, preste bem a atenção: “Não existe borracha que apague a História”.
Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB/Campus Jequié.
Nenhum comentário:
Postar um comentário