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Por Celiana Santos
Prezados e prezadas colegas,
Dirijo-me a vocês com um
sentimento de orgulho por ser professora. Orgulho que já se esvanecia, diante
de tantos desmandos que vi e vivenciei durante toda a minha carreira.
Mas, agora, ao ver de novo este
espírito de luta, ancorado na consciência de classe e no valor inquestionável
de nossa profissão e do caráter ideológico que ela encerra, venho esboçar
algumas impressões sobre este movimento, em campo há mais de sessenta dias,
desafiando a própria força individual e lutando com forças opressoras que, jamais
pensamos retornar um dia.
Lutamos com dignidade perante a sociedade omissa, perante as mídias
que silenciam sobre realidade tão perversa.
O lugar comum é repetir o
jargão: "o único prejudicado é o estudante!"
Não, isto não é verdade! O
estudante não está prejudicado por causa da greve de professores. O estudante
da escola pública, no Estado da Bahia, sofre prejuízos há muito tempo! O
prejuízo é de ordem geracional! Há quantas décadas não se constrói uma escola
pública de qualidade? Que cidadania estamos construindo? Por onde perpassa a
qualidade? Em construções de prédios (e nem isto mais se vê!!!)? Em propagandas
enganosas de programas do tipo "Todos pela educação"? Que
investimentos são aplicados às pessoas que fazem, que desenvolvem a educação
nas salas de aula, nas práticas cotidianas do ensino? Professores(as) e
funcionários são todos trabalhadores(as) da educação. Pertencem a uma classe, a
classe trabalhadora, com todo seu arcabouço de direitos e obrigações, encargos
sociais, despesas e sobretudo, direito à qualidade de vida DIGNA!
Professores(as) querem e tem direito a uma vida saudável, traduzida por
condição de escolha perante direitos individuais e sociais: alimentação,
habitação, locomoção, saúde, cultura, lazer.
Ser professor não significa sacerdócio ou voto de pobreza. Basta!
O que está acontecendo com a
educação na Bahia mereceria uma sensibilização de órgãos internacionais, sem
exagero. É algo que me faz relembrar Castro Alves, em Navio Negreiro:
"Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, senhor Deus: se é mentira ou
se é verdade, tanto horror perante os céus?"
A greve de professores da Bahia não é a única no Brasil. Greves
estão pipocando por todo o país, numa clara demonstração de fim da tolerância
com o modelo de economia e as práticas da classe política escancaradas todos os
dias pelas mídias. A sucessão de escândalos, desvios de verbas, quebra de
decoro, corrupção, sem ações efetivas de responsabilização e reparação perante
a sociedade, afronta a inteligência e ataca a cidadania. Os "zilhões"
desviados são devolvidos aos cofres públicos?
É... está difícil realizar
educação....
O que está posto para além e
também, na greve de professores e nas outras silenciadas pelas mídias, é um
sinal de novos tempos. Ou um retorno. A luta de classes se anuncia, contagiando o país,
ninguém aguenta mais o modelo.
Por isso, apresento sugestão
(apesar de me encontrar fora do Estado), que se insista no diálogo com
representações políticas, que possuem um histórico de maior sensibilidade
frente às questões de movimentos de greve, desde vereadores a parlamentares
congressistas.
Fico por aqui, com a esperança
de que alcançaremos a vitória.
Fraternos abraços.
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