Reginaldo
de Souza Silva*
Com
a legalidade da greve decidida pelo STF, os professores das escolas públicas da
Bahia lutam há 78 dias, com salários cortados, contra a intransigência,
irredutibilidade e cinismo da ditadura do (des) governo do Partido dos
Trabalhadores na Bahia. Procuram a valorização da categoria através da melhoria
das condições de trabalho, garantia de um padrão mínimo de qualidade e salários
decentes, ou seja, que o governo baiano cumpra o piso nacional de educação, que
é de R$ 1.451 e o acordo feito com a categoria em 2011, sendo necessário um
reajuste de 22,22%, pois conforme a legislação o piso é básico, podendo
acrescentar a partir dele gratificações e benefícios.
O
governo reajustou o salário de apenas 5.210 professores com formação em nível
médio que recebiam R$ 1.187,90, piso extinto desde o mês de dezembro de 2011. A
realidade na Bahia é que acordos com o governo do PT não são cumpridos. A
paralisação conta com a adesão de 1.450 escolas da rede estadual, 37 mil
professores (sendo 32.584 licenciados), 1,1 milhão estudantes e seus
familiares, com uma ou outra escola e docente ministrando aulas.
O
governador Jacques Wagner do PT tem recebido vaias por onde passa, musicas
chamando-o de traidor e comparado como pior em relação a governos que o
antecederam. Diante do caos de sua administração, da falência da educação e
desvalorização dos professores, o governo tem utilizado os meios de
comunicação, programas de rádio e TV para jogar a população contra os docentes,
afirmando que os mesmos utilizam os alunos como escudos.
Procurando
minar o movimento, que não esperava chegar a esta magnitude e duração,
contratou via regime de prestação de serviço temporário professores sem
formação adequada para assumirem emergencialmente disciplinas do 3o ano do
ensino médio, com o discurso de não prejudicá-los nos exames vestibulares,
desconsiderando processo pedagógico, metodologias, avaliações etc. Para o
governo educação é uma mercadoria que qualquer um pode repassar.
Sem
uma formação educacional completa o (des) governador do PT na Bahia, desconhece
a realidade de seu Estado e do Brasil que ocupa o 53º lugar em educação, entre
65 países avaliados (PISA). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64
anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE), a Bahia tem um dos maiores
índices. Apesar de todas as ações e programas sociais de incentivo a matrícula,
de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, mais de 731 mil crianças ainda estão fora
da escola (IBGE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda
não conseguem ler e, 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que
moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos
pela Educação).
Professores
como o exemplo da Bahia não tem formação em nível superior, grande parte de
alguns municípios quando as tem são de qualidade duvidosa e recebem menos que o
piso salarial nacional. O governo federal sinalizou a disponibilidade de 1
bilhão de reais (MEC), para a complementação naqueles estados e municípios que
comprovarem não ter os recursos necessários. Na Bahia não há transparência da
aplicação dos recursos do FUNDEB.
A
greve é um direito humano de 3a dimensão, coletivo, importante para a
realização conforme capítulo II, título 2o da CF/88. Negar o salário é negar o
direito a sobrevivência. A fala de um líder docente em assembleia no dia 26 de
junho retrata a luta: “resta aos professores da Educação do Estado da Bahia
resistirem, pois não lutamos até aqui para desistir agora”.
Ao
que parece, com as práticas dignas de qualquer governo de ditadura, o Partido
dos Trabalhadores da Bahia desrespeita os direitos e “mata” os próprios
trabalhadores de fome!
Na
terra de todos os santos e dos orixás, a educação não é priorizada por
governos, pela sociedade, pelos poderes legislativo e judiciário, nem tampouco
com a intercessão da igreja católica! Nada ainda foi feito para resolver o
problema.
Mesmo
com toda base legal estabelecida (Constituição Federal, Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, Plano Nacional de Educação, Lei do Piso) apontando para a
relação entre a qualidade da educação e os salários dos professores, a justiça
brasileira, sem conseguir enxergar o Caos da Educação no Estado, insiste em
punir justamente quem quer construir uma escola e educação de qualidade para
todos: os professores.
Porque
a justiça condena professores e não o governo Jacques Wagner pelo desmantelo e
abandono da educação estadual pública na Bahia?
Com
uma justiça “cega” para não dizer inerte, um legislativo tutelado e omisso, uma
sociedade que não consegue enxergar para além do carnaval e copa do mundo,
resta ao professores e professoras do Estado da Bahia resistirem, a exemplo de
1822 com a abadessa Sónor Joana Angélica e Maria Quitéria de Jesus Medeiros.
Ocupem
as ruas no Dia 2 de Julho, na capital e no interior e demonstrem a resistência
histórica, marca indelével da luta do povo baiano pela liberdade e democracia.
*Doutor
em Educação Brasileira, professor do Departamento de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Email:
reginaldoprof@yahoo.com.br
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