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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Padrão de avaliação de “produtividade” da CAPES causa estragos - e não é de hoje




Padrões de avaliação de “produtividade” da CAPES vem causando sérios estragos à saúde (física e mental) dos professores, além de promover cenas de desrespeito ao trabalho de pessoas que, durante boa parte de suas vidas contribuíram para o bom desempenho da educação.

Acuados pelos critérios puramente quantitativista fundados no espírito neoliberal, os Programas de pós-graduação tornam-se reféns da pernóstica política e acabam por reproduzir práticas nocivas ao fazer acadêmico e resultados desastrosos. Este foi o caso dos programas de pós-graduação stricto senso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), instituição confessional e que tem história no Brasil não só no campo da pós que anteciparam o próximo processo de avaliação da CAPES. O caso específico se refere PEPGCS (Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUCSP). O Manifesto a seguir explica o mais novo episódio. A carta da vítima de que se trata este episódio completa as informações e mostra uma indignação que não é só dela, mas de todos os professores do país.
Segundo professor da PUCSP, que não temos autorização para identificar, “Se alguém escreve mais um livro de O Capital ou A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, isto pouco ou nada vale. Se escreve três artigos por ano e publica em revistas Qualis A, com várias das quais tem relações não exatamente científica, fica numa boa e ajuda o Programa de que participa a ficar bem classificado. A competição é feroz dentro dos programas e entre eles, pois implica verbas, bolsas, direito de ter ou não ter doutorado etc.”.

Mais informações, clique Jornal Semanal da APROPUC e AFAPUC
 

MANIFESTO Á COORDENAÇÃO DO PEPG EM CIÊNCIAS SOCIAIS 

Nós, ex-alunos do PEPG em Ciências Sociais da PUC-SP e da Graduação do Curso de Ciências Sociais, VIMOS EXPRESSAR NOSSO REPÚDIO E INDIGNAÇÃO ao descredenciamento do MESTRE E Professor Doutor Miguel Wady Chaia, Do corpo docente deste programa.
CONCLAMAMOS A TODOS DA COMUNIDADE PUQUIANA E ACADÊMICA para que assinem este MANIFESTO, exigindo a ratificação de critérios injustos e arbitrários que menosprezam o patrimônio de valoroso capital humano representado pelo Professor Dr. Miguel Chaia.
Não aceitamos e protestamos pela revogação da ação arbitrária do Comitê, que descredenciou e julgou o Prof. Dr. Miguel Wady Chaia como “pouco produtivo”.
A Universidade que conhecemos e estudamos se distinguia das demais pela presença de professores ativos e produtivos, que dedicaram suas trajetórias à construção do corpo e da alma da PUC-SP.
Graças aos esforços pessoais desses professores, o PEPG em Ciências Sociais se destaca na construção de um projeto democrático de ensino, por uma universidade plural, aberta e dedicada à construção de saberes multidisciplinares, acolhedora de variadas matizes e ideologias. Este ideal torna a PUC/SP bastião de resistência ao pensamento único de dissensos destruidores da diversidade científica e que esvaziam o campo das ideias da vasta área denominada humanidades.
A permanência do Professor Dr. Miguel Chaia no Programa é fundamental para a continuidade da formação generacional de estudantes capacitados com saberes científicos, críticos e engajados, por sua relevante importância na atuação das áreas das ciências política, da cultura, da sociologia e Ciências Sociais como um todo.
A rica e dedicada experiência acadêmica do Professor Miguel Chaia é respeitada e reconhecida incontestavelmente nos meios científicos e acadêmicos das universidades do Brasil e exterior. Não somente como professor e formador de alunos, como por seus livros e relevantes artigos, nas atividades do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP), no desempenho criterioso de encargos burocráticos, destacando-se recentemente na direção e administração da EDUC, elevando o prestígio desta instituição com a publicação de livros e coletâneas de inegável qualidade acadêmica, muitos dos quais premiados em todo o país.
Excelência não ocorre sem dedicação. A qualidade das aulas ministradas pelo referido mestre, as pesquisas por ele produzidas, suas orientações (mestrado, doutorado e pós-doutorado), os inúmeros artigos e livros constante de seu lattes, as participações em Bienais e Congressos, são atividades que garantiram a consagração e o prestígio do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais por todo o país, atraindo alunos e ajudando a pontuar e bem avaliar o Programa na CAPES.
Estes critérios deveriam ser justificativas válidas para os digníssimos membros da 'Comissão de Avaliação de Produtividade' manterem o credenciamento do Professor Miguel Chaia no PEPGCS. Não aceitamos este bizarro mercantilismo avaliativo, que nivela por baixo o que há de melhor na PUC-SP, esquecendo-se da lição de que só pode haver think tankers com investimento no capital humano das instituições.
Como diria Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons". Nossa revolta nos impede de nos juntarmos ao “silêncio conivente dos bons”, de sentença injusta porque instrumentalizada por uma genealogia do Terror, em que se bifurca a própria destruição da PUC/SP que conhecemos e corrompe o caráter do que foi o PEPG em Ciências Sociais. E, no limite, destrói a excelência e renome de professores que a consagrou.
Em nome dos ex-alunos desta instituição, que tiveram o privilégio de conhecer ou ter tido como Mestre o Professor Miguel Chaia, manifestamos nossa solidariedade, exigindo uma retratação.

Quando desta postagem, o Manifesto contava mais de uma centena de assinantes solidários com o professor Muguel Chaia.

Carta do professor Miguel Chaia, vítima nesse processo

 
São Paulo, 27 de outubro de 2014.



À Coordenação do PEPG em Ciências Sociais (PUCSP)
O soco acadêmico me pegou de jeito, bem no fígado: rebaixamento a professor colaborador, eufemismo para descredenciamento. Experimentei o constrangimento de perder as credenciais num bom momento da carreira, sentir-se um convidado em sua própria casa.
Considero injusta a sentença lançada sobre as minhas atividades acadêmicas, emitida pela comissão de avaliação e pela coordenação do programa. Discordo do resultado e do processo que levou a esta sentença, mesmo que ele tenha se dado no interior de uma tendência atual nas universidades.
Além do mais acho omissa, burocrática e insensível a coordenação do programa, tão apegada ao exercício do pequeno poder que nem suspeita que dois mais dois são cinco. É preciso ter sabedoria e boa vontade para defender sim, simultaneamente, os interesses da instituição e de seus pares.
Acho injusta a sentença, pois no período da avaliação, produzi um dos melhores textos da minha trajetória – longo, denso e criativo – fruto de mais um ano de pesquisa meticulosa sobre arte e micropolítica. Ele foi publicado pela Editora Cosac Naify, que tem Prêmio Nobel em seu catálogo.
Acho injusta a condenação, porque no período em questão organizei um substancioso livro sobre cinema e política, do qual produzi um capítulo. Selecionei os textos, li, reli, tive dúvidas e após um bom tempo já está no prelo pela Editorial Azougue (RJ).
Acho injusta a sentença, pois nesta época toda, fui diretor da EDUC, fantástica editora universitária da PUC-SP. Nesta fábrica magnífica de pontuações para a CAPES, incentivei a publicação de dezenas de livros e revistas. Professores da casa e de outras universidades receberam, pela EDUC, inúmeras pontuações.
Acho injusta a condenação, pois no período em questão participei da diretoria da Bienal Internacional de São Paulo e de seu comitê curatorial que elegeu em suas edições o tema “Arte e Política”, sem remuneração, levando o nome da PUC-SP e do NEAMP para além dos muros da universidade.
Acho injusta a sentença porque participo como um dos pesquisadores principais do Projeto Temático/FAPESP “Lideranças Políticas no Brasil: características e questão institucional”.
Acho injusta a condenação, pois há três anos estou aperfeiçoando um longuíssimo texto sobre o Poder Político em William Shakespeare, a partir do seu aprendizado com Maquiavel. Só agora é que ele está quase pronto para ser encaminhado para eventual publicação. Para mim o processo intelectual é lento, gostosamente penoso, que exige reflexão demorada e uma íntima contemplação.
Critico a coordenação por não defender seus pares, por não dificultar a aplicação da pena, por deixar que professores sérios e históricos recebessem penas imerecidas.
A coordenação foi ineficiente ao aplicar a penalidade quando já estavam planejadas as atividades acadêmicas para o primeiro semestre de 2015.
A coordenação foi deselegante na forma como conduziu a comunicação da sentença aos professores.
Conclusão: por isso tudo inicio um processo para me desligar do PEPG em Ciências Sociais. Não tenho mais a mínima vontade de atuar junto ao programa. Ficarei apenas o tempo necessário para orientar os excelentes mestrandos, doutorandos e um pós-doutorando sob a minha responsabilidade.
Sou produtivo e escrevo muito, para o meu aprendizado e formação intelectual, para os meus interlocutores e, principalmente, para o meu prazer. Não gosto de ser medido por números rasos. Mesmo que eu já tenha construído um significativo espaço para contribuir com o desenvolvimento do programa, desde o início dos anos 90, agora não quero mais trabalhar nele. Simples assim, com certa leveza: bye, bye pós-graduação.
 
Miguel Chaia


terça-feira, 28 de outubro de 2014

VII Conferencia Latinoamericana y Caribeña de Ciencias Sociales

Se llevará a cabo en la ciudad de Medellín, Colombia, del 9 al 13 de noviembre de 2015 la VII Conferencia Latinoamericana y Caribeña de Ciencias Sociales "Transformaciones democráticas, justicia social y procesos de paz". El evento está promovido por CLACSO (Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales), la UNESCO, la Organización de Estados Iberoamericanos, la Alcaldía de Medellín, el Gobierno de Antioquia y todas las instituciones colombianas asociadas al Consejo.

Será, sin lugar a dudas, uno de los grandes eventos académicos del próximo año, con numerosas conferencias magistrales, coloquios especiales, paneles, reuniones de grupos de trabajo, talleres, un ciclo de cine documental latinoamericano y diversas actividades culturales. Contará con más de 600 panelistas y 40 invitados/as especiales de América Latina, Estados Unidos, Canadá, Europa, Africa y Asia.

La VII Conferencia será el marco de la XXV Asamblea General de CLACSO, que contará con representantes de las casi 400 instituciones que constituyen nuestra red académica.

Diversas Pre-Conferencias se llevarán a cabo a lo largo del presente y del próximo año, preparando las actividades de Medellín, en noviembre del 2015.

Los/as invitamos a conocer la página web del evento.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Sobre o plágio, a redundância e o auto-plágio na academia


Levantamentos recentes sugerem um aumento de plágio em publicações científicas.

Professora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM, Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolve projeto, em colaboração com diversos pesquisadores, na área de ética/integridade na pesquisa. O mesmo está sendo conduzido através de uma parceria entre o IBqM e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ), sob a chancela do Comitê de Ética (CEP-IESC/UFRJ).

O objetivo central do projeto é ampliar a participação da comunidade acadêmica brasileira na discussão internacional sobre essa área, no momento liderada pelos Estados Unidos e países da União Europeia. Esses mesmos países lideraram a organização de três conferências mundiais sobre integridade em pesquisa (2007, 2010 e 2013), que tiveram um impacto significativo, por exemplo, em políticas editoriais para lidar com casos de má conduta em publicações, incluindo o plágio, a redundância e o autoplágio.

Na América Latina, o Brasil começa a se inserir nesse cenário. Em dezembro de 2010, foi organizado o I Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics (BRISPE), caminhando para sua terceira edição. Em 2015, o Brasil sediará a 4th World Conference on Research Integrity, no Rio de Janeiro (4th WCRI).

No momento, o projeto realiza uma pesquisa nacional sobre o plágio, a redundância e o autoplágio na academia, ciente de que o plágio, em suas diversas formas, é uma preocupação mundial nas universidades. No Brasil, a importância de abordar esse tema na pós-graduação já foi sinalizada inclusive pela CAPES. Recentemente, foram lançados os Códigos de Boas Práticas Científicas da FAPESP e as Diretrizes sobre Integridade em Pesquisa do CNPq, que também abordam o tema.

O texto acima foi retirado de correspondência enviada pela pesquisadora responsável, Sonia Vasconcelos, a pesquisadores no Brasil, e vem corroborar num momento em que se constata um aumento de plágio em publicações científicas, como mostra a matéria a seguir, veiculada no dia 07.10.2014, n’O Estado de S.Paulo (Estadão.Ciência).


Fapesp: para evitar fraudes, código prevê divulgação quando má conduta é comprovada. Eduardo Cesar/Fapesp
Pela 1ª vez, Fapesp torna públicas fraudes científicas

Cinco pesquisadores que receberam financiamento são acusados de má conduta e tiveram os nomes divulgados no site da fundação


Fábio de Castro

Cinco casos de fraude científica – incluindo plágio e fabricação de dados – foram divulgados nesta terça pela Fapesp, fundação pública que financia a pesquisa científica no Estado de São Paulo. Desde o lançamento do Código de Boas Práticas Científicas, em 2011, é a primeira vez que a instituição expõe conclusões de investigações. A divulgação das fraudes deve continuar, conforme forem apuradas. A medida é inédita no Brasil.

Os casos publicados envolvem os pesquisadores Andreimar Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (USP), Cláudio Airoldi, do Instituto de Química (Unicamp), Flávio Vilela, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (USP), Javier Amadeo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), e Antonio José Balloni, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer. A Fapesp estabelece que o sumário dos casos ficarão expostos publicamente de três meses a cinco anos, dependendo da gravidade da violação de boas práticas científicas.

Os pesquisadores acusados foram procurados pela reportagem. Javier Amadeo, atualmente professor da Unifesp, disse que não houve má conduta científica, mas um erro de citação (leia mais abaixo). Cláudio Airoldi não quis comentar, Antonio José Balloni não havia respondido e-mail até as 21 horas e os outros não foram localizados.

Para Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a iniciativa da Fapesp de divulgar os casos investigados é correta. “Uma vez que foi dado direito de ampla defesa aos acusados, acho que a Fapesp tem a obrigação social de divulgar esses casos, já que ela financia a pesquisa com recursos públicos”, disse. Segundo ela, além de contribuir para coibir as fraudes, a divulgação das irregularidades é uma maneira de mostrar ao contribuinte que o uso dos recursos públicos está sendo fiscalizado. “É preciso defender a integridade científica acima de tudo.”

O código da Fapesp determina a investigação rigorosa de denúncias de fraude e prevê que seja feita sob sigilo, para preservar a reputação dos suspeitos. Mas, quando a má conduta é comprovada, para coibir esse tipo de prática, a Fapesp expõe publicamente as conclusões do processo, divulgando os nomes, instituição dos pesquisadores, a descrição do trâmite e a punição imposta.

De acordo com o pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), José Eduardo Krieger, a instituição apoia a iniciativa e também tem mecanismos para evitar a fraude científica. “Mas a notoriedade transitória dos raros casos de fraude científica não pode ser confundida com o sucesso e os resultados do ensino da USP.”

Mãos erradas. Sérgio Pena, um dos autores do guia Rigor e Integridade na Condução da Pesquisa Científica, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), afirma que a iniciativa é excelente para a ciência brasileira. “É importante que os recursos para pesquisa não caiam em mãos erradas. A divulgação dos nomes ajudará a coibir as violações de boas práticas”, disse. Ele acredita, no entanto, que as investigações atingirão apenas uma pequena parte das fraudes.

Martha Sorenson, da Câmara Técnica de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o procedimento de exposição dos casos é uma forma de proteger a ciência e melhorar a percepção do público em relação a ela.

“A ciência depende da confiança do público. Quando todos começam a achar que as fraudes são comuns, essa confiança é abalada e teremos menos apoio para recursos”, afirma Martha.

OS CINCO CASOS ANALISADOS

Fabricação de dados

Pesquisador denunciado: Andreimar Martins Soares.

Instituição: Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP.

Má conduta: fabricação de dados e utilização de figuras já publicadas em artigos de outros autores na tese de doutorado de Carolina Dalaqua Sant’Anna, sob sua orientação.

Conclusão: má conduta científica grave – se não intencional, ao menos por negligência grave.

Punição: financiamentos do pesquisador serão cancelados. Ele não poderá pedir auxílios por três anos. Sumário ficará exposto por três anos.


Imagens fraudadas

Pesquisador denunciado: Cláudio Airoldi.

Instituição: Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Má conduta: utilizar imagens fraudadas em 11 artigos de que foi coautor.

Conclusão: agiu com negligência, segundo a fundação, ao aceitar a coautoria das publicações analisadas.

Punição: a análise de uma solicitação de auxílio à pesquisa foi interrompida e será negada pela Fapesp. Pesquisador ficará impedido de pedir auxílios por seis meses à agência. Sumário permanecerá exposto por seis meses.


Falsa autoria

Pesquisador denunciado: Flávio Garcia Vilela.

Instituição: Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.

Má conduta: pesquisador se apresentou, em seu currículo Lattes do CNPq, como coautor de artigos dos quais, na realidade, não foi coautor.

Conclusão: falsa coautoria intencional.

Punição: cancelamento de bolsa e devolução dos valores pagos. Fica impedido de pedir auxílios e bolsas à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por três anos. Sumário permanecerá exposto por três anos.


Plágio

Pesquisador denunciado: Javier Amadeo.

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP)

Má conduta: em projeto de solicitação de bolsa de pós-doutorado na USP, pesquisador reproduziu, sem aspas, cerca de 30 linhas do livro As Revoluções do Poder, de Eunice Ostrensky.

Conclusão: plágio.

Punição: bolsa cancelada e terá de devolver os valores pagos pela Fapesp. Será impedido de pedir bolsas por três anos. Sumário ficará exposto pelo mesmo período.


Plágio

Pesquisador denunciado: Antonio José Balloni.

Instituição: Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, localizado na cidade de Campinas.

Má conduta: plágio em projeto de pesquisa encaminhado para solicitação de auxílio financeiro à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp).

Conclusão: plágio.

Punição: pesquisador fica impedido de solicitar auxílios e bolsas à Fapesp por um ano. Sumário ficará exposto pelo mesmo período.

Comenta a publicação um dos professores envolvidos no processo:

11 de outubro de 2014
Prezados colegas
A publicação de meu processo pela direção atual da Fapesp é ilegal para não dizer imoral: a “declaração decisória” da instituição está datada de 03/abril/2013, data a partir da qual fiquei injustamente impedido por um ano (pena leve) de solicitar bolsa para a Fapesp. Portanto, a Fapesp jamais deveria ter mencionado meu nome em algo que foi prescrito.
Particularmente, o processo de acusação de plágio que pesa sobre minha pessoa é em grande medida injusto. Aliás, tenho muito claro que alguns parâmetros do que é ou não plágio para a academia devem ser revistos.
Além disso, meu processo de defesa não foi completado – apesar de a Fapesp alegar que sim. Dois últimos documentos meus não foram analisados e tive o direito de defesa cerceado (Art. 5, inc. LV da Constituição Federal de 88 – “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”), mesmo assim uma decisão precipitada foi tomada… Absolutamente não fui avaliado em conformidade com minha defesa e, alem disso, meu processo comecou sendo avaliado de uma forma - um procedimento que eu esperava continuidade - para ser finalizado de outra...
Gostaria que o leitor tivesse a mesma força de vontade para se manter isento na análise dos fatos aqui narrados que procurei ter ao comparar ambos os documentos: a solicitação de bolsa e a acusação da Fapesp.
Minha proposta científica – avaliação de qualidade de conteúdo de pesquisas publicadas na perspectiva do novo conhecimento e sabedoria (wisdom) – foi baseada nas teorias do Professor-Doutor Andrew Targowski, com a anuência deste emérito pensador como meu orientador na Universidade de Michigan, nos EUA.
Minha pesquisa é genuína, inovadora e inédita. Sem a menor sombra de plágio ou coisa que o valha.
No entanto, como se sabe, toda proposta/trabalho acadêmico embute por exigência formal uma parte de revisão teórica, que normalmente traz citações de outros autores e que ajudam a contextualizar o problema a ser pesquisado.
E foi nesse momento que alegam que pequei. Por razões de sobra: apenas no ano que escrevi o plano, doze publicações científicas sob minha direção no DOI Number foram realizadas. A pressa em submeter o plano de trabalho à Fapesp e a sobrecarga de trabalho me induziram a não fazer algumas citações adequadamente dentro das normas previstas pela ABNT.
Longe de querer aproveitar-me de trabalhos alheios, prejudicar autores, roubar ideias ou causar qualquer outro mal, tudo que tenho a dizer é que foi uma lamentável desatenção de minha parte – que deve ser relevada.
As ideias e textos utilizados para a fundamentação de meu trabalho têm similares encontrados em dezenas de outras produções acadêmicas, nada que foi usado por este pesquisador para contextualizar o projeto de bolsa Fapespera inédito nem de fundamental importância para a proposta: ao contrário, minha proposta, sim, é que é inédita.
Um exemplo do que os analistas da Fapesp se valeram é a definição de qui-quadrado (uma ferramenta estatística criada pelo matemático britânico Karl Pearson em 1900 e que nem o autor “plagiado” lembrou de citar): há no mínimo centenas de livros e artigos que trazem essa definição. Portanto, deixar de citar pode até desmerecer involuntariamente o autor do texto, mas nada de inédito, inovador, moderno há ali que venha a ser reciclado e mereça ser taxado de plágio – muito menos de valor cabal para meu projeto de pesquisa.
A academia deveria olhar mais de perto a questão do que é ou não plágio.
Minha proposta permanece inédita, inovadora, atual, pertinente, tanto que outra universidade nos EUA já a acolheu. Uma coisa é certa: eu não merecia ser colocado nesse balaio de gatos que a Fapesp criou...
Atenciosamente,
Balloni

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Massacre de estudantes no México expõe ligações entre polícia e crime organizado

Federico Mastrogiovanni
Cidade do México
08/10/2014

 

Mais de 40 alunos de licenciatura da cidade de Iguala estão desaparecidos há duas semanas; corpos encontrados em fossas clandestinas ainda não foram identificados.

Oitenta estudantes da escola rural para professores Raúl Isidro Burgos, da cidade de Iguala, viajavam em ônibus da empresa Costa Line. No dia 26 de setembro, estavam se organizando para coletar fundos para pagar a escola, uma das tantas instituições rurais que, no México, representam a única forma de obter um nível de educação aceitável para milhares de estudantes.

Quando já iam sair dali, alguns patrulheiros da polícia municipal quiseram parar a caravana, que não quis parar. Os policiais, então, segundo o testemunho anônimo de um jovem presente no local, começaram a disparar em direção aos ônibus. A princípio, os policiais dispararam contra os ônibus, mas, depois de algumas horas, quando os estudantes davam uma coletiva de imprensa para denunciar o ataque armados contra eles, outros homens sem uniforme, que muitas testemunhas reconheceram como policiais municipais, dispararam outra vez e, mais tarde, encheram de balas outro ônibus no qual viajavam jogadores da equipe local de futebol Avispones.

O saldo foi de seis mortos, três dos quais estudantes, e vinte feridos. Cinquenta e sete estudantes despareceram, sendo que vinte deles, como afirmam testemunhas oculares, foram levados à força por policiais de Iguala e do Estado de Guerrero.

Quase duas semanas depois, 43 estudantes ainda estão desaparecidos. Graças à pressão da imprensa e da sociedade civil, as autoridades federais encontraram seis fossas comuns clandestinas, com 28 corpos carbonizados. No entanto, apesar da suspeita de que os corpos sejam de estudantes desaparecidos, os mortos ainda não foram identificados.

Familiares dos desaparecidos estão mobilizados e têm feito uma série de protestos pelo desfecho das investigações

O prefeito de Iguala, José Luis Abarca, suspeito de ter vínculos com a quadrilha dos irmãos Beltrán Leyva, fugiu da cidade e permanece foragido. Um depoimento também o acusa de ter matado um líder camponês de Guerrero. 

Além disso, foram expostos nas últimas semanas os vínculos entre a polícia municipal de Iguala e o grupo criminoso conhecido como Guerreiros Unidos. Na segunda-feira (06/10), esse grupo divulgou uma nota pedindo a libertação dos 22 policiais presos, acusados pelo desaparecimento e o assassinato dos estudantes.

“Governo federal, estatal e a todos que nos apoiam: exigimos que liberem os 22 policiais que estão detidos. Damos 24 horas para que os soltem ou esperem as consequências. Começaremos a divulgar os nomes dos funcionários do governo que nos apoiaram. A guerra já começou”, era o conteúdo da nota.

Repercussão e outros casos


A repressão brutal do Estado não é novidade nessa região do país: em 12 de dezembro de 2011, a polícia assassinou dois estudantes que protestavam contra as condições da escola para professores de Ayotzinapa, em um tiroteio que deixou mais de 20 feridos.

“Nada mudou” afirma Abel Barrera, diretor da organização de defesa de direitos humanos Tlachinollan, ativa em Guerrero, que está cuidando do caso dos jovens estudantes. “É o mesmo padrão de impunidade das forças policiais que permite que continuem cometendo os mesmos delitos. Não houve qualquer julgamento político por parte do procurador de Justiça do Estado, nem do secretário de Segurança Pública”.



Um dos jovens assassinados, cujo corpo foi encontrado no sábado, dia 27 de setembro, perto da zona industrial de Iguala, estava difícil de ser reconhecido: esfolaram o rosto dele e arrancaram os seus olhos. Foi o comitê estudantil da escola rural que informou que se tratava de Julio César Mondragón, estudante do primeiro ano da licenciatura, procedente da Cidade do México, ao que apelidavam, por esse motivo, de “o Chilango.”

Outro exemplo de casos de agressões de policiais ou soldados contra a população civil ocorreu na ocasião do suposto massacre de 22 pessoas na localidade de Tlatlaya, no Estado do México, onde, no último dia 30 de junho, elementos do Exército teriam entrado em confronto com criminosos. Ou, pelo menos, era essa a versão da Secretaria de Defesa Nacional. Mas uma testemunha, entrevistada exclusivamente pela revista Esquire, relatou que os soldados fuzilaram os 22 jovens, entre os quais uma menor de idade, depois de eles terem se rendido. O caso de Tlatlaya pode ser o massacre mais grave dos últimos anos no México cometido pelo Exército.

“Pode-se falar de um padrão de justiça com as próprias mãos”, comenta Abel Barrera a Opera Mundi. “Tanto Tlatlaya como Ayotzinapa são a demonstração da total falta de controle interno sobre as forças de polícia e militares. A resposta do Estado é a repressão e a impunidade total. Além disso, há falta de profissionalismo e um enorme descontrole interno. Não há nenhuma formação para o uso da força e dão armas letais para administrar a ordem pública. E esses são os resultados”.

A reação da comunidade estudantil foi a tomada das ruas da cidade de Chilpancingo e uma greve de trabalho indefinida, para exigir que os culpados pelo assassinato dos estudantes sejam castigados. Acadêmicos, trabalhadores administrativos nas escolas e estudantes preparam ações em todo o Estado e estão prontos para exigir o julgamento político para o prefeito da cidade de Iguala, José Luis Abarca, e do governador do Estado de Guerrero, Ángel Aguirre Rivero.

Retratos dos desaparecidos foram espalhados por diversos pontos da cidade de Iguala 
A violência e as execuções extrajudiciais dos últimos meses no México também tiveram como consequência a intervenção do secretário-executivo da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), Emílio Álvarez Icaza, que fez um pedido para os casos de assassinato dos municípios de Tlatlaya e Iguala: “É uma questão que preocupa e gostaríamos que a mensagem seja poderosa do Estado de Direito. O simples fato que essa discussão esteja acontecendo, de um cenário possível de execução extrajudicial ou de justiça com as próprias mãos, é da maior gravidade, e é extraordinariamente importante que o Estado mexicano mande uma mensagem poderosa de investigação judicial”.

A organização Tlachinollan, assim como outras organizações, e a escola Raúl Isidro Burgos exigem conhecer o paradeiro das vítimas de desaparecimento forçado e a investigação dos responsáveis pela violência. Nesta quarta-feira (08/10), estão programadas manifestações em todo o país em apoio aos jovens de Ayotzinapa. A pauta desses protestos é a renúncia do governador Rivero e o esclarecimento dos fatos em Iguala.

Fonte: Opera Mundi