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sábado, 12 de abril de 2014

Em carta aberta, professores da UESB cobram transparência

Em carta aberta, professores da UESB cobram transparência
Chico Cardoso, diretor do DFCH
Chico Cardoso, diretor do DFCH
Os professores vinculados ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas/DFCH elaboraram e fizeram carta aberta à comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB na qual elencam um conjunto de situações que, na visão dos mesmos, estão impactando negativamente a instituição. E são curtos e grossos: “Não há a devida transparência em relação ao uso dos recursos da instituição com relação a convênios firmados com Programas e Projetos tais como TOPA, PARFOR e outros”. 
Ainda no campo da transparência, os signatários da carta afirma tratar-se de questão relevante rever o convênio com as terceirizadas (xerox, sagres, vigilância), declarando haver dúvidas quanto à forma como é feito o repasse de verbas, havendo inclusive relatos sobre atrasos de até sete meses com relação à Xerox. Outro ponto crítico diz respeito á política de pós-graduação da instituição. “A comunidade precisa fazer parte do processo de definição de tal política, pois a mesma interfere diretamente no funcionamento de outras atividades: definição de concursos a serem abertos, distribuição de carga horária docente, espaços físicos efetivamente disponíveis, garantia de qualificação dos cursos (graduação e pós-graduação) já existentes, etc”.
Outras tantas insatisfações são manifestadas na carta, na qual os docentes afirmam que “o conjunto de obstáculos” enfrentados cotidianamente por docentes, funcionários e estudantes impedem a construção de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. “Os servidores terceirizados, nossos efetivos parceiros na construção do cotidiano universitário, têm sido desrespeitados de forma aviltante: seus salários atrasam com frequência e, às vezes, por tempo indeterminado, sem que os gestores da UESB mostrem firme posicionamento de cobrança no cumprimento de contrato frente às empresas conveniadas”.
Leia abaixo, na íntegra. a Carta Aberta:

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH
CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA DA UESB
O Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) vem a público apresentar algumas de suas principais insatisfações quanto a uma série de problemas que, acreditamos, vem atingindo a Instituição em geral. Trata-se da exposição de um conjunto de obstáculos enfrentados cotidianamente por docentes, funcionários e estudantes da UESB que tentam desenvolver, com a mínima qualidade necessária, as atividades inerentes à construção de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.
Nesse contexto, apresentamos as nossas insatisfações com relação às seguintes questões:
I)                  Os DIREITOS TRABALHISTAS na UESB têm sido frequentemente desrespeitados:
ü  A não ampliação do quadro docente das universidades tem impedido a efetivação dos processos de Promoção e Progressão na carreira docente. Mesmo quando tais processos são encaminhados, as datas da aprovação no Departamento são desconsideradas, acarretando evidentes perdas salariais aos docentes;
ü  Há excessiva morosidade de aprovação por parte do governo do Estado em relação aos Processos de solicitação de Dedicação Exclusiva. Além disso, não se tem assegurado, na Publicação da Portaria, a data de aprovação nos Departamentos, desrespeitando-se frequentemente o direito à retroatividade;
ü  A indefinição quanto à distribuição de carga horária entre graduação e pós-graduação tem prejudicado os docentes, acarretando excessiva carga horária de trabalho para todos os docentes envolvidos em Programas de Mestrado e Doutorado Institucionais;
ü  Apesar de muitos docentes assumirem sobrecarga de trabalho, o PIT (Plano de Intenção de Trabalho) impede a contabilização real da carga horária efetivamente desenvolvida pelos profissionais, fazendo com que muitos docentes ultrapassem sua Carga Horária de trabalho sem recebimento salarial correspondente;
ü  Os critérios de avaliação das solicitações de Incentivos Funcionais por Produção Científica necessitam ser revistos pelas seguintes razões: a) não há necessidade de solicitação de parecer ou de relatório, uma vez que os trabalhos já foram aprovados por instâncias competentes; b) a Portaria com o resultado do trabalho deve garantir dois anos pela publicação, o que não vem ocorrendo na instituição;
ü  Cresce o número de coordenadores de Colegiados de Curso que, apesar de eleitos pela comunidade acadêmica e exercerem efetivo cargo administrativo, estranha e inexplicavelmente, não são remunerados por seu trabalho, ferindo o princípio de isonomia e lançando dúvida sobre qual é, de fato, a estrutura administrativa que rege a UESB. Quatro cursos vinculados ao DFCH (Filosofia, Cinema, Ciências Sociais e Psicologia) estão nessa situação;
ü  Os valores destinados à participação docente em eventos de divulgação técnico-artístico-científica (verba PTA) têm sido cada vez mais insuficientes frente ao aumento do número de docentes e de suas respectivas produções acadêmicas;
ü  Permanecem as dificuldades nos processos de Autorizo pelo Governador do Estado para participação em eventos internacionais. Em 2013, várias solicitações de autorizo para saída do país foram indeferidas sem justificativa por parte do Governo do Estado;
ü  Os servidores terceirizados, nossos efetivos parceiros na construção do cotidiano universitário, têm sido desrespeitados de forma aviltante: seus salários atrasam com frequência e, às vezes, por tempo indeterminado, sem que os gestores da UESB mostrem firme posicionamento de cobrança no cumprimento de contrato frente às empresas conveniadas.
II)               A ESTRUTURA FÍSICA da Uesb mostra-se cada vez mais insuficiente frente ao crescimento de suas atividades e demandas:

ü  A Prefeitura de Campus tem tratado com nítido descaso as demandas do Departamento e demandas acadêmicas, mesmo aquelas mais simples e de rotina, a exemplo, da solicitação de pintura do Departamento e seu anexo;
ü  A despeito do crescimento da UESB (novos cursos de graduação e pós-graduação; ampliação dos projetos e grupos de pesquisa, aumento da oferta de extensão…) os espaços físicos necessários ao desenvolvimento das atividades acadêmicas são cada vez mais insuficientes;
ü  O número de discentes cresceu consideravelmente nos últimos anos, mas o número de linhas de ônibus coletivos que serve à Uesb continua aquém desse crescimento. Além disso, os intervalos entre horários são totalmente inadequados, obrigando muitos discentes a esperarem mais de 30 minutos no ponto e, o que é mais grave, as atividades de ensino têm sido afetadas negativamente: ou as aulas têm que ser encerradas bem antes das 22h 30min ou nossos discentes são obrigados a chegar em casa em horário bastante avançado. Em muitos casos, isso implica correr riscos de assaltos, estupros ou outras formas de violência;
ü  Não há definição de espaço específico para o estacionamento dos ônibus que transportam estudantes de cidades circunvizinhas. Estes se aglomeram nos estacionamentos destinados aos veículos menores;
ü  A Biblioteca Central melhorou consideravelmente nos últimos anos. Entretanto, seu acervo continua insuficiente, seus espaços ainda são inadequados e seu horário de funcionamento não atende plenamente às necessidades da comunidade acadêmica. Além disso, o Sistema Pergamum precisa passar por atualização e oferecer maior funcionalidade quanto à pesquisa das obras disponíveis;
ü  Se não bastassem as carências inerentes ao acervo bibliográfico da Uesb, o serviço de Xerox é lastimável: há poucos postos de atendimento, o número de funcionários é insuficiente, as máquinas são poucas e sucateadas. Nos últimos tempos, a qualidade do atendimento tem caído, as informações sobre a situação do convênio são truncadas e nada transparentes. A cota disponibilizada para cada docente não atende às necessidades de disponibilizar nem mesmo os textos básicos aos alunos;
ü  Apesar da antiguidade da demanda, as pessoas com necessidades educacionais especiais ainda têm seu direito ao acesso e à mobilidade bastante limitados, senão impossibilitados pela falta de rampas, piso tátil (no caso, de cadeirantes, por exemplo). Quando tais existem, são mal planejados ou mostram-se incompletos;
III)             A TRANSPARÊNCIA, exigência basilar da gestão de órgãos públicos, tem sido artigo raro na Uesb:
ü  Não há a devida transparência em relação ao uso dos recursos da instituição com relação a convênios firmados com Programas e Projetos tais como TOPA, PARFOR e outros;
ü  É preciso rever convênio com as terceirizadas (Xerox, Sagres, Vigilância…): há dúvidas quanto à forma como é feito o repasse de verbas. Há, por exemplo, relatos sobre atrasos de até sete meses com relação à Xerox;
ü  A comunidade acadêmica precisa ser esclarecida sobre a real política de Pós-Graduação da instituição. Mais que isso: a comunidade precisa fazer parte do processo de definição de tal política, pois a mesma interfere diretamente no funcionamento de outras atividades: definição de concursos a serem abertos, distribuição de carga horária docente, espaços físicos efetivamente disponíveis, garantia de qualificação dos cursos (graduação e pós-graduação) já existentes, etc.
IV)            A Uesb dispõe de SERVIÇOS que não funcionam ou são oferecidos de forma precária:
ü  É extremamente necessário promover melhorias efetivas (mais que mudar layout) do Sistema Sagres e do Sistema PIT-RIT, os quais regularmente apresentam problemas de acesso e preenchimento nos períodos mais importantes (início e conclusão de semestre letivo);
ü  O horário de funcionamento da UESB precisa ser compatível com as atividades desenvolvidas pela instituição. Se sábado é dia letivo, Biblioteca e outros serviços essenciais devem ser oferecidos;
ü  Urge qualificar o atendimento de emergência na UESB, propiciando condição efetiva de atendimento à comunidade (mais aparelhos, mais serviços, mais funcionários);
ü  Os serviços de segurança no interior da Uesb continuam bastante precários, sobretudo, no turno noturno;
ü  Há diversos espaços do Campus Universitário mal iluminados.
V)               Há negligência no atendimento a reais DEMANDAS ESTUDANTIS:
ü  É preciso ampliar o número e os valores dos diversos tipos de bolsas estudantis;
ü  É preciso que a Administração Central lute pela liberação do uso do passe estudantil no período de férias ou recesso, possibilitando que a vida acadêmica seja compreendida como processo pedagógico que articule sala de aula, pesquisa e extensão.
ü  O sempre insuficiente acervo bibliográfico da Uesb atinge a toda a comunidade, mas os efeitos negativos de tal problema recaem de forma mais direta sobre nossos discentes.
Entendemos que os problemas anteriormente elencados atingem toda a comunidade acadêmica da Uesb.
O DFCH e os cursos a ele vinculados, por meio de documentos, questionamentos, consultas, convite de representantes da administração central às nossas reuniões, têm feito constantes esforços de tornar conhecidas e solucionadas tais demandas. Infelizmente, raramente recebemos respostas.
Reconhecemos que a construção da Universidade que almejamos exige empenho e participação de todos que compõem sua comunidade acadêmica.Temos, entretanto, nítida clareza de que muitos dos nossos problemas são, por um lado, fruto das ações de um governo estadual que trata a educação pública com total descaso e desprezo e, nos últimos anos, tem mesmo trabalhado para o sucateamento das Universidades Estaduais (drásticos cortes no orçamento, decretos autoritários de limitação de direitos, arrochos salariais, não cumprimento de acordos firmados publicamente, etc.) e, por outro lado, de formas equivocadas de condução e gestão da vida acadêmica por parte da administração central da Uesb, que parece desatenta à dimensão pública da Universidade, não lutando por sua autonomia; ao contrário, às vezes parece defender mais os interesses do governo do que os da comunidade que deveria representar, agindo sem a devida e necessária transparência e desconhece ou negligencia as reais prioridades da comunidade acadêmica.
Frente ao exposto, convidamos à comunidade acadêmica da Uesb a refletir acerca dessas questões e a abrir, junto conosco, canais de discussão e debate com vistas a apontarmos caminhos de solução para os problemas mencionados.
Por fim, acreditamos que esta CARTA ABERTA À COMUNIDADE é uma forma, dentre tantas outras, de não contribuir para o silenciamento institucional, atualmente, vivido e percebido na UESB, apoiado e referendado pelos gestores (Reitoria) eleitos pela comunidade acadêmica.
Vitória da Conquista, Bahia, 10 de abril de 2014.
Docentes do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH
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Francisco Cardoso, Diretor do DFCH/UESB
Os professores vinculados ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas/DFCH elaboraram e fizeram carta aberta à comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB na qual elencam um conjunto de situações que, na visão dos mesmos, estão impactando negativamente a instituição. E são curtos e grossos: “Não há a devida transparência em relação ao uso dos recursos da instituição com relação a convênios firmados com Programas e Projetos tais como TOPA, PARFOR e outros”.
 
Ainda no campo da transparência, os signatários da carta afirma tratar-se de questão relevante rever o convênio com as terceirizadas (xerox, sagres, vigilância), declarando haver dúvidas quanto à forma como é feito o repasse de verbas, havendo inclusive relatos sobre atrasos de até sete meses com relação à Xerox. Outro ponto crítico diz respeito á política de pós-graduação da instituição. “A comunidade precisa fazer parte do processo de definição de tal política, pois a mesma interfere diretamente no funcionamento de outras atividades: definição de concursos a serem abertos, distribuição de carga horária docente, espaços físicos efetivamente disponíveis, garantia de qualificação dos cursos (graduação e pós-graduação) já existentes, etc.”.
 
Outras tantas insatisfações são manifestadas na carta, na qual os docentes afirmam que “o conjunto de obstáculos” enfrentados cotidianamente por docentes, funcionários e estudantes impedem a construção de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. “Os servidores terceirizados, nossos efetivos parceiros na construção do cotidiano universitário, têm sido desrespeitados de forma aviltante: seus salários atrasam com frequência e, às vezes, por tempo indeterminado, sem que os gestores da UESB mostrem firme posicionamento de cobrança no cumprimento de contrato frente às empresas conveniadas”.
 
Leia abaixo, na íntegra. a Carta Aberta:
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH
 

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA DA UESB

 
O Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) vem a público apresentar algumas de suas principais insatisfações quanto a uma série de problemas que, acreditamos, vem atingindo a Instituição em geral. Trata-se da exposição de um conjunto de obstáculos enfrentados cotidianamente por docentes, funcionários e estudantes da UESB que tentam desenvolver, com a mínima qualidade necessária, as atividades inerentes à construção de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.
 
Nesse contexto, apresentamos as nossas insatisfações com relação às seguintes questões:
 
I) Os DIREITOS TRABALHISTAS na UESB têm sido frequentemente desrespeitados:
 
ü  A não ampliação do quadro docente das universidades tem impedido a efetivação dos processos de Promoção e Progressão na carreira docente. Mesmo quando tais processos são encaminhados, as datas da aprovação no Departamento são desconsideradas, acarretando evidentes perdas salariais aos docentes;
 
ü  Há excessiva morosidade de aprovação por parte do governo do Estado em relação aos Processos de solicitação de Dedicação Exclusiva. Além disso, não se tem assegurado, na Publicação da Portaria, a data de aprovação nos Departamentos, desrespeitando-se frequentemente o direito à retroatividade;
 
ü  A indefinição quanto à distribuição de carga horária entre graduação e pós-graduação tem prejudicado os docentes, acarretando excessiva carga horária de trabalho para todos os docentes envolvidos em Programas de Mestrado e Doutorado Institucionais;
 
ü  Apesar de muitos docentes assumirem sobrecarga de trabalho, o PIT (Plano de Intenção de Trabalho) impede a contabilização real da carga horária efetivamente desenvolvida pelos profissionais, fazendo com que muitos docentes ultrapassem sua Carga Horária de trabalho sem recebimento salarial correspondente;
 
ü  Os critérios de avaliação das solicitações de Incentivos Funcionais por Produção Científica necessitam ser revistos pelas seguintes razões: a) não há necessidade de solicitação de parecer ou de relatório, uma vez que os trabalhos já foram aprovados por instâncias competentes; b) a Portaria com o resultado do trabalho deve garantir dois anos pela publicação, o que não vem ocorrendo na instituição;
 
ü  Cresce o número de coordenadores de Colegiados de Curso que, apesar de eleitos pela comunidade acadêmica e exercerem efetivo cargo administrativo, estranha e inexplicavelmente, não são remunerados por seu trabalho, ferindo o princípio de isonomia e lançando dúvida sobre qual é, de fato, a estrutura administrativa que rege a UESB. Quatro cursos vinculados ao DFCH (Filosofia, Cinema, Ciências Sociais e Psicologia) estão nessa situação;
 
ü  Os valores destinados à participação docente em eventos de divulgação técnico-artístico-científica (verba PTA) têm sido cada vez mais insuficientes frente ao aumento do número de docentes e de suas respectivas produções acadêmicas;
 
ü  Permanecem as dificuldades nos processos de Autorizo pelo Governador do Estado para participação em eventos internacionais. Em 2013, várias solicitações de autorizo para saída do país foram indeferidas sem justificativa por parte do Governo do Estado;
 
ü  Os servidores terceirizados, nossos efetivos parceiros na construção do cotidiano universitário, têm sido desrespeitados de forma aviltante: seus salários atrasam com frequência e, às vezes, por tempo indeterminado, sem que os gestores da UESB mostrem firme posicionamento de cobrança no cumprimento de contrato frente às empresas conveniadas.
 
II)  A ESTRUTURA FÍSICA da Uesb mostra-se cada vez mais insuficiente frente ao crescimento de suas atividades e demandas:
  
ü  A Prefeitura de Campus tem tratado com nítido descaso as demandas do Departamento e demandas acadêmicas, mesmo aquelas mais simples e de rotina, a exemplo, da solicitação de pintura do Departamento e seu anexo;
 
ü  A despeito do crescimento da UESB (novos cursos de graduação e pós-graduação; ampliação dos projetos e grupos de pesquisa, aumento da oferta de extensão…) os espaços físicos necessários ao desenvolvimento das atividades acadêmicas são cada vez mais insuficientes;
 
ü  O número de discentes cresceu consideravelmente nos últimos anos, mas o número de linhas de ônibus coletivos que serve à Uesb continua aquém desse crescimento. Além disso, os intervalos entre horários são totalmente inadequados, obrigando muitos discentes a esperarem mais de 30 minutos no ponto e, o que é mais grave, as atividades de ensino têm sido afetadas negativamente: ou as aulas têm que ser encerradas bem antes das 22h 30min ou nossos discentes são obrigados a chegar em casa em horário bastante avançado. Em muitos casos, isso implica correr riscos de assaltos, estupros ou outras formas de violência;
 
ü  Não há definição de espaço específico para o estacionamento dos ônibus que transportam estudantes de cidades circunvizinhas. Estes se aglomeram nos estacionamentos destinados aos veículos menores;
 
ü  A Biblioteca Central melhorou consideravelmente nos últimos anos. Entretanto, seu acervo continua insuficiente, seus espaços ainda são inadequados e seu horário de funcionamento não atende plenamente às necessidades da comunidade acadêmica. Além disso, o Sistema Pergamum precisa passar por atualização e oferecer maior funcionalidade quanto à pesquisa das obras disponíveis;
 
ü  Se não bastassem as carências inerentes ao acervo bibliográfico da Uesb, o serviço de Xerox é lastimável: há poucos postos de atendimento, o número de funcionários é insuficiente, as máquinas são poucas e sucateadas. Nos últimos tempos, a qualidade do atendimento tem caído, as informações sobre a situação do convênio são truncadas e nada transparentes. A cota disponibilizada para cada docente não atende às necessidades de disponibilizar nem mesmo os textos básicos aos alunos;
 
ü  Apesar da antiguidade da demanda, as pessoas com necessidades educacionais especiais ainda têm seu direito ao acesso e à mobilidade bastante limitados, senão impossibilitados pela falta de rampas, piso tátil (no caso, de cadeirantes, por exemplo). Quando tais existem, são mal planejados ou mostram-se incompletos;
 
III)             A TRANSPARÊNCIA, exigência basilar da gestão de órgãos públicos, tem sido artigo raro na Uesb:
 
ü  Não há a devida transparência em relação ao uso dos recursos da instituição com relação a convênios firmados com Programas e Projetos tais como TOPA, PARFOR e outros;
 
ü  É preciso rever convênio com as terceirizadas (Xerox, Sagres, Vigilância…): há dúvidas quanto à forma como é feito o repasse de verbas. Há, por exemplo, relatos sobre atrasos de até sete meses com relação à Xerox;
 
ü  A comunidade acadêmica precisa ser esclarecida sobre a real política de Pós-Graduação da instituição. Mais que isso: a comunidade precisa fazer parte do processo de definição de tal política, pois a mesma interfere diretamente no funcionamento de outras atividades: definição de concursos a serem abertos, distribuição de carga horária docente, espaços físicos efetivamente disponíveis, garantia de qualificação dos cursos (graduação e pós-graduação) já existentes, etc.
 
IV)            A Uesb dispõe de SERVIÇOS que não funcionam ou são oferecidos de forma precária:
 
ü  É extremamente necessário promover melhorias efetivas (mais que mudar layout) do Sistema Sagres e do Sistema PIT-RIT, os quais regularmente apresentam problemas de acesso e preenchimento nos períodos mais importantes (início e conclusão de semestre letivo);
 
ü  O horário de funcionamento da UESB precisa ser compatível com as atividades desenvolvidas pela instituição. Se sábado é dia letivo, Biblioteca e outros serviços essenciais devem ser oferecidos;
 
ü  Urge qualificar o atendimento de emergência na UESB, propiciando condição efetiva de atendimento à comunidade (mais aparelhos, mais serviços, mais funcionários);
 
ü  Os serviços de segurança no interior da Uesb continuam bastante precários, sobretudo, no turno noturno;
 
ü  Há diversos espaços do Campus Universitário mal iluminados.
 
V)               Há negligência no atendimento a reais DEMANDAS ESTUDANTIS:
 
ü  É preciso ampliar o número e os valores dos diversos tipos de bolsas estudantis;
 
ü  É preciso que a Administração Central lute pela liberação do uso do passe estudantil no período de férias ou recesso, possibilitando que a vida acadêmica seja compreendida como processo pedagógico que articule sala de aula, pesquisa e extensão.
 
ü  O sempre insuficiente acervo bibliográfico da Uesb atinge a toda a comunidade, mas os efeitos negativos de tal problema recaem de forma mais direta sobre nossos discentes.
 
Entendemos que os problemas anteriormente elencados atingem toda a comunidade acadêmica da Uesb.
 
O DFCH e os cursos a ele vinculados, por meio de documentos, questionamentos, consultas, convite de representantes da administração central às nossas reuniões, têm feito constantes esforços de tornar conhecidas e solucionadas tais demandas. Infelizmente, raramente recebemos respostas.
 
Reconhecemos que a construção da Universidade que almejamos exige empenho e participação de todos que compõem sua comunidade acadêmica.Temos, entretanto, nítida clareza de que muitos dos nossos problemas são, por um lado, fruto das ações de um governo estadual que trata a educação pública com total descaso e desprezo e, nos últimos anos, tem mesmo trabalhado para o sucateamento das Universidades Estaduais (drásticos cortes no orçamento, decretos autoritários de limitação de direitos, arrochos salariais, não cumprimento de acordos firmados publicamente, etc.) e, por outro lado, de formas equivocadas de condução e gestão da vida acadêmica por parte da administração central da Uesb, que parece desatenta à dimensão pública da Universidade, não lutando por sua autonomia; ao contrário, às vezes parece defender mais os interesses do governo do que os da comunidade que deveria representar, agindo sem a devida e necessária transparência e desconhece ou negligencia as reais prioridades da comunidade acadêmica.
 
Frente ao exposto, convidamos à comunidade acadêmica da Uesb a refletir acerca dessas questões e a abrir, junto conosco, canais de discussão e debate com vistas a apontarmos caminhos de solução para os problemas mencionados.
 
Por fim, acreditamos que esta CARTA ABERTA À COMUNIDADE é uma forma, dentre tantas outras, de não contribuir para o silenciamento institucional, atualmente, vivido e percebido na UESB, apoiado e referendado pelos gestores (Reitoria) eleitos pela comunidade acadêmica.
 
Vitória da Conquista, Bahia, 10 de abril de 2014.
Docentes do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH
 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

PIB, conceito ultrapassado

Por Ladislau Dowbor
08/04/2014
 

(Imagem: Paul Gauguin, Três Haitianos (1899)). Indicador alternativo desafia ideia essencial ao capitalismo, ao sugerir que riqueza monetária não equivale a bem-estar. Novos critérios produzem resultados surpreendentes


 
A divulgação da pesquisa sobre Indicadores de Progresso Social 2014 (IPS) [leia o relatório principal, o resumo e a metodologia] vem agregar peso à transformação de como calculamos os resultados econômicos e o desenvolvimento. Sem ser economistas ou entender de contas nacionais, muitos já se perguntam há tempos como casam no Brasil os imensos avanços sociais e econômicos que vivemos, além um desemprego que é o menor da história, com taxas modestas de crescimento PIB, tão atacado como “pibinho”. É que a cifra que tanto encanta a mídia, o PIB, simplesmente não mede o que queremos medir, que é o progresso, ou em todo caso o reflete de maneira muito parcial.

A iniciativa da ONG Social Progress Imperative é um refresco, ao medir o que importa, ao fazê-lo de maneira sistemática, com metodologia clara e que permite comparabilidade. Depois da edição experimental e limitada de 2013, a de 2014 cobre 132 países, com correções e ajustes. Publicada em dois volumes, um de resultados e análises por país, e outro de metodologia, a pesquisa constitui um aporte significativo para a compreensão das transformações que vivemos.
É verdade que esta iniciava vem apenas reforçar metodologias como o Happy Planet Index, o Genuine Savings Indicators, o FIB (Felicidade Interna Bruta) e sobretudo o movimento Beyond GDP na União Européia. Mas a contribuição de nomes como Michael Porter, da Universidade de Harvard e de outras instituições de peso, vai materializando a nossa lenta evolução para medidas que façam sentido. O apelo mundial para irmos além do PIB, lançado neste sentido há alguns anos por Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi, dos quais os autores do IPS se declaram devedores, está dando frutos.

O teórico da iniciativa, Patrick O’Sullivan, vai direto ao assunto: “É realmente indefensável continuar a usar o PIB como se de alguma forma medisse o bem estar, e é confortante se dar conta que o próprio Kuznets, o pai fundador da medição sistemática do PIB, já nos tenha alertado que “o bem-estar de uma nação dificilmente pode ser inferido da medida da renda nacional” (Met.26) Este ponto de partida define a filosofia do esforço empreendido.

“Tornou-se cada vez mais evidente que um modelo de desenvolvimento baseado apenas no desenvolvimento econômico é incompleto. Uma sociedade que deixa de assegurar as necessidades básicas, de equipar os cidadãos para que possam melhorar a sua qualidade de vida, que gera a erosão do meio ambiente, e limita as oportunidades dos seus cidadãos não é um caso de sucesso. O crescimento econômico sem progresso social resulta na falta de inclusão, descontentamento, e instabilidade social. Um modelo mais amplo e mais inclusivo de desenvolvimento requer novas medições, com as quais os que gerem as políticas e os cidadãos possam avaliar a performance nacional. Temos de ir além de simplesmente medir o Produto Interno Bruto per capita, e tornar a medição social e ambiental parte integrante de como medimos os resultados”.(11)

Este enfoque permite organizar os indicadores em torno aos interesses reais das pessoas. O índice, no seu conjunto, busca responder a três questões: (26)
1) O país assegura as necessidades mais essenciais da sua população?
2) Os fundamentos básicos que permitam aos indivíduos e às comunidades alcançar e sustentar o seu bem estar estão assegurados?
3) Há oportunidades para todos os indivíduos alcançarem os seus plenos potenciais?
Para nós no Brasil este enfoque menos centrado no crescimento econômico e diretamente dirigido ao bem estar da população é de uma grande ajuda. Em torno a estes três grandes eixos, o IPS apresenta indicadores básicos, quatro por eixo, que são por sua vez desdobrados em 54 indicadores mais detalhados. Conseguiram cifras razoavelmente confiáveis para 132 países, o que torna o IPS um complemento útil inclusive para o sistema básico das Nações Unidas, os Indicadores do Desenvolvimento Humano (IDH), que acrescenta aos dados tradicionais da renda indicadores de educação e de saúde.

Um outro elemento metodológico importante é que o IPS busca indicadores de resultados, não de insumos (outcome index, not inputs). Ou seja, um país que investe muito em saúde construindo hospitais de luxo e priorizando a saúde curativa, em termos de investimentos está realizando um grande esforço (inputs), mas os resultados (outcomes) serão pífios em termos de população saudável. E se trata de medir este último objetivo.(Met.5) A cidade de São Paulo gastou rios de dinheiro em viadutos, túneis, elevados e automóveis particulares com o resultado de paralisar a cidade. Esta paralisia, ao gerar mais custos para todos (inputs), aumenta o nosso PIB. Seguramente não o outcome queremos, que é a mobilidade urbana. Medir pelo enfoque dos resultados é muito importante.

Em termos metodológicos ainda, é natural que haja discussões sobre a objetividade na escolha dos indicadores. Patrick O’Sullivan (Universidade de Grenoble e de Varsóvia) apresenta aqui, no volume de Metodologia, um excelente artigo teórico sobre os indicadores e os seus limites. Os vieses são honestamente assumidos: “Vamos assumir abertamente que esta posição (do relatório) apoia-se em fundamentos que constituem certos juízos de valor normativos, que deixaremos explícitos e transparentes, e mostraremos, por mais chocante que este uso explícito de um discurso normativo possa parecer, a pesquisadores de ciências humanas orientados para o positivismo, que na realidade toda ciência humana é irremediavelmente carregada de valores de qualquer modo.” (Met. 25)
No Brasil, este realismo quanto aos valores implícitos, apoiado nas visões de Gunnar Myrdal, nos ajudaria bastante, frente à deformação sistemática das análises sobre os avanços do país na mídia comercial. Mas este alerta deve ser observado inclusive para os dados do IPS: por exemplo, os dados relativos à propriedade privada são, neste relatório baseados na fonte da Heritage Foundation, um Think Tank da velha direita norte-americana, que seguramente consideraria a nosso Constituição, com a sua visão da função social da propriedade, como subversiva. O enfoque adotado, por exemplo, permite jogar para baixo o IPS da China, que é o país que de longe tirou mais pessoas da pobreza no planeta – cerca de dois terços da redução mundial. Aqui a carga de valores é realmente explícita.(106)

Os resultados da pesquisa


Na parte da análise dos resultados, uma das tendências mais interessantes mostra uma forte correlação entre o aumento do PIB e a melhoria na área das necessidades básicas, (no caso nutrição, água e saneamento, habitação e segurança) mas apenas para os mais pobres: “As necessidades humanas básicas melhoram rapidamente quando o PIB per capita aumenta, nos níveis baixos de renda, mas depois (a tendência) se torna mais horizontal (flattens out) à medida que a renda continua a aumentar”. (54)
Para nós isto é muito importante, pois mostra que o aumento de renda nos extratos mais pobres melhora radicalmente o progresso social em geral. Em outros termos, o dinheiro que vai para a base da sociedade é muito mais produtivo em termos de resultados para a sociedade, o que bate plenamente com as pesquisas do IPEA sobre a produtividade dos recursos. As pesquisas da ONU sobre o IDH chegam à mesma conclusão: “Rendimentos mais elevados têm uma contribuição declinante para o desenvolvimento humano”. O New Economics Foundation (NEF) de Londres chega à mesma conclusão, ao analisar o “retorno social sobre o investimento” (SROI – Social Return On Investment), e considera que a adoção desta metodologia “é particularmente oportuna quando as organizações estão buscando tornar cada libra render o máximo possível”. (NEF, 2009) Estamos aqui no centro do problema da baixa produtividade econômica gerada pela concentração de renda, confirmando os efeitos multiplicadores que gera a redistribuição, inclusive para o próprio PIB.

Centrar-se no progresso social, ou seja, no resultado que queremos efetivamente para a nossa vida, e não no PIB, permite por sua vez evitar deformações flagrantes que o IDH atenua apenas em parte. Assim países exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita, o Kuait e Angola, que pela exportação de recursos naturais aparecem com uma renda per capita elevada, mas não asseguram o bem estar que estes recursos deveriam gerar para a população, são aqui avaliados de maneira diferenciada, como under-performers, ou seja, países com um crescimento distorcido. Por outro lado, constata-se a alta correlação entre o PIB e o indicador de acesso à informação e comunicação, “amplamente baseado no fato que o acesso à telefonia móvel e à internet está ligada à capacidade aquisitiva do consumidor”.(59)
Para nós esta dimensão é importante para pensar e contabilizar a contribuição das exportações primárias: qual é a sua produtividade social real, em termos de geração de empregos, de impactos ambientais, de retenção ou expulsão de mão de obra para as cidades como por exemplo no caso da pecuária extensiva? A visão geral do relatório é que “de modo geral, países ricos em recursos têm mais propensão a ter uma baixa performance em termos de progresso social, relativamente ao seu PIB per capita”.(53)
Na análise igualmente, o texto apresenta uma forte correlação entre os indicadores IPS e outras pesquisas baseadas em avaliações de percepção de qualidade de vida pelas pessoas: “Há uma relação altamente positiva e significativa entre a satisfação com a vida e o progresso social, e em particular na dimensão de Oportunidades.” (69) Outro dado significativo é que “o indicador de sustentabilidade ambiental é o que menos está relacionado com o PIB.” Os indicadores médios indicam uma forma de “U”, sugerindo que os pobres ainda não afetam o meio ambiente, enquanto os países na fase média de avanço econômico tendem a deteriorá-lo, passando a buscar a sua recuperação ao alcançar níveis de renda mais elevados. (59)


O Brasil na pesquisa


O Brasil aparece bem na foto. Importante lembrar que se trata apenas de uma foto, pois o índice é novo e não permite comparação no tempo, ou seja, a dinâmica da mudança. De qualquer forma, vale a pena dar uma olhada nos dados.
O Brasil ocupa o 46º lugar entre 132 países, com um índice médio geral de 69,957. A Colômbia ocupa o 52º lugar, México 54º. O PIB per capita brasileiro utilizado na pesquisa é de 10.264 dólares em valores de 2012. Os dados sintéticos para o Brasil são os seguintes:
 
Dados Sintéticos
Brasil (46º)
EUA (16º)
Argentina (42º)
PIB per capita (US$)
10.264
45.336
11.658
Score médio geral
69,957
82,77
70,59
Necessidades básicas
71,09
89,82
77,77
Fundamentos do Bem-estar
75,78
75,96
70,62
Oportunidades
63,03
85,54
63,38

Para ter uma referência, os Estados Unidos ocupam o 16º lugar, com um PIB de 45.336 dólares, e um índice médio geral de 82,77. Os dados sintéticos norte-americanos são muito desiguais, com respectivamente 89,82 para necessidades básicas, 75,96 para fundamentos de bem estar (praticamente iguais ao Brasil), fruto dos últimos trinta anos de neoliberalismo naquele país, e 85,54 em termos de oportunidades – índice puxado em particular pela expansão do acesso à educação superior, onde o Brasil é, pelo contrário, muito fraco. A Argentina, por sua vez, que ocupa o 42º lugar, tem um score geral de 70,59, um PIB per capita de 11.658 dólares, e apresenta no geral índices parecidos com os do Brasil. Detalhando um pouco para os 12 principais grupos de indicadores, temos a situação seguinte:

Nível dos 12 principais indicadores
Brasil
EUA
Argentina
Nutrição e cuidados básicos de saúde
92,02
97,82
94,62
Água e saneamento básico
81,64
95,77
95,65
Habitação
73,20
87,99
60,75
Segurança pessoal
37,50
77,70
60,07
Acesso ao conhecimento
95,43
95,10
94,53
Acesso à informação e comunicação
67,69
81,33
69,54
Saúde e bem estar
76,05
73,61
70,56
Sustentabilidade
63,94
53,78
47,83
Direitos da pessoa
74,94
82,28
66,55
Liberdade pessoal
69,38
84,29
73,61
Tolerância e inclusão
61,77
74,22
64,53
Acesso à educação superior
38,09
89,37
48,83
   Impressionante os Estados Unidos, com um PIB quatro vezes e meia maior do que o Brasil, terem um indicador de saúde e de bem estar (esperança de vida, morte por doenças entre 30 e 70, taxas de obesidade, mortes por poluição do ar, taxa de suicídios) significativamente pior do que o Brasil. Situação pior ainda em sustentabilidade, devido em particular à massa de emissões de gazes de efeito de estufa, uso da água além das reservas e redução de biodiversidade e habitat natural. A Argentina, aliás, fica pior ainda neste quesito. Os itens críticos para o Brasil, naturalmente, são os de segurança, com 37,50 pontos, e de acesso à educação superior, com 38,09 pontos.

Na análise dos autores, “entre os países dos BRICS, o Brasil apresenta o perfil de progresso social mais forte e mais “equilibrado” (the strongest and most “balanced”). Apresenta alguma fraqueza em Necessidades Humanas Básicas (puxada pelo score muito baixo de 37,50 para Segurança Pessoal), mas apresenta uma performance consistentemente boa em todos os componentes tanto dos Fundamentos de Bem Estar como de Oportunidades, com exceção de Educação Superior (38,09, 76º).”(50)

Comparando com o conjunto dos BRICS, o relatório considera que “quatro dos cinco BRICS fazem parte do quarto nível, inclusive Brasil (46º) com um score de 69,97, África do Sul (69º) com 62,96, Rússia (80º) com 60,79, e China (90º) com 58,67. A Índia fica fora dos 100 primeiros em termos de progresso social, com um score mal superando 50. Os países da América latina estão bem representados no quarto grupo. Argentina 42º, Brasil 46º, e Colômbia, México e Peru colocados nos lugares 52º, 54º e 55º respectivamente”.(45)
No plano propositivo, ao comentar o Brasil, a análise sugere que “apesar do Brasil apresentar uma performance relativamente boa no componente Sustentabilidade do Ecossistema, precisa enfrentar questões ambientais urgentes, tais como a redução do desmatamento essencialmente frutos da especulação sobre o solo, da pecuária irregular, e de projetos de infraestruturas; o controle dos gases das emissões de gases de efeito estufa pelo setor industrial; e o acesso à eletricidade com tecnologias eficientes em termos de custos e ambientalmente amigáveis. |O Brasil tem cerca de um terço das florestas tropicais do planeta e pelo menos 20 por cento da biodiversidade do planeta. #Progresso Social Brasil tem focado os seus esforços iniciais na região amazônica.”(36)

Os dados completos por país estão nas páginas 85 e seguintes do relatório principal. Vejam a tabela geral dos indicadores utilizados, disponível na p. 28 do relatório principal:
http://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2014/04/140408-TabelaLadislau.jpg
 
Notas: No texto acima, colocamos entre parênteses as páginas do relatório principal, e quando se trata do volume sobre metodologia, colocamos o número da página com a menção “Met.” Os links dos documentos originais estão abaixo. Para se documentar quanto às novas metodologias veja O Debate sobre o PIB.


NEF – New Economic Foundation, “Social Return on Investment”

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A favelização das universidades estaduais no Brasil

Reginaldo de Souza Silva*

 
Enquanto o governo ostenta um chamado “mega” investimento em instituições federais de ensino superior, contestado pelo ANDES – Sindicato Nacional, as universidades estaduais, em sua grande maioria, amargam o abandono daquele nível da educação que deveria ser, segundo a Constituição Brasileira, de responsabilidade do governo federal.
 
Com um déficit gigantesco o Brasil tenta se inserir no mundo globalizado, caminhando para ser a quinta economia mundial, amargando indicadores vergonhosos de educação. Realidades absurdas e contrastantes podem ser verificadas neste imenso país, da primeira etapa da educação básica (ed. Infantil à educação superior). Falta de professores, má formação, remuneração e condições de trabalho; número de funcionários e qualificados insuficientes, que lutam e amargam contra a ingerência politica com a “venda/atribuição de cargos” nas mãos de governadores, prefeitos, deputados e vereadores.

O papel e a representação das instituições estaduais estão expressos na quantidade de universidades por estados/região: Sudeste 8 (SP 3, RJ 3, MG 2), Sul 9 (PR 7, RS 1, SC 1), Nordeste 12 (BA 4, CE 3, PE,PB,MA,PI,RN: 1), Centro Oeste 3 e, Norte 5 (AM, PA, RR, AP,TO). Segundo dados do Censo da Educação Superior 2012, o total de alunos matriculados nas IES publicas e privadas era de 7.037.688; entre as públicas, 1.087.413 (57.3%) nas federais e, 625.283 (42.7%) nas estaduais.

Com a política acertada da inclusão de todos os segmentos sociais na educação superior alguns obstáculos precisam ser vencidos, entre eles: superar as deficiências de formação da educação básica, a falta de livros, condições de permanência bolsas, moradias, restaurantes, etc.

Os critérios produtivistas excluem ou impedem o sucesso daqueles que precisam trabalhar (a média de evasão vai de 1,3% a 38,37%); há a violação constante da autonomia universitária apesar da eleição direta não ser o voto universal (segmentos com menor numero de representantes tem o mesmo peso de votos, funcionários, discentes, docentes).

A mercê da indicação/interferência dos governadores, o baixo repasse de recursos orçamentários impede a manutenção e/ou mesmo a sobrevivência e expansão com qualidade das instituições estaduais. Com o discurso da expansão das instituições federais os governos estaduais estão abandonando ou deixando a míngua suas instituições de ensino superior.

Em 2001, havia no Brasil, 3 milhões de estudantes matriculados nas instituições publicas e privadas, em 2010, eram 5,37 milhões, 14,7% nas modalidade à distancia (censo universitário do MEC). O plano Nacional de Educação 2000-2010 tinha como meta atingir 33% da população de jovens entre 17 e 24 anos, atingiu 17,4% (censo da educação superior de 2012). Do total de 7 milhões de alunos matriculados em cursos de graduação 73%, equivalentes a 5.140.312 milhões estavam em instituições privadas.

O exemplo da favelização das universidades estaduais tem seu exemplo maior na Universidade de São Paulo que construiu um campus em cima de um terreno onde funcionava um lixão, gases tóxicos tem impedido por várias vezes seu funcionamento. Em outros estados ou se realiza o pagamento defasado dos salários ou se investe em infraestrutura. Pseudos críticos afirmam que as universidades são improdutivas e que apenas reproduzem conhecimentos.

Na Bahia, como em outros estados a moda agora é a COPA DO MUNDO, reitores fazem propaganda alardeando milhares de metros construídos. O que se constata é a falta de qualidade das construções, desde os projetos arquitetônicos que amargam com problemas de acústica, vazamentos, trincas, exposição demasiada ao sol, rachaduras, impossibilidade de mobilidade para pessoas com deficiência, arborização etc. Os puxadinhos estão por todo lugar, não há um planejamento de longo prazo, uma estética. A ingerência dos órgãos do governo do estado elevam o custo para tempo inimagináveis de construção. Se houvesse o exercício da autonomia universitária os valores seriam infinitamente menores assim como o tempo de conclusão das obras.
 
Com a falta de recursos suficientes para mobilidade nacional e internacional, para pesquisa, laboratórios, criação e expansão/qualificação de novos cursos, diminuição das reprovações e evasões etc., institucionalizamos a favelização das universidades estaduais no Brasil. Será este o padrão “FIFA” da educação brasileira?

* Coordenador do NECA/UESB, membro do Fórum Estadual de Educação da Bahia. E-mail: reginaldoprof@yahoo.com.br

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Nota pública acerca da resistência popular contra a ditadura militar na Maré

As grandes mídias executaram nos últimos dias suas rotinas promocionais e divulgaram o suposto grande sucesso da invasão militar para “pacificar” a Maré. O governador Cabral veio a público constar: “Hoje foi, sem dúvida, um dia histórico.” e o secretário de segurança pública Beltrame afirmou: “Mais uma vez, fomos muito bem. Vamos entregar o terreno a quem merece e é dono, que é a população. Tudo correu tranquilamente. Para nós não foi surpresa, por que todas as ocupações têm sido assim.”
 
Contrariam radicalmente este espetáculo midiático recorrentes relatos sobre violações e abusos pelo lado dos policiais durante a invasão. Policiais entrando nas casas sem mandado; com “toca ninja” ameaçando moradores de morte; depredando bens e roubando eletrodomésticos sem nota fiscal; tratando moradores com violência verbal e apontando armas de fuzil para os seus rostos; constrangendo e agredindo crianças como no caso de policiais mandarem-nas deitar e em seguida pisarem em suas cabeças; prisão coletiva de menores que protestaram por causa de morte de um adolescente, que foram levadas à delegacia em caminhão da Polícia Militar; constrangimento e prisão de idosos; invasão de casa com moradora que estava sozinha e diante da presença ameaçadora da polícia se viu forçada de correr para a rua vestida apenas com roupa íntima.
 
A grande imprensa divulgou imagens de moradores presos acusando-os de serem traficantes que em seguida foram liberados por não terem nenhum envolvimento e serem inocentes (sem que houvesse uma retratação). Nos casos de mortos e feridos, tem sido difícil apurar ao certo, pois há dificuldade de checar informações, mas temos a confirmação de um jovem de 15 anos morto sem divulgação da causa de sua morte, um jovem de 18 anos baleado e que veio a falecer, e de mais dois adolescentes baleados.
 
Nós, moradores que estamos envolvidos com a luta pelos direitos humanos fundamentais dos cidadãos que vivem em favelas, estamos colocando esforços para denunciar estes muitos casos de abuso que estão acontecendo com nossos familiares e vizinhos. A presença de diversos grupos de defensores de direitos humanos no domingo, coletivos de advogados, a Comissão de Direitos Humanos da OAB, o NIAC (UFRJ), o Coletivo Tempo de Resistência, a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, foi uma contribuição importante para a luta e resistência dos moradores. Não apenas por atuar em campo fiscalizando o trabalho da polícia e registrando ocorrência de abusos, mas também para testemunhar as dificuldades que a organização popular sofre diante da opressão militar, que não se inibiu em manifestar intimidação contra nós nem diante da presença dos advogados.
 
Nós, que estamos articulados em organizações populares e empenhados a lutar contra o Estado opressor, estamos sofrendo perseguição e intimidação. Entre outros, uma blazer branca com dois policiais seguiu e filmou de forma intimidadora a Comissão de Direitos Humanos da OAB que estava fiscalizando a atuação ilegal da polícia, e um helicóptero ficou dando várias voltas onde estavam os membros da Comissão. Entendemos que essa opressão é para coibir nossa atuação de resistência e impedir que façamos mobilizações e denúncia dos casos de abuso e violência praticados pela polícia.
 
Esta invasão foi tão pouco tranquila como as outras invasões em favelas do Rio de Janeiro. Sabemos que este é só o começo de toda uma onda de opressão através da política de extermínio e militarização nas favelas. É imperativo o fortalecimento da resistência. Moradores de favelas, movimentos sociais, defensores de direitos humanos e todas e todos que lutam por uma sociedade justa e igualitária, juntem-se a luta de resistência na Maré e em todas as favelas! Os opressores não calarão as nossas vozes.
 
Favela resiste. Viva favela!
 
Assinam esta nota (Caso deseje apoiar, entre em contato pelo email: marevive@riseup.net):
 
Advogados Ativistas (SP)
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
Cidadela – Arte, Cultura e Cidadania
Cineclube Beco do Rato
Cineclube Mate Com Angu
Círculo Palmarino
Coletivo Tempo de Resistência
Coletivo Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos
Comissão de Direitos Humanos da OAB
Fórum Popular de Apoio Mútuo
Federação Anarquista do Rio de Janeiro
Justiça Global
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento de Organização de Base
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Núcleo de Assessoria Jurídica Popular Luiza Nahin
Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania – Niac/UFRJ
Ocupa Alemão
Ocupa Lapa
Organização Anarquista Terra e Liberdade
Organização Popular
Quilombo Xis Ação Cultural Comunitária
Reaja ou Sera Morto, Reaja ou Sera Morta
Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência
Rede Nacional de Advogados Populares – Renap-RJ
Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II – Sindiscop