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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Janeiro: O Fórum Universitário Permanente da UESB hibernará


Caros internautas,
Janeiro é o período de férias dos mortais professores. Assim sendo, eu, como moderador deste Blog, estarei recompondo as forças para ser explorado novamente pelo Estado-patrão no ano que se avizinha.
Assim, informo que estarei desconectado durante todo janeiro/2013 e os comentários só serão postados a posteriori. No entanto, o microblog continuará no ar. Aqueles que quiserem, aproveitem para vasculhar as postagens que não foram acompanhadas durante o ano, e para matar as saudades de outras.
Hasta Fevereiro de 2013.
Boas festas de final de ano e férias... merecidas férias,
Rubens Mascarenhas

Concurso de monografias


Doutorado Pleno no Exterior abre inscrições para 2013


A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) recebe, até o dia 31 de janeiro de 2013, exclusivamente pela internet, as inscrições para o processo seletivo do programa Doutorado Pleno no Exterior.
Entre outros tópicos, o regulamento trata da duração e benefícios das bolsas de estudo, da candidatura e seleção, da implementação da bolsa e das obrigações dos bolsistas, além de conter apêndices contendo a documentação necessária para inscrição e componentes da concessão de doutorado pleno no exterior.

As bolsas destinam-se a candidatos de elevado desempenho acadêmico, que se dirijam a instituições estrangeiras de excelência, com exceção daquelas situadas na Alemanha que são orientadas por edital específico.

Os bolsistas selecionados receberão benefícios como mensalidade; adicional para dependente, quando for o caso; auxílio-instalação, quando for o caso; auxílio-deslocamento; e auxílio para aquisição de seguro saúde. A bolsa dos candidatos selecionados deverá ser implementada no segundo semestre de 2013.

Doutorado Pleno no Exterior - O programa tem como objetivo oferecer bolsas de doutorado pleno no exterior como alternativa complementar às possibilidades ofertadas pelo conjunto dos programas de pós-graduação no Brasil, de forma a buscar a formação de docentes e pesquisadores de alto nível.
Fonte: Ascom da Capes

Saber viver


Minha autoavaliação na atuação educativa


Minha autoavaliação na atuação educativa na Emef Marcos Mélega e na SME

John Kennedy Ferreira*

1) Quando me pediram para fazer uma auto-avaliação sobre a minha intervenção educativa, lembrei  de Hannah Harendt e de seu texto “ Eichmann em Jerusalém” Neste livro a autora lembra que ser um bom funcionário num sistema totalitário é ser cúmplice do totalitarismo. Creio que o mesmo se aplica – enquanto método – a ser um bom professor tendo uma educação alienante e bestializadora. Assim, me recuso a obedecer a ordens sem questionar e pensar o que é esta ordem, para que serve, à quem favorece...(?).

2)   Dentro do meu limite busquei melhorar o ensino. Não tenho sala, sou CJ, entro quando alguém surta, foge ou simplesmente falta. Tento desenvolver alguma atividade que gere reflexão. É uma atividade quixotesca.

3)    Não aceitei a – imoral – dupla docência, julgo que dois professores – sem qualquer projeto pedagógico – numa classe de 40 alunos, são dois a pedir silêncio. Creio que a saída é a abertura de mais salas, com classes de 20 ou 25 alunos, como recomenda a LDB e a UNESCO e não o fechamento como vem sendo processado por este governo.

4)   Não aceitei os baixos salários praticados pelo governo Kassab e pelo seu secretário de educação, e , portanto fui o ÙNICO professor e trabalhador da educação desse estabelecimento de ensino a fazer greve, participar de passeatas, assembleias e de comando de greve.

5)    Não aceito o projeto ler e escrever, a educação, ao contrário do que insiste a escola (liberal) moriana, não é binária e sim holística. Por isso insisto em ensinar história e sociologia.

6)    Por fim, não consigo ser um bom professor, num projeto pedagógico – em sua essência ideológica - excludente, desconexo da realidade, do  mundo do trabalho, do conhecimento e da ciência. E acusado de corrupto no aspecto material. Não fui cúmplice. Fui um péssimo professor e tenho orgulho disso.

* Professor de História (EMEF – Marcos Mélega)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR


Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural,
nada deve parecer impossível de mudar.
(Bertold Brecht)

Natal/Ano Novo!


por Pedro Casaldáliga
- Sentinela, o que há da noite?
O que há da crise?

- De onde perguntas?
Perguntas desde a fome
ou desde o consumismo?
O grito dos pobres
sacode tuas perguntas?

Pastores marginais
cantam a Boa Nova,
com flautas e silêncios,
contra os grandes meios,
os meios dos grandes.

Nasceu-nos um Menino,
um Deus nos foi dado.
É para nascer de novo,
desnudos como o Menino,
descalços de cobiça,
de medo e de poder,
sobre a terra vermelha.
É para nascer de novo
abertos ao Mistério,
ungidos de Esperança.

Ao shopping center

Poema de José Paulo Paes, extraído do livro "PROSAS seguidas de ODES MÍNIMAS". Cia das Letras. 1992.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MEU ULTIMO NATAL NA BAHIA


Reginaldo de Souza Silva*

Todo jovem deste imenso país chamado Brasil, tem sonhos, dificuldades e, acima de tudo, fé e esperança. Se outrora, éramos o país do futuro, agora somos a quinta economia mundial. A luta para esperar o bolo crescer para dividi-lo levou milhares de crianças e adolescentes para as ruas (meninos de/na rua, abandonados, drogaditos, marginalizados, em situação de risco pessoal e social).

Agora, somos a bola da vez, copa das confederações, campeonato mundial, olimpíadas. Apesar de termos umas das piores educação do mundo e a Bahia é o destaque nesta falta de qualidade e prioridade, temos agora um programa, ciências sem fronteiras que promete para 101 mil jovens a oportunidade de estudarem em países chamados “desenvolvidos”.

Nos vários Brasis existentes no Brasil, três adolescentes a cada grupo de mil morrem antes de completar 19 anos (Índice de Homicídios na Adolescência – IHA). A taxa cresceu 14% de 2009 para 2010. A estimativa, se não houver queda no índice nos próximos anos, é que 36.735 jovens de 12 a 18 anos sejam mortos, possivelmente por arma de fogo, até 2016. A maioria das vítimas é homem e negro. O IHA passou de 2,61 mortes por grupo de mil jovens para 2,98. Os dados, referentes a municípios com mais de 100 mil habitantes tem como base os indicadores do Ministério da Saúde de 2010. As constatações, o homicídio é a principal causa de morte dos adolescentes e equivale a 45,2% do total de óbitos nessa faixa etária. Na população geral, as mortes por homicídios representam 5,1% dos casos. O dado inclui mortes em conflito com a polícia, conhecidas como auto de resistência. O cenário é de extrema vulnerabilidade para jovens expostos a uma maior incidência de mortes precoces e violentas.

Vivendo apenas de publicidade e viagens internacionais o desgoverno da Bahia não consegue enxergar o caos instalado. Realizado em 283 municípios com mais de 100 mil habitantes, o IHA mais alto esta concentrado nos estados de Alagoas (9,07), da Bahia (7,86) e do Espírito Santo (6,54), que também estavam no topo do  ranking em 2009. O menor índice foi identificado em São Paulo (0,94), cuja capital também é a menos letal para adolescentes. O município mais violento é Itabuna (BA), que registra 10,59 homicídios em cada grupo de mil jovens. Em seguida vêm Maceió, com 10,15, Serra (ES), com 8,92, Ananindeua (PA) com 8,89, e Salvador, com 8,76.
O IHA em municípios com mais de 100 mil habitantes aponta, respectivamente, para: posição, município, IHA 2010, número total de esperado de morte entre 12 e 18 anos (2010 a 2016): 1o-Itabuna/BA, 10,59, 261; 2o-Maceió/AL, 10,15, 1.214; 3o-Serra/ES, 8,92, 452; 4o-Ananindeua/PA, 8,89, 566; 5o-Salvador/BA, 8,76, 2.613; 6o-Feira de Santana/BA, 8,39, 585; 7o-Vitória da Conquista/BA, 8,13, 313; 8o-Vitória/ES, 8,04, 275; 9o-Foz do Iguaçu/PR, 7,83, 273 e 10o-Marabá/PA, 7,39, 254.

Alguns fatores, como gênero e raça, aumentam a possibilidade de um jovem ser morto. Em 2010, a chance de um adolescente do sexo masculino ser assassinado era 11,5 vezes maior que a de jovens do sexo feminino. Se o indivíduo for  negro (preto ou pardo), a possibilidade aumenta quase três vezes em relação ao branco.

Entre as regiões, de maior risco para os jovens está o Nordeste, onde o IHA é 4,93, bem superior ao nacional (2,98). Estima-se que, entre 2010 e 2016, ocorram 13.094 assassinatos de adolescentes na região. O Norte (3,62) está em segundo lugar, seguido do Sul (3,19). Já o Sudeste tem a menor a taxa (2,01), mas a maior população, o que pode significar 12.475 jovens mortos no período.

Na cidade de Salvador (uma das capitais mais violentas), em Itabuna, a mais violenta do Brasil, em Feira de Santana e Vitória da Conquista, no dia que comemoramos a Vida, conclamo a todo(a)s o(a)s baiano(a)s para procurarmos cumprir aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo afirma: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente”. O Natal só terá sentido quando a vida em abundancia possa ser garantida a todo(a)s. Neste Natal coloque em seu coração a missão de reduzirmos o índice de assassinatos de adolescentes com medidas de combate à violência letal; o controle de armas de fogo e munição; políticas públicas de esporte, lazer e cultura e empregabilidade; educação de qualidade; moradia e acima de tudo respeito.  Lembrem-se: A probabilidade de um jovem ser morto com revólver ou pistola é seis vezes maior do que a de ser morto por qualquer outro meio.

Os milhares de famílias baianas que perderam seus jovens e amado(a)s filho(a)s e a todo(a)s aquele(a)s que lutam por um mundo de paz, UM FELIZ NATAL na presença de nosso Senhor Jesus Cristo! E a todos os jovens que este não seja o seu último natal na Bahia.

* Professor doutor, coordenador do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente – NECA/UESB – reginaldoprof@yahoo.com.br

domingo, 23 de dezembro de 2012

Faxina étnica – projeto ideológico, ações políticas e interesses econômicos*


Dennis Oliveira**
A abordagem que faço das relações raciais no Brasil está fundada na concepção de que elas estão diretamente imbricadas com a estrutura de poder socioeconômico. São os modos de produção e as relações sociais deles derivadas que dão os contornos para a construção das relações raciais. É evidente que a formação de ideologias que dão sustentação a este modelo, disseminadas socialmente por instituições públicas e privadas – os aparelhos ideológicos do Estado, como chama Althusser, ou os aparelhos privados de hegemonia, do pensamento gramsciano – ganham autonomia relativa e vão se mantendo mesmo em contextos em que, por pressões políticas dos movimentos sociais, há a implementação de medidas institucionais de combate ao racismo e ao preconceito racial. Mas a compreensão de fundo das relações étnicas passa, necessariamente, pelo entendimento do contexto dos modos de produção e suas singularidades históricas.
Conforme afirma o pensador Clóvis Moura, o racismo brasileiro é produto da transição do sistema escravista para o capitalismo dependente. O “branqueamento” da população implantado por meio de políticas de exclusão dos afrodescendentes e incentivos à imigração tinha como objetivo tanto consolidar a ideia da necessidade do país se submeter a lógica do centro do capitalismo e não realizar uma “revolução burguesa” clássica no país que apontasse para a consolidação de direitos de cidadania para todos, romper com a ordem aristocrática e patrimonialista de outrora e, principalmente, promover a inclusão social de forma que se construísse um mercado consumidor interno capaz de alavancar um desenvolvimento interno capitalista. Por isto, bandeiras que poderiam perfeitamente ser absorvidas em uma ordem capitalista são tratadas como “subversivas”, como lutas por reajustes salariais, reforma agrária, etc.
Este projeto de capitalismo tem como consequência na ordem política a constante ruptura da ordem democrática-liberal. Direitos humanos e direitos de cidadania são surrupiados de forma intermitente e garantidos de forma seletiva de acordo com os estamentos sociais consolidados. Os corpos de segurança pública obedecem a este princípio – deixam de ser estruturas de proteção do cidadão para ser forças de intimidação e dissuasão de comportamentos que contrariem, minimamente, a ordem e, principalmente, a propriedade privada.
No final dos anos 1980, a Escola Superior de Guerra, think tank das Forças Armadas e um dos principais centros de produção da ideologia da “segurança nacional” que sustentou todo o aparelho repressivo da ditadura militar, elaborou um documento intitulado “Estrutura do Poder Nacional para o século XXI – 1990/2000, década vital para um Brasil moderno e democrático”. Este documento tem mais de 200 páginas e aborda vários assuntos importantes da política nacional, desde a manutenção da soberania sobre a Amazônia e os problemas sociais no país. Com relação a este último, o documento da ESG identifica dois focos de possível desestabilização social: os cinturões de miséria e os “menores” abandonados.
O texto da ESG dá destaque a estes dois problemas porque entende que há um crescimento exponencial das populações nos cinturões de miséria e dos menores abandonados que, se não forem contidos de imediato, poderiam constituir um grupo cujo efetivo poderia superar o dos contingentes militares. Por isto, propõe que as Forças Armadas devem servir de forças auxiliares para, na impossibilidade da contenção destes grupos por parte das polícias militares, a pedido do Executivo, Legislativo e Judiciário, “enfrentar esta horda de bandidos, neutralizá-los e destruí-los para que seja mantida a lei e a ordem”.
Naquela década final do século passado, consolidava-se na América Latina uma inflexão no modo de produção capitalista global que ficou conhecido como neoliberalismo. Este modelo, sinteticamente, altera a concepção de produção da larga escala para pequena escala e de consumo de massa para nichos de mercado. A rentabilidade capitalista é obtida, principalmente, pelo aumento extraordinário da produtividade do trabalhador garantida pelas novas formas de organização produtiva e pela flexibilização da jornada e da remuneração de trabalho. Com isto, há um desemprego estrutural, pois o sistema produtivo se mantém com um número muito menor de trabalhadores. A disputa pela vaga no mercado de trabalho se acirra ferozmente e o racismo passa a ser um mecanismo de seleção importante. O desemprego estrutural faz aumentar ainda mais os cinturões de miséria.
Ao mesmo tempo, a medida que este modelo de produção capitalista aponta para nichos de mercado, cria-se uma situação de uma população que é descartável para o trabalho e também para o consumo.
O projeto neoliberal também prega a redução do Estado. As poucas e falhas políticas de atendimento social são ainda mais diminuídas ante uma situação de ampliação gigantesca dos problemas sociais. A combinação desta situação política com a produto da ordem econômica cria a situação de uma “população excedente” que é descartável para o trabalho, para o consumo e que pressiona por políticas públicas que estão sendo desmontadas. A eliminação física destes grupos passa a ser um imperativo político para ser mantido o sistema, daí a lógica do documento da ESG não mais para a ideologia da segurança nacional da ditadura militar, mas sim para a manutenção do regime capitalista neoliberal.
Observa-se, entretanto, que esta faxina étnica dos anos 1990 tem uma pequena inflexão nos tempos atuais: com a mudança de estratégia do Estado brasileiro, principalmente após a vitória do PT em 2002, o capitalismo por aqui vem tomando outros rumos. O projeto do governo brasileiro, aproveitando-se da crise do neoliberalismo expressa nos grandes centros (Europa e EUA), busca construir uma base capitalista local para atuar como player global. A inspiração para tal modelo é a Coréia do Sul, isto é, construir um grupo de grandes empresas brasileiras que passam atuar globalmente aproveitando a abertura de novos mercados no eixo Sul feito pela mudança da estratégia geopolítica brasileira. É graças a este projeto que se criou um certo aquecimento da economia nacional e uma mudança na tendência ao desemprego estrutural. O Estado brasileiro passa, então, a agir como um agente de promoção global do capital nacional e o país muda sua estratégia perante a ordem global.
O que vai ocorrer, então, é uma transferência para o território nacional de certas estratégias de reprodução do capital contemporâneas. Duas novas fronteiras se abrem para a reprodução do capital – a cultura e a cidade. Ambas se complementam. E o Brasil apresenta estas duas possibilidades para o capital global, que ganham dimensão principalmente no contexto de crise na Europa.
O espaço urbano da cidade é uma das principais fronteiras de expansão do capital. Não só no sentido da construção civil, mas principalmente na consolidação de um espaço urbano que facilitem as ações do capital na produção e promoção de grandes eventos em que a mercantilização cultural é a tônica. Este fenômeno já ocorrido em várias cidades europeias é conhecido como “gentrificação” que pode ser sintetizado em reformas urbanas profundas voltadas para a elitização de determinadas localidades, tendo como consequência, a expulsão dos moradores tradicionais de tais localidades.
Para tanto, o espaço urbano necessita ser moldado de forma que tais ações possam ocorrer sem sobressaltos, sem subterfúgios. As políticas públicas urbanas são realizadas para atender esta demanda. Este processo se intensifica com a adaptação das grandes cidades brasileiras para sediar eventos internacionais – Rio 92, Rio+20, Copa do Mundo, Copa das Confederações, Jogos Olímpicos. Em torno da organização destes megaeventos, se juntam grandes empresas nacionais e transnacionais cujos negócios dependem diretamente destas ações do Poder Público.
Novamente, retornam aí os “focos” de desestabilização identificados pela ESG no documento de 1988, porém agora não mais no sentido de risco para a lei e a ordem apenas e tão somente, mas como entraves para a ação do capital no espaço urbano. A “gentrificação” brasileira não ocorre apenas e tão somente pela expulsão via a elitização e encarecimento dos custos, mas há uma limpeza étnica operada pelas forças de segurança de forma anterior às políticas de intervenção urbana, como uma “limpeza da área”. Por isto, políticas meramente desenvolvimentistas elaboradas na atual lógica de expansão do capital, apesar de proporcionar uma melhoria relativa no padrão de vida dos trabalhadores, pode também dar sustentação a ações racistas e de limpeza étnica. Daí que ao mesmo tempo em que se avançam nos direitos normativos da população negra, como a aprovação da Lei 10639/03 e as cotas raciais, há um aumento exponencial de assassinatos contra afrodescendentes, sustentados ideologicamente pelo “combate à criminalidade”. Os territórios periféricos são taxados como zonas do crime organizado que está em guerra com o Estado. A lógica da guerra sustenta a ideia de suspensão dos direitos, de um estado de “sítio” informal, daí o costumeiro desrespeito de direitos elementares de cidadania por parte das tropas policiais que atuam como “forças de ocupação”.
As operações policiais em favelas em São Paulo obedecem a uma lógica de saturação e sitiar as comunidades, de forma a conter, neutralizar e destruir, na mesma perspectiva que está presente no documento da ESG.

*Intervenção feita no Seminário sobre Faxina Étnica, organizado pelo Círculo Palmarino, no dia 15/12/2012, na sede do movimento Consulta Popular em São Paulo.

** Jornalista e professor da USP.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Educação proibida



Educação Proibida. Legendas em português do filme completo.

Sobre a velhice


Antônio Ozaí da Silva
“…carrego dentro de mim o que me mata. Falta-me tempo para as frivolidades, tenho nas mãos uma imensa tarefa. Como a realizarei? Vejo que a morte se apressa e a vida foge. Diante dessas duas pressões, ensina-me algum expediente! Faze com que eu não fuja da morte e que a vida não me escape. Exorta-me com relação ao que é difícil; dá-me longevidade contra aquilo que é inevitável. Vem alargar meu tempo, que é tão curto. Ensina-me que a boa vida não se mede pela duração mas como a empregamos. Acontece muitas vezes que uma longa vida não é realmente vivida”. (Sêneca) [1]

O jovem almeja viver muito, mas dificilmente se imagina idoso. A juventude parece-lhe eterna e raramente verá no velho diante de si o espelho que reflete a sua imagem futura – isto se tiver a sorte, ou azar, de viver muito, pois a ninguém é garantido atingir a velhice. Os jovens, em geral, sentem-se imortais, a morte parecem-lhes mais apropriada aos que chegaram à terceira idade – recusam-se a pensar na morte e nisto são acompanhados por muitos idosos iludidos com a seqüência do passar dos dias. Alguns até desdenham dos mais velhos – talvez, inconscientemente, seja uma reação de auto-proteção e de recusa do futuro que se anuncia. “Um jovem”, escreve Ernst Bloch, “pode imaginar-se como homem, mas dificilmente como idoso: a manhã aponta para o meio dia, não para a noite. Em si é estranho que o envelhecimento, na medida em que se refere à perda da condição anterior com ou sem razão sentida como mais bela, só comece a ser percebido por volta dos 50anos. Não haveria perda para o jovem que deixa para trás a criança? E não haveria uma perda para o homem quando deixa a florescência da juventude, quando o impulso se atrofia?” [2]
O cinquentenário parece anunciar o movimento de descida. Agora, a vida desce ladeira abaixo. Há o risco de deprimir-se diante da certeza de que a vida esvaece-se a cada dia e a morte parece mais próxima. O otimista reage fazendo de conta que a vida não passou, iludindo-se com o apego à juventude. O dito de que permanecemos jovens em espírito é um engodo. Não há como negar que o tempo passou, as marcas na face, as doenças que irrompem, as dores no corpo, a perda da vitalidade, etc., demonstram-no. “O tempo passa com uma infinita velocidade, e só percebemos bem se olharmos para trás; o passado escapa aos que se absorvem no presente, tal o modo pelo qual essa fuga ocorre sutilmente”, afirma Sêneca. [3]
Não é preciso enganar-se, fazer de conta de que o tempo não passou, nem cair em depressão diante das dificuldades que o avançar da idade impõe. Basta encarar com naturalidade. Começamos a morrer tão logo nascemos, é a dialética da vida. Os jovens não estão isentos do sofrimento e as dores do tempo não são exclusividade dos idosos. “Mas incomoda”, dizes, “ter a morte em vida.” Em primeiro lugar, ela está sempre presente, quer para o velho ou para o jovem – e não se trata aqui de consenso surgido de uma votação. Depois, ninguém é tão velho que não possa reivindicar para si mais um dia. Um dia é um degrau na vida”. [4]
O mais importante na vida não é a longevidade, mas o viver bem. Chegar à velhice não significa necessariamente ter vivido mais, pois aquele que a morte abraçou em tenra idade viveu bem se intensamente. “Que importa, afinal de contas, sair antes ou mais tarde de onde se deve mesmo sair? O essencial não é viver por muito tempo, mas viver plenamente”. Pois, de que adianta ao homem, “oitenta anos passados sem ter feito nada? Ele não morreu tarde, mas ficou morrendo por longo tempo. Viveu oitenta anos, mas viveu mesmo? Importa saber a partir de quando se conta sua morte?” [5]
A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que, então, temer a velhice? A morte não escolhe idade, por que temê-la? “É um homem muito feliz e com plena posse de si mesmo o que espera o amanhã sem inquietude. Todo o que diz “já vivi” recebe cotidianamente mais um dia como lucro”. [6] O amanhã não nos pertence! Portanto, encaremos com alegria ter vivido o que nos foi permitido. Ainda que o tempo imprima marcas indeléveis no corpo e alma que chega aos 50 anos de existência, nos alegremos por cada dia acrescentado ao viver. Afinal, a velhice tem as suas vantagens!

[1] SÊNECA. Aprendendo a viver. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 35-36.
[2] BLOCH, Ernst. O Princípio da Esperança I. Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2005, p. 43.
[3] SÊNECA. Aprendendo a viver. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 34.
[4] Idem, p. 10.
[5] Idem, p. 91-92.
[6] Idem, p. 11.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Inscrições para Mestrado e Doutorado em Memória


por Patrick Moraes
O Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade seleciona alunos para próximas turmas dos cursos de Mestrado e Doutorado. As inscrições acontecem no período de 14 a 28 de janeiro e é possível optar por duas linhas de pesquisa: “Memória, Cultura e Educação” e “Memória, Discursos e Narrativas”.
Os interessados devem encaminhar todos os documentos listados no Edital 232/12 para a secretaria do Programa, campus de Vitória da Conquista, das 9 às 17 horas. Estão disponíveis 12 vagas para o Mestrado e 9 vagas para o Doutorado. Todas as etapas da seleção podem ser conferidas no mesmo Edital.
Mais informações, acesse o site do Programa ou entre em contato pelo telefone (77) 3424-9395 ou pelo email ppgmemorials@gmail.com.
Assessoria de Comunicação - ASCOM

Educação contra o capital


Prefácio (trecho): Na coletânea, como um todo, Tonet registra, a exemplo do que faz, via de regra, a literatura dominante, o estado de crise em que se situa a educação. Atrela, contudo, a problemática educativa à crise estrutural do capital (atendo-se, nesse sentido, às teorizações de Mészáros). O autor busca, em última análise, no plano da materialidade ontologicamente fundada, os determinantes dessas relações, repondo o trabalho e as relações de classe no centro do processo histórico concreto e rejeitando, sob esse prisma, uma alternativa de solução para a crise da sociabilidade contemporânea, menor que a própria superação de uma ordem social que, para reproduzir-se, deve estraçalhar sistematicamente quaisquer conexões entre os indivíduos e as possibilidades emancipatórias do gênero humano.


Autor: Ivo Tonet
ISBN: 978-85-65999-09-0
Edição: 2ª – revista
Páginas: 93
Preço: R$ 5,50 + frete
Para adquirir a obra, clique Instituto Lukács

Sumário:

Prefácio de Susana Jimenez

Prefácio à Segunda Edição

1. Educação e Concepções de Sociedade

2. A Educação Numa Encruzilhada

3. Educação e Cidadania

4. Educar para a Cidadania ou Para a Liberdade?

5. Educação e Formação Humana

6. Universidade Pública: o Sentido da Nossa Luta

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mais uma vitória do movimento por democracia na PUC!


Professor Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida
Acaba de ser expedida uma decisão interlocutória da 4ª Vara Cível. Pelo despacho do juiz fica claro que a professora Anna Cintra deve se abster de praticar qualquer ato relativo à gestão da universidade (ou seja, a Justiça reconhece que ela NÃO é hoje reitora da PUC-SP), sob pena de multa de R$ 10.000 POR ATO, ou seja, qualquer assinatura, da professora nomeando algum assessor, qualquer comunicado à comunidade, implicará em uma multa de R$ 10.000. Essa sentença abrange as decisões tomadas pela professora Anna Cintra desde o dia 28/1, quando foi realizado o último Consun da gestão do professor Dirceu de Mello.
A leitura do despacho é interessante, pois mostra uma decisão que poucas vezes um Tribunal de Justiça aplica tão taxativamente a uma instituição.

Abaixo publicamos alguns trechos da decisão e o link onde a pode ser encontrada a decisão em sua íntegra.

“Com efeito, a decisão que outorgou a tutela de urgência restabeleceu os efeitos da Resolução no 65/2012 (fls. 261/263). Assim, os atos praticados por Anna Maria Leticia Marques Cintra, na condição de Reitora, são despidos de validade. De fato, ao menos até o conhecimento da decisão tomada na sessão extraordinária marcada para o dia 12 de dezembro de 2012, prevalece o efeito suspensivo conferido pelo Conselho Universitário ao recurso interposto contra a indicação feita ao Grão-Chanceler para nomeação aos cargos de Reitor e Vice-Reitor da universidade-ré e a nomeação para que ocupe o primeiro cargo, interinamente, de Marcos Tarciso Masseto. (...)
Desde 14 de dezembro de 2012, tendo em vista a intervenção nos autos de PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP e FUNDAÇÃO SÃO PAULO FUNDASP (fls. 278), há inequívoco conhecimento da decisão proferida em sede de cognição sumária. Entretanto, impressão do sítio das rés na rede mundial de computadores dá conta da sua manifesta desobediência (fls. 310/311). Do mesmo modo, Anna Maria Marques Cintra vem praticando atos na gestão da universidade como se no exercício do cargo de Reitora (fls. 312/313). Não há, no entanto, por ora, notícia da suspensão dos efeitos da decisão deste Juízo pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, tampouco da interposição de recurso com vistas à sua impugnação. (...)
Nessa ordem de ideias, a despeito do vulto dos demandados, não lhes compete aferir, no confronto entre valores, quais são prevalecentes, tampouco se avultam suas decisões interna corporis à lei. Ao revés, cabe-lhe submeter ao direito posto e às decisões do Poder Judiciário que, detendo o monopólio do exercício da jurisdição, cuida, com exclusividade, de resguardá-lo. (...)
Assim, ficam intimadas PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP e FUNDAÇÃO SÃO PAULO FUNDASP, na pessoa dos patronos constituídos nos autos, a cumprirem a decisão prolatada nos autos (fls. 261/263), sob pena da incidência multa no importe de R$10.000,00 por ato de violação, com fundamento no artigo 14, parágrafo único, do Código de Processo Civil (...)
Recolhidas as despesas processuais para o ato, qualificada a terceira interessada e fornecido seu endereço pelo autor, intime-se Anna Maria Marques Cintra para que se abstenha de praticar atos na gestão da universidade como se no exercício do cargo de Reitora, sob pena da incidência multa no importe de R$10.000,00 por ato de violação. (...)”
Intime-se.
São Paulo, 19 de dezembro de 2012.
Anderson Cortez Mendes
Juiz de Direito

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Representantes da comunidade pucquiana divulgam “Carta Pública”


CARTA DOS PROFESSORES, FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS E ESTUDANTES DA PUC-SP


Ao
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Dom Odilo Pedro Scherer,
Ao Cardeal Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grão Chanceler da PUC-SP
Aos
Secretários Executivos da Fundação São Paulo
Pde. José Rodolpho Perazzolo e Pde. João Júlio Farias Junior
Ao
Dr. Prof. Marcos Tarcísio Masetto, Decano do CONSUN
À Opinião Pública

Nós, professores, funcionários administrativos e estudantes da PUC-SP, em luta pela democracia e pela autonomia universitárias, manifestamos total apoio à deliberação do Conselho Universitário (CONSUN) que considerou nula a lista tríplice enviada ao Grão-Chanceler. Portanto, é nula a nomeação da professora Anna Maria Cintra para reitora, assim como todos os atos relacionados com este cargo que esta realizou desde então.
Nenhum conselheiro foi impedido de comparecer à reunião do CONSUN do dia 12 de dezembro. A professora Ana Maria Cintra teve plenamente garantido seu direito de defesa, do qual não fez jus. Dos 22 conselheiros presentes, 21 manifestaram-se pela nulidade da lista tríplice, um se absteve, nenhum se opôs. A vontade dos que trabalham e estudam na PUC-SP, expressou-se no mais alto órgão colegiado, que representa de forma estatutária toda esta comunidade que se manteve em greve por um mês, durante o qual esta universidade esteve repleta de atividades científicas, artísticas, políticas – em suma, culturais.
A reação da professora Anna Maria Cintra e de seu grupo contrariou a quase totalidade da PUC-SP, incluindo-se aí a maioria esmagadora dos professores que votaram nessa candidata que obteve o terceiro e último lugar nas urnas.
Apelamos, pois, ao Grão-Chanceler para que nos ouça. Não é justo e não foi justo que Vossa Eminência Reverendíssima nomeasse uma professora, seja qual for o mérito desta, que não tenha sido a escolhida pela comunidade. Se soubéssemos que isto poderia ocorrer e que tal professora renegaria o compromisso publicamente assinado, o resultado desta consulta poderia ter sido muito diferente.
Solicitamos ao Grão-Chanceler que se disponha a dialogar com o Conselho Universitário e a comunidade puquiana, nomeando um reitor interino sugerido pelo CONSUN e convidando a comunidade para organizar um novo processo eleitoral, cujos princípios e regras deverão ser livre e claramente discutidos previamente por todos nós – Grão-Chanceler, Fundação São Paulo e PUC-SP –, de modo a evitar crises semelhantes. Enquanto isso, permaneceremos atentos e ativos na defesa de uma democracia e de uma autonomia universitárias que, mesmo limitadas, nos enchem de orgulho. Somos seus artífices e herdeiros e nos sentimos no dever de preservá-las e aperfeiçoá-las para os que virão.

São Paulo, 13 de dezembro de 2012.
ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DA PUC-SP - APROPUC
ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DA PUC-SP – AFAPUC
MOVIMENTO ESTUDANTIL DA PUC-SP

domingo, 16 de dezembro de 2012

Museu Pedagógico da UESB e Editora Átomo Alínea lançam novo livro


Estado, Políticas Públicas e Capitalismo: múltiplas interpretações


José Rubens Mascarenhas de Almeida e João Diógenes Ferreira dos Santos (Orgs.)

SINOPSE

Seguindo a sanha multidisciplinar que caracteriza as publicações elaboradas no seio do Museu Pedagógico, “Estado, políticas públicas e capitalismo: múltiplas interpretações” não foge à linha político-acadêmica desse espaço de produção de saberes. Este livro apresenta um conjunto de produções acadêmicas que contemplam distintas orientações políticas e acadêmico-científicas, possibilitando enfoques que partem de diversas abordagens atualmente circundantes da produção de conhecimento, reflexo de inquietudes relativas ao fazer epistemológico, social, histórico e político que cingem os saberes.
Os autores deste livro apresentam argumentações oportunas sobre a natureza e a história política do capitalismo, seus modelos operativos, usos e implicações sobre o presente, à luz de direções teóricas e epistemológicas distintas, mas fundamentadas em correntes críticas a seus ensinamentos políticos, morais e às suas formas mutantes de expressão.

SUMÁRIO

Apresentação

Capítulo 1
A Atuação dos Países Desenvolvidos e dos Organismos Internacionais e a Construção do Consentimento Político na Disseminação da Agenda da Globalização
Álvaro Alves de Moura Jr.

Capítulo 2
A Crise do Capital, a Reestruturação Produtiva e o Estado: elementos para se pensar o trabalho na sociedade contemporânea
Ana Patrícia Dias

Capítulo 3
Estado Ampliado e Hegemonia no Pensamento de Gramsci
Wilson da Silva Santos

Capítulo 4
Lutas Contra o Um: notas do diálogo entre uma Antropologia e um Marx contra o Estado
Jean Tible

Capítulo 5
Um Olhar Sobre o Capitalismo e a Produção da Violência: um diálogo com William Shakespeare
João Diógenes Ferreira dos Santos

Capítulo 6
A Individualidade do Proletariado Contemporâneo: da Muralha do Fordismo à Superfície Flutuante da Acumulação Flexível
Juliana Sonaglio

Capítulo 7
Política, Trabalho e o Processo de Constituição em Classe do Novo Operariado Brasileiro
Cristiano Ferraz

Capítulo 8
A Educação do Campo para os Povos do Campo: das contradições capitalistas às possibilidades de superar a educação rural
Fátima Moraes Garcia

Capítulo 9
Os Referenciais de Unificação da Classe Dirigente Baiana Durante a Recente Ditadura Brasileira
José Alves Dias

Capítulo 10
A Cidade Urbano-metropolitana de Lauro de Freitas
Cristina Maria Macêdo de Alencar e Maria Helena Ochi Flexor

Capítulo 11
O Sistema Eletrônico de Controle da Produção Acadêmica nas UEBA’s como Política Neoliberal
José Rubens Mascarenhas de Almeida

Sobre os Autores

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Editora          Alínea
Edição            1ª
Data   Dezembro / 2012
ISBN  978-85-7516-616-1
Páginas          224
Formato        14 x 21 cm
Acabamento Brochura com orelhas
Na livraria Libri Laboris 

No Brasil, 38% dos universitários são analfabetos funcionais


Pesquisa aponta que estudantes não conseguem interpretar e associar informações

Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nessa segunda-feira pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. O indicador reflete o expressivo crescimento de universidades de baixa qualidade. Criado em 2001, o Inaf é realizado por meio de entrevista e teste cognitivo aplicado em uma amostra nacional de 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos. Elas respondem a 38 perguntas relacionadas ao cotidiano, como, por exemplo, sobre o itinerário de um ônibus ou o cálculo do desconto de um produto. O indicador classifica os avaliados em quatro níveis diferentes de alfabetização: plena, básica, rudimentar e analfabetismo.
Aqueles que não atingem o nível pleno são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar informações. Segundo a diretora executiva do IPM, Ana Lúcia Lima, os dados da pesquisa reforçam a necessidade de investimentos na qualidade do ensino, pois o aumento da escolarização não foi suficiente para assegurar aos alunos o domínio de habilidades básicas de leitura e escrita. "A primeira preocupação foi com a quantidade, com a inclusão de mais alunos nas escolas", diz. "Porém, o relatório mostra que já passou da hora de se investir em qualidade", afirma.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cerca de 30 milhões de estudantes ingressaram nos ensinos médio e superior entre 2000 e 2009. Para a diretora do IPM, o aumento foi bom, pois possibilitou a difusão da educação em vários estratos da sociedade. No entanto, a qualidade do ensino caiu por conta do crescimento acelerado."Algumas universidades só pegam a nata e as outras se adaptaram ao público menos qualificado por uma questão de sobrevivência", comenta. "Se houvesse demanda por conteúdos mais sofisticados, elas se adaptariam da mesma forma", fala.
Para a coordenadora-geral da Ação Educativa, Vera Masagão, o indicativo reflete a "popularização" do ensino superior sem qualidade: "No mundo ideal, qualquer pessoa com uma boa 8ª série deveria ser capaz de ler e entender um texto ou fazer problemas com porcentagem, mas no Brasil ainda estamos longe disso." Segundo ela, o número de analfabetos só vai diminuir quando houver programas que estimulem a educação como trampolim para uma maior geração de renda e crescimento profissional. "Existem muitos empregos em que o adulto passa a maior parte da vida sem ler nem escrever, e isso prejudica a procura pela alfabetização", afirma.
Entre as pessoas de 50 a 64 anos, o índice de analfabetismo funcional é ainda maior, atingindo 52%. De acordo com o cientista social Bruno Santa Clara Novelli, consultor da organização Alfabetização Solidária (AlfaSol), isso ocorre porque, quando essas pessoas estavam em idade escolar, a oferta de ensino era ainda menor. "Essa faixa etária não esteve na escola e, depois, a oportunidade e o estímulo para voltar e completar escolaridade não ocorreram na amplitude necessária", diz. Ele observa que a solução para esse grupo, que seria a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ainda tem uma oferta baixa no País.
Novelli cita que, levando em conta os 60 milhões de brasileiros que deixaram de completar o ensino fundamental de acordo com dados do Censo 2010, a oferta de vagas em EJA não chega a 5% da necessidade nacional. "A EJA tem papel fundamental. É uma modalidade de ensino que precisa ser garantida na medida em que os indicadores revelam essa necessidade", conta. Ele destaca que o investimento deve ser não só na ampliação das vagas, mas no estímulo para que esse público volte a estudar.
Segundo o cientista social, atualmente só as pessoas "que querem muito e têm muita força de vontade" acabam retornando para a escola. Ele cita como conquista da EJA nos últimos dez anos o fato de ela ter passado a ser reconhecida e financiada pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Considerar que a EJA está contemplada no fundo que compõe o orçamento para a educação é uma grande conquista", ressalta. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Produtivismo acadêmico – Sobre as dificuldades de escrever!

Antônio Ozaí da Silva*

A Profa. Ana Maria Netto Machado, no texto publicado na obra A bússola do escrever: desafios na orientação de teses e dissertações, organizada por ela e o Prof. Lucídio Bianchetti, afirma:
“A observação prática nos mestrados demonstra, de uma maneira inquestionável, que 15 ou mais anos de língua português não desenvolveram, na grande maioria dos adultos, qualquer intimidade com a sua própria escrita, de modo que eles não conseguem escrever com facilidade, nem razoavelmente, nem corretamente, nem sem sofrimento. Isto é válido para autores ávidos, oradores eloqüentes e bem-sucedidos, cuja cultura não lhes garante a habilidade para escrever. É fácil constatar essas teses no meio acadêmico entre bons professores”.[1]
Ela conclui que, “salvo raras exceções, podemos insistir, sem equivoco, que 15 anos de língua portuguesa não habilitam para escrever”.[2]
Embora a obra referida tenha sido publicada há 10 anos, o diagnóstico é, no mínimo, preocupante. Será que o quadro geral mudou? Não tenho condições de aferição plena, pois não participo da pós-graduação, mas me parece que a percepção da professora permanece válida. A minha experiência em participação em bancas, enquanto leitor dos trabalhos acadêmicos na graduação e como editor e consultor dos artigos ditos científicos confirma-o. Não é meu intuito desvalorizar nenhum autor, graduando ou pós-graduando, mas apenas constatar um fato que corrobora as palavras da professora.
Espera-se dos pós-graduandos que concluam seus trabalhos e defendam suas teses e dissertações, especialmente se recebem bolsas. São recursos da sociedade e, portanto, há imperativo ético. A responsabilidade social do pós-graduando é imensa e não diz respeito apenas ao orientador, programa e instituição.
Nem sempre a defesa e o título conquistado têm relação estreita com o domínio da escrita e o escrever bem. Aliás, a experiência editorial, especialmente na Revista Urutágua, demonstra que não existe relação de causalidade entre titulação e capacidade de escrever. Já li textos de graduandos melhores escritos do que outros cujos autores são pós-graduandos, mestres e até mesmos doutores.
Se o pós-graduando enfrenta dificuldades para escrever sua dissertação ou tese, por que exigir que escreva artigos para periódicos? Ora, sejamos sensatos, nem todos temos inspiração ou competência inerentes ao bom escritor. Escrever é algo mais do que juntar palavras, organizar citações, apresentar tabelas e quadros que possam impressionar. A escrita por obrigatoriedade produz resultados desanimadores e, muito vezes, o auto-engano. A vaidade é também uma forma de ilusão! No mercado dos bens simbólicos, a publicação de um artigo não oferece certificado de boa escrita, mas apenas a constatação de que se cumpriu a demanda produtivista. Se o pós-graduando se vê pressionado a publicar, por que não antecipar a publicação da dissertação em forma de artigos? Como pode o mestrando/doutorando se dedicar ao seu trabalho final se tem que publicar agora? É preciso muita capacidade para se desdobrar…
Para muitos escrever é quase como uma tortura – não é por acaso que pós-graduandos entram em crise psíquica e, muitas vezes, comprometem a saúde física e as relações pessoais. Deveria ser suficiente esperar que concluam o trabalho de pós-graduação. Há as exceções, os que não têm problemas em produzir, ou seja, lidam com a escrita de forma tranqüila – e há também os competidores compulsivos, os quais se alimentam psiquicamente da pressão produtivista. Não obstante, para além das exigências formais e éticas, é mais sensato aceitar o fato de que nem todos gostamos de escrever, que não temos o mesmo domínio da escrita e aptidão. Não é melhor resguardar o direito de quem não quer publicar ou escrever de acordo com a capacidade e condições?
Por que e prá quê publicar? Por que obrigar o pós-graduando a isto? Não é suficiente que conclua a pós-graduação da melhor forma possível? Que ele publique, mas se for capaz e desejar. Da mesma forma, por que exigir do seu orientador a publicação de artigos? Também ele não tem o direito de ser “improdutivo”? As exigências produtivistas nos cegam diante de um simples fato: escrever não é fácil e nem está automaticamente vinculado à titulação. Publicar e escrever bem não são sinônimos. Escrever deveria ser um exercício prazeroso e não um tormento!

[1] MACHADO, Ana Maria Netto. A relação entre autoria e a orientação no processo de elaboração de teses e dissertações. In: BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana Maria Netto (orgs.) (2002) A bússola do escrever: desafios na orientação de teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC; São Paulo: Cortez Editora, p.52
[2] Id., p. 53.

*Professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM), editor da Revista Espaço Acadêmico, Revista Urutágua e Acta Scientiarum. Human and Social Sciences e autor de Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008).