ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
26/01/2013
Cuidado: você está sendo
vigiado e manipulado. Essa é a mensagem que fica da leitura de
"Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet", novo livro de Julian
Assange.
Criador e editor-chefe do
polêmico WikiLeaks, grupo que revelou documentos secretos dos EUA, Assange, 41,
está há mais de seis meses na Embaixada do Equador em Londres. Apesar de ter
obtido asilo político no país sul-americano, ele é ameaçado de prisão pelo
Reino Unido caso deixe a missão diplomática.
"Cypherpunks" diz
respeito a um movimento que defende o uso da criptografia (a comunicação por
códigos) na internet como forma de garantir privacidade e escapar dos controles
de governos e corporações. O livro reproduz um debate entre Assange e três
companheiros ocorrido em 20 de março de 2012, quando o jornalista australiano
estava em prisão domiciliar no Reino Unido.
"É preciso acionar o
alarme. Esse livro é o grito de advertência de uma sentinela na calada da
noite", escreve Assange na introdução.
Google, Facebook, Amazon,
cartões de crédito, governo dos EUA: a metralhadora giratória do texto ataca
poderes políticos e econômicos e faz parecer brincadeira de criança a
imaginação de George Orwell.
"A internet, nossa maior
ferramenta de emancipação, está sendo transformada no mais perigoso facilitador
de totalitarismo que já vimos. A internet é uma ameaça à civilização
humana", afirma o editor, que enxerga uma militarização do ciberespaço:
"Quando nos comunicamos pela internet ou por telefonia celular, nossas
trocas são interceptadas por organizações militares de inteligência. É como ter
um tanque de guerra dentro do quarto", diz.
No livro, o Google é apontado
como "a maior máquina de vigilância que já existiu". O debate
argumenta que as agências de espionagem dos EUA têm acesso a todos os dados
armazenados por Google e Facebook --vistos como "extensões dessas
agências".
"É uma maluquice imaginar
que entregamos nossos dados pessoais a essas empresas e que elas se
transformaram basicamente em uma polícia secreta privatizada", afirma
Jacob Appelbaum, fundador da Noisebridge.
Já Andy Müller-Maguhn, do Chaos
Computer Club, considera que Visa, MasterCard e PayPal (que boicotam o
WikiLeaks) estão forçando uma "situação de monopólio".
Segundo ele, comunicados
diplomáticos americanos revelaram que o governo russo não conseguiu fazer com
que as transações dos cartões MasterCard e Visa realizadas dentro da Rússia
fossem processadas no próprio país.
"Quando Putin sair para
comprar uma Coca, 30 segundos depois Washington já estará sabendo", diz
Assange.
No debate transcrito, surgem
temas como censura, direito autoral e pornografia infantil. E são relatados
casos de softwares que, por exemplo, impedem que funcionários tenham acesso a
sites de sindicatos que informem sobre seus direitos trabalhistas.
A discussão de Assange e seus
três companheiros segue às vezes de forma um tanto caótica. Apesar de um certo
esforço de didatismo, alguns trechos mereceriam maior profundidade e
contrapontos mais sólidos.
O tom de conversa de bar ajuda
a leitura, mas deixa muitas lacunas de conteúdo. Cheio de declarações
grandiloquentes --muitas delas sem apresentar comprovações--, o livro pode ser
um ponto de partida para um debate. "Os segredos dos poderosos são
mantidos em segredo dos que não têm poder", afirma Assange. Quem pode
contestar?
CYPHERPUNKS - LIBERDADE E O
FUTURO DA INTERNET
AUTOR Julian Assange (com Jacob
Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann)
EDITORA Boitempo Editorial
QUANTO R$ 29 (168 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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