Foto: GOIABA (Goiabarea)/Flickr |
Por John Naughton
Nada dura para sempre: se a história tem uma lição a nos dar, é
essa. É um pensamento que vem da releitura do volume magistral de Paul Kennedy,
Ascensão e Queda das Grandes Potências, em que ele mostra que nenhuma das
grandes nações-Estados da história — Roma; a Espanha imperial em 1600; a França
em suas manifestações Bourbon e bonapartista; a República Holandesa em 1700; a
Grã-Bretanha em sua glória imperial — conseguiram manter sua ascendência global
por muito tempo.
O que isso tem a ver com a
tecnologia? Bem, é uma maneira útil de pensarmos sobre duas das grandes
potências tecnológicas mundiais. A primeira é a Apple. Na semana passada houve
uma verdadeira torrente de reação histérica a seu balanço trimestral, juntamente
com especulações febris sobre seu futuro. O mundo está hipnotizado há anos pela
metamorfose da Apple de uma fabricante de computadores quase falida em uma
gigante corporativa que atualmente, em alguns dias, é a companhia mais valiosa
do mundo, com reservas de caixa maiores que o PIB anual de alguns países. Mas,
assim como com todas as curvas de crescimento inexorável, a pergunta nos lábios
de todo comentarista é: a Apple atingiu o pico?
Se você acha que “histérica” é
um pouco duro, avalie isto: apesar de a Apple não ter vendido os 50 milhões de
iPhones previstos para o trimestre (ela “só” vendeu 47,8 milhões) e as vendas
de seus computadores Mac terem caído um pouco, de todo modo o resultado
trimestral significa que, em 2012, a Apple faturou mais que qualquer outra
corporação em todos os tempos. E até o rendimento supostamente decepcionante de
13,1 bilhões de dólares foi o quarto maior de todos os tempos, segundo a mesma
medição. E a reação do mercado de ações a essa notícia? O preço da ação caiu
10% após o pregão.
Depois há a rede social
Facebook, com seus bilhões de usuários, que também é o foco de muitos
comentários excitados. Recentemente, o império de Mark Zuckerberg lançou sua
última arma mortífera com o nome atraente de Graph Search (busca gráfica). O
novo instrumento do Facebook é apenas um algoritmo que encontra informações na
rede de amigos de uma pessoa e complementa os resultados com acertos da máquina
de buscas Bing da Microsoft, mas ao ler alguns comentários sobre ela você
pensaria que Zuckerberg e Co. tivessem inventado uma máquina de movimento
perpétuo ou uma passagem sem escalas para o inferno.
“A nova máquina de buscas do
Facebook tenta construir muros ao redor da internet e manter sua horda dentro
dos portões”, escreveu o webmaster de uma respeitada revista online. “É um
pesadelo, e provavelmente vai dar certo.”
Na verdade, é a última
tentativa do Facebook de se tornar a AOL de hoje. E afinal ela vai falhar pelo
mesmo motivo que a tentativa da AOL de encurralar os usuários em seu jardim murado
falhou: a internet mais ampla é simplesmente diversificada, inovadora e
interessante demais. Mas, como o Facebook ocupa um lugar tão grande na
consciência do público neste momento, é difícil mantê-lo em perspectiva. E é
por isso que o livro de Kennedy é uma leitura tão salutar.
Assim, o que precisamos lembrar
enquanto percorremos os atuais comentários superaquecidos sobre Apple e
Facebook é que nada dura para sempre. Estou neste ramo há tempo suficiente para
lembrar uma época em que a Microsoft era pelo menos tão predominante e
assustadora quanto essas duas empresas são hoje. Avance algumas décadas e a
Microsoft continua aí, mas hoje é uma gigante em dificuldades — rentável, mas
não mais inovadora, tentando (até agora sem sucesso) pôr um pé no mundo pós-PC,
do celular e baseado na nuvem.
Embora o eclipse da Apple e do
Facebook seja inevitável, o momento e as causas de seus eventuais declínios
serão diferentes. A força atual da Apple é que ela realmente faz coisas que as
pessoas ficam desesperadas para comprar e com as quais a empresa tem lucros
enormes. A lógica inexorável do negócio de hardware é que esses lucros vão
declinar com o aumento da concorrência, então a Apple será menos rentável em
longo prazo. O que determinará seu futuro é se ela poderá inventar novos
produtos que criem um mercado, como iPod, iPhone e iPad.
O Facebook, por outro lado, não
faz nada. Apenas oferece um serviço online que, por enquanto, as pessoas
parecem valorizar. Mas para ganhar dinheiro com esses usuários e satisfazer os
cidadãos de Wall Street ele precisa se tornar cada vez mais intruso e
manipulador. Em outras palavras, está condenado a um excesso de intrusão. E é
por isso que, no final, se tornará uma nota de rodapé na história da internet.
Exatamente como a Microsoft, na verdade. Sic transit gloria.
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