Na Rocinha, Ginásio Experimental de Novas
Tecnologias agrupa alunos em equipes, define estratégias individuais de
aprendizado, eleva professores à condição de orientadores e tem jornada
integral
Por Patrícia Gomes
no Porvir
2 DE FEVEREIRO DE 2013
O Rio de Janeiro começa, nas
próximas semanas, a experimentar um novo tipo de escola. Nada de séries, salas
de aula com carteiras enfileiradas e crianças ordenadamente caminhando pelo
espaço comum. A aposta para dar a 180 crianças e jovens da Rocinha uma educação
mais alinhada com o século 21 é o Gente, acrônimo para Ginásio Experimental de
Novas Tecnologias, na escola Municipal André Urani. O espaço, que acaba de ser
totalmente reformulado para comportar a nova proposta, perdeu paredes, lousas,
mesas individuais e professores tradicionais e ganhou grandes salões, tablets,
“famílias”, times e mentores.
Não houve pré-seleção. Os
alunos que farão parte dessa nova metodologia já são os matriculados na escola
antes da reforma. Mas agora as antigas séries serão extintas e não haverá mais
as salas de aula tradicionais, com espaço para 30 e poucos alunos. Em vez
disso, os jovens – que estariam entre o 7o e 9o anos – serão agrupados em
equipes de seis membros, chamadas de “famílias”, independentemente de sua série
de origem. A formação das famílias ocorrerá em parte por afinidade, a partir da
escolha dos próprios membros, e em parte a pelo diagnóstico de habilidades ao
qual os alunos se submeterão no início do ano letivo.
Essa avaliação, que ocorre
assim que eles chegarem ao Gente, pretende fazer um raio-x do estado da
aprendizagem de cada um, tanto do ponto de vista do conteúdo tradicional quanto
das habilidades não cognitivas, como comunicação, senso crítico, autoria. Cada
aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal, que funciona como uma espécie
de playlist, só que em vez de músicas, estarão os pontos que ele precisa
aprender ou desenvolver. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o
conteúdo lhe será entregue – videoaulas, leituras, atividades individuais ou em
grupo. Todas as semanas os alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um
programa inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para
garantir a evolução no conteúdo. Quando ele não chegar ao resultado esperado, o
jovem receberá uma atenção individualizada.
Tal atenção é de
responsabilidade do mentor da família, o professor. Cada mentor será
responsável por três famílias, que reunidas serão chamadas de equipe. “O mentor
deve dar uma educação mais ampla, preocupada não só com os conteúdos
tradicionais, mas com higiene, com aspectos socioemocionais do aluno, com a
motivação dele”, diz Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais
da Secretaria Municipal de Educação do Rio, explicando a mudança no papel do
professor naquele contexto. Em vez de dar aula de português ou matemática, o
mentor vai ajudar o aluno a encontrar a informação de que precisa para entender
o conteúdo, mesmo que o assunto não seja o da sua formação.
Assim, explica Parente, se um
professor de língua portuguesa precisar explicar um assunto mais específico de
matemática, ele deve pedir ajuda para membros da família, se sentar com o aluno
para assistir à videoaula da Educopedia com ele, tentar aprender junto. “O
professor não vai ser mais aquele que transmite o conhecimento. Ele vai ser
especialista na arte de aprender”, diz o subsecretário. O grupo de mentores que
fará parte do Gente foi treinado para essa nova forma de lecionar.
Todos os dias, ao chegarem à
escola, os alunos passarão por um momento de acolhida, em que compartilharão
com seus pares experiências e expectativas para o dia. A jornada na escola é
integral. Neste tempo, com o auxílio de seu itinerário e a liderança do tutor,
cada um deverá decidir o que e em que ordem estudar e poderá, à livre escolha,
se juntar a grupos de estudo de língua estrangeira, robótica, esportes, artes,
desenvolvimento de blogs. É nesse momento que uma pergunta inevitável aparece:
mas se o aluno não quiser fazer nada, ele não vai fazer nada, certo? Mais ou
menos. Os mentores, explica Parente, estarão sempre por perto para motivar os
alunos a avançarem, as avaliações mostrarão quem está ficando para trás e os
integrantes da família – o tal grupo de seis – também deve incentivar uns aos
outros. “Quando o aluno é protagonista do próprio aprendizado, faz suas
escolhas, ele se envolve mais, se empolga mais com a escola.”
A tecnologia é outro fator
importante na forma como o projeto foi organizado. Para que os alunos possam escolher
entre ambiente virtual ou presencial, era preciso que todos os alunos tivessem
acesso a equipamentos e internet. Por isso, cada aluno terá o seu tablet ou
netbook e, quando for pedagigocamente justificável, vai poder levá-lo para
casa. Todas as dependências do André Urani terão internet sem fio de alta
velocidade.
Fonte: Outras
Palavras
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