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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Universidades estaduais da Bahia: o silêncio dos inocentes


Milton Pinheiro, 20/06/2014

Li o artigo do deputado Emiliano José, publicado neste jornal, em 16/06, sobre a presença das universidades federais na Bahia, como promotoras de um conjunto de ações jamais vistas entre nós. Tal ação, partindo da Ufba e agora das novas universidades, para ele, será um marco no desenvolvimento da educação, passando a ideia de que tudo isso ocorria pela primeira vez.

Compreendo que, pelo teor do texto, e pela louvação ao governo da república, o autor está se referindo ao ensino federal. No entanto, gostaria de fazer um registro histórico: o ensino superior estadual é responsável, apesar do pífio investimento do governo do estado da Bahia, por uma longa jornada de integração regional e desenvolvimento local, atendendo com seus cursos e projetos especiais a todas as regiões administrativas da Bahia. Embora seja evidente que temos feito isso com grandes dificuldades em virtude da histórica falta de prioridade dos governos.

As universidades estaduais da Bahia encontram-se em todas as regiões em que o deputado insiste em não ver ou calar-se sobre suas ações. A quem interessa o silêncio sobre as políticas públicas desenvolvidas por elas, através do enorme esforço de sua comunidade? Por que silenciar diante da saga social, pedagógica e científica desenvolvida pelas universidades estaduais? Que, com tão parco orçamento, tem aprofundado e desenvolvido o conhecimento para colocá-lo a serviço da população da Bahia?

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Vale lembrar, também, que o texto silencia sobre o papel das estaduais no gigantesco processo de formação de professores para a rede básica. Além disso, talvez, para alguns, não seja importante o desenvolvimento de tecnologias e estratégias de alfabetização que há dezenas de anos as estaduais desenvolvem para erradicar o analfabetismo e o seu papel na pesquisa agroalimentar, socioeconômica, pedagógica e na área das ciências humanas.

Todavia, um detalhe faz-se importante para refletir sobre o texto: numa parte da região onde se instalou a Univasf, já existem dois campi da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Juazeiro e Senhor do Bonfim. Quando da instalação da UFRB no recôncavo, já existia o campus da Uneb em Santo Antônio de Jesus com amplo atendimento por demanda de ensino superior. A Uefs, em Feira de Santana, com sua presença longeva, irradia conhecimento e pesquisa para grande extensão da Bahia.

Na área da Universidade do Sul da Bahia, já existe a Uesc que tem respondido às questões da lavoura do cacau e os campi da Uneb, em Teixeira de Freitas e Eunápolis. No oeste baiano é tradicional a presença da Uneb (Barreiras) na região que deverá ter a Ufob. No sudoeste da Bahia, onde se levanta a proposta de implantar uma federal, existe a Uesb com uma forte presença de pesquisa na área da zootecnia e outras áreas do conhecimento.

E agora a campanha pela Universidade Federal do Nordeste da Bahia, numa região onde a Uneb tem trabalhado de forma perene com a sua histórica presença nas cidades de Alagoinhas, Serrinha, Conceição do Coité, Euclides da Cunha e Paulo Afonso, região que contou, assim como outras, com a presença do inovador programa especial, Rede Uneb-2000.

Certamente a memória e história da saga de Canudos e de Antonio Conselheiro, não será descoberta agora, ela é produto de uma vasta pesquisa histórica que a Uneb e seu parque de Canudos desenvolvem há muito tempo, resgatando o papel seminal daquele processo histórico brasileiro. É justa a preocupação com o ensino superior federal na Bahia, melhor ainda se ela viesse acompanhada de condições de funcionamento.

No entanto, entrar no mérito dessa questão silenciando sobre o papel das estaduais, ou colocando as federais em detrimento delas, é no mínimo retirar do livro da história o papel da comunidade acadêmica que construiu essa jornada de luta social. É, ainda, uma política danosa do ponto de vista do planejamento público integrado. A não ser que a política do governo estadual, aliado do deputado, seja de substituir o papel histórico das estaduais e isso, talvez, esteja sendo confirmado no silêncio dos inocentes.

Fonte: A Tarde

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