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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

SOLIDARIEDADE AO PROFESSOR MIGUEL CHAIA E PROPOSTA DE DEBATE SOBRE OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ACADÊMICA

É com imensa preocupação que avaliamos o descredenciamento parcial de sete professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, especialmente do professor Miguel Chaia que, por meio de carta que terminou por se tornar pública, detalhou sua importante produção cultural no período recente.

O professor Chaia realiza, há mais de três décadas, importantíssimas atividades de docência, pesquisa e extensão, construindo uma história intelectual que se confunde com a da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP, inclusive com o referido Programa de Pós-Graduação. Suas atividades de pesquisador, contribuindo decisivamente para a formação de inúmeros cientistas, alguns dos quais atuam no PEPGCS; o brilhantismo com que contribui para que a EDUC seja uma editora universitária plural, criativa e de imenso prestígio; a qualidade dos textos que escreve; suas intervenções em diversas atividades culturais fora da PUC-SP, mas que também engrandecem esta universidade; tudo isso expressa uma produtividade (para usarmos o refrão do momento) que não é necessariamente menor do que a publicação de três artigos anuais em revistas Qualis A1 ou A2, ao menos no campo das Ciências Sociais.

Não somos, em hipótese alguma, favoráveis à condescendência com quem não leva a sério o trabalho acadêmico. Mas a irrelevância das realizações do professor Miguel Chaia para os critérios de avaliação que se impõem não o desqualifica. Ao contrário, depõe contra estes critérios, expressando o quanto são contraproducentes ao se transformarem nos únicos ou predominantemente adotados.

Tais critérios, quando apresentados como o suprassumo da meritocracia, contribuem para ocultar o contrário do que alardeiam: a competição desenfreada em um ambiente que, dada a extrema escassez de recursos, necessariamente produzirá “perdedores”, indivíduos ou instituições, por melhor que seja a produção cultural, incluindo-se aí as mencionadas atividades de pesquisa, docência e extensão. Não por acaso, em diversas universidades, muitos dos que aderem a este fundamentalismo do quantitativo já expressam desinteresse pela publicação de livros e orientação de pesquisas de iniciação científica.

O que ocorre com o professor Miguel Chaia, a quem prestamos solidariedade, só é um fato isolado devido à saudável coragem que teve para se rebelar contra a
distorção que o atingiu. Até neste caso ele se demonstra altamente produtivo.

Eis um ótimo alerta para a necessidade urgente de uma discussão democrática
e séria sobre a adoção de parâmetros rigorosos e pluralistas de avalição no
mundo acadêmico brasileiro.

São Paulo, 02 de novembro de 2014.

Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais (NEILS)··.

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