Janio Santos*
A questão PLANSERV no contexto do Governo Jacques Wagner foi imposta, aprovada de forma absurda e sem respeito às manifestações feitas pelos os servidores [dando materialidade à ideia do "tratorar"] e, pior que isso, está sendo esquecida no contexto da vida cotidiana dos trabalhadores estaduais, principalmente, nos espaços de luta por seus direitos, que seriam [futuro do pretérito mesmo, porque os sindicatos, hoje, são, efetivamente, um braço do Estado] os fóruns/espaços sindicais.
Alguns aspectos, todavia, precisam ser destacados, porque sinalizam como será o futuro, com mais três anos de governo, políticas e práticas centradas no que chamo de Wagnismo, porque, para além do que ficou conhecido como Carlismo, são estratagemas bem diferenciados.
Para iniciar, sei que, hodiernamente, há várias "velhas prostitutas que pregam a castidade", ou, como ouvi na Rádio Metrópole, há "Satanás que prega quaresma", o que assenta meu discurso longe de quaisquer perspectivas de pensar [como fazem sempre os falsos nostálgicos] que "antigamente isso ou aquilo era melhor". Falo de um contexto histórico específico e faço um esforço para analisar algumas questões que emergem da atualidade, como políticas de um governo específico. Todavia, não vou dar respostas, mas levantar perguntas que precisam ser refletidas por todos nós.
Um primeiro ponto é perguntar: o que ainda vem como políticas de desmantelamentos do Estado para o Governo Jacques Wagner? Não vou encabeçar um rol exaustivo, mas a aprovação da privatização dos cartórios; a privatização da BR 116 [sem nenhuma manifestação contrária, diga-se de passagem]; as políticas de estrangulamento das universidades públicas e os (ab)usos de verbas destinadas para o ensino superior, para (a)pagar os "buracos" do orçamento do Estado; o projeto de alteração do PLANSERV; a proposta de "mordaça" para os professores das UEBA's, dentre várias outras ações, marcam o "modelo" de gestão adotado por este Grupo que está no poder. Falar em Neoliberalismo é muito pouco, porque é prática neoliberal somada ao controle/aquiescência dos movimentos que se diziam contrários a tais propostas, a maioria [todos?] cooptada por este governo [preciso dar exemplos?]. Por isso, não é por acaso que tudo acontece sob o controle taciturno das lideranças sindicais, algumas das quais aparecem travestidas em falsos discursos contra-hegemônicos. Não sou vidente, mas se trilharmos o caminho percorrido até o momento, o que está por vir não são "coisas" que beneficiarão os servidores, tampouco a sociedade como um todo.
Isso nos leva a pensar, no contexto da Bahia, a relação entre Estado e capital [não só privado]. Na Bahia, o pensamento marxista de que o Estado "é o instrumento do qual se serve o capitalismo para explorar o trabalho assalariado" e o "o braço repressivo de quem domina" ganha materialidade sem igual. Não vou trazer um novo rol, mas a atual questão Planserv deixou o segundo ponto bem evidente. Não sei se todos sabem, mas o atual presidente da Câmara Marcelo Nilo mandou a polícia expulsar ["na tora"] os servidores que estavam protestando contra a aprovação [quem veio socorrer?]. Essa relação atual entre Estado e capital, no contexto da Bahia, passa a ser um verdadeiro laboratório para pensarmos esse aspecto. Por isso, prefiro ficar com as ideias proferidas pela Prof. Dra. Alexandrina Luz, quando diz que a relação entre Estado e capital, atualmente, mais do que uma relação entre "marido e mulher", é uma relação entre amantes; ou seja, “na surdina”, a coisa parece ser mais gostosa.
Por final, como a sociedade pode posicionar-se sobre essas práticas e ações do Wagnismo, para além dos [falsos] movimentos de lutas? Falo isso porque se observarmos o modo como foi aprovado o Projeto de Lei do Planserv, uma clara mostra das práticas de "tratoragem" adotadas no contexto do Wagnismo, torna-se desnecessário perguntar o que vai ser "barrado" na Câmara por este governo do PT - Nada!; o que vão fazer os sindicatos? Nada!
Contudo, por incrível que pareça, isso me leva a trazer uma frase proferida pelos "Mestres dos Magos" [aquele sabiozinho da "Caverna do Dragão"], quando terminou um dos episódios do desenho, ao afirmar que "Quando as coisas estiverem piores é porque estarão melhores". Contudo, em que tal frase contribui para desvendar as máscaras atuais?
As "coisas estarão melhores" porque hoje escancaram para a sociedade qual é a verdadeira face do governo atual, da política adotada pelo PT na Bahia; as "coisas estarão melhores" porque evidenciam quem são as lideranças sindicais e quais os seus papéis no contexto do atual governo; as "coisas estarão melhores" porque deixam claro que as práticas e ações do governo do Jacques Wagner são reafirmadas e defendidas pelos representantes de sua base aliada e que não podemos desvincular as políticas do Wagnismo dos representantes dessa base [quer uma mostra? Veja as imagens abaixo]; as "coisas estarão melhores" porque permitem "levantar o véu" ou tirar "as lentes cor de rosa" até dos que defendiam esse atual governo, que põe na esteira os interesses coletivos da sociedade baiana em prol de seus próprios interesses e dos detentores do capital privado [a Copa do Mundo está por vir e poucos se perguntam qual a efetiva contribuição que essa dará a sociedade baiana? Os "elefantes brancos" erguidos na África do Sul desvelam bem as mudanças e os benefícios trazidas por esse Evento ao país; como as desigualdades foram superadas ... uma piada!]; finalmente, as "coisas estarão melhores" porque desnudam para onde os bilhões de dinheiro público vão - verbas que são retiradas anualmente dos setores de saúde, segurança e educação - e que naturalizam [algo socialmente construído] o aprofundam das péssimas condições de prestação de tais direitos à população baiana.
As "coisas só não estarão melhores" para o existir cotidiano dos milhões de pobres, que constituem a classe trabalhadora deste estado, muitos dos quais estão desempregados, subempregados, são aposentados/pensionistas ou servidores públicos, porque precisam desatar todos os "nós" da falsa e hipócrita "Bahia de todos nós".
*Professor Adjunto Doutor. Departamento de Geografia/UESB. Coordenador do Grupo de Pesquisa Urbanização e Produção de Cidades na Bahia.
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