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terça-feira, 10 de abril de 2012

Às vezes a única coisa verdadeira em um jornal é a data

“Às vezes a única coisa verdadeira em um jornal é a data”. (Luis Fernando Veríssimo)

Imagem: materiaincognita.com.br
Resposta da professora Sofia Manzano para a rádio CBN, a respeito da reportagem e entrevista sobre o Irã, onde os dados foram despudoradamente manipulados.
From: sofiamanzano@hotmail.com
To: cristina.coghi@cbn.com.br; mariza.tavares@cbn.com.br
Subject: Sobre o Irã e a liberdade de imprensa no Brasil
Date: Tue, 10 Apr 2012 00:27:07 -0300


Cara Radialista Cristina Coghi,
Fiquei impressionada com a falta de informação e conhecimento que a senhora - como radialista e defensora da imprensa livre e da 'verdadeira' informação - demonstrou na matéria veiculada hoje, 09/04/2012,, às 23:00, no programa Papo de Viajante sobre o Irã. Além da manchete mentirosa que está estampada no site da CBN - Apesar da ditadura, Irã é marcado pela diversidade.
Primeiro: no Irã MULHER VOTA, ao contrário do que foi afirmado - vide busca rápida que fiz pela internet.
Segundo: Mulher, no Irã, tem muito mais direito que na Arábia Saudita, onde as mulheres não podem nem estudar. No Irã não só estudam como são DOUTORAS em todas as áreas, inclusive Ciência política, como a mulher do candidato à presidência da república Mousavi cuja mulher, Zaghra Rahnavard, professora de ciência política, participou ativamente de comícios, debates para disputar o voto das mulheres.
 Terceiro: se o Irã tem eleições, e são disputadas, como é que é uma Ditadura? A senhora, radialista que deveria informar corretamente seus ouvintes, só me faz pensar que não basta ter 'liberdade de imprensa' se a imprensa é, no mínimo, de uma ignorância ímpar. Na verdade, é uma imprensa que só reproduz o que as agências de notícias, direcionadas pelos interesses dos EUA, de forma acrítica desejam. E viva a liberdade!
 A “nossa” imprensa que veicula livremente o que é do interesse dos EUA se cala com relação aos aliados americanos da Arábia Saudita, em que mulher não vota, não estuda, não trabalha, não faz cinema, não pratica esportes e TODA A POPULAÇÃO NÃO TEM INTERNET. Tudo o que é permitido, com muito mais qualidade que no Brasil, às mulheres iranianas.
Cara Radialista, a senhora podia ao menos ir ao cinema (uma dica, assista aos filmes iranianos, ou melhor, os produzidos pelas mulheres no Irã). Talvez assim adquira um pouco mais de conhecimento e cultura para ocupar um espaço PÚBLICO que é a concessão do uma faixa de rádio.
 Não faz bem ao Brasil e aos ouvintes do nosso país “livre e democrático” ter gente que reproduz, acriticamente, idéias erradas talvez a mando dos poderosos donos dos meios de comunicação no País que, cinicamente, disponibilizam a vocês, jornalistas, uma
BREVE DEFINIÇÃO DE JORNALISMO
De todas as definições possíveis de jornalismo, a que as Organizações Globo adotam é esta: jornalismo é o conjunto de atividades que, seguindo certas regras e princípios, produz um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas.(...). O jornalismo é aquela atividade que permite um primeiro conhecimento de todos esses fenômenos, os complexos e os simples, com um grau aceitável de fidedignidade e correção, levando-se em conta o momento e as circunstâncias em que ocorrem. É, portanto, uma forma de apreensão da realidade.
 Antes, costumava-se dizer que o jornalismo era a busca pela verdade dos fatos. Com a popularização confusa de uma discussão que remonta ao surgimento da filosofia (existe uma verdade e, se existe, é possível alcançá-la?), essa definição clássica passou a ser vítima de toda sorte de mal-entendidos. A simplificação chegou a tal ponto que, hoje, não é raro ouvir que, não existindo nem verdade nem objetividade, o jornalismo como busca da verdade não passa de uma utopia. É um entendimento equivocado. (...) se a objetividade total certamente não é possível, há técnicas que permitem ao homem, na busca pelo conhecimento, minimizar a graus aceitáveis o subjetivismo.
É para contornar essa simplificação em torno da "verdade" que se opta aqui por definir o jornalismo como uma atividade que produz conhecimento. (...) Dizer, portanto, que o jornalismo produz conhecimento, um primeiro conhecimento, é o mesmo que dizer que busca a verdade dos fatos, mas traduz com mais humildade o caráter da atividade. E evita confusões.
Dito isso, fica mais fácil dar um passo adiante. Pratica jornalismo todo veículo cujo propósito central seja conhecer, produzir conhecimento, informar. O veículo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa faz propaganda. Um está na órbita do conhecimento; o outro, da luta político-ideológica. Um jornal de um partido político, por exemplo, não deixa de ser um jornal, mas não pratica jornalismo, não como aqui definido: noticia os fatos, analisa-os, opina, mas sempre por um prisma, sempre com um viés, o viés do partido. E sempre com um propósito: o de conquistar seguidores. Faz propaganda. Algo bem diverso de um jornal generalista de informação: este noticia os fatos, analisa-os, opina, mas com a intenção consciente de não ter um viés, de tentar traduzir a realidade, no limite das possibilidades, livre de prismas. Produz conhecimento. As Organizações Globo terão sempre e apenas veículos cujo propósito seja conhecer, produzir conhecimento, informar.
Em resumo, portanto, jornalismo é uma atividade cujo propósito central é produzir um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas.
 Veja, particularmente o trecho abaixo e grifado no texto:
O veículo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa faz propaganda. Um está na órbita do conhecimento; o outro, da luta político-ideológica.
Em qual veículo a senhora acredita que trabalha?
Atenciosamente,

Sofia Manzano (Professora universitária e economista).

PS: para a leitura completa de como deve ser o “verdadeiro” jornalismo nas Organizações Globo, acesse o site da CBN.

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