Manifesto de Apoio às Ocupações do Grajaú e de Repúdio à Violência Policial contra os Trabalhadores e Trabalhadoras em Luta por Moradia
A falta
de moradias e a precariedade das condições de habitação de grande parte da
população pobre de São Paulo sempre foi um problema social grave, e tem piorado
nos últimos anos. Por meio da ação de grandes empreiteiras e imobiliárias,
respaldadas e incentivadas pelo Estado em âmbito municipal, estadual e federal,
regiões que abrigam uma importante parcela da população trabalhadora da cidade
passaram a ser objeto de violenta especulação imobiliária. O distrito do
Grajaú, que concentra mais de 1 milhão de pessoas, tem sido varrido por uma
onda de despejos em massa. Via de regra, às famílias atingidas é oferecida uma
indenização pífia ou o auxílio-aluguel, desencadeando um brutal aumento do
déficit habitacional, do preço dos aluguéis, bem como do custo de vida na
região de uma maneira geral.
Em
resposta a esse quadro desesperador, sobretudo nos últimos dois meses dezenas
de terrenos abandonados foram ocupados de maneira espontânea pela população
pobre do extremo sul de São Paulo. Em muitos casos, em meio a um processo
intenso de organização, os ocupantes se engajaram em viabilizar um projeto
habitacional nas áreas ocupadas, buscando garantir não apenas a construção de
moradias, mas também a preservação ambiental, e a criação de equipamentos
públicos e de áreas coletivas.
Diversos
esforços foram feitos no sentido de discutir esses projetos com a administração
do Prefeito Fernando Haddad, que reiteradamente negou a possibilidade de
diálogo. Além disso, por diversas vezes se afirmou publicamente que os
ocupantes são oportunistas, que supostamente querem “furar” as irreais “filas de
espera” da COHAB e da Secretaria Municipal de Habitação. Além disso, foi dito
categoricamente por membros da gestão Haddad que todos os terrenos públicos
serão reintegrados, e que inclusive iriam pressionar os proprietários dos
terrenos privados a solicitar a reintegração de posse na justiça.
A
intransigência e a truculência da atual gestão municipal chegou a um ponto
extremo no dia 16 de setembro, quando, sem qualquer aviso prévio e sem ordem
judicial, o Prefeito Fernando Haddad e a Subprefeita da Capela do Socorro,
Cleide Pandolfi, mobilizaram a Tropa de Choque da Polícia Militar, bem como
efetivos da Guarda Civil Metropolitana e da Guarda Ambiental para despejar
violentamente os moradores do Jardim da União, que ocupavam um imenso terreno abandonado,
de propriedade da Prefeitura de São Paulo. Bombas de gás lacrimogêneo, sprays
de pimenta, balas de borracha e cassetetes foram empregados contra crianças,
idosos, gestantes, pais e mães de família que já haviam se comprometido a
desocupar a área pacificamente. Móveis, geladeiras, fogões e diversos outros pertences
dessas famílias foram destruídos e extraviados, celulares e câmeras filmadoras
foram roubados, pessoas foram detidas... Uma violência desmedida e inaceitável
objetivando dar cabo a uma reivindicação legítima e necessária.
A
questão habitacional do Grajaú não será resolvida com repressão policial, e nem
com intransigência, desqualificação e medidas paliativas. Reivindicamos a
abertura de uma real negociação entre as famílias ocupantes e o Prefeito
Fernando Haddad, para que se viabilize a implementação de programas
habitacionais nos terrenos ocupados. E repudiamos o emprego de violência contra
as famílias em luta, como ocorreu no trágico dia 16 de setembro. Todo Apoio à
Ocupação Jardim da União, e às demais ocupações do Grajaú! Abaixo a Repressão contra
a população em luta por moradia!
Paulo
Arantes - FFLCH USP
Otília
Beatriz Fiori Arantes - FAU-USP
Boaventura de Sousa Santos, Universidade de Coimbra
Maria Rita Kehl. psicanalista, SP
Roberto Leher -Professor Titular UFRJ, Brasil
Lincoln Secco - USP
Ivana jinkings,
editora, SP
Caio N. de Toledo. - Unicamp
João Bernardo, escritor
Luiz Bernardo Pericás , USP
Yanina Stasevskas, psicanalista,
SP
Clarisse Chiappini Castilhos,
economista, Porto Alegre
Lorene Figueiredo, UFF
Elie Ghanem - FEUSP
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