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sábado, 22 de março de 2014

DESNUDANDO A IRA


Declamarei sempre

Versos à soleira

Quando eles marcharem

Pela minha porta


Fonte de inspiração macabra

Não necessita mais

Do balanço sedutor

Das meninas de frescor juvenil


Autoridade pisante

Pelas sandálias e chinelos

Sapatos finos de saltos

Com desenhos de coturnos


Fileiras de pés inchados

Com mãos calosas

Ainda se servem

Mesas postas por Mussolini


Quase um século

Embrutecido em dias

Não se abre mão

Por luvas brancas manchadas


Não importa, contudo

Que se levantem bandeiras

Coloridas em tons

Amarelos, verdes ou azuis


Porém, o naufragar

Do “barco democrático”

Não deixa de amargar

Quando as flâmulas são vermelhas


Derrubam-se estátuas

Sem pedir licença

Para escultores de arte

Que não combate ideias e equívocos


Ofuscam-se objetivos humanos

Com projetos da barbárie

Aliançados com santos e escribas

Na cadência de Estados de classe


Mas na frente de batalha

Há ainda quem chore

Pelo olho que perdeu

Com a cegueira doada


Dilacera membros inteiros

Espinha dorsal fraturada

Homens e mulheres aleijados

Cadeiras de rodas ao combate


Fuzis, pistolas e bombas

Massas que rolam padecem

Troco nem sempre certo

Mas alvo que se treina acerta


Morrem-se mais acidentados

Que em guerras de rapina

Morreram-se mais em guerra civil

Que nas insurreições acontecidas

Das penas que digitam

Aos que impunham coquetéis

Jovens que não se abatem

Jornadas de liberdade


São eles a esperança

Pelas ruas e praças

Para combater-se em continentes

Ações do capital


São assim, todavia sempre

Máscaras negras que caem

Nas trombadas dos gorilas

Do chão às copas altas


Mas aqui vamos nós

Nos debates e nas frequências

Dançando nas lutas

Com razão lógica e livre


Sentimentos sinceros

Proletários puros

Corações abertos e feridos

Sangrando emoções em luto

Amputando os sonhos

Mutilando a alma buliçosa

Soluçando borbulhantes pingos

Com lágrimas da história que passa


Odiando os de papéis pintados

Burgos gelatinosos cheios

Que nos mandam cassetetes e tonfas

No fogo das barricadas


Sensibilidade que se brota

Pelos poros, corações e mentes

De uma alma que não descola

Dos que tombam pelo amor à vida

CARLOS MAIA - 17.03.14

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