Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) avalia mudanças como negativas |
Viviane Tavares,
da EPSJV/Fiocruz
06/12/2013
Ainda em discussão no Senado, o
Plano Nacional de Educação (PNE), que deveria estar vigorando desde 2011, tem
causado divergências. O projeto (PL 8035/2010 ), que saiu da Câmara dos
Deputados em outubro do ano passado e agora encontra-se no Senado, sob o PLC
103/2012 , passou pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e pela Comissão de Educação, Cultura e
Esporte (CE). Nessas últimas comissões, recebeu alterações consideradas
negativas pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE).
Na comissão em que se encontra,
a CE, o PNE foi aprovado em uma reunião que durou pouco mais de dois minutos e
sem a presença de parlamentares da base do governo, como aponta o site do
Senado, mas as modificações apresentadas foram significativas. Entre elas, está
a meta 4, que determina o acesso à educação básica para os estudantes com
deficiência de 4 a 17 anos. De acordo com o texto do parecer, o sistema
educacional regular deve ser inclusivo, mas a educação especial oferecida por
escolas e serviços especializados devem ser preservadas.
"Uma escola não exclui a
outra", diz o parecer do relator, senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O
coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação , Daniel Cara, não
concorda com essa afirmação.
"A aprovação dessa meta
mata um dos itens da meta que é a expansão da presença dos alunos nas redes
regulares de ensino, que é uma forma inclusiva de fato. É claro que pode
combinar as duas escolas, mas dando preferência às redes regulares", analisa
Daniel Cara.
A meta 5, que trata da
alfabetização também foi alterada. O tempo de alfabetização passa a ser aos
sete anos de idade ou no 2º ano do ensino fundamental, a partir do segundo ano
de vigência do PNE; e aos seis anos a partir do quinto ano.
"Os parlamentares estão
defendendo um projeto no qual a alfabetização seja a mais rápida possível. Isso
tem gerado mais desinteresse por parte das crianças por conta dessa forma
aligeirada de educar, sem respeitar o processo cognitivo e tempo necessário
para a alfabetização", explica o coordenador da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação.
O senador Vital do Rego
(PMDB-PB), relator do projeto da CCJ, pretende apresentar na CE no dia 6 de
dezembro, uma proposta que retoma a redação aprovada na Comissão onde foi relator.
Um dos itens da proposta apresentada por Vital é o cumprimento do artigo 212,
da Constituição Federal, que trata do financiamento público em educação. De
acordo com esse artigo, "a União aplicará, anualmente, nunca menos de
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente
de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino".
Daniel Cara, da CNDE, avalia
essa defesa como uma desresponsabilização do governo federal no financiamento
da expansão da educação de nível médio e superior, além da desobrigação da
complementaridade do financiamento da educação básica.
"Curiosamente, o governo
federal não foi buscar parlamentares do PT para apresentar essa proposta às
vésperas da eleição, mas votarão a favor, sem sombra de dúvidas", analisa
Cara, que completa: "Tirar a responsabilidade do governo federal no
financiamento da educação é um retrocesso do projeto".
Para Daniel Cara, a alternativa
mais pragmática seria a aprovação na íntegra do projeto que veio da Câmara, o
qual, segundo ele, foi construído com base em discussões com diversas
entidades. "Essa tramitação no Senado só tem levado em conta o Senado e o
governo federal, resultando em uma grande perda de propostas construídas
coletivamente", avalia o professor.
Sobre o PNE
O PNE estabelece 20 metas para
a educação, que contemplam desde o ensino infantil até a formação continuada de
professores e a ampliação do investimento público no setor, de forma a chegar a
10% do PIB (Produto Interno Bruto) do país no final dos dez anos do programa. O
PNE está em tramitação no Congresso Nacional desde dezembro de 2010. Cerca de
três mil emendas foram sugeridas até essa etapa. A votação do PNE no plenário
do Senado está marcada para o dia 11 de dezembro. Após essa etapa, deverá
seguir para sanção presidencial.
Portal
Nesta semana, o Movimento Todos
pela Educação (MTE), formado por empresas da iniciativa privada e , uma das
principais forças que pressionam a redação do PNE, lançou um portal que
acompanha a tramitação do programa.
Fonte: Brasil de
Fato
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