O professor, teólogo e ativista Cornel West participa de protesto "Ocupe Wall Street", em Nova York |
Para o ativista e professor da Universidade de Princeton Cornel West, a discussão sobre luta de classes ganhou força nos EUA. Ele aponta o movimento "Ocupe", que desde setembro protesta contra a desigualdade social e a influência das empresas na política americana, como marco da mudança.
O intelectual, ativista e professor Cornel West, 58, irá trocar a universidade de Princeton pela instituição onde começou a carreira de professor, o Seminário Teológico União, em Nova York, onde será professor de filosofia e práticas cristãs.
Em entrevista ao jornal "The New York Times", West, que estava no telefone enquanto se dirigia aos protestos do movimento "Ocupe Wall Street" em Seattle, disse que estava retornando para a União porque ela é "a expressão institucional" de sua identidade como um "cristão profético".
Em um anúncio no site do seminário, o presidente Reverendo Serene Jones diz que a instituição tem inspirado vozes públicas que dialogam com os ideias do país, como "protestos contra guerras, pobreza, racismo, sexismo ou outros flagelos sociais".
"Alguns chamam Cornel West como o Reinhold Niebuhr (lendário professor) da geração deles, mas eu acho que ele tem uma classificação própria", diz Jones. "Cornel é, simplesmente, o teólogo público da nossa geração", conclui o comunicado.
A faculdade informou que West será professor em tempo integral, das disciplinas de filosofia, teologia, mudança social, engajamento comunitário e ativismo cristão.
A Union Theological Seminary é uma faculdade teológica privada e independente, baseada na teologia liberal cristã. Dentre seus principais membros está James Cone, uma das vozes mais influentes na teologia negra, inclusive da teologia da libertação negra".
Fonte: Folha
A seguir, trecho da entrevista que deu à Folha de SPaulo de hoje, 25/12/2011:
Folha - O conceito de classe social estava fora de moda. Com a piora na renda de europeus e americanos, essa ideia voltou a ficar em voga?
Cornel West - Classe sempre foi uma realidade central, mas nos EUA sempre houve maneiras de evitar a verdade. O sofrimento dos trabalhadores é frequentemente negado.
Graças ao "Ocupe", a classe se tornou um debate central. Fala-se da ganância corporativa, da pobreza, do papel do dinheiro na política...
Os políticos ficaram mais sensíveis a esses temas?
Certamente. Há um ano eles ainda fugiam disso. O "Ocupe" criou uma grande consciência democrática, inclusive entre políticos.
Como o senhor vê o debate público nos EUA? A crescente oposição entre democratas e republicanos tornou o diálogo mais difícil?
Nos EUA, temos dois partidos políticos ligados às oligarquias. Um é uma versão conservadora e outro é uma versão neoliberal. Não temos um partido político que represente os pobres e os trabalhadores. O "Ocupe" representa uma parte contrária aos dois partidos.
Como o senhor compara o Tea Party e o "Ocupe Wall Street"?
O Tea Party quis influenciar os republicanos. O "Ocupe" é um rompimento mais radical. Na história dos EUA, tivemos duas revoluções. Uma contra a monarquia e outra contra a escravidão. O movimento pelos direitos civis foi uma tentativa de lidar com vestígios da escravidão, não uma revolução. A terceira revolução será a tentativa de transformar a oligarquia em um regime democrático.
Há republicanos que acusam o governo Obama de socialista. O que o senhor acha disso?
Ridículo. Dizer que Obama é socialista é tão verdade quanto dizer que é muçulmano.
Está satisfeito com Obama?
Não. Obama traiu seus apoiadores ao governar como Bill Clinton. Ele escolheu economistas arquitetos de políticas neoliberais, que permitiram a transferência da riqueza dos pobres para uma minoria.
Quais são as perspectivas para a eleição no ano que vem?
Obama certamente ganhará. Os republicanos têm candidatos com poucas chances. E quando ganhar temos de colocar mais pressão.
Ele conseguiria responder a essa pressão?
Depende da presença progressista no Congresso depois da próxima eleição. Mas acho que nos próximos anos a luta de classes nos EUA terá lugar na rua e na política.
E o como o senhor vê a igualdade racial hoje nos EUA?
Em relação aos negros pobres e trabalhadores há retrocesso e para os negros ricos há avanços. Há uma divisão de classe mais profunda. Os trabalhadores pobres negros têm níveis maiores de desemprego e subemprego.
A polícia de Nova York foi acusada de racista e o senhor participou há pouco tempo de um protesto no Harlem. O que tem acontecido?
Mais de 600 mil pessoas foram paradas [ano passado], só 3% foram presas e mais de 80% [delas] eram negras ou pardas.
Dados mostram Nova York mais hispânica. O preconceito também tem crescido?
Quando a economia tem problemas, o preconceito contra imigrantes piora.
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