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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O debate sobre o diploma

Por Rogério Castro*
Dia desses, o jornalista Mino Carta se queixava da baixa qualidade da formação intelectual das novas gerações de jornalistas brasileiros. “O jornalismo virou algo grotesco e de baixo nível”, teria dito ele, segundo o portal Comunique-se. A pergunta é: as faculdades de Jornalismo teriam decaído na preparação dos futuros profissionais, ou esta seria uma prova de que, nos dias atuais, dado à explosão da informática, a formação intelectual desse profissional passaria a ser considerada supérflua?
Três linhas de entendimento, pelo menos, podem ser verificadas nesse debate: uma é a patronal, que ganha chão para poder flexibilizar ainda mais as já precárias relações de trabalho; outra, animada pela esquerda, entende que a defesa do diploma hoje é um obstáculo para a “democratização da comunicação”; e uma terceira, vista como corporativa (e a defesa dos interesses dos assalariados que trabalham, ao contrário de corporativismo, é uma questão de primeira necessidade), defende o diploma para o exercício da profissão como forma de inibir a precarização, a informalização e defende uma informação de qualidade para a sociedade.
Mas as razões para a colocação de Mino precisam ser averiguadas: por que o jornalismo se tornou algo grotesco e de baixo nível? Por outro lado, poderíamos também indagar por que a sociedade brasileira tolera tanto – sem reclamar – esse “jornalismo de baixo nível e grotesco”? O intrincado de fatos que explica essa questão é um emaranhado de nós que só com certa calma pode ser desembaraçado.

Ato heroico

Pois bem. Nos tempos atuais, impera no meio universitário, principalmente nas faculdades de comunicação, uma ditadura epistemológica denominada “identidade cultural”. A característica maior que marcou o pensamento moderno – isto é, a ruptura com a tradição do período anterior – tem perdido terreno (consciente ou inconscientemente) para as concepções que visam a revestir todo conhecimento popular – inclusive as crendices de outrora, marca do pensamento tradicional anterior ao modernismo – de autêntico, objeto da mais acrítica admiração. Com isso, ideias de verdades objetivas são drasticamente alijadas em prol de relativismos, de verdades cada vez mais centradas no sujeito – e não o contrário, a realidade objetiva prevalecendo sobre este último. O multiculturalismo, a concepção de que o que importa acima de tudo são as culturas e as “identidades”, tem conseguido, além de gerar muita confusão, fazer decair – em queda livre – o padrão cultural que o advento da modernidade viu com Goethe, Cervantes, Thomas Mann, Kafka e outros. Tanto que o fim da chamada “grande cultura”, das “grandes narrativas”, são considerados traços do que vem sendo chamado nos dias atuais de “pós-modernismo”. A aceitação cada vez mais sem maiores resistência do espetáculo midiático, de um jornalismo que não procura buscar entender as causas da violência como uma expressão da desumanização da sociedade, e sim faz da barbárie social prato cheio para alavancar os índices de audiência com um sensacionalismo cada vez mais despudorado, é ou não sinal de que os jornalistas atuais se encontram reféns da mediocridade pós-moderna?



Para ler a matéria na íntegra, clicar Aqui.

*Jornalista e mestre em Serviço Social.
Publicado no Observatório da Imprensa, em 06/12/2011 na edição 671.

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