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domingo, 29 de julho de 2012

Professora do Ensino Público da Bahia faz balanço da Greve


Foto:  bahianoticias.com.br

ANDRÉA GONZALEZ*

Há mais de 100 dias em greve, nós professores, sentimos ser urgente uma divulgação mais clara dos motivos que nos levam a estar afastados das salas de aula, pois não estamos tendo espaço na mídia. Sem dinheiro há três meses e com as contas do sindicato bloqueadas, vemos a todo o momento o Governo do Estado divulgar notas mentirosas e nada podemos fazer. A imprensa é vendida, os juízes – indicados pelo governo – são omissos e nós não temos voz. Sentimo-nos impotentes diante de um Ministério Publico e um Tribunal de Justiça da Bahia – entidades que deveriam fazer cumprir a lei – e que ainda “sentam” pra discutir a possibilidade de se burlar uma lei federal e cúmplices na aprovação de uma lei inconstitucional que prejudica milhares de profissionais da educação.
Nosso plano de carreira e magistério contemplava em seu primeiro nível os professores com formação apenas em ensino médio e aqueles que fizeram cursos de curta duração. Eles recebiam, até dezembro do ano passado, salário inferior ao Piso Nacional do Magistério. Sabendo-se que, qualquer reajuste sobre os vencimentos dessa categoria, deveria ser proporcional para os interníveis (professores licenciados e com especializações), o governo estadual, de má fé e arbitrariamente, retirou esses profissionais do quadro de professores, criando uma classe especial para alocá-los, retirando-lhes os direitos que o Estatuto e o Plano de Carreira lhes asseguravam, como promoção por cursos de capacitação e especializações. Anos de trabalho a serviço da educação e com gratificações e ganhos de outras lutas, estes professores tiveram seus salários transformados em subsídio, desprovendo-os de perspectivas de carreira e até mesmo de ter seus salários reajustados segundo o Piso Nacional do Magistério, uma vez que não mais pertencem ao quadro dos professores da rede estadual. E, para os professores que permaneceram no quadro, por possuírem nível superior, especialização, mestrado ou doutorado, por méritos pessoais, esforço em se aperfeiçoar, em se capacitar, como o salário vigente em janeiro deste ano ficava superior ao valor do piso, foi-lhes negado o reajuste. Ou seja, o governo fez uma manobra que prejudicou toda uma classe para não fazer valer a Lei Federal do Piso Nacional do Magistério.
E vocês perguntam: mas se estes professores já recebem acima do piso, do que eles estão reclamando? Então, vale destacar que o piso é o menor salário que se pode pagar a um professor, com formação em nível médio. E estes vencimentos estão sendo atribuídos a professores com formação superior! Um pouco acima do piso, é certo, mas por isso mesmo, condenados ao congelamento e sem perspectivas de reajuste.
Com uma verba específica, os salários dos professores não estão ligados à Lei de Responsabilidade Fiscal, uma vez que o FUNDEB é destinado à educação. Quando o Governo federal reajustou o piso em 22,22%, ele repassou ao fundo este mesmo percentual e o governo do Estado vem recebendo esta diferença desde janeiro para repassar aos salários dos professores, coisa que não o fez. Quando questionado sobre a verba da educação, o governo apenas apresenta o valor total recebido, porque está disponível à população pela internet, mas não mostra como este dinheiro vem sendo gasto. Mas, o que sabemos é que os desvios são constantes e o investimento em propaganda é absurdo, por isso mesmo têm a mídia em suas mãos!
Queremos o que é nosso por direito! Nosso dinheiro tem servido a muitos menos a nós mesmos! Não há porque nos ser negado um reajuste que foi repassado às contas do FUNDEB para pagar salário de professor. Temerosos de que o governo assim o fizesse, em novembro do ano que passou, o sindicato fez o governo se comprometer em cumprir a Lei do Piso, assinando um acordo. De nada adiantou! Esse governo não tem palavra!
Vendo que nossos direitos estavam nos sendo negados, em abril decidimos por parar as atividades. O governo se mostrou autoritário, cortando nossos salários no primeiro mês de paralisação, apresentando uma proposta sem sentido para que retomássemos as atividades. Propôs-nos aceitar 7% para quem fizesse um curso de capacitação em novembro deste ano – o que não garante que toda a categoria receba tal ganho, deixando de fora professores em licença, por exemplo – ; em abril do ano que vem mais 7% como adiantamento de reajustes já garantidos de 2013 (3%) e de 2014 (4%), congelando nossos salários por 2 anos e abater ainda os 6,5% concedidos a todos os servidores estaduais como rejuste de inflação (dever do estado, direito nosso independente do reajuste do piso!).
Eu pergunto a você, cidadão, a você trabalhador, a você, pai e mãe, a você, aluno: isso é proposta que se faça? O que ele nos oferece? NADA!
* 6,5% de reajuste de inflação, dado a todos os servidores do Estado. Todo ano, no mês de janeiro, temos este reajuste, inclusive no valor do salário mínimo. Nada tem a ver com o dinheiro do FUNDEB.
* 7% por meio de curso que não contemplará toda a categoria. Vale salientar que nosso Plano de Carreira já nos contempla com promoção através de curso, com interstício mínimo de 3 anos, ou seja, qualquer professor pode de 3 em 3 anos, (o que já é um absurdo este tempo) dar entrada para perceber gratificações decorrentes de capacitação).
* 7% de ADIANTAMENTO de ganhos já consolidados para os próximos dois anos, tendo então nossos salários congelados durante este período.
É assim que ele diz que está nos oferecendo um reajuste de 22 a 26% e a população acaba acreditando que somos nós os intransigentes. Não! Queremos fazer valer a Lei do Piso! Queremos o que nos é de direito! Queremos ver em nossos salários o dinheiro que nosso fundo vem recebendo desde janeiro e que não está condicionada a inflação, nem a curso, nem a congelamento de salários!
Do contrário! Para o próximo ano, há uma previsão de que este reajuste do Piso será de 20,8% em janeiro. E aí? Como vai ser se ainda nem recebemos o reajuste de 2012? Teremos que fazer uma nova greve? Mais 100 dias sem aulas ano que vem? Compreendam que estamos lutando para não termos que parar as atividades todo ano porque o governo não cumpre a lei!
Ficaremos condenados a não mais reivindicar nossos direitos, pois não só este governador, como aqueles que o sucederem saberão a fórmula para nos enfraquecer: usem a mídia, invista o dinheiro do povo em propaganda, indique cargos altos no judiciário, tenha-os nas mãos, e, se os professores se rebelarem, mate-os de fome! Jogue a população e os alunos contra eles! É isso que estamos passando por reivindicar os nossos direitos! Por implorar pra que uma lei seja cumprida!
Massacrados, injustiçados, seguimos fortes! Alguns, encurralados pela fome, pela pressão, pelas dívidas, pela família que depende financeiramente deste salário, sucumbiram e retomaram as atividades – envergonhados, cabisbaixos, forçados, dilacerados! E é nisso que o governo tem apostado, no que pode ser mais cruel: na fome, na necessidade de suprir as nossas famílias do básico! Ele não está nem aí para “os meninos”, tão pouco está se lixando para a inviabilização do ano letivo! Ele espera calmamente o retorno dos professores vencidos pelo cansaço, na pirraça! Ele deseja que não tenha que prestar contas dos gastos do dinheiro da educação, que não tenha que direcionar os recursos financeiros para pagamento de nossos salários porque tem outros planos para uso desta verba! Abram o olho! Pra ele pouco importa se os alunos serão prejudicados – ele quer que a greve termine quando o último professor não mais resistir e ceder seus direitos em prol da corrupção e desvios.
Não podemos contar nem com a justiça, temos que ter pelo menos a população ao nosso lado. Esperamos contar com você que é ou já foi nosso aluno, porque se está lendo isso, foi porque alguém estudou, se formou, prestou concurso e foi seu professor! E, quando alegarem que estamos brigando por dinheiro, respondam: não! Os professores lutam por direitos, pois nos ensinaram assim!
E o que isso tem a ver com qualidade na educação? O que isso tem a ver com a educação de seu filho? Ora, quanto mais desvalorizados, quanto mais humilhados e mal remunerados, a carreira do professor deverá ser uma opção de “passa tempo” para aventureiros na educação. Gente, que vem “passar uma chuva” porque não pretende se aposentar professor... Gente que biscateia na profissão, pra não morrer de fome... Gente que vai se formar professor pra não ficar desempregado, mas que vai investir pra sair “disso”... Gente que vai trabalhar sem amor, sem vontade, sem satisfação... BISCATEIROS DA EDUCAÇÃO! E, quando isso acontecer, teremos enfim uma massa alienada de seus direitos formando gente desinformada e passiva diante dos desmandos dos governos.
Este mês tivemos aprovado o aumento de 30% nos salários dos parlamentares, sem votação, sem preocupação com Lei de Responsabilidade Fiscal, sem acordos, sem propostas indecorosas, sem parcelamentos, sem dificuldades! Com o nosso dinheiro! Dinheiro dos nossos impostos!
A JUSTIÇA diz que nossa greve é ilegal. Ilegal com base em quê? Eles alegam que estamos tirando um direito fundamental do aluno – de estudar! Mas somos nós que estamos tirando este direito? Quem é que não está cumprindo uma lei federal e criou uma lei inconstitucional? Por que uma Ordem Judicial é para ser cumprida somente se for a favor deles? Desocupamos a Assembleia legislativa porque um juiz foi lá e disse que nossa ocupação era ilegal. Ilegal com base em quê?
Estamos sós! Reféns de uma imprensa que omite e distorce informações, uma justiça vendida e conivente com os desmandos do governo, políticos omissos, sociedade calada!
Somos alguns milhares, mas com o apoio de vocês somos milhões!
Convido você – pai, mãe, aluno, sociedade como um todo, a nos apoiar nesta campanha pela dignidade! Vamos fazer valer a democracia...
*Professora da Rede Pública de Ensino do Estado da Bahia

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