Suzana Herculano-Houzel. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados. |
Para Suzana Herculano-Houzel, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
por Camila Cotta
Nos últimos anos, o Brasil vem
acumulando bons resultados em rankings de produção científica. No último
levantamento feito pela consultoria Thomson Reuter, entre 2007 e 2011, o País
correspondeu a 2,6% da produção científica global. No entanto, esses artigos,
que ultrapassam a barreira das 25 mil publicações por ano, não são feitos por
cientista e sim por professores.
A avaliação foi feita pela
neurocientista e professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana Herculano-Houzel. Para ela, o fato de
não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento
tecnológico do Brasil.
“Não posso dizer que
neurocientista é minha profissão, porque a minha profissão de cientista não
existe no Brasil. Não está na tabela das profissões regulamentadas pelo
Ministério do Trabalho (MTE). Para poder atuar como cientista, eu atuo como
professora de nível superior, eu literalmente faço ciência nas horas vagas”,
expôs.
A professora explicou que a
maior parte da ciência no Brasil por professores universitários ou por pessoas
que não tem emprego nenhum, jovens cientistas chamados estudantes de
pós-graduação. “A produção científica cresce ao longo dos anos por causa do
número de mestres e doutores que são formados no Brasil. São esses jovens que
produzem o conhecimento cientifico”, disse.
Para ela, o trabalho que os
jovens exercem não é chamado de trabalho e sim estudo. “É como se eles
investissem na educação deles. Outros países já não cometem mais esse
erro. O erro é não reconhecer esse
trabalho como qualquer outro”, lamentou. “É um esforço laboral que gera um
produto científico. Por que o jovem cientista recém graduado precisa passar
pela humilhação de continuar sendo estudante?”.
Baixa
remuneração
Suzana Herculano-Houzel contou
que durante uma graduação o jovem já faz ciência como aprendiz, ou seja, um
estagiário durante a iniciação cientifica, ganhando uma bolsa que tem o valor
menor que o salário mínimo muitas vezes. Para trabalhar com ciência, quando ele
se forma tem que entrar para pós-graduação.
“Isso significa se sujeitar a uma bolsa de mestrado de R$ 1,5 mil reais mensais fixos pelos
próximos dois anos sem qualquer direito trabalhista ou qualquer outro trabalho
para complementar a renda”, observou .
A professora criticou ainda a
obrigatoriedade em assinar uma declaração de que não vínculo empregatício do
pesquisador com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e/ou com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes). “É preciso passar por mais uma humilhação: o atestado de pobreza.
Enquanto isso seus colegas recém formados em engenharia e direito, por exemplo,
já têm trabalho de verdade, ganhando de verdade”.
Para o jovem continuar
trabalhando como cientista, ele precisa ingressar num programa de doutorado. “É
a única atividade de emprego se ele quiser atuar como cientista. A bolsa também
tem valor mensal de R$ 2,2 mil, sem nenhum vínculo empregatício e benefícios
trabalhistas”, comentou.
Sugestões
De acordo com Suzana, é
possível fazer contratações por fundações e institutos de ciências ligados as universidades, que poderiam receber dos governos os valores
que hoje são pagos como bolsa, com contrato de trabalho e todos os direitos
empregatícios. “Com a obrigatoriedade de contratação virá a possibilidade de
salários com valores competitivos”, decsreveu.
Para ela, dessa forma, a
ciência caminha e a sociedade cresce. “É fundamental para a soberania de uma
população que ela valorize a produção de
conhecimento cientifico. Isso começa por valorizar seus cientista. Fazer
ciência no Brasil hoje, infelizmente, é
uma péssima decisão profissional com pouquíssimas perspectivas”, finalizou.
Fonte: Agênica
Gestão CT&I
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