EDIÇÃO
Nº 1160 – Ano 28; 3ª semana de Agosto 2013.
José
Martins
Mais
uma vez os economistas do sistema demoraram bastante para descobrir que as leis
internas da economia do imperialismo pouco se importam com as bobagens que eles
inventam para esconder o caráter desigual e combinado do desenvolvimento entre
as economias dominantes, que eles chamam de “desenvolvidas”, e as dominadas,
chamadas de “emergentes”.
Veja,
por exemplo, essa beleza de descoberta que o The Wall Street Journal, o maior
jornal de economia do mundo, acaba de divulgar: “A força da economia mundial
está se deslocando para o mundo desenvolvido, afastando-se das economias
emergentes que deram impulso ao crescimento desde a crise financeira. Pela
primeira vez desde meados de 2007, as economias avançadas, incluindo o Japão,
os Estados Unidos e a Europa, estão contribuindo coletivamente mais para o
crescimento da economia global — que movimenta US$ 74 trilhões — do que países
emergentes como a China, a Índia e o Brasil, segundo dados compilados pela
firma de investimentos Bridgewater Associates.
A
reviravolta pode redistribuir os fluxos de capital mundiais e derrubar as previsões
que grandes empresas acalentaram baseadas numa visão otimista dos mercados
emergentes”.[1]
As
grandes empresas globais tinham razão em acalentar uma visão otimista dos
“mercados emergentes”, pois nos últimos anos elas ganharam oceanos de lucro na
China, na Índia, no Brasil. Mas agora não estão mais ganhando o que ganhavam
antes. A fonte secou. Ou melhor, o lucro está jorrando mais caudalosamente nas
metrópoles imperialistas e economias médias da Europa. Por isso começam a fugir
e retornar em grande número para os Estados Unidos, Europa e Japão. No Sul,
casa da mãe Joana, fica o prejuízo e as contas do porre a pagar.
ATUALIZANDO
OS CÁLCULOS – Quem não tinha razão sobre o que se passava nos últimos anos na
economia do imperialismo eram seus economistas e, claro, sua prostituída mídia
global. Quase sem exceção, eles afirmavam com a verdade absoluta dos imbecis
que as “novas potências do Sul” logo alcançariam (algumas até ultrapassariam,
diziam os mais entusiasmados) as “velhas potências do The Wall Street Journal –
Países Emergentes Perdem a Liderança
na Economia Global.
Entretanto,
bastou o avanço do atual ciclo econômico, iniciado em meados de 2009, para que
esse lero-lero dos tontos fosse se apagando. A dinâmica material esclarece mais
que mil palavras. É hora de atualizar os cálculos. Neste mês de Agosto, o que
se confirma é o seguinte: de um lado, uma forte recuperação cíclica do capital
nas metrópoles imperialistas – EUA, Alemanha e Japão. De outro lado, travamento
na produção e fortes pressões financeiras nas principais economias dominadas –
China, Brasil, Índia, Rússia. Isso acontece, como observamos em boletins
passados, porque nas economias dominantes se recuperou a taxa média de lucro
anterior à crise parcial 2008/2009. Isso ainda não ocorreu nas economias
dominadas. E não deve ocorrer, ao menos neste período de expansão global.
Fundamentalmente, as economias dominadas não decolam porque sua produção
nacional de capital não oferece a taxa média de lucro exigida pelas empresas
globais. Apaga-se o fogo da acumulação de capital e, consequentemente, do
crescimento econômico.
O
descompasso subterrâneo entre a valorização do capital nas economias dominantes
e nas dominadas se manifesta de inúmeras maneiras. Primeiramente, como um forte
refluxo de capitais da periferia em direção ao centro do sistema: “O papel da
Ásia como máquina de crescimento mundial está se esgotando com o enfraquecimento
das economias da região e com os investidores remetendo bilhões de dólares para
o exterior. A rupia indiana caiu para seu nível mais baixo hoje, a Tailândia
está em recessão e as ações na Indonésia desabaram cerca de 20% desde seu
último pico de alta. Os empréstimos podres da China estão aumentando e as
perspectivas dos economistas para a Malásia antecipam seu segundo trimestre
seguido de crescimento abaixo de 5%. As nuvens que se formam na Ásia com o
aperto na liquidez monetária e desaceleração do crescimento chinês, que limita
a demanda por commodities e outras mercadorias, estão fornecendo o combustível
para a liquidação nos mercados de ações das economias emergentes, revertendo o
fluxo de dinheiro para a região em favor das nascentes recuperações nos Estados
Unidos e Europa. Mercados emergentes do Brasil à Indonésia aumentaram seus
custos nos empréstimos em 2013 para socorrer suas moedas frente às perspectivas
de redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos que limita a demanda por
ativos nas economias em desenvolvimento”[2]
Essa
desigualdade entre um forte processo de valorização do capital no centro,
combinado com um processo anêmico na periferia, aparece também de forma transparente
e precisa na variação dos preços das ações (títulos de propriedade do capital)
nas principais bolsas de valores do mundo. A seguir. 2 Bloomberg News – “Capital
Flows Back to U.S. as Markets Slump Across Asia” [Fluxo de Capitais Voltam
para EUA com Queda nos Mercados da Ásia], 20/Agosto/2013.
CRÍTICA
SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação
Popular,
S. Paulo.
EDIÇÃO Nº
1160 – Ano 28; 3ª semana de Agosto 2013.
[1]
The Wall Street Journal – Países Emergentes Perdem a Liderança na Economia
Global – 12/Agosto/2013.http://online.wsj.com/article/SB10001424127887323585604579007353697090402. html.
[2] 2 Bloomberg News – “Capital
Flows Back to U.S. as Markets Slump Across Asia” [Fluxo de Capitais Voltam para EUA com Queda
nos Mercados da Ásia], 20/Agosto/2013. http://www.bloomberg.com/ news /2013-08-19/clouds-gather-over-asian-economies-as-capital-flows-back-to-u-s-.html.
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