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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aula Pública com os Estudantes da UEM


Antônio Ozaí*

O caráter antidemocrático da universidade sustenta-se na separação entre os servidores, na pretensa superioridade da minoria titulada e no domínio docente amparado na regra dos 70%, 15% e 15% quanto ao peso do voto nos órgãos decisórios. Não se trata de uma questão matemática, mas de uma forma de pensar as relações no campus e se traduz, no cotidiano, em atitudes arrogantes quanto aos demais trabalhadores não-docentes.
Muitos esquecem que as condições necessárias para o desempenho da atividade docente dependem do trabalhador que desempenha a função mais simples e dos que regem os destinos da carreira acadêmica nos meandros da burocracia. Em situação normal, zeladoras, vigilantes, bibliotecárias, trabalhadores do RU, secretárias e demais funcionários dos departamentos e centros, etc., parecem seres invisíveis. A greve deu-lhes visibilidade. De repente, muitos docentes perceberam que eles existem e que são fundamentais para a prática da docência. Infelizmente, essa percepção não se traduz necessariamente em reconhecimento e valorização destes profissionais, mas na pressão para que os grevistas continuem a trabalhar como se não estivessem em greve! Ora, greve é greve! É tão difícil compreender?!
Acostumados a mandar, os docentes tem dificuldade de assimilar um fato simples: a greve significa paralisação das atividades! As chaves não abrem blocos e salas de aula sem a ação humana, os ambientes não ficam limpos sem o trabalho humano, o acesso ao conhecimento sedimentado nos livros da BCE não é possível sem a intermediação dos que abrem as portas, dos que fazem a higienização, das bibliotecárias e demais trabalhadores. Exigir que atendam às demandas dos docentes é pedir para que não façam greve, é enfraquecer o movimento. Desculpem a redundância, mas se as coisas funcionassem com a normalidade de antes, então não estaríamos diante de uma greve.
Os trabalhadores em greve mostram o quanto são importantes para nós e a sociedade. Se os docentes não haviam percebido isto, ainda é tempo. Fazer o discurso da solidariedade e do reconhecimento do direito de greve e reclamar do óbvio, ou imaginar que merecemos um tratamento diferenciado porque somos docentes, é, na prática, negar a solidariedade. Apegar-se aos interesses corporativistas é continuar insistindo na divisão. A rigor, somos todos servidores, trabalhadores que desempenham funções diferentes. Nossos salários expressam diferenças profissionais e sociais, mas não determinam qualidades humanas diferenciadas nem desqualificam outras atividades que não seja a docência.
Não somos seres humanos melhores pelo fato de passarmos mais anos na escolarização formal e termos títulos acadêmicos. Nós precisamos dos demais para desempenhar as nossas funções. Este reconhecimento indica a necessidade de descermos do Olimpo, de nutrir a humildade e valorizar os que contribuem para a atividade docente. Afinal, apesar das disputas entre os que se arrogam o direito de nos representar, somos todos servidores!
Se os docentes param, o efeito direto é sentido quase que exclusivamente pelos alunos. A paralisação dos demais trabalhadores, no entanto, afeta os docentes, os alunos e a comunidade externa que depende de determinados serviços oferecidos pela universidade. Precisamos refletir sobre esta questão, a qual é mais ampla e importante do que o corporativismo de uns e outros.
Professores ensinam, mas chegou o tempo de aprender! Aprendam que não são superiores; que são dependentes do trabalho dos demais; aprendam a valorizá-los e que greve é greve; aprendam a serem solidários em atos e a respeitaram, de fato, o direito de greve; aprendam a não olhar apenas para o próprio umbigo – o mundo é grande! – e a irem além dos interesses mesquinhos e corporativos; aprendam que a postura de confronto com o movimento grevista acirra ainda mais a divisão entre nós. Claro, sempre há quem tenha interesse e se beneficie. Aprendam que a vida continua e amanhã, quando tudo voltar à normalidade do cotidiano, continuaremos a precisar deles e delas!

*Professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM), editor da Revista Espaço Acadêmico, Revista Urutágua e Acta Scientiarum. Human and Social Sciences e autor de Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008).

Um comentário:

  1. É cômodo ignorar os invisíveis e bradar ao patrão que temos direitos, que somos sujeitos, quando também reproduzimos as mesmas relações de poder em nossas casa e nos locais de trabalho. Agora, os professores em greve se tornam invisíveis também, mas logo retomaram suas funções e se esquecerão que tudo ao seu redor está cercado pelo trabalho humano. Tão importantes quanto suas discussões e artigos titulados é o cheirinho do café entrando no departamento, ou o cheiro de limpeza que esperamos encontrar no banheiro, ou mesmo a vigilância na portaria...

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